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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2008

Crise alimentar mundial

Para além da crise dos mercados financeiros e a crise do petróleo, surge agora a crise alimentar mundial. Segundo o Programa Alimentar Mundial da ONU, 30 países estão em situação muito complicada, 22 deles no continente africano. São várias as razões apontadas para justificar a crise: registou-se um aumento significativo da procura, com o aumento das necessidades de potências emergentes como o caso da China e da Índia; quebras nos stocks e países com a Argentina viram-se para o consumo interno; aumento do preço dos combustíveis; a utilização crescente de biocombustíveis; a displicência com se tem olhado para a agricultura. De um modo geral, aponta-se uma conjuntura de factores para justificar esta crise, mas existe um outro factor que tem vindo a determinar o preço dos alimentos, designadamente dos cereais: a especulação. A ONU estima que a especulação seja uma das principais razões que explicam o aumento brutal dos alimentos. Se a sobrevivência era a palavra-chave para a vida de muito

Um rumo para o PSD

Manuela Ferreira Leite apresentou, ontem, a sua candidatura à liderança do Partido Social Democrata. Os últimos dias têm sido marcados por insinuações de que Manuela Ferreira Leite seria a candidata do “regime”, que faz parte do establishment e que o PSD necessitaria de um outro rumo. Mas a verdade é que Manuela Ferreira Leite pode revestir o partido daquilo que o mesmo tem vindo a perder: credibilidade. Com efeito, Manuela Ferreira Leite tem um passado político que, não sendo naturalmente imaculado, se caracteriza precisamente pelo rigor, pela seriedade e pela credibilidade. A sua passagem pela pasta da Educação foi alvo de críticas, e essas críticas também foram ouvidas durante o tempo em que ocupou o cargo de ministra das Finanças. É precisamente a sua passagem pelas Finanças que poderá constituir um ponto fraco numa possível disputa com José Sócrates. Recorde-se que esses também foram tempos de rigor e de sacrifícios, mas que apesar de tudo não terão surtido os efeitos desejados.

A morte do debate sobre o Tratado de Lisboa

Depois da aprovação, no Parlamento, do Tratado Reformador, ou Tratado de Lisboa, pode-se considerar inviável a hipótese do país assistir a um debate esclarecedor sobre este assunto. Morreu, assim, o debate sobre o Tratado de Lisboa, e genericamente o debate sobre a Europa. O primeiro-ministro foi prodigioso na forma como iludiu e manietou a opinião pública. De resto, o primeiro-ministro durante a campanha eleitoral prometeu referendar este assunto, mais uma ilusão vendida por quem é exímio nessa tarefa. Parece que o jogo de retórica adoptado pelo primeiro-ministro, designadamente a destrinça entre a malograda Constituição e o Tratado, surtiu efeito. Por outro lado, os críticos da ratificação através de referendo sempre postularam as dificuldades de compreensão de um documento manifestamente complexo, e que a legitimidade dos representantes eleitos não podia ser posta em causa. De igual modo, defenderam a ideia de que os portugueses estariam pouco interessados num debate, ou numa perspe

As divisões no PSD

O PSD é um partido claramente dividido e não é, pois, por acaso que surgem tantas candidaturas para as próximas directas marcadas para Maio. A última foi a de Pedro Santana Lopes, o que por si só já dará mais azo a novos antagonismos. O partido move-se – de forma não muito diferente do PS – por interesses imediatos que se prendem com a vitória nos vários actos eleitorais do próximo ano, mas sobretudo com a vitória nas legislativas. Ora, com a dificuldade que este partido tem em manter-se na oposição e com a ânsia desmesurada de vitórias políticas, o PSD corre o risco de se manter na oposição durante mais alguns anos. Com efeito, os eleitores – estejam eles mais situados à esquerda ou à direita – não gostam de querelas no seio dos partidos políticos. Na verdade, os portugueses atingiram um ponto de saturação no que diz respeito à política e aos políticos e não estão dispostos a assistir a cisões e facções, que têm muito pouco que ver com os interesses do país. A serenidade é uma caracte

25 de Abril

Comemora-se hoje o 25 de Abril. A data está intrinsecamente associada a conquistas sociais e às liberdades que hoje consideramos inquestionáveis. Todavia, a consolidação da democracia é um processo ininterrupto, e hoje são muitas as dificuldades que colocam em causa esse processo de consolidação. O estado dos partidos políticos e o subsequente afastamento dos cidadãos da política é um elemento a ter em conta. Ora, os partidos políticos são considerados um dos pilares da democracia representativa e, neste contexto, o hermetismo, a promiscuidade, e a incapacidade de dar um novo rumo ao país, tornam os partidos políticos elementos periclitantes de uma democracia ainda relativamente jovem. O fortalecimento dos partidos políticos é condição sine qua non para o próprio fortalecimento da democracia. No essencial, considera-se que existe uma crise nos partidos colocados à direita do espectro político. Contudo, a crise é, ao invés, transversal a todo o espectro político. Os cidadãos têm baixos

Revisão do Código do Trabalho

O Governo propõe um conjunto de medidas para aumentar a competitividade das empresas e reduzir a precariedade laboral. As propostas não são consensuais, mas a verdade é que propostas desta natureza raras vezes conseguem reunir vários consensos. De resto, as propostas do Governo vêm acompanhadas de boas intenções, e é notório que se procuram equilíbrios entre os interesses dos trabalhadores e das entidades patronais. Resta saber se muitas empresas não vão fazer letra morta de qualquer legislação que possa sair desta revisão. Na verdade, já é isso que acontece no contexto da actual legislação laboral. De qualquer modo, o Governo tenciona proceder a alterações significativas na legislação laboral. No combate à precariedade, pretende-se penalizar fiscalmente quem recorra a contratos a prazo, beneficiando quem opta por fazer contratações sem prazo. Quem recorra à prestação de serviços, comummente designada de recibos verdes, sofrerá uma penalização. Ou seja, o ónus dos encargos deixará de r

1506

Trata-se do ano do massacre de pelo menos dois mil judeus em Lisboa. Na cidade de Lisboa, foi erigido um memorial, ou melhor três memoriais, a lembrar o horrível massacre de 1506. A Câmara Municipal de Lisboa associou-se a este gesto, propondo um memorial que sublinha o carácter “cosmopolita”, “multiétnico” e “multicultural” da cidade. E a Igreja Católica portuguesa é igualmente responsável pela proposta de um outro memorial com um pedido de perdão. Estas iniciativas vêm relembrar um período negro da nossa História, que teve o seu momento mais ignominioso em 1506, mas que não esconde um caminho que começa com D. João II que autoriza a vinda de judeus expulsos pela coroa espanhola, mas a troco de um elevado pagamento, o que contribuiu para o empobrecimento e para o sofrimento destes judeus perseguidos e expulsos pela coroa espanhola. Num outro momento, o mesmo monarca retira centenas de crianças aos seus pais judeus, enviando-as para São Tomé, onde muitas pereceram. É com D. Manuel I qu

Tudo na mesma no Zimbabué

As evidências de que Robert Mugabe não tenciona abandonar pacificamente o poder no Zimbabué começam a ganhar força. Os últimos dias foram marcados por acusações, por parte da Human Rights Watch de tortura no Zimbabué, e por acusações do líder da oposição que apontam para uma preparação de guerra por parte de Robert Mugabe. Na verdade, dez pessoas foram mortas desde as eleições de 29 de Março e 400 pessoas foram detidas; já para não falar dos milhares de deslocados, pelo menos três mil pessoas já abandonaram o território. Depois das eleições, designadamente após a vitória do partido opositor a Mugabe, o MDC, ter vencido o parlamento, começou a desenhar-se, segundo algumas análises, um cenário de possível afastamento do velho ditador. Todas as teses estão a ser paulatinamente afastadas pela evidência que mostra um Mugabe agarrado ao poder e pouco disposto a aceitar os resultados das eleições, se estas, naturalmente, lhe forem desfavoráveis. Por outro lado, os tumultos que se têm verifica

A imposição do Acordo Ortográfico

A discussão em torno das alterações previstas pelo Acordo Ortográfico têm gerado os mais diversos argumentos, por vezes mais políticos do que técnicos, o que é de lamentar. Parece que estamos, nós falantes da língua, confrontados com a irreversibilidade da imposição do Acordo Ortográfico, e esse é um facto de difícil aceitação. Este documento, pese embora tenha tido a participação de ilustres académicos e conte com a defesa dos mesmos, é feito à revelia dos falantes da língua. Esse desprezo pelos falantes da língua é absolutamente inaceitável. Dir-se-á que existem muitas decisões que são feitas à revelia dos cidadãos, e é para isso que os cidadãos delegam competências e funções nos seus representantes políticos. Mas nem tudo pode ser deixado à decisão unilateral de políticos conspurcados por uma acentuada estreiteza de espírito e manipulados por interesses que não são os dos cidadãos, que sustentam as suas decisões numa suposta homogeneização da língua e nos interesses económicos que t

O(a) senhor(a) que se segue

Depois da demissão de Luís Filipe Menezes da liderança do PSD, a pergunta que se coloca prende-se naturalmente com o seu sucessor. Não é, porém, de se excluir a hipótese de Menezes se recandidatar, pese embora as indicações do ainda líder do PSD que contrariam essa tese. De qualquer modo, não seria surpreendente se Menezes se candidatasse. Ainda antes do anúncio de renúncia do presidente do PSD, já José Aguiar Branco, deputado do PSD e ex-ministro do governo de Santana Lopes, tinha afirmado, claramente, querer combater José Sócrates nas próximas legislativas. Alguns analistas advogam que Aguiar Branco terá poucas possibilidades de ser eleito pelo partido, acabando por ter o efeito de desencadear outras candidaturas, mas sem que a sua seja de facto ganhadora. Não obstante algumas análises pessimistas, esta candidatura merece elogios pela coragem e pela frontalidade demonstrados por Aguiar Branco. Posteriormente, foi a vez de Pedro Passos Coelho, ex-líder da JSD durante o primado de Cava

Crise instalada no PSD

O título repete-se com acentuada frequência. De facto, a crise do PSD remonta ao tempo do ex-primeiro-ministro Santana Lopes, mas a actual liderança de Luís Filipe Menezes não conseguiu afastar inexoravelmente a palavra “crise”. Ontem, e depois de Aguiar Branco, ex-ministro da Justiça e deputado do PSD, ter avançado com a hipótese de se constituir como alternativa à actual liderança, Menezes anunciou a sua demissão e consequente convocação de eleições internas. Na sua declaração em que anuncia a sua demissão, Luís Filipe Menezes enfatizou a constante crítica interna como factor de constante destabilização do partido, e elegeu esta razão como sendo primordial para a instabilidade que se vive no seio do partido. Esquece Menezes que essas críticas não surgem como contestação avulsa à sua liderança, mas surgem antes na sequência do enfraquecimento do PSD de que as últimas sondagens dão conta. Com efeito, o PSD tem, em matéria de intenção de voto, decrescido acentuadamente nas mais recentes

O filme da polémica

O pequeno filme do deputado holandês Geert Wilders, colocado na Internet, tem causado uma acentuada polémica que está longe de terminar com as condenações de países muçulmanos, da União Europeia ou da ONU. O filme, intitulado Fitna, trata o Islão de forma acentuadamente preconceituosa e assenta em generalizações abusivas. Antes de mais, importa fazer a destrinça entre o filme do deputado Holandês de extrema-direita, e as caricaturas dinamarquesas. No caso das caricaturas, a sátira incidia sobre o radicalismo que alimenta o terrorismo, enquanto que o filme Fitna trata o assunto do Islão, generalizando, indiscriminadamente, a violência e o ódio como característica intrínseca do Islão. A crítica que se pode fazer ao filme prende-se precisamente com a generalização abusiva com que se trata um assunto que merece, não obstante os focos de radicalismo, um tratamento mais fidedigno. Ora, pretende-se apenas fazer a apologia do anti-islamismo com recurso ao populismo mais desregrado. Vivemos em

O Presidente e a Madeira

Os ares da Madeira, já aqui se escreveu, parece terem um efeito negativo nos políticos que se deslocam à região autónoma. Agora foi a vez do Presidente da República não ter sido mais contundente em algumas matérias e, sobretudo, ter fraquejado politicamente no que diz respeito a um órgão de soberania como a Assembleia Legislativa. O que está em causa é que o Presidente cedeu aos tiques de autoritarismo do Presidente do Governo regional da Madeira, no que diz respeito à sessão plenária daquele órgão de soberania. Cavaco Silva preferiu o caminho mais fácil e menos trabalhoso, ficando tudo resumido apenas a um mero jantar com membros dos partidos de oposição. O erro de Cavaco Silva é precisamente ceder às pressões e aos tiques de autoritarismo a que o líder da Madeira, Alberto João Jardim, já nos habitou. De facto, quem sai vitorioso de toda esta situação, acaba por ser precisamente Jardim, que não perdeu tempo a colocar os seus habituais epítetos grosseiros aos membros da oposição. Nesta

Progressos no Iraque

Ainda este mês, o General David Petraeus, responsável militar máximo no Iraque, deu conta ao senado norte-americano da evolução, ténue e frágil segundo as palavras do General, no Iraque. Este mesmo responsável militar, segundo a revista Economist , sublinhou o decréscimo da violência étnica no Iraque, não obstante o recente episódio de violência da milícia do radical xiita Muqtada al-Sadr. O General Petraeus deu ainda conta da criação de legislação que permite aos sunitas uma maior integração. O General Petraeus não se absteve, porém, de enfatizar alguma intromissão do Irão, designadamente no apoio, através de armamento, a grupos xiitas. Estes progressos, apesar de relativamente anódinos, são um sinal de esperança num país ainda mergulhado no caos. Esta semana, foi libertado um jornalista britânico, Richard Butler, em cativeiro desde o mês de Fevereiro. A sua libertação contou com a forte participação de tropas iraquianas, o que representa um sinal de alguma consolidação das forças mil

Anatomia de um recuo

O ministério da Educação e o sindicato dos professores chegaram a um entendimento sobre o polémico processo de avaliação dos professores. A ministra da Educação apressou-se a afirmar que não se tratava de um recuo do Governo. Politicamente, trata-se de um recuo. A ministra pode elaborar os artifícios semânticos que entender, mas é mesmo disso que se trata – de um recuo. O processo de avaliação dos professores foi alvo de críticas, não apenas por iniciativa da classe docente, mas também dos partidos da oposição e de vários quadrantes da sociedade portuguesa. Para além das críticas que incidiam sobre vários itens do modelo de avaliação proposto pelo ministério, sobravam igualmente criticas à forma como se estava a tentar impor, extemporaneamente e à margem de toda uma classe profissional, um modelo de avaliação que gerou demasiadas divergências. O zénite do desagrado dos professores foi a famigerada manifestação que reuniu um número atípico de manifestantes. O sinal foi claro para o Gove

As elevadas taxas de juro do crédito ao consumo

A Comissária europeia para os direitos dos consumidores alertou para o facto de, em Portugal, se praticarem elevadas taxas de juro no que concerne ao crédito ao consumo – em Portugal regista-se o dobro do que é praticado no espaço comunitário. De resto, a constatação da comissária não é propriamente novidade, mas a preocupação manifestada pela comissária permite ao país olhar de frente para uma realidade que se torna incomportável para muitas famílias. Há a tendência para atenuar a problemática do endividamento, referindo que Portugal não é o país mais endividado da Europa. E, de facto, não é. Mas ainda assim é preciso contextualizar os elevados níveis de endividamento que se registam no nosso país: a nossa economia não é seguramente das mais fortes e dinâmicas da Europa; o emprego precário associado a uma significativa taxa de desemprego coloca muitas famílias em risco; a existência de uma economia que apresenta algumas debilidades e a eminência de uma crise internacional é uma combin

Precariedade do trabalho também é um drama social

O Bloco de Esquerda teve a iniciativa de levar à Assembleia da República o tema da precariedade laboral. Esta iniciativa merece profundos elogios, ainda para mais num contexto em que os restantes partidos políticos refugiam-se no mais insidioso silêncio. O tema da precariedade laboral é, amiúde, ignorado quer pela comunicação social, quer pelo poder político. Parece, pois, que todos conhecemos a realidade do trabalho precário, mas ainda assim preferimos ignorá-la. O trabalho precário tem as suas causas na vigência de uma mentalidade obtusa que privilegia o facilitismo, o lucro fácil, e inadvertidamente acaba por redundar no fracasso de muitas empresas que, ao invés, de apostarem num desenvolvimento sustentável, mas trabalhoso, preferem enveredar pelo caminho mais fácil. São os mesmos empresários que ainda perceberam que a produtividade das empresas está intimamente ligada à satisfação dos funcionários – ainda não perceberam que têm de estipular um mínimo de satisfação aceitável, caso c

É tudo uma questão de estilo

O líder do PSD, Luís Filipe Menezes, fez afirmações lamentáveis, durante a sua deslocação à Madeira. Essas afirmações, talvez o líder do PSD tivesse sido contaminado pelos ares da Madeira, incidiram sobre aspectos da vida pessoal do primeiro-ministro, mais concretamente sobre a sua vida académica. Luís Filipe Menezes, manifestando uma acentuada vacuidade de ideias, prefere assim os ataques pessoais. O presidente do PSD achou que seria profícuo se fizesse questão de afirmar que completou o seu curso numa Universidade pública e durante o tempo “normal”, ao invés do primeiro-ministro. Será que Menezes ainda não percebeu que a polémica sobre o curso do primeiro-ministro nada tinha a ver com as capacidades do primeiro-ministro? A polémica era sustentada pela opacidade que caracterizou parte do percurso académico do primeiro-ministro, nada mais do que isso. Exultar as suas próprias conquistas académicas, contrapondo as mesmas ao percurso académico do primeiro-ministro não ficou bem a um líde

Acordo Ortográfico

A discussão sobre o Acordo Ortográfico, desenhado nos anos 90, mas ainda à espera de ratificação, tem vindo a público, graças, em larga medida, a iniciativas da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros e ao empenho do escritor Vasco Graça Moura em defender a não ratificação do acordo. Caso contrário, pouco ou nada se ouviria sobre um acordo que vai ter real impacto na língua portuguesa. Parece mesmo não haver um interesse em que se divulguem os contornos de um acordo feito à revelia da generalidade dos portugueses. Enganam-se aqueles que defendem que esta é uma discussão que deve ser empreendida apenas entre académicos e responsáveis políticos. A língua não é um exclusivo do mundo académico e da esfera política. Os objectivos do acordo ortográfico são, aparentemente, positivos. Pretende-se, assim, uniformizar e divulgar a língua portuguesa escrita, com o claro objectivo de uma maior internacionalização da língua. Contesta-se, no entanto, a forma como se pretende alcançar esse obje

Tibete e hipocrisia

Ontem foi entregue, na Assembleia da República, uma petição de 11 mil assinaturas cujo objectivo é persuadir os deputados no sentido de condenarem a violência no Tibete, a supressão da liberdade religiosa e o desrespeito pelos direitos humanos. O PCP justifica o seu voto contra com o facto de se estar reiteradamente a “deturpar a situação no Tibete”, criticando ainda os que “põem em causa a integridade territorial da China”. Ora, o PCP dá novamente sinais da sua já tradicional hipocrisia. Não se pode ser, simultaneamente, arauto das liberdades e da democracia – como o PCP advoga ser – e não condenar a infâmia do regime Chinês, em relação ao Tibete. É nestes contextos que o PCP mostra a sua verdadeira natureza. Não obstante as atrocidades que são cometidas no Tibete pelo regime chinês – um regime claramente totalitário e nada apologista das liberdades individuais –, o PCP continua a ver o filme ao contrário. É claro que se trata de solidariedade ideológica; poucos, no PCP, conseguem esc

A dupla

A dupla constituída pelo presidente do PSD, Luís Filipe Menezes, e por Alberto João Jardim deu sinais de se ter consolidado durante o XII Congresso do PSD, realizado durante o passado fim-de-semana e à porta fechada. Os ares da Madeira não têm o melhor efeito sobre os líderes do PSD que se deslocam à ilha. Já antes de Menezes, foi Marques Mendes a ser contagiado pelo populismo bacoco do líder do governo regional da Madeira, e a mostrar uma admiração esfuziante em relação a Alberto João Jardim. Esta aproximação entre o líder do PSD nacional e Alberto João Jardim explica-se também pela necessidade de agradar ao líder madeirense. De facto, é preferível ter João Jardim como aliado do que como inimigo. Em todo o caso, Menezes conseguiu ir ligeiramente mais longe do que o seu antecessor ao preconizar uma nova Constituição e ao prometer ao líder madeirense uma “autonomia sem limites”, seja lá o que é que isso representa. Menezes não explicou muito. Esta aproximação entre Menezes e Jardim pode

O ridículo da ASAE

A ASAE é responsável por uma nova proeza: superar novamente os limites da sensatez, resvalando inevitavelmente para o mais absurdo ridículo. O episódio conta-se em algumas linhas: um proprietário de um armazém foi detido e o seu material apreendido, designadamente máquinas de chocolate, isto porque a iluminada ASAE considera haver ilícito criminal relacionado com o jogo de fortuna e azar. Ou por outras palavras, o proprietário do armazém foi detido por possuir e comercializar máquinas de bolas que dão, ao acaso, chocolates. Para além das já habituais dúvidas em matéria de regulamentação – a ASAE actua de uma determinada forma, os tribunais, em alguns casos, têm outro entendimento –, a situação é manifestamente ridícula e desprovida de sentido. Ora, não faria mais sentido fazer um esclarecimento aos comerciantes deste tipo de máquinas e aos proprietários de restaurantes e cafés? Ao invés de multar e deter? A resposta é claramente negativa, até porque a ASAE não faz pedagogia, aplica obt

O desemprego dos licenciados

O ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, em declarações à Rádio Renascença, afirmou que “o número de profissionais com cursos superiores que saem todos os anos para o mercado de trabalho não chega e são todos absorvidos”. Ora, uma afirmação desta natureza só se pode enquadrar num contexto mais vasto de propaganda política. É reconhecido por todos que os licenciados, designadamente os jovens, têm acrescidas dificuldades em entrar para o mercado de trabalho, e quando são bem sucedidos nessa tarefa, acabam por trabalhar em condições de manifesta precariedade. O ministro deve estar ciente dos números que mostram uma realidade que não é consonante com as suas afirmações. Por outro lado, não faz sentido sublinhar-se a necessidade de mais trabalhadores qualificados, quando o mercado mostra-se relutante em integrar os que já existem. Quando discussões desta natureza eclodem, acaba-se por enfatizar as dificuldades que algumas licenciaturas acarretam em matéria de procura do mercado laboral.

Um governo, dois rostos

O actual Governo, tal como a generalidade dos seus antecessores, manifestou ter dois rostos: um primeiro rosto das reformas e da impetuosidade reformista, que, entretanto, foi substituído por um segundo rosto – o rosto eleitoralista, ou se preferirmos, um rosto do pragmatismo eleitoralista. De facto, a metamorfose do Governo não é exclusiva do actual Executivo; os ciclos políticos coadunam-se com as diferentes realidades, mas o Executivo de José Sócrates parece ansioso por mudar de rosto do seu Governo e nem sequer tenta dissimular – ou se tenta, manifesta uma considerável inépcia – o pragmatismo eleitoralista que demonstra. Em todo o caso, a tal mudança de rosto pode ser extemporânea, recorde-se que ainda falta algum tempo para as eleições legislativas, sendo certo, no entanto, que deste ano, com a aproximação do Verão e dos eventos desportivos que marcam o ano de 2008, já sobrará muito. Nestas condições, o primeiro-ministro tem-se desdobrado em inaugurações e anúncios de novos invest

Cimeira da Nato e os resquícios da guerra-fria

Está a ter lugar, esta semana, em Bucareste, aquela que é considerada a maior cimeira da história da Nato. O assunto do Afeganistão vai ter lugar de destaque na agenda, mas talvez o ponto mais polémico seja a possibilidade de alargamento da aliança atlântica à Ucrânia e à Geórgia, fortemente apoiada pelos EUA, e veementemente repudiada pela Rússia. No essencial, os Estados Unidos apoiam o pedido da Ucrânia e da Geórgia para entrada no Membership Action Plan, o último passo antes da entrada na NATO. A Rússia, por sua vez, e secundada pela maioria dos Estados-membros da União Europeia, com destaque para a Alemanha e França, dificilmente aceitarão a entrada deste dois países para a Nato. As razões que justificam a oposição russa prendem-se com razões históricas, designadamente com o antigo Pacto de Varsóvia, no tempo da União Soviética; mas no essencial, as razões russas para uma forte oposição dizem respeito aos interesses de Moscovo: trata-se de uma zona de influência russa e a Rússia t

Fim da era Mugabe?

O maior partido da oposição no Zimbabué, o Movimento para a Mudança Democrática (MDC), anunciou que conseguiu 60 por cento dos votos nas últimas eleições; alguns órgãos de comunicação social têm veiculado a informação que indica que Robert Mugabe não está disposto a disputar uma segunda volta. Se estas informações se confirmarem podemos estar a testemunhar um momento histórico – o fim de uma era, o fim da era Mugabe. De qualquer modo, hoje foi notícia que o partido de Robert Mugabe perdeu maioria no parlamento. Contudo, é prudente esperar, até porque a contagem dos votos está a demorar mais tempo do que o esperado. O Zimbabué necessita de uma mudança radical, volvidas que estão quase três décadas de poder absoluto de Mugabe. Os custos para o país são incomensuráveis: a economia é um desastre, com taxas de inflação inacreditáveis e com uma taxa de desemprego que afasta a maior parte da população de um emprego. Neste contexto, não é de estranhar que a fome e a pobreza constituam o cenári

Cultura como elemento indissociável da Educação

A educação e cultura devem ser indissociáveis, mas não é tanto isso que ocorre em Portugal. A cultura está a cargo de um ministério que mais não faz do que distribuir subsídio – esse parece ser, de facto, a grande finalidade do Ministério da Cultura. A promoção da cultura, incorporada no mesmo ministério, raramente é enquadrada no contexto escolar. É fundamental inverter-se o rumo das políticas educativas que desprezam a cultura. Aliás, os países que conheceram os maiores índices de desenvolvimento, onde se verificam uma maior igualdade e coesão sociais, são precisamente aqueles que não dissociaram a cultura da educação. Em Portugal, a cultura é vista como uma mania das elites, consubstanciada na execução de políticas de atribuição de subsídios – e mais não é do que isto. Não há uma verdadeira promoção da cultura, nem tão-pouco se pretende levar a cultura, nas suas várias formas, para a escola. Hoje a preocupação, em matéria de educação, ficou refém do caso da indisciplina na Escola Ca