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A mostrar mensagens de julho, 2014

Uma pipa de massa

Durão Barroso, ainda Presidente da Comissão Europeia, mostrou-se regozijado com um acordo firmado com o Governo português, a envolver 26 mil milhões de euros que Portugal deverá receber. Mais fundos a juntar a tantos outros que Portugal já recebeu. “ Uma pipa de massa ”, segundo Durão Barroso que serve também para calar quem tem falado mal da Europa. E como se isto não bastasse, Durão Barroso atira mais mil milhões de euros como prémio de bom comportamento, ou por outras palavras, pela fidelidade canina demonstrada nos últimos três anos. Todas as Tecnoformas do país regozijaram juntamente com o Presidente da Comissão Europeia. Num estilo paternalista, Barroso deixa recomendações: utilizem bem o dinheirinho. De fora do momento idílico partilhado por Barroso e por Passos Coelho ficou o empobrecimento do país; de fora ficou o retrocesso de décadas; de fora ficou, naturalmente, a responsabilidade de um e de outro no retrocesso social, no aumento das desigualdades, no desemprego av

Mais do mesmo

António José Seguro e António Costa formalizaram as candidaturas às primárias do PS. Contas feitas e a escassos dois meses das eleições, somos confrontados com mais do mesmo. Com efeito, entre Seguro e Costa não existem diferenças substanciais, sobretudo no plano ideológico. Haverá seguramente uma vasta multiplicidade de diferenças no campo da personalidade, porém no que diz respeito às ideias e projectos para o país, mais do mesmo. Das eleições de Setembro sairá aquele que muito provavelmente será o próximo primeiro-ministro de Portugal, alguém que tem uma função clara: não mexer substancialmente no que está feito; dito por outras palavras: não alterar a ordem das coisas, não mexer em demasia num sistema que permite a perpetuação e agravamento das desigualdades e que garante a manutenção de um determinado conjunto de pessoas no poder político, económico, etc. António José Seguro ou António Costa não vão alterar profundamente a ordem de coisas, nem tão-pouco apresentarão qua

Israel está a perder a guerra mediática

A mais recente ofensiva israelita em território palestiniano, designadamente na Faixa de Gaza, já resultou em mais mil mortos palestinianos, entre eles 200 crianças e mais de 40 mortos israelitas, sobretudo militares. A desproporção é óbvia e Israel começa a perder uma outra guerra: a guerra mediática. Esta é a consequência directa da desproporção e da morte de crianças. É óbvio que não será intenção de Israel matar crianças, mas tem acontecido de forma brutal e implica a perda de apoio internacional, sobretudo da opinião pública. A desproporção de meios e de resultados e a morte de civis, sobretudo de crianças, torna a vida de Israel, no plano internacional, muito mais intrincada. De resto, é contraproducente e apenas beneficia o Hamas. Desde modo, o radicalismo do Hamas que rejeita a existência de um Estado israelita e que utiliza todos os meios ao seu dispor para atacar o território israelita passam a ser questões pouco relevantes que são obnubiladas pelas imagens atrozes

A crise

Sobre a crise já muito se disse: que as pessoas, pensionistas, funcionários públicos, trabalhadores do sector privado, viveram acima das suas possibilidades; que o Estado Social é insustentável; que o Governo anterior tinha sido o responsável exclusivo pela difícil situação a que o país chegou. Todos repetiam esta litania e foi precisamente com esta litania, a par de algumas manobras insidiosas, que o actual Governo chegou ao poder. O sector financeiro, responsável pela crise, teve um papel secundário no processo de culpabilização dos últimos três anos. Pelo caminho ouvimos banqueiros criticar o subsídio de desemprego ou garantir que os cidadãos não tinham outro remédio que não fosse aguentar. Pelo caminho os arautos de um neoliberalismo desenfreado esqueceram-se de dizer que o a carga fiscal para a banca é insignificante - 2,1 por cento do total da receita de IRC em 2012, por exemplo, beneficiando ainda de outras benesses fiscais. Os mesmos arautos esqueceram-se de referir que o

Maus resultados em plena silly season

A execução orçamental no primeiro semestre não foi famosa. O défice da administração pública subiu mais 140 milhões. A culpa é do Tribunal Constitucional (TC) , o bode expiatório do costume e não da insistência por parte do próprio Governo na aplicação de medidas inconstitucionais. Outra notícia relacionada: Portugal foi o terceiro país onde a dívida pública mais aumentou, atingindo os 132,9 por cento do PIB - o terceiro valor mais alto de toda a U E. Entretanto já estamos todos esquecidos da origem desta crise e d a transferência do ónus da dívida de um sector bancário excessivamente endividado que apostou num sector imobiliário fortemente sobrevalorizado e em tudo o que foram negócios ruinosos para o país. Esse ónus passou para a dívida soberana. O capital moveu-se e nada mais. Trabalhadores e pensionistas ficaram com a fatura. Em plena silly season o Governo é confrontado com as más notícias que tenta escamotear, responsabilizando o TC. Esquece-se de referir o aumento do pag

Guiné Equatorial na CPLP

A CPLP conta agora com mais um membro: a Guiné Equatorial. Aquele país corrupto, liderado por um ditador que chegou ao poder através de um golpe de Estado sem misericórdias. A História deste país é conhecida: Teodoro Obiang - é assim que o senhor se chama - chafurda no luxo resultado dos vastos recursos do país, enquanto 80 por cento dos seus cidadãos vivem na mais abjecta miséria. Este é um dos países mais ricos da África subsariana. A Guiné Equatorial aderiu à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Na sua maioria não falam português (excepção de algumas regiões onde se falam línguas crioulas e que, com algum esforço, se encontrará algum resíduo da língua portuguesa). Detalhes sem importância. A Guiné Equatorial está nos antípodas do que é a democracia. Não interessa. Detalhes sem importância. A Guiné Equatorial desrespeita visceralmente os direitos humanos. Mais uma vez meros detalhes. Não sejamos picuinhas. Obiang, o líder daquele país, vai investir no Banif com o

Tréguas

A violência que tomou conta de Gaza, nos territórios palestinianos, recrudesceu dramaticamente com a ofensiva terrestre israelita. O conflito israelo-palestiniano dura há décadas, esta é uma região historicamente instável e depois da torrente de vítimas ao longo dos anos, o conflito perdura. Pelo caminho as resoluções das Nações Unidas são desprezadas. Este mais recente agravamento, depois da morte de três jovens israelitas na Cisjordânia (do lado palestiniano alega-se que dois jovens palestinianos já tinham sido assassinados), Israel respondeu visceralmente. A comunidade internacional pede tréguas, sem grande ímpeto , como de resto tem sido habitual. De um lado o anti-semitismo do Hamas e a utilização de rockets, insistindo numa posição contraproducente e que dá força às acções militares israelitas, fornecendo aos israelitas um pretexto, uma razão, uma certa legitimidade; do outro, de forma esmagadora, uma espécie de colonização por parte de Israel, controlo da águas, da

Aliança à esquerda

A Associação Fórum Manifesto propõe uma “plataforma política disposta a participar na governação”. Dito por outras palavras, Ana Drago e Daniel Oliveira mostram-se dispostos a encetar uma aproximação ao PS. Segundo os intervenientes, a urgência dos tempos assim o exige. Recorde-se que Ana Drago constitui a mais recente baixa no Bloco de Esquerda e que Daniel Oliveira já se tinha afastado do partido faz algum tempo. Agora pugnam pela “construção de um programa que impeça o desmantelamento do Estado Social e uma plataforma política disposta a participar na governação”. Procura-se assim uma plataforma de entendimentos que incluia naturalmente o Partido Socialista. Percebe-se a intenção: exequibilidade. Com efeito, e na perspectiva de quem propõe uma plataforma que é como quem diz uma aliança à esquerda, uma mudança só será possível numa esquerda onde caiba simultaneamente o entendimento e a governação. A ideia faz sentido.  Todavia, não estou assim tão certa que para os lados d

Contenção a Israel

Foi este o pedido do Secretário-Geral das Nações Unidas – um pedido dirigido a Israel, depois de intensivos ataques à Faixa de Gaza e sobretudo depois de uma incursão terrestre cuja justificação é difícil e cujas consequências para os palestinianos são dramáticas. O pedido de Ban Ki-moon ,Secretário-Geral das Nações Unidas, é insuficiente e será ignorado, como tantos outros pedidos por parte das Nações Unidas. Depois do assassínio de três jovens israelitas, depois do assassínio de um jovem palestiniano, depois de ataques mútuos e sucessivos, e na sequência ainda da manifestação de força de Israel, claramente desproporcionada, o resultado está à vista: centenas de mortes do lado palestiniano – só no domingo mais de cem -, um terço crianças e mulheres, e pouco mais de uma dezena do lado israelita. Atrocidades atrás de atrocidades. Recordemos que na faixa de Gaza vivem mais de milhão e meio de palestinianos, encurralados num pedaço de terra exíguo, um verdadeiro beco sem saíd

Acólitos

Todos os governos necessitam dos seus acólitos, responsáveis por coadjuvarem na missa. Este Governo de Passos Coelho e de Paulo Portas não é excepção. Importa contudo reconhecer que para ouvir e ler os acólitos que ajudam na missa do Executivo de Passos Coelho é preciso ter estômago. Reconhecemos com facilidade os ditos acólitos: os mais ou menos especialistas, revestidos de uma presumível sapiência adorada pela comunicação social, dotados de uma moral inexpugnável; os acólitos que fazem parte de um jet set apodrecido; os que nos tempos mais áureos de Miguel Relvas, clamavam por empreendedores de bater punho e actos similares – um fiasco, apesar de tudo e, claro está, banqueiros fingidores: fingem não ser parte interessada e, mais grave, fingem nada ter a ver com a crise que convenientemente deixou de ser uma crise financeira para se tornar numa crise das dívidas soberanas. Os mesmos que vivem de rendas e de negócios ruinosos executados por políticos de pacotilha. Aqueles que

Depois de empobrecer

O que existe depois de empobrecer? O que subsiste depois de um empobrecimento vendido em conjunto com a ausência de alternativas? O que sobrevive a esse empobrecimento fruto do facto de termos vivido acima das nossas possibilidades? O primeiro-ministro, forte defensor do empobrecimento e exímio executante desse mesmo empobrecimento tem agora uma prioridade: apoio à natalidade. Segundo o primeiro-ministro importa agora “retirar obstáculos à natalidade”. Assim, o primeiro-ministro e os seus acólitos sugerem trabalho em part-time com vencimento, durante um ano, a 100 por cento, reduções em matéria fiscal e em tarifas municipais, um passe familiar, etc. Sob os escombros Passos Coelho lembra-se que um país é feito de pessoas; isto depois do já referido empobrecimento como panaceia para todos os problemas do país; depois do incentivo directo e inequívoco à saída de jovens do país; depois de mais de um milhão de desempregados (incluindo os que já desistiram de procurar emprego e os m

Malabarismos

Os malabarismos, sobretudo no que diz respeito a números, não é uma prática estranha aos governos, mas o actual Executivo está muito à frente dos seus antecessores. Porventura o melhor exemplo de malabarismo com números prende-se com os dados do desemprego. Procura-se um equilíbrio inexistente. De resto, todos já ouvimos responsáveis governativos apregoarem uma pretensa redução do número de desempregados – um dos sucessos (?) deste Governo. Ora, alguns jornais dão indicação da existência de 162 mil desempregados escondidos, invariavelmente envolvidos em acções de formação e outras “acções”. Estes subterfúgios aumentaram mais de 60 por cento desde 2013. Se a isto somarmos aqueles que desistiram de procurar activamente emprego, somos confrontados com números assustadores, mas reais. Este malabarismo, para me socorrer de um eufemismo, junta-se a um vasto rol de mentiras como o caso recente de uma pretensa redução da pobreza e das desigualdades, quando estes números, de que o p

A esquerda e os desentendimentos

É sobejamente conhecida propensão da esquerda para os desentendimentos. Tem sido assim ao longo dos tempos. Em bom rigor, também é natural que em democracia, num contexto onde impera a pluralidade de opinião, as diferenças sejam preponderantes. Contudo, há um factor que tem contribuido para a divisão das esquerdas e esse factor prende-se com a propensão que os partidos ditos socialistas e outros partidos de esquerda têm para se render aos interesses que unem os partidos de direita. Em Portugal passa-se o mesmo. E os partidos que permanecem fiéis aos ideiais de esquerda desentendem-se. Veja-se o caso do Bloco de Esquerda: os últimos resultados eleitorais foram um desastre e as cisões internas continuam a fazer o seu caminho, existindo quem deseje uma união à esquerda e quem rejeite em absoluto essa possibilidade. Ana Drago foi a mais recente baixa no Bloco de Esquerda. E partidos como o Livre arriscam-se a conquistar eleitores que outrora votavam no Bloco de Esquerda.

Escalada de violência

O assassínio de três adolescentes israelitas na Cisjordânia deu origem a uma escalada de violência naquela região do médio-oriente. Israel respondeu a este crime detendo vários membros do Hamas - visto como responsável pelo crime. Poucos dias depois, um jovem palestiniano foi assassinado, alegadamente queimado vivo. As semanas que se seguem são marcadas por bombardeamentos aéreos israelitas, aparentemente como resposta ao lançamento de rockets pelo Hamas. O resultado: dezenas de civis mortos em Gaza. Para agravar a situação já por si muito grave, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu dá ordens para "endurecer" os ataques, não estando mesmo afastada a hipóteses de uma ofensiva terrestre em Gaza. Com efeito, persiste uma dificuldade em perceber de que forma se pune um crime hediondo - indubitavelmente - com a fustigação de todo um povo. O assassínio dos três jovens israelitas é atroz, mas nada se resolve punindo todo um povo pelo crime. O resultado está à vi

Mentira

Por aqui se tem sublinhado a ligeireza com que o Governo tem exercido o seu mandato: o primeiro-ministro e os seus acólitos não se sentem impelidos a dar satisfações aos cidadãos; tudo cai na mais abjecta impunidade; vivemos no país da inconsequência; vale tudo; etc. É evidente que a mentira não podia ficar de fora, sobretudo porque se vive o já referido contexto de impunidade. Agora Passos Coelho gabou-se de um feito: nos seus anos de governação a pobreza diminuiu. Mentira. Não existe outro termo, trata-se de uma mentira. Passos Coelho usa números referentes ao mandato de José Sócrates para justificar uma pretensa diminuição da pobreza. A notícia é do jornal Expresso e diz claramente o seguinte: “Passos usou dados de 2011 para dizer que a pobreza baixou” . Contudo, os dados do INE dizem outra coisa: a pobreza aumentou – voltamos a números de 2005 – e as desigualdades também aumentaram. A propósito da apresentação do relatório da OCDE, encomendado pelo próprio Governo, Passos

A verdadeira natureza de um governo

O governo italiano apresentou uma proposta no sentido de aligeirar o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) com vista à recuperação das economias. Um país como Portugal só teria a ganhar com uma maior flexibilização das regras do PEC; uma flexibilização que contribuiria para o crescimento da economia portuguesa, e embora ainda não se saiba exactamente quais as medidas em concreto, a ideia de aligeirar o PEC - que mais não tem sido do que um óbice ao desenvolvimento, sobretudo das economias periféricas - só poderia trazer vantagens para um país como Portugal. Não é este o entendimento do Governo português. O Executivo de Passos Coelho volta a mostrar a sua verdadeira natureza: os interesses deste Governo não são os interesses do país; dito por outras palavras, importa sim defender a cartilha ideológica que pugna por regras inflexíveis, pela exiguidade das funções do Estado, pela primazia dos credores, ao mesmo tempo que se cria mais dívida e pelo empobrecimento colecti

Cair em saco roto

Mais uma proposta para resolver o problema da dívida, desta feita trata-se de um guião elaborado por Francisco Louça, Ricardo Cabral, Eugénia Pires e Pedro Nuno Santos. O guião tem como designação "Um programa sustentável para a reestruturação da dívida portuguesa". Mais uma proposta a engrossar a já significativa lista de outras propostas e petições a sublinharem a importância de se restruturar a dívida portuguesa; mais uma proposta a solicitar a renegociação com os nossos credores, com adiamentos da amortização da dívida e com a redução dos juros. Esta é de facto mais uma proposta a fazer um pedido que cai em saco roto. O Governo não tem qualquer interesse em encarar a possibilidade ou até mesmo a necessidade de o país reestruturar a sua dívida. Em bom rigor, qualquer tentativa de renegociação com os credores só passará por um novo governo. O que reforça a importância dos candidatos a primeiro-ministro, em particular no caso do PS, clarificarem esta questão, p

Afinal está tudo bem

A crise que transformou a vida de um país, tornando-o incrivelmente mais pobre, não pode ser dissociada das selvajarias praticadas por um sector em especial: o sector financeiro invariavelmente envolvido nos negócios ruinosos levados a cabo por governantes que se renderam à promiscuidade entre poder económico-financeiro e poder político. Importa não esquecer que os excessos deste sector que deram origem a uma dívida privada consideravelmente superior à dívida pública, excessos que ainda hoje estão a ser pagos por desempregados, trabalhadores do sector público, mas também do sector privado, por pensionistas e por todos os que, de uma forma ou de outra, dependem do Estado Social. A voracidade, os negócios arriscados e a total subserviência de uma classe política a banqueiros estão inexoravelmente ligadas ao estado a que o país chegou. O caso BPN foi o mais conhecido, um caso de justiça que onerou e continua a onerar o país, mas os excessos não se ficam pelo BPN ou pelo BPP

Surpresas desagradáveis

Ninguém aprecia surpresas desagradáveis: um despedimento, uma despesa suplementar, um acidente, o banco BES necessitar de uma “ajudinha” do Estado. Afinal de contas, todos nos lembramos da “ajuda” que o Estado deu ao famigerado BPN. Dir-se-á que a possibilidade do BES necessitar de um empurrão do Estado é remota. O que a perspetiva empírica nos diz é que ficamos sempre a perder quando se trata de um banco. De resto, a agitação em torno do BES tem sido considerável. Todos vêm a público mostrar que está tudo sob controlo: o Governo que pretende mostrar que nada tem a ver com o assunto; comentadores e reguladores dizem estar tudo bem, ou que vai ficar tudo bem. A frase mais ouvida é: “a situação financeira do BES é sólida. O mais recente aumento de capital reforçou a posição do banco”, etc, etc. Por outro lado, O Citigroup pinta um cenário menos positivo, falando em perdas potenciais de mais de quatro mil milhões de euros... Pensando melhor, vamos ser mais optimistas e c

Nem carne nem peixe

Secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, acusou no passado o PS de não ser nem carne nem peixe. Tem razão. E nada parece mudar. Agora é a vez de António Costa, ainda candidato, a afirmar que o PS não pisca nem à direita, nem à esquerda. A história do símbolo do PS, o punho fechado, símbolo que ainda lembra a esquerda, etc, já lhe passou. Talvez tenha sido dispepsia ou até mesmo obstipação. Seja como for, nessa mesma ocasião Costa relembrou que os "adversários estão lá fora". Discordo, os adversários são internos e, em alguns casos, os adversários podem ser mais internos do que parecem: os adversários podem mesmo estar "dentro" do próprio António Costa. Aqui não encontramos explicação em hipotéticas maleitas digestivas, mas sim numa crise de identidade que perpassa todo o Partido Socialista. Costa aprofundou a sua teoria de "piscadelas": o PS "é um partido que se dirige a todos os portugueses", então por essa razão abdica de se posicionar

A crise e a saúde dos portugueses

O relatório de Primavera 2014 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde é muito claro: as políticas do Governo têm efeitos nefastos na saúde dos portugueses. Segundo quem elaborou o relatório há no Governo uma “síndrome de negação”. Com efeito, as políticas de consolidação orçamental, pejadas de austeridade, têm fustigado todos os pilares do Estado Social. A Saúde não é, obviamente, uma excepção. Aliás, na Grécia um dos pilares do Estado Social mais afectados pelas doses cavalares de austeridade foi precisamente a saúde. Neste particular, a Grécia recuou décadas. Ou seja a saúde dos cidadãos piorou e as respostas do sistema de saúde acompanhou essa degradação. Em Portugal passa-se o mesmo. O estudo em epígrafe aborda questões de equilíbrio emocional como a depressão, a ansiedade, o desespero – problemas que não podem ser dissociados das receitas de austeridade. Refere-se ainda um conjunto de sinais inquietantes: aumento considerável do consumo de antidepressivos, hipnót

Califado

O grupo jihadista ISIS que controla uma parte significativa do território iraquiano anunciou o regresso do califado nos territórios sob a sua ocupação. Com este anúncio o grupo procura consolidar o seu domínio na região, pondo em causa lideranças políticas e até a hegemonia de grupos extremistas como o caso da Al-Qaeda. Deste modo, o extremismo pode agrupar-se junto do ISIS e do recente califado. A instauração do califado tem, recorde-se, um forte significado para a comunidade sunita, representando inevitavelmente mais uma fonte de preocupação para os xiitas. Importa não esquecer as divisões entre sunitas e xiitas e que essas divisões assentam na descendência do profeta Maomé: os xiitas consideram Ali o verdadeiro sucessor de Maomé; os sunitas defendem que a legitimidade da sucessão está nos califas. O califado tem associado a sharia como lei da umma ou da comunidade islâmica. Sharia que é lei basilar desta forma de governo: o califado. O grupo que agora instaurou o califado