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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2007

A cegueira do PS

O presidente da federação distrital do PS-Porto já veio a público reiterar a confiança deste partido na directora regional de Educação do Norte; a mesma que suspendeu um professor por este ter, alegadamente, lançado impropérios ao primeiro-ministro. O ilustre membro do PS adiantou ainda que a directora tem feito um trabalho louvável à frente da DREN, e critica a “inversão de valores que se verificou neste caso” – parece que o professor suspenso é agora “um novo herói nacional”, segundo as palavras deste membro do PS. O que foge à percepção de algumas pessoas ligadas ao PS é que este polémico caso deu um forte contributo para a sensação geral de se viver num país onde as liberdades são condicionadas. Refira-se novamente que o professor foi suspenso em consequência da actuação premeditada de um bufo, com a clara aprovação da directora. Por muito graves que tenham sido as palavras do professor, a bufaria e o incentivo à delação é que chocaram a opinião pública. Não se compreende, pois, co

O PSD e a Madeira

Apesar da haver quem aprecie o estilo brejeiro e populista do presidente do Governo regional da Madeira, existem limites para o seu comportamento de constante afronta ao país. O episódio de recusa em respeitar uma lei da República Portuguesa é simplesmente inaceitável. E a rigidez de princípios deve estender-se a toda o espectro político nacional, incluindo o PSD e o seu líder. Em relação a esta matéria não pode haver dois pesos e duas medidas, em caso algum. Marques Mendes foi pela primeira vez à festa do PSD-Madeira, no Chão da Lagoa. Esta tradicional festa – apanágio do populismo mais primário – foi o palco para o início da campanha eleitoral de Marques Mendes para as próximas directas de Setembro. No seu desvario eleitoral, Marques Mendes teve uma intervenção, no mínimo, incipiente quando lhe foi colocada a questão sobre a IVG na Madeira. Foi mesmo possível observar laivos de populismo no discurso de Marques Mendes, o que poderá fazer algum sentido, tendo em conta que o seu oposito

Festa do Avante celebra revolução russa

A Festa do PCP escolheu este ano como bandeira a celebração dos 90 anos da revolução russa. Não será propriamente razão para grandes admirações, mas ainda assim é assunto que merece algumas palavras. Fará todo o sentido o PCP, de matriz marcadamente marxista-leninista, festejar e dedicar a sua festa à revolução russa. Não deixa, no entanto, de ser curioso evocar-se uma revolução cujos resultados são aqueles que todos conhecemos. A revolução russa de Outubro de 1917 não deu ao mundo os pilares para a construção de uma sociedade mais justa, aliás, os pilares dessa revolução soçobraram com a queda do muro de Berlim e com o inevitável fim da União Soviética. De qualquer modo, a Festa do Avante vai proporcionar aos seus visitantes um regresso, carregado de saudosismo, ao passado. O PCP propõe-se fazer uma exposição sobre a revolução, enaltecendo desta forma os 90 anos da revolução. É certo que muitos aspectos dessa revolução ficarão de fora da exposição. Ou será que as perseguições política

O medo e a delação

O polémico processo Charrua foi arquivado pela ministra da Educação. O Governo tenta atrapalhadamente pôr um ponto final no assunto. Ficou, no entanto, o mal-estar que este e outros casos geraram na opinião pública. O professor visado continua a não exercer as funções que exercia na DREN, a ministra da Educação devia ter ido mais longe e deveria ter afastado a directora e punido o delator. No mesmo dia que se soube do arquivamento do processo Charrua, Manuel Alegre, deputado do PS, escreve um artigo no jornal PÚBLICO sobre o medo que se instalou em Portugal. Manuel Alegre tem razões para utilizar a palavra “medo”, aliás não é por acaso que o faz – os episódios de tentativas de condicionamento mais ou menos evidente de algumas liberdades sucedem-se uns atrás dos outros. Dir-se-á que há algum exagero de retórica quando se utiliza a palavra “medo” e que o Governo não é directamente responsável por esses episódios. Contudo, o caso Charrua, o novo Estatuto do Jornalista, o afastamento da di

A Turquia e a União Europeia

As recentes eleições turcas que deram uma vitória clara ao partido AKP trouxeram por arrasto a polémica discussão sobre a futura adesão da Turquia à União Europeia. A adesão deste país à UE não pode ser analisada de forma despicienda. E do mesmo modo, as divisões que existem no seio da União Europeia acerca desta polémica questão são um sinal claro de que ainda existem demasiadas dúvidas sobre a adesão da Turquia. Se é verdade que a exequibilidade de uma União Europeia constituída por demasiados Estados poderá ser posta em causa, não é menos verdade que a entrada de um país como a Turquia não pode ser considerada como mais uma adesão de muitas. A União Europeia tem sido complacente nesta matéria, e tem alimentado a esperança (e para muitos a certeza) de que a entrada da Turquia para a União Europeia é um facto que acontecerá. Assim, torna-se a questão ainda se torna mais intrincada; ao exigir-se que a Turquia inicie e conclua reformas em troco de uma adesão ao clube europeu, ainda se e

As atribulações do maior partido da oposição

Afinal Marques Mendes não vai estar sozinho no dia 28 de Setembro, o actual presidente da Câmara de Gaia, Luís Filipe Menezes, vai fazer-lhe companhia. Depois de um impasse efémero, Luís Filipe Menezes anunciou a sua candidatura. A conclusão mais imediata a retirar desta conjuntura é a de que não existem verdadeiras alternativas para a liderança do maior partido da oposição. Fica assim claro que as atribulações que têm caracterizado o PSD, durante estas últimas semanas, são para continuarem. Se por um lado se verifica a presença apagada e incipiente do actual líder do PSD, por outro, não se perspectiva uma candidatura de Menezes que desperte grande entusiasmo no seio do partido e fora da esfera partidária. De resto, não parece que surja, entretanto, uma candidatura de uma outra personalidade do PSD. Na verdade, ninguém estará na disposição de liderar um partido sem rumo e inserido num contexto manifestamente desfavorável – eleições legislativas em 2009 frente ao partido do Governo que,

Portuguesas de segunda

Parece que os cidadãos deste país não são todos iguais, sendo certo que muitos de nós já tinham essa percepção, o caso das mulheres da Madeira que não podem realizar a interrupção voluntária da gravidez nesse território vem tornar tudo muito mais grave. É inaceitável que, graças à intransigência de Alberto João Jardim, as mulheres da Madeira se encontrem em circunstâncias diferentes das mulheres do continente e Açores. A possibilidade de se realizar a IVG até às 10 semanas foi referendada em Portugal, concorde-se ou não com esta questão. Mas mesmo que olhemos para o problema da Madeira na perspectiva legal, não se compreende como é que é possível que uma lei, consequência de um referendo, sirva para todo o território nacional menos para a Madeira. Com efeito, o Governo regional da Madeira já nos tinha habituado a episódios menos felizes e sempre carregados com o tom irascível da pseudo independência, funcionando esta linha de raciocínio invariavelmente como uma espécie de ameaça. No en

A crise da direita portuguesa

A direita está a atravessar, de facto, um período de alguma instabilidade e de crescente incerteza relativamente ao futuro do PSD e do CDS-PP. No entanto, a crise só é mais evidente à direita, porque na verdade à esquerda o cenário não é muito melhor. As eleições de Lisboa vieram pôr a nu a fragilidade dos partidos políticos. Consequentemente, é mesmo possível falar-se numa crise político-partidária que é transversal a todo o espectro político português. Porém, é o PSD e CDS que estão na ordem do dia, após o descalabro das eleições autárquicas de Lisboa. No PSD não parece haver verdadeiras alternativas ao actual líder Marques Mendes e no CDS Paulo Portas continuará a liderar um partido que começa a percepcionar o seu crescente apagamento. Na verdade, os partidos políticos estão vazios de ideias, de gente nova e livre de interesses e de palmadinhas nas costas; os partidos são meros receptáculos de seguidismo e de bajulação. É sobejamente conhecida a principal razão que explica o apagame

Estado da nação

Mais um debate sobre o estado da nação, mais um jogo de retórica a apelar à imaginação dos membros do Governo. Se por um lado o Governo pode enaltecer os resultados positivos da economia portuguesa – reconhece-se e aplaude-se o crescimento da economia portuguesa, graças, em larga medida, ao crescimento das exportações –, não se pode olvidar, contudo, que se vive pior em Portugal. O crescimento da economia não esconde, porém, que as reformas do Governo pouco ou nada têm atingido o lado da despesa. Apesar de as previsões para a economia serem animadoras, a verdade é que a generalidade dos portugueses não tem conhecido outra coisa que não sejam as dificuldades crescentes. E é este o país real que passa ao lado do discurso auto-lisonjeador do Governo, seja no debate sobre o estado da nação, seja em quaisquer outras circunstâncias. Por outro lado, os portugueses voltaram a conhecer de perto a deriva autoritária de quem nos governa. É inaceitável que se oiça falar com tanta insistência em de

Processo de paz do Médio Oriente

O quarteto responsável pelo processo de paz do Médio Oriente reuniu-se ontem em Lisboa, com a inclusão de Tony Blair como enviado especial para a região. O quarteto composto por ONU, EUA, Rússia e UE tem uma missão de dificuldade acrescida. A divisão que se vive na Palestina, entre Hamas e Autoridade Palestiniana, traz novas dificuldades ao quarteto. Note-se ainda que o processo de paz ganha crescente importância para Israel, a instabilidade que eclodiu na Palestina não se traduzirá numa nova oportunidade para a paz. Importa sublinhar que o envolvimento dos países da região na resolução do conflito israelo-palestiniano não pode ser ignorado, aliás a proposta da Arábia Saudita com vista a um regresso às fronteiras antes de 1967 é bom princípio para a resolução do impasse. Outro elemento positivo poderá ser o contributo e envolvimento de Tony Blair no processo de paz. As capacidades de negociação e o seu carisma serão, certamente, importantes para que se retome o caminho da paz. Contudo,

O terramoto

Muitos rejubilam com a actual crise do PSD, depois dos resultados quase humilhantes das eleições intercalares de Lisboa. Do lado de alguma esquerda, até se pode compreender as razões de tanto rejúbilo, na medida em que o principal partido da oposição passa por momentos de grande instabilidade. No entanto, e em nome da estabilidade do sistema democrático, não haverá quaisquer razões para tanto contentamento. No rescaldo das eleições de Lisboa são várias as vozes que anunciam a crise da direita portuguesa. Mas na verdade essa crise não constitui uma boa notícia para o país. De facto, os resultados dos principais partidos de direita nas eleições já referidas estiveram longe do aceitável para as expectativas do PSD e do CDS-PP. Mas não se pode afirmar, mantendo uma postura de alguma seriedade, que para a esquerda os resultados tenham sido positivos. O PS conseguiu vencer a Câmara, mas com difíceis condições de governabilidade; o PCP e o Bloco de Esquerda perderam parte significativa do seu

Episódio deprimente

O triste episódio dos idosos de Cabeceiras de Basto vem dar mais um contributo para o cenário desolador da política em Portugal. A excursão até Lisboa de um grupo de idosos, pretensos apoiantes do Partido Socialista não é apenas mais um sinal da artificialidade que impregnou a política em Portugal; é, essencialmente, sintomático de uma completa ausência de rumo dos partidos políticos e da crescente clivagem entre eleitores e partidos políticos. As televisões mostraram o deprimente episódio de um grupo de supostos apoiantes de António Costa cujo contributo seria o de levantar bandeiras do PS e contribuírem para a ilusão de um partido cheio de vitalidade. Tudo isto torna-se ainda mais inaudito quando se percepciona a confusão dos idosos, muitos deles sem saberem exactamente quem era António Costa e qual tinha sido o propósito da excursão. Não será exagerado inferir que existiu uma mais do que evidente utilização abusiva de pessoas para servirem os intentos festivos de um qualquer partido

O futuro dos partidos políticos

As eleições para a Câmara Municipal de Lisboa tiveram o dom de revelar, uma vez mais, a tibieza que caracteriza o espectro político português. A abstenção elevada e a confiança, através de uma votação significativa, depositada nas candidaturas independentes indicam um enfraquecimento dos próprios partidos políticos. Por consequência, não será precipitado asseverar um futuro menos promissor para os mesmos. As eleições em Lisboa são sintomáticas de um distanciamento acentuado entre cidadãos e partidos políticos; aliás, não se trata da primeira vez, esse afastamento tem sido recorrente nos últimos anos, e o exemplo das últimas presidenciais – com Manuel Alegre a conseguir um resultado notável – não pode ser displicentemente analisado. O desconforto que os cidadãos sentem em relação aos partidos políticos não é propriamente novidade. O que é, de facto novidade, é a rapidez com que tudo tem acontecido. De resto, os eleitores lisboetas penalizaram severamente os partidos políticos: - O PS, a

E novamente a Ibéria

A obtusa questão da Ibéria volta novamente à ordem do dia pela voz de José Saramago, estimado escritor português a residir na ilha espanhola de Lanzarote há 14 anos. O prémio Nobel da literatura faz uma previsão que aponta para o seguinte cenário: Portugal passará a ser mais uma província de Espanha. José Saramago, o profeta, anseia por essa união chamada Ibéria. Mas na verdade, não se tratará propriamente de uma união, mas mais da integração de Portugal por Espanha, ou dito de outra forma o país passaria a ser mais uma província espanhola. José Saramago terá as suas razões para se sentir ressentido com Portugal, depois de uma miríade de episódios que demonstraram a hipocrisia e o desprezo pela cultura, contudo, isso não justifica esta ideia da Ibéria. Com efeito, José Saramago estará a confundir a profecia com os seus desejos pessoais – ele já manifestou compreender e aceitar o conceito de Ibéria. De qualquer modo, e apesar de todas as razões de queixa que se possa ter do país, dos go

O fim de uma campanha eleitoral desinteressante

O desfecho da eleição para a Câmara de Lisboa não foi muito diferente do que se estava à espera. De todas as leituras possíveis a que sempre foi mais fidedigna referia-se à elevada abstenção, e também aqui não houve lugar a previsões muito erradas. Na verdade, o tempo até ajudou a combater a abstenção, curiosamente este foi um domingo pouco soalheiro. Mas ainda assim, a elevada taxa de abstenção marcou estas eleições. Efectivamente a campanha eleitoral foi desinteressante, isto para não recorrer a uma adjectivação mais acutilante. E é precisamente a falta de qualidade dos candidatos que provaram que a política em Portugal não é feita pelos melhores. Lisboa foi, uma vez mais, esquecida nesta campanha eleitoral. Do mesmo modo, não se poderá exigir aos portugueses um empenho muito maior quando os políticos são de tão fraco calibre. O mais grave, contudo, é o que ainda está para vir: tricas políticas, vitimizações pueris, falta de transparência, interesses que passam ao lado do bem-estar d

Contagem decrescente para as eleições intercalares de Lisboa

Aproxima-se vertiginosamente o dia das eleições para a Câmara Municipal de Lisboa. A campanha eleitoral deu-nos a conhecer, por um lado, a extraordinária falta de qualidade dos candidatos, e por outro, que a questão de uma Câmara endividada ganha ou perde importância em função dos interesses dos candidatos. No meio desta miscelânea de indigência intelectual e hipocrisia ficam os cidadãos de Lisboa sem conhecerem exactamente qual é o estado financeiro da Câmara. Esta semana os jornais noticiaram que a Câmara de Lisboa viu a sua dívida crescer significativamente nos últimos anos. Contudo, na pobreza que tem sido a campanha de alguns candidatos que se dividem entre sardinhadas e ataques aos adversários, a questão do saneamento financeiro da Câmara parece ter passado para um segundo plano. Após algumas propostas elaboradas por alguns dos candidatos com a finalidade de combater a dívida de curto prazo, a questão foi-se desvanecendo com as tricas entre candidatos com acusações mútuas de falt

Crise no Paquistão

Os recentes confrontos entre o Estado paquistanês e radicais inspirados no regime taliban acabaram num banho de sangue. Esta notícia não tem especial relevância em grande parte do mundo ocidental, aliás a crise que se instalou no Paquistão e que põe a nu a grave cisão entre o Governo de Musharraf e radicais islâmicos só ganha uma importância acrescida quando o terrorismo sustentado pelo radicalismo islâmico nos bate à porta. Caso contrário trata-se apenas de mais um episódio de violência que ocorre em países longínquos e quase desconhecidos. Contudo, este é mais um sinal de alerta relativamente ao recrudescimento do radicalismo que constitui seguramente a maior ameaça ao mundo ocidental. O Paquistão é antes de mais um país dotado de tecnologia nuclear, é só esta característica aumenta exponencialmente o perigo que constitui para o Ocidente e para os países vizinhos se um país com estas características cair nas mãos dos radicais. Com efeito, o radicalismo que eclode um pouco por todo o

Eleições intercalares em Lisboa: vazio de ideias

A campanha eleitoral para as eleições de Lisboa é marcada pela escassez de qualidade dos candidatos. Ora, pode-se afirmar que os lisboetas não têm muita sorte – como é que é que possível que em 12 candidatos não se aproveite uma ideia? Os candidatos não têm feito mais do que macaquearem-se uns aos outros: em matéria de urbanismo, por exemplo, todos repetem os mesmos lugares comuns. Por outro lado, as acusações mútuas, agora que a campanha eleitoral se aproxima do fim, são a panaceia para uma virtual transparência de um qualquer candidato. Por consequência, e neste contexto caracterizado por um misto de inanidade e das falácias do costume, os eleitores terão certamente dificuldades em escolher um candidato: - O candidato do PS, que adoptou desde início uma postura de vencedor antecipado, tenta demarcar-se das políticas menos populares do Governo. Tem-se dificuldade em perceber o que é que este pseudo-messias pode trazer de benéfico para a cidade. A nomeação de José Miguel Júdice para a

Inércia colectiva

O país tem vindo a caracterizar-se por uma espécie de inércia colectiva que contribui inexoravelmente para o atraso do país. Mas em que é que consiste exactamente essa inércia? Consiste numa paralisação voluntária que imobiliza a participação dos cidadãos na construção do país. É um erro crasso incutir a responsabilidade do progresso apenas nos governantes, e de facto, em Portugal olha-se para o Estado como sendo o principal impulsionador das mudanças necessárias ao desenvolvimento. Nada mais errado – um país imobilizado é um país que resiste a essas mudanças, caminhando assim em sentido contrário ao progresso. O desinteresse mais ou menos generalizado pelas reformas do Governo; a ideia preconcebida de que é o Estado o único motor de mudança; o egocentrismo associado a condição de cada um, remetendo para a irrelevância as políticas que afectam os outros, seja eles funcionários públicos, pensionistas, ou outros concidadãos, são sintomáticos do desinteresse que se generalizou. Não é meno

Degradação da classe política

A classe política portuguesa tem vindo a sofrer uma acentuada degradação nos últimos anos. O que também é sintomático do actual estado do país, não é possível antever-se um futuro mais equitativo e próspero quando a classe política é de tão fraca qualidade como é a de hoje. Dir-se-á que o actual estado do país não é consequência apenas da preponderância incipiente dos políticos. Ora, poder-se-á concordar em parte com esse argumento, no entanto, a responsabilização de uma classe política tecnocrata e incompetente pela crise em que o país está atolado não pode ser desvalorizada. Infelizmente, existe um vasto conjunto de indicadores que denotam a existência de políticos cujo desempenho raia a mais acentuada incompetência e ausência de visão estratégica. Já para não falar de suspeitas de irregularidades no desempenho de funções políticas – o caso mais recente do líder do CDS é mais uma acha para a fogueira de vaidades inconsequentes que é a política em Portugal. Do lado do Governo, assisti

As sete maravilhas de Portugal

Não, não se trata de mais um texto sobre monumentos, por muito que estes mereçam umas palavras enaltecendo a riqueza do património português. Trata-se apenas de dissertar sobre as sete maravilhas que caracterizam o país. Deste modo se utiliza ironicamente o conceito do concurso para a eleição das sete maravilhas para criticar assim mordazmente o estado do país. Depois desta pequena introdução, as sete maravilhas de Portugal são: - A Educação nas suas intermináveis contradições, com a presença assídua do facilitismo disfarçado como sendo consequência inevitável da massificação do ensino. Educação que continua a estar desfasada do desenvolvimento do país. Educação que não reúne consensos, vingando antes os antagonismos fomentados por governantes desprovidos de sensatez. - A Justiça que perpetua a sua morosidade e ineficácia. Justiça que constitui um obstáculo ao investimento e que contribui para o atraso estrutural do país. Intrincada, afastada dos cidadãos e longe de servir o interesse

A importância de se possuir um cartão de militante

A posse de um cartão de militante do partido político que está no Governo ganha uma importância sem precedentes para quem quer trabalhar na intrincada administração pública. Não é exagero asseverar a importância desse cartão tendo em consideração os lamentáveis casos com que o Governo na sua ufana omnipotência nos presenteado. E mais: esse cartão de militante tem de vir acompanhado pela indissociável fidelidade ao “chefe”. Só assim se pode explicar o afastamento da directora de um centro de saúde de Vieira do Minho por suposta falta de competência, ou seja, por falta de fidelidade. A alegada complacência da mesma directora para com uma fotocopia visando o ministro da Saúde não foi mais de que um pretexto para afastar quem não pertence ao partido e havendo, assim, lugar para o fiel militante do PS. Não se admire pois que o afastamento entre cidadãos e políticos seja um facto consumado. Na verdade, este Governo tem errado de modo dúplice: por um lado, não permitindo críticas, opiniões di

Flexibilidade e segurança no contexto laboral

A primeira Reunião Informal de Ministros do Emprego e dos Assuntos Sociais europeus foi fortemente marcada pelo tema da flexi-segurança. Se existir um acordo entre diferentes Estados-membros, a sua execução será faseada, parafraseando o ministro do trabalho Vieira da Silva. A flexi-segurança é um modelo de relações laborais que procura um equilíbrio entre flexibilidade no trabalho e segurança dos trabalhadores. O que é, porém, incontornável é que não se pode permanecer num estado de permanente inércia quando o mundo atravessa mutações aceleradíssimas; é por conseguinte contraproducente a posição dos sindicatos que adoptaram uma postura de alguma intransigência aliada a um discurso que não protege, a título de exemplo, os largos milhares de desempregados que continuam a engrossar as estatísticas. Os sindicatos precisam de renovação, precisam de abandonar os lugares-comuns do passado, e necessitam fundamentalmente de cessar a defesa intransigente do status quo , prejudicando assim, outro

Cimeira União Europeia Brasil

A realização da primeira cimeira entre o Brasil e a UE abre um vasto conjunto de novas oportunidades para a relação entre a potência emergente e a União Europeia. Do ponto de vista das relações estritamente económicas a cimeira poderá representar um incremento das relações entre a UE e o Brasil. Importa referir que a UE é o primeiro parceiro comercial do Brasil e o investimento da União é assaz significativo. A cimeira constitui ainda uma oportunidade sem precedentes para Portugal dar sinais da sua existência no seio da União Europeia. Diga-se, em nome da verdade, que Portugal está começar muito bem a sua presidência da União Europeia. Deseja-se uma continuidade das capacidades de liderança do primeiro-ministro, em estreita colaboração com o Presidente da Comissão, Durão Barroso. Na verdade, as relações entre UE e o Brasil estavam a atravessar uma espécie de estagnação – notando-se do lado europeu algum desinteresse pela América Latina, e do lado brasileiro um sentimento de desconfianç

Anti-americanismo

O 11 de Setembro parecia indiciar um período de solidariedade e de acalmia em relação aos Estados Unidos. No entanto, a intervenção militar dos EUA no Iraque revelou ser um argumento utilizado para manifestar um anti-americanismo latente. Na verdade o anti-americanismo sempre esteve presente na mente de uma certa esquerda, a intervenção no Iraque limitou-se a potenciar e a inflamar esse anti-americanismo. A retórica de um presumível imperialismo americano e subsequente tentativa de dominar o mundo marca a proliferação de um ódio endémico aos EUA. Poder-se-á discordar das razões que subjazem à intervenção militar no Iraque, poder-se-á lamentar esta decisão americana que custa diariamente demasiadas vidas, poder-se-á igualmente ter dúvidas relativamente a uma solução para a pacificação do Iraque. Contudo, a discórdia em relação a este conflito não justifica os impropérios, o desprezo, ou o ódio pelos americanos e pelos EUA. Nem tão-pouco sustenta a tese aventada por muitos de que os ame

Incursões televisivas

Não é seguramente um dos temas mais interessantes, mas ainda assim é incontornável falar-se de televisão e da inerente ausência de qualidade dos programas televisivos. Da mesma forma, somos obrigados a reconhecer o impacto que a televisão, sobrepondo-se invariavelmente a outros meios de comunicação social, tem em Portugal. Mesmo o advento da Internet, apesar da evolução a ritmo estonteante que a tem caracterizado, ainda está longe de igualar a importância que a televisão tem para a generalidade das pessoas. Por conseguinte, a discussão sobre esta matéria não deve ser subestimada, sob pena de se estar a ignorar um fenómeno cujo impacto é incontornável. Outra questão prende-se com a qualidade da oferta televisiva. Sendo certo que o surgimento, primeiro das televisões privadas e depois da televisão por cabo, veio proporcionar uma oferta diversificada, não é menos correcto afirmar que, ainda assim, a qualidade da oferta televisiva deixa muito a desejar. Senão vejamos: os canais de sinal ab

Europa, que futuro?

Torre de Babel, Pierre Bruegel Por altura em que se inicia a presidência portuguesa da União Europeia, nunca é demais encetar-se a discussão sobre o futuro da Europa. A presidência portuguesa da UE pode ser histórica, na medida em que pode ser durante esta presidência que se concluam as decisões em torno do novo tratado da UE. É também neste momento que discute a pertinência de um possível referendo sobre o mesmo tratado. É consensual que a Europa atravessa uma crise, apesar dos diferendos entre Estados-membros terem sido mais ou menos ultrapassados. Em tais circunstâncias muitos cidadãos europeus questionam-se sobre o futuro de uma Europa caracterizada pelas divergências, ao invés de o ser pelas convergências. Na verdade, a tecnocracia e afastamento dos políticos em relação às ambições dos seus cidadãos são caminhos que podem comprometer o futuro europeu. Sempre existiu uma clivagem entre os cidadãos e as instituições europeias, infelizmente essa clivagem parece conhecer agora um sér