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A mostrar mensagens de dezembro, 2017

Consensos alargados

Depois da trapalhada em torno das alterações à Lei do Financiamento dos Partidos Políticos, os ditos partidos envolvidos na polémica decidiram fazer um comunicado conjunto onde nada é verdadeiramente esclarecido, optando por passar o problema para o Presidente da República. Porém, há uma espécie de argumento que é invocado: o consenso alargado em torno do assunto. Ora, o consenso alargado vale de muito pouco quando tudo é decidido na penumbra, longe dos cidadãos, às escondidas. Paralelamente, um consenso alargado, por si só, valida exactamente o quê? Melhora a história em que aspecto? E se existisse um consenso no Parlamento, imaginemos por absurdo, sobre o regresso da pena de morte, isso justificaria esse incomensurável retrocesso civilizacional? Existiam problemas com a anterior legislação sobre o financiamento dos partidos políticos, essa parece ser uma evidência. O que não quer dizer, contudo, que estas alterações contribuam para melhorar, sobretudo cozinhadas na penumbr

Qual a melhor forma de afastar ainda mais os cidadãos dos partidos políticos?

A resposta à pergunta em epígrafe parece óbvia: aprovando, às escondidas, alterações à lei do financiamento dos partidos políticos, mudanças aprovadas a 3 dias do Natal, à porta fechada e sem divulgação de espécie alguma.  E de que alterações estamos a falar? Ora, o projecto 708/XIII/3, aprovado com os votos favoráveis do PS, PSD, Bloco de Esquerda, PCP e PEV pressupões que deixe de existir um valor máximo para os fundos angariados para os partidos (sem alteração, porém, nos limites dos donativos privados) que estava estipulado nos 631,980 euros. Paralelamente, surge a isenção de IVA "na aquisição e transmissão de bens e serviços". Ou seja, a isenção de IVA junta-se às isenções conhecidas em matéria de IRC, IMI, Imposto de Selo, imposto sucessório, etc.  Segundo a comunicação social, esta nova legislação resolve as dificuldades fiscais dos partidos políticos, pelo o que se compreende o raro consenso. Por outro lado, PCP, com a festa do Avante, e PSD, com o Ponta

E agora Rajoy?

Apesar da vitória do Ciudadanos, Carles Puigdement acaba por ser o grande vencedor da noite eleitoral na Catalunha. A afluência às urnas nunca vista resultou na vitória dos independentistas que conseguem voltar a ter maioria absoluta no Parlamento, com o Juntos Pela Catalunha de Puigdemont a ter mais votos e a eleger mais deputados do que na eleição anterior. Os grandes derrotados da noite são Rajoy e o Rei de Espanha que tudo fizeram para liquidar as intenções independentistas dos catalães. De resto, o PP de Rajoy conseguiu um último e humilhante lugar. E agora Rajoy? Depois de ter reprimido, colocado líderes políticos sob prisão e forçado eleições antecipadas na Catalunha, sempre com a sombra do artigo 155 da Constituição espanhola ainda assim a pairar sobre a região como uma espada de Dâmocles, o que sobra para além de um referendo legal sobre a independência da Catalunha? De resto, o Parlamento catalão está agora pejado de representantes eleitos pelo povo que defen

CTT: A memória é curta

Bloco de Esquerda e PCP pediram esclarecimentos ao Governo sobre os despedimentos e encerramento de lojas dos CTT. Paralelamente também são prometidos cortes nos salários da administração, embora ainda pague dividendos este ano. É evidente que toda a discussão sobre o futuro dos CTT e dos seus trabalhadores é indissociável de um processo de privatização de descaracterizou e enfraqueceu uma empresa histórica e relevante para o país. Uma empresa que, curiosamente, dava lucro. A privatização feita pelo Governo de Passos Coelho resultou na degradação dos serviços e na falta de cumprimento do serviço público que os CTT têm que prestar e no despedimento de trabalhadores. A privatização preconizada por Passos Coelho, líder em fim de vida do PSD, não trouxe quaisquer benefícios aos país e deveria ser Passos Coelho a prestar esclarecimentos sobre como privatizou uma empresa lucrativa que serve de elo de proximidade e que presta um serviço muito relevante ao país. Deveria ser Passos Coelho

Um sonho adiado. Talvez

Quinta-feira, dia de eleições na Catalunha, depois das semanas conturbadas que culminaram com a saída do país de Puigdemont e com a aplicação do famigerado artigo 155 que permite ao Governo espanhol tomar conta da região. As sondagens valem o que valem - frase gasta, mas que contém em si um fundo de verdade. Ainda assim, tudo parece indicar que o sonho independentista não passará disso mesmo de um sonho. A razão que se prende com essa hipotética derrota dos independentistas não passa, como muitos gostariam, pela a súbita fama da líder dos Ciutadans (Cidadãos) - amada pela comunicação social e que surge nas sondagens bem posicionada, sobretudo numa das últimas sondagens em que fica em primeiro lugar, tecnicamente empatada com a Esquerda Republicana Catalã. A razão, ou conjunto de razões, prende-se antes com o velho e conhecido medo, medo de sair de Espanha e medo de sair da União Europeia; medo de mergulhar no desconhecido; designadamente medo das consequências da independên

Alabama

Foram necessários 25 anos para o Alabama eleger um democrata. Foi na semana passada que Doug James, candidato pelo partido democrata, conseguiu bater o republicano Roy Moore por 1,5 pontos percentuais. Moore, importa lembrar, tem vindo a ser acusado de assédio e abuso sexual de menores, mantendo apesar de tudo isso o apoio de Donald Trump. As acusações a Moore são graves e estão muito longe de serem inverosímeis, e ainda assim o candidato ultra-conservador quase conquistou o lugar. E para que tudo fique mais claro, lembrar também que no Alabama, Trump conseguiu ficar mais de 20 porcento à frente de Hillary Clinton. Alguns democratas vêem a eleição de Doug James como promissora - uma espécie de pronúncio para o que aí vêm em 2018, com a consolidação da ideia de que talvez seja possível conquistar ambas as câmaras nas intercalares. Paralelamente, este resultado também está a ser visto como um sinal de que Trump e parte do partido republicano talvez tenham ainda menos força do que se p

PS: Confusões

Carlos César, Presidente do PS, em entrevista ao Público, afirma não "querer ser confundido com uma pessoa do Bloco de Esquerda ou do PCP", amenizando a frase com a ideia de que é do PS (uma evidência) e que quer manter a sua identidade, salientando as diferenças. Em suma Carlos César não quer confusões. Muito provavelmente também ninguém no Bloco ou no PCP anseiam por ser confundidos com pessoas do PS.  Todavia e pese embora a frase possa soar, em larga medida, inócua, fica um ligeiro rasto de uma outra ideia: a da existência de pessoas - já que estamos numa de pessoas - pobres e mal-agradecidas. Por outro lado, não é de descartar a possibilidade de também existir quem sinta saudades de um bloco central, onde os interesses confluem. Convém, no entanto, não esquecer que esses ditos blocos centrais têm contribuído fortemente para a ruína dos partidos socialistas um pouco por toda a Europa, com a respectiva alienação da natureza ideológica de esquerda dos ditos partidos so

Quando o jornalista é o protagonista 

A TVI apresentou uma reportagem sobre uma importante instituição de solidariedade social - a Raríssimas - o que resultou no afastamento da sua Presidente e na queda de um secretário de Estado. A reportagem em si revela um panorama desolador do ponto de vista moral e é importante no âmbito do próprio jornalismo de investigação, particularmente pobre em Portugal. No entanto, a jornalista Ana Leal preferiu percorrer o caminho inquisitorial, designadamente na entrevista que fez ao secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, envolvido no caso. Ao invés de procurar esclarecimentos, a jornalista optou por se transformar em inquisidora, socorrendo-se exageradamente de pretensas provas que se traduzem no "diz que disse", fazendo insinuações maliciosas, tudo num tom inquisitorial. Ana Leal transformou-se na protagonista, cujo papel é o pior papel que um jornalista pode desempenhar: o de inquisidor. Não se pretende com esta crítica ilibar o secretário de Estado de responsabilida

Ainda Jerusalém

Quando crítico o reconhecimento de Jerusalém, feito pelo inefável Trump, como sendo capital de Israel não o faço com a intenção de defender a tese que postula que essa cidade deve ser a capital da Palestina que, diga-se de passagem, nem tem reconhecimento como Estado por parte de Israel. A cidade de Jerusalém não pode ser considerada a capital do que quer que seja. No âmbito das reivindicações, como escolhemos fundamentar a tese de que Jerusalém pertence a um ou a outro povo? Qual dos livros escolhemos para fundamentar a quem pertence Jerusalém? A Bíblia, designadamente o Antigo Testamento, mais concretamente o Pentateuco, mais concretamente a história da Terra Prometida - Canãa, prometida a Abraão e aos seus descendentes? Ou preferimos basear a nossa tese na história do Rei David, o mesmo que venceu o gigante Golias? Ou opta-se ainda pela versão do Corão, a história que indica que o Profeta ascendeu ao paraíso a partir de Jerusalém? Qual tem mais validade? E Cristo não tem voto n

O que é que falta perceber?

Quando o mundo inteiro se insurge contra a manifestação de Donald Trump de passar a embaixada de Israel para Jerusalém não se está a colocar de um lado ou de outro, mas a deitar as mãos à cabeça tendo em conta a violência que pode recrudescer numa zona já por si periclitante. Ainda assim há quem não compreenda a razão que leva tantos a deitarem as ditas mãos à cabeça. Jerusalém é um eterno palco de violência, embora paradoxalmente considerada terra sagrada para as três religiões monoteístas: Judaísmo, Cristianismo e Islão. Sendo certo que na verdade a cidade seja controlada por Israel ao arrepio das Nações Unidas, a resolução do problema nunca pode passar por declarar a cidade de Israel, como não poderia passar por declarar a cidade da Palestina ou do Vaticano. A solução tem que passar pelo crivo de ambas as partes e não por qualquer declaração unilateral.  Assim, vemos o isolacionismo - novamente dos EUA - com a embaixadora americana nas Nações Unidas a proferir frases que devem

O que move Donald Trump?

O que move Donald Trump? Para além do seu ego? A última peripécia pode lançar o Médio Oriente e não só para o caos – o reconhecimento de Jerusalém capital de Israel não é apenas uma afronta, mas um retrocesso sem precedentes, num contexto já por si particularmente difícil. E então? O que move Trump? No caso concreto de Jerusalém, há várias possibilidades: agradar à facção mais extrema do Partido Republicano; agradar a grupos de pressão judaicos; agradar a uma indústria do armamento que vê novas possibilidades de negócio se abrirem com este disparate; tentativa de mostrar ao seu séquito que está empenhado em cumprir promessas – esta última hipótese é promissora na precisa medida em que qualquer idiota com um grande ego necessita do reconhecimento de outros idiotas. No entanto e apesar destas hipóteses, o que leva Trump a procurar o isolamento dos EUA, nesta questão em particular, como no caso do Acordo de Paris e de praticamente todas as medidas anunciadas? A resposta pode muito

Trump anuncia novo desastre

O reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel é um desastre anunciado - um desastre que já teve lugar no passado. Também é verdade que seria difícil esperar diferente ou melhor de Donald Trump que anunciou que a embaixada americana sairá de Telavive e passará para Jerusalém, o que equivale ao reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel; o que equivale a uma declaração de guerra; o que equivale a deitar por terra a solução dos dois Estados; o que equivale a liquidar qualquer perspectiva de paz na região. E assim se consolida a base de apoio que vê em Trump não um traidor que se deita com a Rússia, mas alguém que cumpre as suas promessas, enquanto agrada à linha dura do partido Republicano, alinhados também eles com o sionismo. Recorde-se que  Jerusalém é uma cidade dividida, representando um pomo de discórdia que, apesar de tudo, não tem passado disso mesmo - uma ferida não sarada, mas que não estava propriamente a sangrar e passará a estar, de forma abundante. Outros P

E agora Pedro? Ainda existe aquela vontade de rir

Mário Centeno é o novo Presidente do Eurogrupo - órgão que reúne os ministros das Finanças dos Estados-membros da Zona Euro e cujo papel é cada vez mais relevante na governação da economia, uma espécie de filho do Conselho Europeu e primo do Ecofin. Como já se referiu a importância do Eurogrupo tem-se tornado cada vez mais relevante, sobretudo depois das humilhações que visaram a Grécia. Dito por outras palavras, a presidência deste órgão é de particular importância e o facto do ministro das Finanças português ter sido escolhido para a sua presidência não é caso de somenos importância, como alguns em Portugal insistem em afirmar, Marques Mendes que o diga. Recorde-se que na primeira intervenção de Centeno no Parlamento, Passos Coelho, cheio de azia por não ocupar o lugar de primeiro-ministro, fartou-se de rir jocosamente. O gozo pretendia minorar a importância de Centeno e esconder a tal azia. Seja como for, ficaram as imagens do ex-primeiro-ministro que nunca sorria, rir-se de Má

Mário Centeno

H oje ficaremos a saber se Mário Centeno será mesmo o Presidente do Eurogrupo ou não. Se for o escolhido, levantar-se-ão novas problemáticas, designadamente do ponto de vista do ministério das Finanças, isto apesar de Centeno e d o próprio António Costa terem sossegado as almas mais inquietas , garantindo que se pode desempenhar ambas com rigor e eficácia. Mário Centeno tem sido um bom ministro das Finanças – frase que causa estranheza, raras terão sido as vezes em que podemos efectivamente aplicar aquelas palavras a um ministro das Finanças. O ministro escolhido por Costa para estar à frente das Finanças tem sido tecnicamente irrepreensível – ao ponto de ser reconhecido pelos seus pares europeus – e tem apresentado resultados francamente positivos. Mas para além das suas competências técnicas, Mário Centeno mostra-se humano, o que também é raro entre ministros das Finanças, e para quem não tem memória lembrar apenas que antes de Centeno tivemos um autómato e a incompetência em p