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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2019

E enquanto o Messias Coelho não regressa...

... As direitas juntam-se para acabar com o "longo inverno socialista". Trata-se afinal do Movimento 5.7, encabeçado por um dos mais fervorosos apaniguados de Pedro Passos Coelho, e que pretende lutar "contra o imobilismo socialista e a sua concepção hegemónica de poder". Quem leia estas frases julgará que regressámos ao período da guerra fria. Podem, no entanto, estar descansados porque tudo isto é o resultado de fome de poder e da perspectiva sombria de que tão cedo não voltarão a cheirar esse poder. Tudo misturado com as doses certas de demagogia pronta a ser consumida por imbecis. O resultado está à vista: movimentos como este 5.7 herdeira da pacotilha neoliberal de Passos Coelho e Movimento TEM que procura combater tudo o que não se enquadre no seu conceito de família e de sociedade. Em suma, estes movimentos são apenas o estrebuchar de uma direita sem rumo e sem perspectivas de futuro. No caso do PSD, tudo se agrava com a existência de uma lider

Um hino ao nepotismo

O processo de consolidação da democracia não dispensa a recusa do nepotismo. Carlos César tem opinião contrária, até porque se o Bloco de Esquerda pode por que razão o PS não pode? A frase, simplista é certo, e pueril, com certeza, pretende justificar o que não tem justificação: as ligações excessivas de membros das mesmas famílias em lugares do Governo. De resto, César mantém precisamente esses hábitos nos Açores, onde fez carreira no PS, sem nunca largar a mão dos familiares. Procurar justificar um comportamento porque os outros alegadamente adoptaram o mesmo comportamento não só é um não-argumento como é de uma infantilidade gritante. Paralelamente, não se vê como é o caso do Bloco de Esquerda, com deputadas gémeas, eleitas pelo povo, tem a ver com cargos de nomeação política dentro do mesmo Governo. O Partido Socialista, enquanto por lá mantiver Carlos César e outros que declaram o seu amor pelo nepotismo, mesmo sendo um amor supostamente partilhado, apenas vêm d

O despertar que nunca virá

Moçambique, por estes dias, poderia ajudar a despertar para a questão central das alterações climáticas e para a necessidade de repensarmos o nosso modo de vida. Não. Procura-se salvar os vivos e enterrar os mortos e quando tudo cair no esquecimento voltamos à mesma vida, às mesmas escolhas, às mesmas ilusões que, em bom rigor, nunca abandonámos, e nem com mil Moçambiques parece-me que abandonaríamos. Trata-se afinal do despertar que nunca acontecerá. Sabemos que planeta estás prestes a atingir o ponto de não retorno, sabemos até que atingido esse ponto estamos condenados e ainda assim continuamos a imaginar com facilidade o fim dos tempos, mas incapazes - como por muitos já foi dito - de imaginar o fim do capitalismo. Capitalismo, com a necessidade de crescimento exponencial, e as mudanças que urge fazer são incompatíveis e esse é o ponto mais difícil e que ninguém quer verdadeiramente abordar, ou que porque consideram que está muito em jogo ou porque simplesmente não c

O que nos separa da selvajaria

A Nova Zelândia foi alvo de um ataque terrorista de extrema-direita. A primeira-ministra Jacinda Ardern não correu para os microfones apenas para mostrar a consternação habitual, ou a incapacidade de fazer o que quer que seja (tão característica da Administração Obama) ou a defesa de proliferação de armas (apanágio dos inefáveis Trump e Bolsonaro). A primeira-ministra da Nova Zelândia anunciou a proibição da venda de armas semiautomáticas que, na verdade, é particularmente difícil de explicar, ou dito por outras palavras: qual a razão da venda deste tipo de armamento? Não há nenhuma razão válida. Paralelamente, a primeira-ministra, adoptou desde a primeira hora um tom sensato, sem cair em demagogias fáceis, ignorando olimpicamente o autor do atentado, ao ponto de nem sequer proferir o seu nome. Mais, o Governo que conta com uma população que ela própria, em parte, entregou voluntariamente as armas, decidiu impor limitações à compra de armas de fogo em geral. Tudo ist

O eleitoralismo incomoda, mas só agora

A medida dos passes promovida pelo Governo e apoiada pelos restantes partidos da esquerda é eleitoralista? Obviamente. Mas quem nunca pecou que atire a primeira pedra e o facto da direita só ter acordado para o assunto agora é sintomático da inépcia que reina para aqueles lados. Perante a tibieza do argumento do eleitoralismo da medida, apregoa-se a injustiça da mesma. Afinal de contas quem paga a factura é o Estado e os beneficiados são os do costume: Lisboa e Porto. Na verdade, quem ganha é todo o país que incentiva a utilização de transportes públicos, com as também óbvias vantagens ambientais para todos. Paralelamente, com esta medida que abrange todo o país, os valores a pagar pela utilização de transportes públicos regularmente finalmente aproxima-se do comportável, incentivando aqueles que já utilizam os transportes públicos a continuar com essa utilização e aqueles que ainda não o fazem a recorrer à aritmética para perceber o quão mais barato é essa utilização,

PCP e o mau hábito de brincar com palavras

Em entrevista ao site Polígrafo, o secretário-geral do PCP volta a brincar com palavras, desta feita com a palavra "democracia", como se na mesma coubesse a própria democracia e o seu contrário. Quando questionado se a Coreia do Norte é uma democracia e perante a afirmação baseada nas evidências de que não é, Jerónimo de Sousa mostra-se disposto a filosofar sobre o conceito de democracia. Para o secretário-geral do Partido Comunista a Coreia do Norte ser ou não uma democracia é, na verdade, uma questão de opinião. "Primeiro tínhamos de discutir o que é a democracia". Poucos terão dúvidas sobre a total ausência de democracia na Coreia do Norte. Jerónimo e o PCP são excepções. Ora, para além de se tratar de um exercício pueril, não deixa de ser inquietante ouvir o líder de um partido português brincar com palavras para escamotear o facto de perfilhar a "democracia" norte-coreana. Pergunta-se então que género de democracia apregoam para Portuga

No reino dos afectos, por enquanto..

Das duas uma: ou Marcelo Rebelo de Sousa se metamorfoseou no rei dos afectos ou tudo não é mais do que calculismo político ou até populismo. Das duas uma: ou o Presidente abdicou de ter uma agenda política fiel ao espectro político a que pertence ou não. É esta segunda premissa que interessa ao PS e aos partidos que apoiam a solução governativa, desde logo porque parece altamente improvável que Marcelo tenha abdicado dessa agenda que nunca seria revelada num primeiro mandato, sobretudo sem crises políticas criadas pela própria solução política. Falou-se na questão dos incêndios em 2017, mas não terá tido força suficiente. Existe mesmo um deslumbramento com Marcelo, até por parte do PS e há quem defenda a necessidade do partido apoiar Marcelo para as próximas presidenciais. Num segundo mandato e perante a impossibilidade de reeleição, existe o perigo real de Marcelo perder o pudor em mostrar a sua verdadeira natureza que em momento algum deixou de ser de direita. Se quant

O Drama do PSD

Um deputado do PSD, daqueles de quem ninguém conhece o nome, nem tão-pouco alguma vez se recordará, insurgiu-se contra a ida de uma associação LGBTI a uma escola do Barreiro, parece que este ilustre desconhecido também é vereador naquela Câmara; duas deputadas do Bloco de Esquerda manifestaram intenção de apresentar queixa na Comissão para a Igualdade de Género, e Fernando Negrão, na qualidade de porta.voz do PSD, coloca o partido ao lado da crítica do seu deputado e ainda revela todo o carácter dramático da situação, colocando-se no papel de vítima, e referindo que a atitude das deputadas do Bloco "fere o bom funcionamento da AR e compromete a dignidade do grupo parlamentar". Deste modo, uma manifestação de homofobia não só é defendida como é ainda transformada num drama em que o PSD é a vítima. Não fosse a gravidade do assunto e estaríamos todos a rir com a anedota em que o PSD se está a transformar. Despido de sentido, dividido entre apoiantes da actual lide

Dispostos a tudo

Bem sabemos que este é ano de eleições, altura ideal para pressionar o poder político para que este atenda às reivindicações, o que só por si poderia justificar a multiplicidade de sindicatos e até de ordens profissionais empenhadas nas greves. Bem sabemos que no tempo do outro governo, apesar das condições de trabalho e até de vida terem conhecido uma deterioração sem precedentes, não assistimos a tamanha mobilização, a greves de fome (uma delas porque os polícias não podem utilizar a farda nas manifestações e greves, aparentemente também isto é razão para uma greve de fome) ou a líderes sindicais afirmarem que estão dispostos a tudo. Dir-se-á que no tempo do outro senhor o país estava na famigerada bancarrota e, por conseguinte, tudo era permitido. Não estou assim tão convencida desse argumento. Na verdade, creio existirem outras motivações, entre as quais, para uns a existência de um governo de esquerda pode ser mais maleável do que um de direita o que justifica um in

O que tem a televisão a dizer de si própria

Os novos reality shows da TVI e da SIC para além das audiências incrivelmente assustadoras pela sua dimensão, motivaram queixas na ERC com acusações de promoção de preconceitos, sobretudo de género. Estes programas de televisão, como outros que entretanto falharam como aquele em que se expunha a vida de crianças, dizem muito do estado actual da televisão, caracterizado pela decrepitude. As ameaças que pairam no ar, como as novas formas de ver televisão com canais de streaming e o Youtube, empurram as televisões para o desespero, imperando, nesse caso, a política do vale tudo para atingir bons shares de audiências. Para tal, copia-se o pior que se faz lá fora, e quanto mais polémico melhor. São programas em que se promove o machismo? Sim. Mas dá audiências? Sim. O resultado é a aposta nesses programas, baratos e com grande potencial de audiências. Pelo caminho fica tudo o que a televisão devia devolver à sociedade, quanto mais não seja em troca de uma licença para oper

Europeias: entre o desinteresse e a inépcia

Os principais partidos empenham-se na apresentação de candidatos às eleições europeias, com os respectivos líderes a devotarem o seu apoio aos candidatos. António Costa, Rui Rio, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Assunção Cristas desdobram-se em iniciativas que promovam os candidatos a deputados europeus. O interesse dos eleitores é diametralmente oposto ao interesse dos candidatos e dos respectivos líderes. As eleições para o Parlamento Europeu não suscitam grande interesse junto do eleitorado que vê a Europa como estando muito longe de defender os interesses da periferia e os candidatos como príncipes de Estrasburgo. Os candidatos ao Parlamento Europeu não parecem dispostos a lutar por uma mudança generalizada de percepção colectiva. Aparecem profusamente, sorrindo ao lado de quem manda nos partidos, com muito pouco ou nada para dizer e, sobretudo, sem nada a acrescentar a um cenário europeu desolador - um contexto marcado pelo afastamento incomensurável de cidadãos e seus

O que é que se passa connosco?

Os números assustadores que indicam que 12 mulheres foram assassinadas pelos companheiros/maridos/familiares em pouco mais de dois meses não podem deixar ninguém descansado e merecem uma profunda reflexão individual, mas sobretudo colectiva - mas afinal que raio se passa connosco? Como é que estudos elaborados no contexto de adolescentes e jovens e que revelam uma realidade inquietante de aceitação da violência no namoro não têm qualquer espécie de consequência? É evidente que não chega endurecer a lei, nem será suficiente que juízes como Neto de Moura seja impedidos de julgar processos desta natureza (esse devia ser impedido de julgar o que quer que seja), nem chega declarar dias de luto nacional, quando perante estudos que indicam a normalidade com que se encara a violência no namoro entre adolescentes e jovens tudo fica na mesma - levantamos a sobrancelha, na melhor das hipóteses. Alguma coisa se passa connosco quando aceitamos estes retrocessos civilizacionais, quan

Neto de Moura: o antídoto

A polémica em torno de Neto de Moura e o consenso gerado contra o inefável juiz funcionará como antídoto contra outros que possam proceder de forma semelhante, sobretudo nos tribunais. Ou seja, depois de Neto Moura poucos ousarão desprezar as vítimas de violência doméstica. Quanto à figura em questão ela voltará à sua insignificância, a mesma que o empurra para o lado mais abjecto da vida. Fica, no entanto, por um lado o tal antídoto - poucos ousarão fazer o mesmo que Neto de Moura fez - e por outro este juiz e a sua ignomínia deram um dos mais fortes contributos para que a sociedade censure de forma particularmente acutilante os crimes contra as mulheres, sobretudo em contexto de violência doméstica. Em suma, ao juiz e aos crimes em questão coube-lhes em sorte uma forte censura e um raro consenso por parte da sociedade. Não seria exactamente o que o juiz teria em mente, mas na verdade ninguém está interessado no que vai na mente de Neto de Moura, até porque a Idade

Processar um país

A ideia não é nova. Alguns dos que foram directamente atingidos pela ira do Juiz Neto de Moura já avançaram com esta possibilidade, mas aparentemente o Juiz não só não volta atrás, como não terá percebido o quão isolado se encontra. As suas posições que servem para fundamentar decisões judiciais são tão escabrosas que não colhem junto de quem quer que seja, e pelo menos outros que perfilhem essa ignomínia não o fazem publicamente. O Juiz que de tão mau já dispensa apresentações sente-se ofendido e recorre aos tribunais para processar deputados, jornalistas e até humoristas. Não se sabe qual o grau de ofensa das vítimas de violência doméstica tão desprezadas pelo Meritíssimo. De resto, é precisamente por causa de todos os que deviam ser protegidos pela justiça, quer através do reconhecimento dos crimes e do seu impacto na vida de quem os sofre, quer através da respectiva sentença, que todos usam a liberdade de expressão para se prenunciarem, seja através de um caminho mais políti

20 anos de Bloco de Esquerda

Um dos partidos que faz parte das apelidadas "esquerdas radicais" celebra os seus 20 anos, contra a habitual multiplicidade de profecias a apregoar a efemeridade como destino inelutável. O Bloco de Esquerda contrariou todas essas profecias, desafiando todos os que clamavam pelo seu desaparecimento. "Esquerdas radicais" é um forma bacoca encontrada pela líder do CDS para desqualificar os partidos que se encontram à esquerda do PS e que conferem viabilidade ao actual Governo. A tentativa de Cristas esbarra naturalmente no próprio étimo do adjectivo radical - ia à raiz, no caso ir  à raiz da esquerda, sem a conotação negativa que Cristas procura. Mas Cristas, desconfiamos, procura muita coisa sem alguma vez encontrar o que quer que seja, a começar pelo próprio norte. Seja como for e minudências à parte, o Bloco de Esquerda celebra os seus vinte anos e é, em bom rigor,  tempo para se analisar estas duas décadas de intervenção política, com altos e baixo