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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2014

O cerne da questão

Escrever todos os dias não é fácil, sobretudo quando se escreve sobre o país. Não raras vezes sentimos que o esforço é infrutífero, que não passamos a ideia central e que nos perdemos em detalhes sem grande importância. Sentimos, de um modo geral, que o exercício diário, precisamente por ser reiterado, vai perdendo a sua força. O nosso maior receio acaba por ser não passar a ideia central que norteia o fundamento do que escrevemos - textos de opinião é certo, mas que procuramos sempre fundamentar. A ideia central, o cerne da questão, é a que se prende com o rumo escolhido, em particular nos últimos anos. Esse rumo, primeiro foi escolhido pelo centrão, hoje é levado a cabo com muito maior intensidade por um Governo que não se coíbe de mostrar as suas garras neoliberais. Contrariamente ao que o líder da bancada parlamentar do PSD disse há tão pouco tempo, o país não está bem, não são apenas as pessoas que não estão bem. O rumo seguido é do empobrecimento e da escravatura d

Ainda a Ucrânia

Depois da queda do Presidente Ucraniano e de alguns dias de aparente acalmia, a região da Crimeia (república autónoma da Ucrânia, de forte influência russa) responde de forma taxativa aos acontecimentos que marcaram a Ucrânia nos últimos meses, com particular ênfase nas últimas semanas. Assim, o Parlamento e o governo da Crimeia foram ocupados por homens armados. No princípio da semana, o Presidente Russo, Vladimir Putin, colocou tropas na fronteira ucraniana. Já aqui se tinha escrito que Vladimir Putin não se limitaria a assistir aos acontecimentos na Ucrânia de forma impávida, como se de um mero espectador se tratasse. O resultado quer da tentativa dos Estados Unidos e da UE (com a Alemanha à cabeça) de alastrar a sua influência àquela região, com todos os proveitos económicos e financeiros associados, quer a tentativa da Rússia de manter aquela região sob a sua influência redundará na divisão inexorável do país. Recorde-se que a zona ocidental da Ucrânia quer uma maior

Se o rídiculo matasse...

Quando pensavamos que ja tinhamos visto tudo em política, o PSD surpreende-nos com o regresso de Miguel Relvas provando que naquele partido desvirtuado há lugares para todos, pelo menos para todos os amigos. Miguel Relvas regressa para encabeçar a lista do Conselho Nacional. Muitos congressistas foram apanhados de surpresa e acredita-se que alguns não se mostraram particularmente satisfeitos com a escolha. No entanto, a celeuma acabou por não se verificar e tudo acaba bem com sorrisos e promessas de fazer o melhor pelo partido, sobretudo agora que se avizinha novo período eleitoral. De Miguel Relvas não há muito a dizer, o ridículo tomou conta do ex-ministro, mas nem isso terá sido suficiente para demover Passos Coelho de o repescar, o que prova que o PSD é um partido onde há lugar para todos, pelo menos para todos aqueles que se enquadram num partido que está longe de se pautar pela competência e mais longe ainda dos interesses dos cidadãos. O regresso de Miguel Relvas

Eleições europeias

Maio é mês de eleições, desta feita eleições para o Parlamento Europeu. Segundo uma sondagem da Pollwatch, o centro-esquerda lidera as intenções de voto com uma ligeira vantagem. Este resultado, a confirmar-se em Maio, prende-se indubitavelmente com o descontantamento do eleitorado relativamente à forma como a direita tem lidado com a crise. Porém, esse descontentamento beneficia também os partidos de extrema-direita e euro-cépticos, como é o caso da Frente Nacional em França e o UKIP no Reino Unido, partido que se posiciona contra a Europa. Por outro lado, a abstenção poderá muito bem ser a grande vencedora destas eleições, tanto mais que o afastamento entre cidadãos e classe política (boa parte dela comprometida com interesses que não se coadunam com os interesses dos cidadãos) é cada vez mais significativa. Finalmente, importa referir que estas eleições têm uma importância acrescida na precisa medida em que são determinantes - desde o Tratado de Lisboa - para a

Um outro país

Este fim-de-semana ficou marcado pelo congresso do PSD. Não se estava à espera de contestação e nada de relevante se terá passado. No entanto, aquela amostra de país que se encontrava no Coliseu dos Recreios nada tem a ver com o país real. Aclamou-se de forma mais ou menos comedida o líder; Marcelo Rebelo de Sousa fez um brilharete e Miguel Relvas regressou para integrar a lista para o Conselho Nacional. Dir-se-á que o regresso de Miguel Relvas já é um facto de relevo. Discordo. O regresso de Miguel Relvas é um acto natural num partido que chafurda num misto de incompetência, promiscuidade e na tal espécie de neoliberalismo. O que se viu no Coliseu foi um outro país; o que se viu no Coliseu foi um exercício triste de quem procura ganhar eleições já em Maio. De fora do Coliseu ficou a miséria que assola o país, o retrocesso e a ausência de esperança. O PSD lançou assim a sua campanha para as eleições europeias (onde se joga lugares no Parlamento Europeu e para a própria p

Fim da crise na Ucrânia

Tem sido notícia a possibilidade de um acordo político na Ucrânia que dê origem a eleições presidênciais antecipadas, a uma reforma constitucional e eventualmente a um governo de coligação. Se esta notícia se confirmar, o país poderá assistir a um apaziaguamento cada vez mais premente. Todavia, mesmo que o actual presidente promova este acordo e que a oposição aceite, a estabilidade poderá ainda estar longe de ser uma realidade. A complexidade das razões que subjazem aos protestos e agora conflitos tem sido simplificada de modo faccioso pela comunicação social ocidental e pela comunicação social russa, o que poderá levar a crer que a solução para a Ucrânia é também ela simples. A divisão entre a parte ocidental e parte oriental da Ucrânia acentuou-se dramaticamente nos últimos meses e sejamos realistas: a Rússia quer manter a sua influência na zona, não estando Putin disposto a abrir um precedente com a Ucrânia e a Europa, sobretudo a Alemanha, pretende estender a sua in

Um dia mau

Todos temos dias maus, o Governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas não é excepção e ontem foi um desses dias maus. Desde logo, o referendo sobre a co-adopção foi chumbado pelo Tribunal Constitucional. A notícia em si não pode constituir surpresa, por muito que a exiguidade mental seja profusa no Executivo, era por demais evidente que o Constituicional não passaria aquelas duas perguntas. O referendo continuará a ser uma manobra de diversão. Porém, o chumbo do TC só pode ser lido como uma derrota, mais uma, do Governo. Como se isso não bastasse, o relatório do FMI deita por terra o "milagre económico" da economia portuguesa. Sublinha-se a necessidade de encontrar mais 3 mil milhões de euros - cortes permanentes - para cumprir as próximas metas. O fim do programa de ajustamento não é sinónimo do fim da austeridade. Ela está aí para continuar.

Ucrânia

A situação na capital ucraniana, Kiev, aproxima-se vertiginosamente da guerra civil. Os protestos subiram de tom com exigências de um regresso à Constituição de 2004, depois da suspensão das negociações com a União Europeia, facto que deu origem às manifestações de Novembro. O país está dividido: a parte ocidental mais favorável a uma aproximação à UE e a parte oriental pro-rússia. No entanto, outros problemas são subjacentes às manifestações: a corrupção, a oligarquia instalada, as desigualdades sociais são os exemplos mais fortes. O desfecho destas manifestações que se transformam rapidamente numa espécie de guerra civil é imprevisível. Certezas, porém, há pelo menos duas: a Rússia que tradicionalmente tem dominado a região que é hoje a Ucrânia não vai abdicar de ter este país sob o seu domínio e a União Europeia que apoia a oposição não fará mais do que tem feito, não excluindo a possibilidade de eventualmente recuar no apoio que tem dado à oposição ao Presidente Vi

Pouco abonado

Pedro Passos Coelho, entre um bacalhau e outro, confessou ser pouco abonado. A confissão teve lugar no Salão Internacional do Setor Alimentar e Bebidas. A frase do primeiro-ministro surgiu depois de provar bacalhau e reconhecer que aquele produto é "cada vez mais para pessoas abonadas", não sendo esse o seu caso. Ou dito por outras palavras, Passos Coelho e bacalhau não combinam bem devido ao facto do primeiro-ministro ser pouco abonado. Em sentido contrário, e sentido-se cheia de confiança, a ministra das Finanças num outro sítio que não o Salão Internacional do Setor Alimentar e Bebidas considera que Portugal está a fazer história, "será a primeira vez que um governo de coligação conclui o seu mandato" e também aqui o nosso país faz história, "apesar das dificuldades". São notórias as tentativas de se alimentar, q.b., as expectativas dos cidadãos. O futuro é um pouco mais promissor, mas os sacrifícios são para continuar. É esta a estratégia. O

Triunfo da apatia

Depois da destruição, tudo menos paulatina, de salários, pensões e dos pilares do Estado Social, chega agora o triunfo da apatia. Na verdade, essa letargia que acompanhou o atropelamento de direitos foi contrariada em alguns raros momentos, tendo na manifestação contra a TSU o seu exemplo máximo. Havia quem questionasse o rumo do país e havia quem estaria disposto a lutar contra medidas que oneravam sobremaneira a classe média. Talvez por se tratar de uma medida que afectava quem acreditava escapar pelos pingos da chuva é que o resultado tenha sido o de várias centenas de milhares de pessoas nas ruas. Esse tempo acabou. Entretanto de irrevogável em irrevogável, de demissão efectiva em demissão efectiva, o Governo foi fazendo o seu caminho, deixando a impressão de que nada nem ninguém teria a capacidade de contrariar o rumo do país. Agora, com eleições à porta, este ano Europeias, no próximo legislativas, o Governo procura amenizar o discurso de austeridade, ao mesmo tempo

Passos Coelho e os antónimos

Pedro Passos Coelho agradeceu à troika por levar o país ao "caminho da estabilidade". Passos Coelho disse, sem se rir, que o país está agora a caminhar no sentido do desenvolvimento. Um desenvolvimento sem investigação, sem ciência, sem educação, sem cultura, sem classe média; um desenvolvimento que conta apenas com pobreza, baixos salários e com um Estado que tem cada vez menos serviços de natureza social disponíveis. É este o desenvolvimento que Passos Coelho apregoa; é também por isto que o primeiro-ministro agradece à troika. Com efeito, este Governo, para além dos inúmeros defeitos que tem, manifesta dificuldade no domínio do léxico. Todos nos lembramos do "irrevogável". E agora percebemos que a palavra "desenvolvimento" não é familiar a Passos Coelho. Uma dificuldade que passa indubitavelmente pelos antónimos. Talvez Passos Coelho se referisse a um antónimo de "desenvolvimento" e não a "desenvolvimento" propriamente

Regresso ao passado

O titulo não é feliz. Na verdade não se trata de um regresso ao passado, mas antes de um aproveitamento de um passado muito recente. Paradoxalmente e em sentido contrário ao que se fez (o pouco que se fez) logo após o rebentar da crise, agora é tempo de intensificar as políticas liberais que apregoam a total desregulação dos mecanismos que regulam as economias, em particular nos mercados e nas regras do comércio internacional. Atente-se ao Tratado Transatlântico , projecto que já ultrapassou a sua fase embrionária e que mudará em absoluto as relações comerciais entre EUA e UE, no sentido da mais inexorável desregulaçâo, beneficiando as grandes multinacionais, enfraquecendo em simultâneo os mecanismos democráticos. Um enfraquecimento que se consubstancia na possibilidade das grandes empresas processarem os Estados que não sigam as regras de desregulação. Dito por outras palavras: ou acatam ou serão severamente punidos, factor que contribui para o total condicionamento dos E

Surpresa

A ideia de que o aparelho do Estado é amiúde instrumentalizado e utilizado como prémio para quem favoreceu partidos políticos ganha força com o estudo da Universidade de Aveiro que analisou 11 mil nomeações entre 1995 e 2009 e concluiu que a maioria serviu para "recompensar lealdades partidárias e para controlar políticas públicas pelos governos. Com efeito, as conclusões do estudo não constituem propriamente uma surpresa. A ideia da existência de "jobs for the boys" não era uma mera fantasia. Eles existem e comprometem, mais uma vez, a confiança que os cidadãos têm no poder político. De igual modo, os partidos políticos dificilmente procurarão mudar seja o que for. Para quê? No pior dos cenários a taxa de abstenção sobe qualquer coisa, mas a eleição de um partido é sempre garantida, enquanto os outros distribuem lugares, uns mais outros menos. No pior dos cenários, os cidadãos criticam, sem grande fulgor, as promiscuidades. No essencial, tudo permanece

No tempo do outro senhor

No tempo do outro senhor primeiro-ministro o país vivia um período de " asfixia democrática " - palavras de Manuela Ferreira Leite, a mesma pessoa que sugeriu uma "suspensão da democracia", a mesma pessoa que hoje tece severas críticas ao actual primeiro-ministro. No tempo do outro senhor primeiro-ministro, o país vivia assolado por uma onda de condicionamento da liberdade de expressão e da pluralidade de opinião. Muitos teciam críticas, os mesmos que hoje se remetem ao silêncio. No tempo do actual primeiro-ministro são feitas pressões para que órgãos sob a tutela do Estado não emitam e publicitem os seus relatórios ( ver notícia do Público ), vende-se património do Estado sem apelo nem agravo, decide-se sob o pretexto de um estado de excepção sem sequer se prestar quaisquer esclarecimento aos cidadãos. No tempo do actual primeiro-ministro o seu o seu partido vive muito longe da liberdade plena. No tempo do actual primeiro-ministro o desprezo pelos cida

Bode expiatórios

Os imigrantes voltam a ser o bode expiatório da Europa, se é que alguma vez deixaram de o ser. Agora é a vez da Suíça, um país aparentemente longe de tudo, mas que contém em sim mesmo uma boa parte da Europa. E agora ainda mais longe da Europa. Ganhou o sim contra "contra a emigração em massa", colocando também em causa a imigração oriunda do espaço comunitário. Aguarda-se uma reacção de Bruxelas. A taxa de participação foi considerável. Toda a Europa, mesmo aqueles que estão fora do espaço da União Europeia, deixou de constituir um espaço de bem-estar e até de alguma inclusão. Os países, dentro e fora da UE, fecham-se sobre si próprios, procurando bodes expiatórios que expliquem os seus falhanços e o falhanço abissal do capitalismo na sua forma financeira. A culpa, dizem ou insinuam, é dos imigrantes. A História insiste em repetir-se .

Sorte

Neste malfado país, a sorte que outrora protegia os audazes, esbarra em contradições. A audácia transformou-se em cumprimento das obrigações fiscais. O Governo vai sortear automóveis topo de gama aos audazes que pedirem factura. Uma contradição desta medida, cujo carácter rídiculo é indelével, prende-se com o facto de se tratar do mesmo Governo que insiste que os Portugueses vivem acima das suas possibilidades. Ora, é a esses mesmos Portugueses incautos e irresponsáveis que o Governo pretende oferecer automóveis topo de gama - um luxo, uma ideia que para alguns contribuirá para contrariar toda a espécie de miséria. Por outro lado, não se percebe bem, e o secretário de Estado preferiu respostas evasivas, se aqueles que mais gastarem mais probabilidades têm de ganhar o dito automóvel topo de gama. Se isso se confirmar, a tal ideia de que o automóvel poderá contrariar toda a espécie de misérias perde força. É evidente que quem mais gasta - quem faz compras de elevado valor -

Um passeio na praia

Os americanos têm uma expressão que é (mesmo que inconscientemente) familiar a Pedro Passos Coelho e ao seu séquito: "just a walk on the beach", o que numa tradução literal dá origem a qualquer coisa como "apenas um passeio na praia" - quaquer coisa que será fácil, muito fácil. É essa facilidade que se tornou indissociável da governação de Passos Coelho: é fácil cortar salários, pensões, vender o país aos pedaço, cortar na saúde, educação, ciência, até vender Mirós, não tivessem sido uns chatos a levantarem problemas. Mas ainda assim será fácil: os quadros são para vender e mais nada. O passeio na praia de Passos Coelho é o resultado directo da inacção quer dos partidos da oposição, quer dos sindicatos (a CGTP acaba por ser uma excepção), quer dos cidadãos. Com tanta facilidade tudo é permitido. Não existindo qualquer oposição, o que parecia inexequível deixa de o ser. Toda a governação tem-se pautado por essa facilidade, com a ajuda, claro está, de t

Retrocessos

Os últimos três anos têm vindo a ser marcados por um retrocesso justificado por alegados excessos do passado e pela subsequente necessidade do país recorrer a "ajuda" externa. O retrocesso começou por ser (e continua) a ser social. Cortes nos salários, aumentos da carga fiscal sobre o trabalho, redução de pensões, aumento da precariedade, cortes nas funções sociais do Estado. O retrocesso continua a fazer o seu caminho, na ciência, na cultura. O Governo tolhido por um conjunto de conceitos vagos e absurdos que degenaram na mais gritante exiguidade mental, desinveste na ciência e na investigação. Sob pretextos economicistas o país vai perder o pouco que não se pode dar ao luxo de perder. No que diz respeito à cultura, imperam os mesmos princípios alegadamente economicistas. Toda a trapalhada relativa às obras de Miró são disso exemplo, Todavia, a questão é mais complexa e ultrapassa os meros critérios economicistas. É uma questão de princípio que norteia toda a a

Ainda as obras de Miró

A Direcção-Geral do Património, através da sua directora geral, alega que as obras de Miró sairam ilegalmente do país. Uma providência cautelar procura impedir a venda das obras. A decisão do tribunal será conhecida hoje. Entretanto, da parte do Governo nem uma palavra. O silêncio é de ouro, sobretudo quando impera a opacidade. Já por aqui se escreveu que a venda das obras de Miró vinham na sequência de uma exiguidade mental assustadora. Já por aqui se escreveu e já todos percebemos quais as intenções do Governo: um empobrecimento não apenas material, mas também no que toca à educação, ciência e cultura. O que torna tudo muito mais fácil para quem se dedica ao manejo de rebanhos. Acresce agora a pretensa ilegalidade da própria saída das obras. A pressa também pode ser inimiga da transparência e é precisamente a palavra "transparência" que aparenta ser desconhecida do Governo, mais dado a palavras como "sacrifício", "défice", "resultados a