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Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2019

Quando a esquerda se perde

A esquerda perde-se, fractura-se, desconjuntura-se. É quase um aforismo. A direita com maior facilidade encontra terreno comum e com uma facilidade ainda maior aperta a mão a quem tiver de apertar para levar a sua avante. Vem isto a propósito dos desentendimentos - chamemos-lhe assim - entre a candidata eleita pelo Livre, Joacine Katar Moreira e o próprio Livre. Depois de um voto contra as orientações do partido e subsequente chamada de atenção; depois de entrevistas facultadas pela agora candidata com lavagem de roupa suja; depois da escolha do silêncio por parte do partido, mas não por parte da candidata, sobra as fragilidades de uma esquerda que tão facilmente se perde. A comunicação social, que ataca e explora ferozmente todas as fragilidades da esquerda, sobretudo da esquerda mais à esquerda, não deixa cair o assunto e a deputada eleita pelo Livre faz questão de usar essa comunicação social para deitar cá para fora o que sente. Sem filtros. Quando a esquerda se perde. Novam

Os extremos de Maria Luísa Albuquerque

Quando quase todos, em nome da sanidade mental, já havíamos esquecido a ministra das Finanças do governo de Passos Coelho, esta ensaia um regresso lançando a confusão e tratando todos como se de crianças se tratassem, Nesta linha, Maria Luís afirma, em entrevista, que "temos de acabar com essa conversa de que há um extremo que é bom e outro que é mau", aproveitando claro está a confusão que o próprio Parlamento Europeu fez o favor de criar ao misturar comunismo e fascismo. A confusão serve a uma direita pouco interessada no rigor histórico e apenas dedicada ao branqueamento do fascismo que confortavelmente se vai instalando e fazendo parte da norma. Assim mete-se no mesmo saco quem é marxista e quem é nazi - o absurdo ganha, deste modo, uma dimensão incomensurável, mas serve os intentos de quem apresentou recentemente um livro dedicado a Donald Trump, Jair Bolsonaro, Nova Direita Europeia e ao Estado de Israel".  A ignorância e inutilidade encontram espaço entre os fa

Um regresso aos erros do passado

Por todo o lado e Portugal, infelizmente, não é excepção, regressamos aos erros do passado, sobretudo no que diz respeito a movimentos ou organizações de natureza fascista, com maior ou menor pudor. De resto, esses movimentos conseguiram, com acentuado grau de sucesso, colocar as suas marionetas em lugares de grande destaque e em países como os EUA ou o Brasil. E o continente europeu, palco das maiores atrocidades cometidas por movimentos fascistas, não escapa incólume, bem pelo contrário. E em Portugal? O fascismo terá regressado? Ou nunca nos terá abandonado, passando apenas de um estado adormecido ou inactivo para activo. A vergonha desapareceu porque o discurso do ódio tem sido legitimado: o neoliberalismo fomenta, quando lhe convém, as ideologias mais nefastas; o caminho está livre porque os democratas abrem alas ou por inacção ou por deixarem-se ser vítimas do paradoxo da democracia de Karl Popper. Há mais mulheres e homens bons, tenho isso como certo. Mas a minoria menos bo

Os coices do neoliberalismo

O capitalismo selvagem, filho do neoliberalismo, quando ameaçado reage abruptamente, como qualquer besta. Perante o fim da guerra fria, e com afirmações apoteóticas de derrota do comunismo, criou-se a ilusão de que o caminho estava aberto para que o capitalismo florescesse sem qualquer oposição. Não se contou com quem ficava de fora de tanto sucesso; não se contou com a esmagadora maioria que luta para sobreviver no dia-a-dia; não se contou com o ataque, sem pudor, da ínfima minoria endinheirada aos recursos; nem tão-pouco se contemplou o grau de destruição que esse capitalismo infligiu ao planeta, aproximando-nos perigosamente do cataclismo. Perante as parcas vitórias de quem não se vergou ao neoliberalismo, este reage, violentamente e recorre, se necessário, aos mais infames dos infames para salvaguardar os seus interesses.  Assim, assistimos ao regresso dos fascistas, mais ou menos disfarçados, com maior ou menor fervor religioso, ao serviço desse neoliberalismo, como se vê, co

A fome dos privados não se compadece com o SNS

Urgências fechadas; profissionais de saúde exaustos; doentes desamparados e um Serviço Nacional de Saúde que nunca recuperou verdadeiramente dos cortes efectuados durante o tempo da troika. É este o cenário do SNS pós-eleições Em rigor, o Governo do Partido Socialista, profundamente empenhado em cumprir as metas impostas pela UE, limitou-se a gerir o que restava, sem nunca ter voltado a fazer um investimento no SNS digno desse nome. Existiram alguns remendos, muito por força dos partidos que apoiarem a anterior solução governativa, mas tudo claramente insuficiente. Agora, sozinho, o Governo do PS, ainda profundamente dedicado à tarefa de agradar às hostes europeias, continua a mesma política de investimentos parcos e pontuais, com as consequências que estão à vista de todos aqueles que, por azar da vida, têm de recorrer a estes serviços. Ora, será escusado lembrar a importância que o SNS tem, presumivelmente, para o Partido Socialista que sempre reivindicou orgulhosamente a pate

Lula Livre

O processo que levou à prisão de Lula da Silva, num claro esquema para tirar Lula da equação eleitoral, configura uma incomensurável vergonha que, em tantos aspectos, se torna até pouco credível de que possa mesmo acontecer. Talvez Franz Kafka conseguisse elaborar com mais detalhe sobre uma narrativa desta natureza. Recorde-se que Lula foi acusado, em directo pela televisão, com direito a power-point, de ser o chefe da Lava-jacto. No entanto, e sem provas que levassem a onde quer que seja, os acusadores afirmaram que Lula terá comprado um triplex como pagamento (propina) de uma construtora, numa troca de favores. Perante a inexistência de qualquer prova, inclusivamente do próprio título de propriedade, os acusadores defenderam que é precisamente por causa da inexistência dessa prova que se mostra que Lula é efectivamente culpado porque a terá escondido. Tudo investigado por Sérgio Moro – o mesmo juiz que vem a condenar o ex-Presidente brasileiro a 9 anos de prisão; o mesmo juiz q

Uma Joacine incomoda muita gente

Joacine Katar Moreira foi eleita pelo partido Livre. Joacine é gaga, facto que levantou uma incomensurável quantidade de vozes críticas, a maior parte delas manifestando a sua incapacidade de perceber o que Joacine diz. Subitamente, os portugueses passaram a estar particularmente atentos ao que um deputado diz na Assembleia da República. Antevê-se o trabalho que dará escutar o que os restantes 229 deputados têm para dizer. Mas Joacine incomoda muita gente por questões que vão muito para além da sua gaguez. Joacine é negra, feminista, lutadora. E é isso que incomoda muito mais do que os problemas de comunicação. É sobretudo a cabeça erguida de Joacine que incomoda muita gente. Mas será sempre a gaguez para uns e bandeira da Guiné para outros a chatear meia nação, pelo menos assumidamente.