Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2016

Para onde vai o socialismo em Espanha?

O PSOE, representante máximo do socialismo democrático em Espanha, encontra-se a caminho do abismo, depois de uma debandada de membros da Comissão Executiva. A razão, pelo menos aquela mais óbvia, prende-se com a incapacidade do partido em encontrar soluções que permitissem desatar o nó que parece cada vez mais apertado: o impasse político continua, avizinhando-se novo período eleitoral. E por falar em período eleitoral, o PSOE tem obtido resultados negativos nos períodos eleitorais mais recentes. O impasse é seguramente uma razão de peso a justificar a fragmentação do partido, mas a história do PSOE começa a parecer-se com a história de outros partidos socialistas um pouco por toda a Europa - uma história de traição aos seus próprios valores. Salvo raras excepções - onde se pode incluir o PS português liderado por António Costa - o socialismo por toda a Europa rendeu-se aos encantos dos mercados liberalizados, às malogradas terceiras vias e afins. Pelo caminho o socialismo foi fica

Ainda Donald Trump

Apenas o facto de Donald Trump ter chegado politicamente onde chegou é suficientemente inquietante para merecer uma profunda reflexão. Mesmo supondo que o candidato republicano não chega a Presidente dos Estados Unidos. O que é que se passa com a democracia americana para da mesma ter brotado um ser tão inexoravelmente vazio de ideias como Donald Trump? Com a agravante de conter em si mesmo tudo aquilo que não deve caracterizar um líder político: boçalidade, ausência de princípios democráticos, xenofobia... a lista é infindável. A existência de criaturas como Trump não é obviamente inédita, mas contrariamente ao que se tem passado na história das democracias ocidentais. essas criaturas não chegam ao lugar politicamente mais relevante. Pululam pela finança e pelos negócios, com maior ou menor sucesso, mas sem conseguirem chegar a cargos como o de Presidente de um país como os EUA. Trump, sem grande apoio dos poderes habituais, aproveita-se disso e apresenta-se como sendo o candida

Primeira vitória

E espera-se que seja a primeira de muitas, até à vitória final. Refiro-me, claro, ao primeiro debate que colocou frente a frente Hillary Clinton e Donald Trump. Num momento em que, apesar de todo o espectáculo, exige-se preparação e seriedade e em que Trump não teve hipótese. A candidata democrata mostrou estar à frente no que toca às exigências que o cargo implica. Todavia, e apesar da sondagem da CNN dar uma clara vitória a Clinton - mais de 60% dos inquiridos consideraram que a candidata democrata venceu o debate -, nada está garantido: faltam dois debates e a estranha possibilidade de um número significativo de americanos escolherem Trump para seu Presidente. Talvez Thomas Picketty volte a acertar em cheio: é mais fácil escolher como inimigo os imigrantes, os estrangeiros, aqueles que são, de alguma forma, diferentes de nós, do que o capitalismo selvagem que nos oferece nada mais do que pobreza, desemprego e a mais abjecta ausência de perspectivas. A isto acresce uma forte dose

Uma semana repleta de peripécias

Podemos considerar que a última semana foi repleta de peripécias: o livro de José António Saraiva, "Eu e os Políticos", o regresso de Sócrates e por aqui ficamos... é suficientemente profuso; é suficientemente negativo. Sobre o primeiro pouco posso dizer, desde logo pela manifesta dificuldade em abrir o livro, o que, no meu caso, é situação inaudita. Talvez ainda o faça por imperativos da própria crítica: não a posso fazer sem conhecimento de causa. Contrariamente a outros que aceitam convites de apresentação sem fazerem ideia do que vão apresentar. Todavia, e por aquilo que já se conhece do livro, a coscuvilhice é a prata da casa, provocando um desconforto generalizado. Paralelamente, comparar a mera coscuvilhice a casos como o "wikileaks" é, no mínimo, risível. E depois José Sócrates, apenas dizer que depois do que se passou nos últimos anos, o país não precisa de um regresso de José Sócrates. Agora inicia-se uma nova semana. A ver vamos se com menos peri

Afinal a sarjeta não é o lugar mais recomendável

Passos Coelho que afirmava não ser pessoa de voltar atrás na palavra e "dar o dito pelo não dito", afinal fez precisamente o contrário do que apregoou, pedindo ao ilustre autor do livro "Eu e os Políticos" que o desobrigasse. A editora, outrora conceituada, considera que nem sequer estão reunidas as condições para haver alguma apresentação. Assim, Passos Coelho livra-se de uma tarefa que nada abonaria a seu favor. Até porque é facilmente compreensível que a sarjeta não é o lugar mais recomendável, sobretudo para quem ainda anseia pelo cargo de primeiro-ministro. Mas este retrocesso não se justifica com a natureza ignóbil do livro em questão, mas sim com esta curiosa "desobrigação". É evidente que a polémica que se estava a instalar terá obrigado Passos Coelho a rever a sua posição, embora nunca venha a admitir que a sua associação a um livro que pretende chafurdar na vida de vivos e de mortos não fosse a melhor opção.  Seja como for, ficou a intençã

Espalhar o medo e a mentira

A comunicação social está repleta de seres cuja única função parece ser espalhar o medo e a mentira, sobretudo desde que o Governo PS, apoiado por BE, PCP e Verdes, tomou posse. Tudo terá piorado quando começou a ser visível a viabilidade desta solução política. Primeiro acenaram-nos com as trevas que BE e PCP trariam consigo; depois avisaram-nos que os resultados económicos seriam desastrosos; agora alertam-nos para o facto deste Governo estar a ser apoiado por forças anticapitalistas que estão a envidar todos os esforços para instaurar uma espécie de ditadura socialista. Pega-se num discurso de Mariana Mortágua, deturpando essas palavras e acusa-se a deputada do BE de querer "atacar as poupanças dos portugueses", quando na verdade o discurso tinha como alvo aquele famigerado 1 % acumulador de capital. Os mais ricos, portanto, mas tudo visto como um ataque ao capitalismo. A continuar assim não faltará muito tempo para o dia do juízo final e o PS apoia tudo. É claro que

O caminho termina na sarjeta

Acontece frequentemente a quem perde o norte - acabar o seu caminho na sarjeta. Só assim se explica qualquer associação a um livro que pretende vender histórias íntimas de políticos, mesmo daqueles que faleceram. Já ouvimos falar de jornalismo de sarjeta e sabemos que existem livros que se enquadram igualmente nessa categoria. Sabemos também que existe quem faça do desrespeito pelo outro e, amiúde pelo próprio, uma forma de ganhar notoriedade. Porém quando vemos um político terminar o seu caminho na sarjeta - um político que em tempos pediu contenção e respeito à comunicação social precisamente para salvaguardar a sua vida privada - torna-se difícil esconder o incómodo. Passos Coelho, antigo primeiro-ministro e alguém que visivelmente não está confortável no lugar de líder do maior partido da oposição, é, indiscutivelmente, livre de fazer o que entender. No entanto, ao associar-se ao livro de António José Saraiva que vive do desrespeito pela intimidade do outro, alinha pela mesma

Há uma diferença

Em rigor, há muitas diferenças a registar entre o actual Governo e o anterior, mas existe uma que merece destaque: o alvo da austeridade. Contrariamente ao anterior Governo que fez dos mais pobres e da classe média o seu alvo, o actual Governo prefere apontar para outras direcções - as dos que mais têm. Bom exemplo é a intenção do Executivo, coadjuvado por Bloco de Esquerda, de criar um imposto para proprietários com património de elevado valor. Concretamente, aqueles que possuem património acima de 500 mil euros. Este imposto será independente do já conhecido IMI. Imposto sobre o património de luxo. Paralelamente, não é sério dissociar desta discussão aquilo que já foi devolvido precisamente aos mais pobres e à classe média no OE2016. A austeridade tem muito que se lhe diga e a chamada para os "sacrifícios" está a contemplar outros nomes que não os do costume.  Haverá sempre quem considere este imposto injusto, designadamente quem se encontra na situação de ter de o pag

Resgate. Quem falou em resgate?

Subitamente a comunicação social (em Portugal e não só) decidiu falar em novo resgate. O mote poderá ter sido dado por Robert Skidelsky, conhecido na área da história da economia, que, por paragens lusas, referiu a necessidade de um segundo resgate para Portugal. Na verdade, o mote poderia ter sido dado por qualquer um, tal é a vontade que a comunicação social manifesta na mera possibilidade de um acontecimento prejudicial ao Governo, como seria o caso de um novo resgate. O PSD anda há demasiado tempo pelas ruas da amargura. Preso a um líder incapaz de viver na oposição, à espera de um hipotético Diabo, o PSD regozija com um segundo resgate que enfraqueceria a actual solução política e provocaria novo período eleitoral. Esta seria a solução ideal para um partido à deriva que espera pelas autárquicas para se livrar do actual líder. Para a sobrevivência política de Passos Coelho um eventual resgate seria ouro sobre azul, permitindo uma nova esperança para um líder acabado.  Assim vo

Assim se define um partido

A polémica causada por Jean-Claude Juncker, sem particular razão de ser, não passou ao lado do PSD. Se já se desconfiava que os mais elementares princípios éticos andavam ausentes da Rua de São Caetano, agora ainda ficamos com mais certezas. Apregoa-se a ideia de que existe mais vida para além da política e que quem por lá andou tem precisamente a necessidade de refazer a sua vida, nem que seja numa instituição como a Goldman Sachs. É também evidente que Durão Barroso, com os seus privilégios de ex-Presidente da Comissão, poderia facilitar a vida ao partido de pertence. O que não é admissível, pelo menos na óptica de Luís Montenegro, deputado do PSD, é que Juncker se meta no assunto. Montenegro chega a afirmar que se trata de "um espectáculo que não abona a favor da Europa", ao contrário do que se tem passado com as doses cavalares de austeridade que deliciaram o partido. É fácil esquecer que a democracia pertence ao povo e não aos oportunistas que se passam por repre

Sem privilégios

Ao assumir o o cargo de representante da Goldman Sachs, Durão Barroso, ex-Presidente da Comissão Europeia, foi alvo de uma torrente de críticas, oriundas sobretudo de membros e ex-membros das instituições europeias. Agora foi a vez de Juncker, actual Presidente da Comissão Europeia, que, ao invés de se cingir à crítica, passou à acção, afirmando que "ao assumir o emprego, o Sr. Barroso não será tratado como um ex-Presidente, mas como um representante e será submetido às regras de outros representantes. Agora o exercício de humilhação chegou pelas palavras do actual Presidente da Comissão Europeia. Um homem do lobby e nada mais. Sem privilégios. Não estou certa que estas e outras palavras façam mossa em Durão Barroso que, à semelhança de outros que conspurcam a política, estão apenas e só concentrados na salvaguarda dos seus interesses e dos interesses daqueles que os contratam. A política, outrora, e ainda hoje em alguns casos, subjuga-se à ética - palavra vazia de sentido pa

Será que alguém ainda acredita que um muro é a solução?

A resposta é inequivocamente afirmativa, pelo menos para o novo governo inglês, mesmo sabendo que este é um recurso primário e ineficaz na contenção de migrações, fomentando antes o ódio e acentuado a preponderância de uns relativamente a outros. À semelhança de outros países, o Reino Unido prepara-se para construir um muro, neste caso no norte do porto francês de Calais. O objectivo: travar o fluxo de refugiados, designadamente aqueles que atravessam o Canal da Mancha de camião. Sabemos que a questão dos refugiados e dos imigrantes são indissociáveis do Brexit. Não podemos esconder, e não seria sério fazê-lo, que existem particulares dificuldades no acolhimento de quem foge da guerra, da perseguição de déspotas ou da miséria, sobretudo quando as diferenças culturais são chamadas à colação. Não possuo soluções milagrosas. Vivo antes a dualidade humanismo/realismo, ou seja considero impreterível o salvamento e acolhimento daqueles que fogem da morte, mas não ignoro as dificuldade

Afastamento de Dilma Rousseff

As férias de muitos estavam prestes a terminar quando Dilma Rousseff fez a sua defesa junto do Senado, o mesmo Senado repleto de senadores a contas com a justiça. Nesta triste história de ironias, Dilma é precisamente aquela que não se encontra a contas com a justiça, sendo antes acusada de não cumprir, no exercício das suas funções como Presidente da República, as formalidades que a lei brasileira exige. Questões de forma, não de substância, que não beneficiaram, a título pessoal, a ex-Presidente. Agora o Brasil tem à frente dos seus destinos alguém que está envolvido em escândalos de corrupção, ao ponto de se encontrar impedido de concorrer a cargos de eleição; alguém que nem sequer é reconhecido por boa parte dos chefes de Estado e de Governo de países da América do Sul. É evidente que a democracia brasileira saiu manifestamente enfraquecida de todo este processo. Como é que alguém é afastado do cargo de Presidente da República pelos razões evocadas e como é que alguém que está

Stiglitz e o assunto que ninguém quer discutir

Joseph Stiglitz, em entrevista à Antena 1, defendeu a saída de Portugal do Euro. Segundo o prémio Nobel da economia "custa mais a Portugal ficar no Euro do que sair". Stiglitz vai mais longe e diz que Portugal está "condenado" se permanecer na moeda única por não ter as "condições políticas para fazer as mudanças necessárias". A entrevista de Stiglitz não traz nada de novo. O economista americano apenas constatou o óbvio: o Euro não traz nada de positivo à economia portuguesa, bem pelo contrário. É também evidente que ninguém, ou muitos poucos querem ter esta discussão. De resto, preferimos viver a ilusão, apenas viver a ilusão. Ninguém sabe exactamente quais as consequências de uma saída do euro, existem alguns cenários possíveis e algumas hipóteses em cima da mesa, mas trata-se sobretudo de conjecturas. Todavia, a recusa em abordar e discutir o problema, olhando para quem o faz como se de um pária se tratasse, nada ajuda.  Não faço a apologia da s

O jogo do tudo ou nada

A pouco mais de um ano das eleições autárquicas o ainda líder do PSD, Pedro Passos Coelho, decide jogar o tudo por tudo com vista a um bom resultado eleitoral. De resto, Passos Coelho sabe que disso depende o seu futuro político e que um mau resultado autárquico será, aos olhos do partido, imperdoável. Assim, Passos Coelho, utilizando eventos criados para o efeito, dedica-se à crítica pela crítica dirigida ao Governo e aos partidos que o apoiam. Profeta da desgraça, arauto do fim do mundo em cuecas, Passos Coelho ainda está à espera do Diabo que, aparentemente, chegará durante este mês de Setembro. Exceptuando alguns resultados económicos que ficaram aquém do desejado, o Governo vai fazendo o seu caminho sem grandes sobressaltos. Compreensivelmente os partidos que suportam esta solução política também têm os olhos postos no próximo período eleitoral, o que justifica uma retórica mais acesa. Na verdade, ninguém quer perder a sua identidade, o que se compreende. No entanto, trata-se