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A mostrar mensagens de outubro, 2016

Schaüble outra vez

Em bom rigor, estava na altura do ministro das Finanças alemão falar sobre as finanças de Portugal. Até esta simples frase causa estranheza e incómodo. Assim, Shaüble, uma das figuras máximas da destruição europeia, afirma que Portugal ia no bom caminho até à entrada em funções do Executivo de António Costa. Com efeito, Passos Coelho e a sua ministra das Finanças já não tinham língua, tal como Schaüble já não tinha rabo de tão gastos. A capitulação, julgava o ministro das Finanças alemão, havia sido completa. De repente, trocam-lhe as voltas: um governo socialista em Portugal apoiado pelos partidos de esquerda qu,e não virando as costas às regras europeias, tem conseguido contorná-las, devolvendo – pasme-se! - rendimentos aos que haviam sido delapidados. Contrariamente ao falhanço grego que tanto agradou a Schaüble, Portugal apresentou uma solução exequível que não cai nos desejos do ministro alemão. É evidente que viver de superavits – à custa quer das regras europeias, qu

Agora é sempre uma tempestade num copo de água

O passado recente é indelevelmente marcado por incomensuráveis aumentos de impostos, cortes injustos em salários e pensões, aumento das desigualdades, não cumprimento das metas orquestradas com Bruxelas e orçamentos retificativos atrás de orçamentos retificativos, sem que se fizesse uma tempestade que, no caso em apreço, não seria propriamente num copo de água, mas talvez num garrafão de cinco litros. Dizia-se que era inevitável; acrescentava-se que o país era o culpado e tinha de pagar pelos seus erros; alegava-se que o responsável político pela desgraça – o único – era José Sócrates e que Pedro Passos Coelho tinha a ingrata tarefa de endireitar o país. Entre mitos e mentiras clamorosas tudo passou mais ou menos incólume. Agora, com António Costa, suportado pelos partidos de esquerda, é sempre uma tempestade num copo de água. Falta entregar um documento, o que implica de imediato a presunção de que o Governo está a esconder alguma coisa. Bruxelas pede esclarecimentos, o que sign

O país está melhor

O país está melhor por uma singela razão: durante mais de quatro anos fomos massacrados pelo anterior Executivo e quando escrevo “fomos” refiro-me à esmagadora maioria da população portuguesa: trabalhadores, pensionistas, desempregados. Batemos no fundo e qualquer espécie de recuperação é vista como grandiosa. Mas o país está sobretudo melhor do ponto de vista psicológico. Durante quatro anos andámos encolhidos à espera de mais uma investida do governo. Andámos encolhidos dentro e fora de portas. Hoje, pese embora a recuperação de salários e pensões seja de facto tímida, estamos paulatinamente a nos erguer. E não fosse por esperarmos uma investida, desta feita não do Governo, mas das instâncias europeias, da banca ou de uma nova crise e a recuperação seria mais significativa. O Governo, apoiado pelos restantes partidos da esquerda, faz o que pode. Poderia fazer mais? Provavelmente, mas essa discussão será sempre subjectiva. Seja como for, a reposição de parte de salários e pensões

Há fumo branco em Espanha

Avizinha-se um final para a crise política que assola o país vizinho há longos meses. Sem Pedro Sanchez, o PSOE prepara-se para se abster na investidura do novo governo de Mariano Rajoy. Segundo a comunicação social, Espanha já terá governo no final da semana. Esta abstenção do PSOE, que, tudo indica, viabilizará o governo do PP de Rajoy, é mais um sinal de desnorte do partido socialista espanhol. Incapaz de encontrar uma solução com outros partidos de esquerda – partidos como o Podemos não terão facilitado a tarefa, diga-se em abono da verdade -, o PSOE está agora numa posição de viabilizar o PP, sem no entanto fazer parte de uma solução política. Há fumo branco em Espanha no sentido de se ter conseguido chegar a uma aprovação no Parlamento que permite um governo em plenas funções. Todavia a história é negra para o partido socialista espanhol que, à semelhança de outros partidos socialistas europeus, vê o seu espaço de manobra e poder diminuírem a cada dia que passa, muito po

Tomada de Mossul

Recordemos que Mossul, cidade iraquiana, é o bastião do Daesh, berço do auto-proclamado Califado e onde se julga estar Abdul Al-Baghdadi, também auto-proclamado Califa. Mossul é uma das cidades a estar na origem do Califado. A queda de Mossul e consequente expulsão e eliminação de membros do Daesh é uma inevitabilidade e, aparentemente, uma boa notícia. De um modo geral, o Daesh tem vindo a sofrer duros reveses: perda de território, diminuição de receitas, sobretudo daquelas que resultam da venda de petróleo. Existe, inclusivamente, o reconhecimento por parte da liderança do Daesh que a perda do Iraque e da Síria (Califado) será mesmo uma inevitabilidade. O que pode resultar desta claro enfraquecimento? É aqui que tudo se complica. Com efeito, a intensificação de ataques terroristas, mais concretamente no Ocidente, é uma possibilidade real e que deve ser levada em conta. Deste modo, e na óptica de muitos apoiantes do Daesh, a Jihad prossegue. O palco de combate deixa de ser a S

O reality show aproxima-se do fim

A campanha para as eleições presidenciais americanas aproxima-se do fim. Aquilo em que se transformou a democracia americana, com figuras próprias de qualquer reality show vazio, redundará na vitória da candidata manifestamente menos má - Hillary Clinton.  Donald Trump, por sua vez, desperdiçou, no debate de ontem, a derradeira oportunidade de fazer frente a Hillary Clinton. Todos apostam numa vitória de Clinton. Eu não sou excepção. De resto, já se sabia que Trump tinha e mantém uma dificuldade aparentemente inultrapassável: não consegue conquistar mais eleitores para além daqueles que desde os primeiros tempos se mantiveram na sua esfera de influência. De um modo geral, esse conjunto de eleitores não chegam, mesmo nos chamados Estados swing - Estados não comprometidos com o Partido Democrata ou com o Partido Republicano - não é certo que Trump consiga conquistá-los. Depois de uma campanha que entra para a história política dos EUA como a mais vergonhosa, Trump deixa, no ent

O último combate

Resta pouco, muito pouco, para comentar, mesmo sem que o último debate entre Hillary Clinton e Donald Trump tenha iniciado. Talvez a palavra "debate" mereça ser substituída por "combate", tendo em consideração a acrimónia, a violência verbal e a boçalidade que caracterizou os anteriores debates e toda a postura de Donald Trump. Daqui por umas horas tem início o último debate. Todos receiam o pior, ninguém sabe se Trump se submete ou não a um teste de drogas, depois de ter acusado Clinton de ter estado sob a influência de estupefacientes no anterior debate. Discute-se tudo, menos política. A política americana bateu no fundo e mesmo que Trump não vença as eleições, já abriu um precedente e, sobretudo, abriu a porta que nos permite ver uma democracia apodrecida. muito longe dos ideias dos pais fundadores tão queridos aos americanos. Trump contribuiu para que seja visível uma sociedade dividida, ainda muito longe de ultrapassar as questões raciais, próxima, muito

Um orçamento de esquerda?

Mário Centeno acredita que sim, Catarina Martins afirma que não. Eu, humildemente, julgo que que Catarina tem razão, mas que também creio que a porta-voz do Bloco de Esquerda sabe que este é o Orçamento possível e que, em qualquer caso, está a anos luz dos orçamentos e orçamentos rectificativos com o cunho da governação de Passos Coelho. De resto, continua a ser o ainda líder do PSD a cimentar as relações entre as esquerdas. Quanto mais Passos Coelho insiste, mais Bloco, PCP e Verdes estarão próximos da governação de António Costa. É evidente que cada partido esforça-se por não perder a sua identidade. Uma excessiva proximidade pode ser contraproducente e os líderes dos vários partidos têm clara noção disso mesmo. No entanto, e a julgar pelas sondagens, PCP, Verdes e BE continuam a manter o seu eleitorado, verificando-se inclusivamente algumas subidas nas intenções de voto. No que diz respeito ao OE2017 parece tudo dito. Com uma maior ou menor discussão, sobretudo na especialida

Sofisticação e a precariedade

A propósito da manifestação dos taxistas pouco se ouviu sobre o funcionamento da Uber, poucos falaram sobre quem está por detrás da Uber, poucos referiram a Goldman Sachs e menos foram aqueles que recordaram a mudança de paradigma a que empresas como a Uber estão forçar. A discussão resumiu-se à boçalidade manifestada por alguns taxistas, por culpa dos mesmos. A ideia de que a Uber apenas traz problemas aos taxistas não podia estar mais longe da verdade. Esta empresa apresenta-se como sendo sofisticada, moderna e com serviços topo de gama. Não sendo uma transportadora, escuda-se nos vazios legais explorando "parceiros" - motoristas - sem vínculos laborais, ganhando à percentagem em função da oferta e da procura, colocando uns contra os outros. Perfeito. Não transportam passageiros e portanto não podem ter as obrigações que têm os taxistas, são apenas uma plataforma e quem os questiona é invariavelmente apelidado de retrógado por não aceitar este admirável mundo novo. Na

OE 2017

O Orçamento de Estado apresentado pelo Governo e que contará, muito provavelmente, com a aprovação dos restantes partidos de esquerda, volta a estar longe das necessidades do país, mas levando em consideração as circunstâncias, não me parece que o Governo se tenha saído mal. Não existe um ataque aos mais desfavorecidos ou mesmo à classe média, como o Governo anterior nos tinha habituado e, sem entrar em grandes detalhes, temos um orçamento que protege os rendimentos de boa parte dos portugueses. É evidente que a não eliminação da sobretaxa, nos moldes que se esperava, é um revês a considerar. No entanto, e de um modo geral, são salvaguardados os rendimentos da esmagadora maioria de portugueses, preferindo o Governo incidir um aumento em impostos indirectos, como o tabaco, açúcar, bebidas alcoólicas, etc. Existe uma atenção especial sobre os que têm rendimentos de património mais elevados – uma medida que atingirá uma ínfima parte dos portugueses. A oposição, sem rumo nem norte,

A polémica que se segue

Raras vezes se falou tanto de um prémio Nobel da Literatura como este ano e talvez nunca se tenha ouvido tantas palavras sobre Bob Dylan. Não deixa de ser interessante ouvir e ler tantas opiniões sobre um Nobel da Literatura. Hoje e nos próximos dias discutir-se-á literatura, facto só por si inaudito, mas positivo. Bob Dylan mereceu ou não mereceu? Trata-se ou não de literatura? Até onde vão os limites da literatura? A subjectividade tomará conta da discussão. Facto indelével é que a palavra, a importância da palavra – tantas vezes subestimada – é indissociável do Nobel da Literatura, assim como é indissociável do trabalho de Dylan. Tanto como não é possível dissociar Bob Dylan da crítica social e política, crítica essa que se mostra determinante faz nos tempos actuais. Por outro lado e, pessoalmente, a abrangência que esta atribuição implica agrada-me sobremaneira. Polémicas à parte, ontem foi um bom dia porque Bob Dylan foi laureado com o prémio Nobel da Literatura.

Num mundo de especulação

É sabido que a comunicação social, enfraquecida, embora paradoxalmente concentrada em grandes grupos económicos, aprecia sobremaneira a especulação. De um modo geral, a especulação tornou-se mais importante do que a própria informação - propósito dos órgãos de comunicação social. No caso da cobertura feita à actual governação essa dita especulação implica a projecção invariável dos piores cenários e o Orçamento de Estado para 2017 não poderia, naturalmente, ser excepção.  Assim, anuncia-se o diabo sob a forma de impostos ou um demónio qualquer sob a forma de ataca à classe média - a mesma classe média com património com valor tributário acima dos 500 mil euros. E torce-se sobretudo para que as esquerdas se desentendam.  Na verdade, até se percebe esta postura da comunicação social, afinal de contas, alguém tem que dar uma mãozinha, sendo que a oposição não consegue ultrapassar a tão longa ausência do diabo. Resta uma comunicação social que sempre desconfiou desta solução polític

A Uber vai para além do problema dos táxis

A manifestação dos taxistas acabou por ser indelevelmente marcada por actos de violência que mais não fizeram do que liquidar qualquer espécie de argumentação. Todavia, isto não significa que a Uber e empresas similares representem um bom exemplo para o mundo, bem pelo contrário, a Uber e empresas similares são sinónimo de ausência de direitos laborais e contratuais e um dos maiores exemplos de precariedade. Infelizmente, a luta dos taxistas, quer pelo seu carácter visceral, na pior acepção da palavra, quer pela natural defesa exclusiva daquilo que consideram iniquidades que recaem sobre a classe, passa ao lado da verdadeira natureza da Uber e da transformação das relações laborais. A verdade é que empresas que agem na mais absoluta ausência de direitos laborais estão a mudar o paradigma. Se estas empresas vingarem, pouco resta à parte mais desprotegida das relações laborais: os trabalhadores. Paralelamente à questão dos taxistas que infelizmente mostram-se incapazes de argumentar,

Mais um debate, mais uma vergonha

Torna-se difícil escrever sobre as eleições presidenciais americanas, tendo em consideração tudo o que Donald Trump tem dito e feito. Na verdade, nunca foi fácil escrever sobre o ridículo, com a agravante do ridículo poder passar a ser uma constante na Casa Branca. Desta feita, para além de uma multiplicidade de ataques pessoais desferidos por ambas as partes, Trump foi ainda mais além afirmando que se for eleito levará Hillary Clinton à prisão. Paralelamente ao debate e continuando na senda de ir mais além, Trump apareceu numa espécie de conferência de imprensa com várias mulheres que acusam Bill Clinton, marido da candidata democrata, de assédio sexual, isto depois de ter surgido um vídeo em que Trump manifesta toda a sua boçalidade e a sua tendência para ele próprio abusar de mulheres. Enfim, a baixeza não conhece quaisquer limites e o Partido Republicano, parte dele pelo menos, confronta-se com um candidato que mais não faz do que conspurcar a imagem de um partido já de si

Todo e qualquer sinal de decência esvaiu-se

Todo e qualquer sinal de decência morreu com o último vídeo divulgado dando conta de uma conversa de Trump que mostra a sua natureza em relação às mulheres. A boçalidade, misoginia e reveladas por Trump não são propriamente novas, mas de tão incompatíveis com o mínimo de decência não serão reproduzidas neste espaço. Já para não falar na assumpção de um crime. O bom senso obrigaria o candidato republicano a demitir-se, mas bom senso é coisa que não abunda, pese embora o número cada vez mais significativo de republicanos a pedirem justamente o afastamento de Donald Trump. O seu parceiro de candidatura, Mike Pence, já repudiou as palavras proferidas pelo candidato republicano, mostrando um desconforto que já terá sido patente noutras ocasiões. Todavia, a nomeação de Trump é também o resultado da evolução do próprio partido Republicano. Resta pouco a dizer sobre um homem sem qualidades, irascível, misógino, incoerente, perigoso. Resta compreender, isso sim, as razões que têm levado u

Um ano no inferno

Um ano passou sem qualquer cataclismo. Um ano de governação de esquerda; um ano sem diabos e afins; um ano em que a azia de Passos Coelho atingiu níveis incomensuráveis. Passou um ano de Governo PS apoiado pelo perigosos partidos da esquerda radical, depois de fundamentações assentes na falta de legitimação dos mesmo, restou apenas o Diabo e o Inferno. Assim, temos um Passos Coelho numa espécie de Inferno de Dante, versão barata, com o antigo primeiro-ministro no papel de Dante, na companhia de um Virgílio aldrabado, percorrendo os nove círculos do Inferno - Portugal governado pelo PS, com o apoio das perigosas esquerdas radicais. Passos Coelho, nesta versão rasca, depara-se com as bestas demoníacas com cartão de militante de Bloco de Esquerda e PCP, confortado por Virgílio que assegura que depois da tempestade virá a bonança sob a forma de Paraíso: Bloco Central com a preponderância do Passos Coelho. Virgílio, nesta versão medíocre - não podia ser de outra forma, tendo em conside

Guterres: um sinal de esperança

A escolha de António Guterres para o importante lugar de Secretário-Geral das Nações Unidas representa um sinal de esperança. Com uma inaudita transparência esta é também uma vitória da diplomacia portuguesa. Sem recurso a manobras de bastidores, António Guterres acabou por ser escolhido, derrotando aqueles que, com recurso a manobras pelo menos insidiosas, procuravam colocar no cargo mais uma marioneta. Num processo que contou com a união de todos os órgãos de soberania portuguesa, Guterres conseguiu a proeza de conseguir o apoio de praticamente todo o Conselho de Segurança. Assim, venceu aquele que melhor representa os valores de uma organização como as Nações Unidas; venceu o humanismo, e, deste modo, sentimos uma nova esperança , sendo que esta também é uma derrota do cinismo, disfarçado de pragmatismo, de líderes como Angela Merkel. Uma derrota da Alemanha que altivamente julgava ser detentora de um poder que não existe fora da UE.  Até a Rússia, que chegou a anunciar o seu

O poucochinho enche a boca para falar de pouquinh

Passos Coelho acusa o Governo de António Costa de querer um país onde "todos tenham pouquinho". Diz o poucochinho. Diz quem sacrificou a classe média e os mais desfavorecidos; diz quem nunca se preocupou com quem tem realmente pouco ou nada. Há ironias indisfarçáveis e assistir a quem sempre fez a apologia do poucochinho, quem ajudou o país a ser ainda mais poucochinho, aos olhos dos de cá como dos de lá, acusar os outros de quererem um país repleto de quem tem pouquinho é risível. Passos Coelho anda desnorteado, sobretudo desde que deixou de ser primeiro-ministro. Longe de ter o partido do seu lado, sobrevive porque simplesmente ninguém quer o seu lugar, num contexto de geringonça funcional e boa relação institucional da actual solução política com o Presidente da República, pelo menos para já.  Passos Coelho anda sozinho, sem notáveis, sem Marco António Costa, sem ninguém. Passos Coelho, o homem do poucochinho aparece rodeado de meia-dúzia de anónimos, de cá para lá, f