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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2008

Ingerência da Igreja

O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa criticou as medidas anunciadas pelo Governo que apontam no sentido do fim do divórcio litigioso, e acusou o primeiro-ministro de não exercer uma “uma vigilância coordenadora de actos e medidas avulsas que ferem e atingem quem anda há muito a servir a população". Segundo este responsável religioso, a questão do divórcio litigioso é mais um indício de “afrontamento do Governo em relação à Igreja Católica”. As tentativas de ingerência da Igreja Católica em algumas decisões do Governo não se resumem à agora polémica questão do divórcio litigioso: o aborto, a título de exemplo, foi uma medida que contou com a forte oposição da Igreja e com as claras tentativas de inviabilização das alterações à lei do aborto. Não se questiona o direito que aquela instituição religiosa possui de apregoar, em particular aos fiéis, aquilo que bem entenda. Mas dificilmente se pode aceitar que, no contexto de um Estado laico, a Igreja se arrogue o direito de p

O desgaste da ministra da Educação

É notório um acentuado desgaste da imagem da ministra da Educação, e tanto mais é assim quando se verificam as suas escassas aparições no parlamento; em seu lugar tem aparecido o secretário de estado, Valter Lemos. Ora, o desgaste da ministra é perfeitamente explicável. A história da ministra conta-se em poucas palavras: Era uma vez uma ministra da Educação, tal como os seus antecessores, tinha uma tarefa particularmente difícil – tratava-se de um ministério oneroso para as contas do Estado, corporativo e avesso à mudança. O seu início como ministra da Educação foi auspicioso, e sua personalidade inconformista elogiada. Havia algum consenso em torno da impetuosidade da ministra e da sua perseverança em mudar o que era necessário mudar. E assim foi. A ministra, num clima de alargado consenso, encerrou escolas, aumentou a carga horária dos alunos e implementou as controversas aulas de substituição. Mas pouco a pouco o ímpeto reformista da ministra foi dando lugar à revelação de um projec

A infâmia do regime chinês

A infâmia do regime chinês está bem patente na repressão ao povo tibetano e nas tentativas ignominiosas de esconder a triste realidade da sua política para o Tibete. É neste contexto que se inserem as ridículas imagens de jornalistas – autorizados a desempenharem as suas funções pelo regime chinês – a ouvirem e recolherem imagens de monges budistas no mais completo desespero, e o consequente condicionamento ao trabalho dos jornalistas. Igualmente fruto da infâmia deste regime inefável que lidera a China são as tentativas – genericamente bem sucedidas – de censurar tudo o que possa manchar a imagem da China. O povo tibetano, que vive há mais de 50 anos sob o jugo de um regime sufocante e opressor, tem conseguido dar maior visibilidade à sua causa. Assim, a possibilidade de um boicote, embora merecido, poderia ser contraproducente, na precisa medida em que poderia retirar o valioso instrumento da visibilidade aos tibetanos. Pelo menos até ao final dos Jogos Olímpicos, a China andará nas

A herança de Bush

Por altura dos cinco anos da guerra do Iraque, e a poucos meses de Bush deixar a presidência, é também o momento para se discutir o legado do ainda Presidente americano. O legado do Presidente Bush estará indissociavelmente relacionado com a guerra do Iraque. Ora, a pesada herança do Presidente começa a desenhar-se no pós-11 de Setembro. Em traços gerais, o 11 de Setembro significa uma viragem na política externa americana, marcada pelo unilateralismo, e representou a grande oportunidade para a hegemonia dos neoconservadores. A preponderância dos neoconservadores nas decisões de um Presidente limitado constitui um erro fatal para os Estados Unidos – relembre-se que os neoconservadores não diferem substancialmente de quem faz a apologia do radicalismo. Nestas condições, a política externa norte-americana foi caracterizada por uma catadupa infindável de erros, que nem o 11 de Setembro e a solidariedade associada conseguem atenuar e levar a uma compreensão generalizada. Assim, o legado de

Descida de impostos

O primeiro-ministro, José Sócrates, anunciou uma descida do IVA, dos actuais 21 por cento para 20 por cento. O anunciou chegou sem surpresa, não obstante o facto do primeiro-ministro, há apenas 15 dias, ter afastado esse cenário. Enfim, as incongruências do actual Governo são muitas, mas o que se passa nos restantes partidos políticos, em particular de direita, não difere substancialemente. Mais do que insistir na escassez da redução anunciada pelo Governo, importa perceber se as contas públicas estão preparadas para essa descida de impostos. Evidentemente que o primeiro-ministro garante a convergência entre a consolidação das contas públicas e uma descida de impostos – não excluindo mesmo a possibilidade de se empreender uma nova redução no próximo ano. A garantia, por parte do Governo, da manutenção rigorosa da disciplina orçamental – a meta enfatizada é a de um défice de 2,2 por cento – é de extrema importância, mas resta saber se, num cenário de manifesta conjuntura internacional d

Endividamento numa conjuntura desfavorável

Num momento em parece ser inevitável que a crise, com origem nos Estados Unidos, afecte a Europa e naturalmente Portugal, o problema do endividamento ganha dimensões mais preocupantes. Com efeito, o país está endividado, segundo alguns números divulgados estima-se que os portugueses devam ao sector financeiro perto de 128 mil milhões de euros. O crédito habitação é inquestionavelmente o grande responsável por esse endividamento, mas o crédito ao consumo tem vindo a aumentar. As instituições bancárias aproveitaram muito bem uma conjuntura manifestamente favorável a consumo de créditos, a saber: total inexistência de uma cultura de pedagogia, desresponsabilização do Estado convicto da sabedoria do mercado financeiro, baixos salários, consumismo exacerbado, e claro está, o desaparecimento da poupança. É, porém, interessante verificar que a publicidade dos bancos procura centrar-se agora em produtos ligados à poupança, e verificar também o quase desaparecimento de publicidade a oferecer cr

Indisciplina nas escolas

Dias após o surgimento de um vídeo mostrando a famigerada aluna em confronto com a sua professora, é agora a vez de se procurarem as causas subjacentes à indisciplina nas escolas. Nestas discussões, há invariavelmente lugar a exageros de interpretação. Somos, de facto, incapazes de analisar serenamente as situações. Há quem invoque uma multiplicidade de razões que poderão estar na origem do malfadado comportamento da aluna e dos seus colegas: a inversão de valores, a falta de autoridade dos professores, a displicência dos pais, a existência de uma sociedade inane e consumista ou o estatuto do aluno. É bem possível que todas estas razões sejam indissociáveis do problema da indisciplina e violência nas escolas. Quando se pretende solucionar um problema, importa que se procure o que está subjacente a esse problema. Se por um lado, há possíveis causas exógenas à escola, que implicam maiores dificuldades ou incapacidade de resolução; por outro, importa que se resolvam as causas endógenas, d

Autenticidade e política

Há pouco mais de uma semana, a SIC presenteou os portugueses com duas entrevistas – uma ao primeiro-ministro e a outra a Luís Filipe Menezes – que mostram a vida mais privada dos políticos. É claro que a autenticidade ficou à porta das tais entrevistas – a artificialidade foi a pedra de toque das preciosidades televisivas em questão. O primeiro-ministro, José Sócrates, optou por deixar a vida privada fora da entrevista, apostando mais numa estratégia de explorar a imagem construída para si. Por sua vez, Luís Filipe Menezes, fez o contrário – usou a família, colocando a tónica na parte mais privada da sua vida. O que, de facto, interessa saber é se estas entrevistas dão algum contributo positivo ou trazem algo de novo para a vida política do país e, claro está, para os portugueses. A resposta é nitidamente negativa, o que há é uma manifesta falta de autenticidade nas mesmas. Não são mais do que construções de imagens, levadas a cabo por agências de comunicação. São apenas momentos de ar

A Saúde como prioridade

No último debate quinzenal na Assembleia da República, o tema escolhido pelo Governo foi a Saúde. No meio de anúncios de redução de algumas taxas moderadoras e do regresso de alguns hospitais, como é o caso do Amadora-Sintra, à gestão pública, pouco mais se adiantou no que diz respeito à estratégia do Governo para a área da Saúde. Fica-se com a indelével sensação de algumas taxas moderadoras, designadamente quando se aplicam a internamentos e cirurgias, são perfeitamente desnecessárias e injustas. Além do mais, a estratégia do Governo para a área da Saúde passava pelo encerramento de alguns serviços de Saúde, parece, no entanto, que com a nova ministra, vem uma nova política, ou pelo menos algumas alterações nas políticas de Correia de Campos parecem ser uma inevitabilidade. A acção governativa, deste ou de qualquer outro Executivo, deve centrar-se na sustentabilidade da Saúde e na salvaguarda da qualidade dos serviços. Se por um lado, reconhecem-se as dificuldades em matéria de susten

Violência nas escolas e responsabilidades

O episódio, amplamente difundido na comunicação social, do comportamento deplorável de uma aluna em busca do seu telemóvel e da resultante catadupa de empurrões, puxões e malcriadices visando a professora – para gáudio dos colegas – dispensa comentários. Mas serve de ponto de partida para uma discussão mais séria sobre a violência nas escolas. E mostra claramente que a ministra da Educação deveria ter outras preocupações que fossem além da avaliação dos professores – a mítica frase “há mais vida para além do défice” pode ser justamente adaptada para “há mais vida nas escolas para além do modelo de avaliação dos professores”. De resto, o comportamento desta equipa ministerial não está totalmente dissociado do desrespeito dos alunos em relação aos seus professores e do clima anárquico que se tem vindo a gerar nas escolas. Em abono da verdade, não é correcto responsabilizar apenas este Governo pelo desgoverno que se verifica nas escolas do país, mas a postura da ministra tem sido marcada

Iraque: cinco anos de guerra

Faz hoje cinco anos que começou a intervenção militar americana no Iraque e o balanço é profundamente negativo. Além do número de vítimas, a guerra deu um forte contributo para a destabilização da região e para a ascensão do Irão. O ainda Presidente Bush tenta passar a imagem de sucesso, embora não determinante para o fim da guerra, da intervenção militar norte-americana. Mas a imagem que o mundo tem é de uma guerra sem fundamento assente na mentira da Administração Bush. Com efeito, a guerra não é só feita de insucessos, e as tentativas norte-americanas para estabilizar o país são, apesar de tudo, uma realidade: o apoio, por vezes contraproducente dos americanos, ao governo iraquiano e a tentativa de não ostracizar antigos membros do partido de Saddam, o Partido Baas inserem-se num contexto de pacificação e estabilização do Iraque. Além disso, a Administração Bush tem encetado tentativas de convergir os interesses entre curdos, xiitas e sunitas, sobretudo através do petróleo. De igual

O paternalismo do Estado

O paternalismo do Estado, condição que parece ser pedra de toque do Governo PS, dá novamente sinais de acentuada vitalidade, através, desta vez, da tentativa de ditar quem pode ou não fazer “piercings”, e em que parte do corpo. O paternalismo do Estado não é chancela exclusiva do actual Executivo, já no passado recente assistimos a episódios em que esse paternalismo se evidência, este é, aliás, um estigma que acompanha o país há demasiado tempo; mas o Estado paternalista tem vindo a ser exacerbado com a acção política do Governo de José Sócrates. Não é necessário ser-se dotado de uma inteligência acima da média, para se perceber qual é a concepção de Estado que o Governo tem. A lei do tabaco, que pese embora tenha como objectivo primordial a protecção dos não fumadores, foi alvo de uma tentativa de a transformar numa perseguição a quem não abdica de exercer um direito seu, respeitando os outros. A começar no Inspector-geral de Saúde que não foi capaz de manter algum equilíbrio nesta ma

Necessidade de regulação

A conjuntura económica desfavorável, com o euro a valer 1,59 dólares, com o petróleo, ouro e bens alimentares a baterem novos recordes, já nos 111 dólares, com as quedas significativas das bolsas, quedas no sector imobiliário não só nos EUA, mas também em Espanha e Inglaterra, e o clima de medo do sector financeiro tem é consequência, em larga medida, da falta de regulação de um mercado global que está entregue a si próprio. A crise do subprime, com a concessão de créditos de forma infundada, é o melhor exemplo do “salve quem se puder”. De facto, hoje, um grande número de Americanos deixaram de pagar os seus créditos, e a desvalorização das casas nos EUA complica sobremaneira a situação. É a voracidade de muitos que continuam a pugnar pela ausência de regras claras que acaba por redundar em falências de inúmeros promotores imobiliários e que tem colocado muitas instituições bancárias nos EUA, mas não só, em grandes dificuldades. O nervosismo tomou conta do sector financeiro. Não se pre

Tibete e a passividade da comunidade internacional

O povo do Tibete quer deixar de viver sob o jugo do regime chinês que brutaliza a população, coloniza o território, cerceia as liberdades e parece ter em vista a aniquilação das especificidades culturais e religiosas do Tibete. Esta é a pretensão, legítima, do povo do Tibete, e é com essa libertação em vista que monges e a população desafiam as autoridades chinesas, colocando em risco as suas próprias vidas. Consequentemente, é falacioso evocar-se levianamente que os chineses, nos anos 50, libertaram o povo tibetano da opressão e da pobreza, o que justifica o facto do Tibete ser uma região autónoma – que está longe de o ser – mas sob o poder de Pequim. A imagem dos chineses como libertadores do Tibete é errada; se assim fosse não estaríamos certamente a assistir a estas manifestações, nem tão-pouco teriam ocorrido outras semelhantes, como é o caso frequentemente referido de 1989. A comunidade internacional refugia-se na sua habitual passividade, recorrendo, invariavelmente, a protestos

Violência regressa ao Tibete

Esta semana tem sido marcada pelo regresso da violência à região autónoma do Tibete, em particular na capital Lhasa. Manifestações contra o regime chinês têm vindo a ser fortemente reprimidas, e fala-se na morte de pelo menos dez pessoas, fazendo o devido desconto consequência do branqueamento de informações levado a cabo pelas autoridades de Pequim. Há quem advogue que estas são as maiores manifestações desde 1989, altura em que foi decretada a lei marcial. As manifestações contam com a participação de monges e da população tibetana. Recorde-se que a região do Tibete foi ocupada pela China em 1951 e, por altura da inefável Revolução cultural, a política de força do regime chinês custou a vida de centenas de milhar de vítimas. A ocupação chinesa deste território é arbitrária e a actuação do regime chinês não se coaduna com os mais básicos Direitos Humanos. De facto, a tortura, a repressão, a destruição da cultura tibetana, o repúdio pelos aspectos religiosos, a coarctação de liberdades

Efeitos da crise do subprime

A crise que afectou o mercado de crédito dos Estados Unidos tem, inevitavelmente, impacto nas economias. Parece impor-se a premissa que indica o fim, para já, do dinheiro barato e fácil. Foi precisamente isso mesmo que os bancos portugueses vieram enfatizar esta semana. E um facto relevante que não pode ser ignorado prende-se com o endividamento dos bancos portugueses ao estrangeiro para fazer face à procura interna. A crise do subprime, recorde-se, começou no mercado de crédito dos EUA – a facilidade de concessão de crédito, com más avaliações de risco, associadas à quebra dos preços das casas americanas resultaram numa crise cujas dimensões não são, apesar de tudo, bem conhecidas. A crise alertou os bancos para os perigos que subjazem à concessão desmedida de crédito. Da mesma forma, há hoje um problema associado de liquidez, o que tem justificado as constantes injecções de dinheiros levadas a cabo pela Reserva Federal Americana e pelo Banco Central Europeu. Tudo se complica quando s

O falhanço do PSD

O PSD está a atravessar um período manifestamente difícil, e tanto mais é assim quando se verifica o não aproveitamento do momento menos bom do Governo. O executivo de José Sócrates passa por um momento de crescentes dificuldades e da consequente perda de popularidade, embora, nas sondagens, mantenha uma confortável distância relativamente ao principal partido da oposição. De facto, a crispação entre ministério da Educação e professores e o desconforto sentido por muitos portugueses devido às dificuldades em matéria de qualidade de vida, não excluindo também o enjoo colectivo perante o estilo arrogante do primeiro-ministro e de muitos dos seus colegas de Governo. Esta seria a altura para o PSD ressurgir como alternativa governativa. Todavia, não é isso que acontece. O PSD falha em dois domínios fundamentais: por um lado, a actual liderança não tem sido capaz de unir o partido, surgindo, de forma incessante, vozes discordantes no seio do PSD – agora a propósito das alterações nos regula

O milagre da avaliação

O recente, ou talvez não tão recente, imbróglio da educação exige que o bom senso prevaleça sobre a intransigência desmesurada. Os professores saíram à rua, numa manifestação inédita, mostrando o seu descontentamento; a ministra da Educação afirma manter-se irredutível no que diz respeito às políticas para a educação, e sobretudo relativamente à polémica questão do modelo de avaliação dos professores. Vive-se, portanto, um impasse entre professores e ministério. Lamenta-se, contudo, que a qualidade da educação seja constantemente relegada para segundo plano. Aliás, nada será melhorado em matéria de educação sem a participação efectiva dos professores. Os grandes erros cometidos na educação tem como protagonistas as várias equipas ministeriais que a partir da 5 de Outubro lançam os ditames, amiúde, desfasados da realidade e invariavelmente apoiados em pressupostos ideológicos errados. É curioso verificar a facilidade como a equipa de Maria de Lurdes Rodrigues gera um modelo de avaliação

Precariedade do emprego fora do discurso oficial

O discurso oficial da classe política, pobre nos dias que correm, não contempla a questão da precariedade laboral. Discute-se a fraca competitividade da economia portuguesa, e, amiúde, explana-se sobre a pouca flexibilidade das leis laborais como sendo causa maior dessa escassa competitividade. Ora, quando se fala em rigidez da legislação laboral, não raras vezes se incorre no discurso fácil da flexibilidade dos despedimentos e pouco mais do que isso. Há, de facto, a tendência para se procurar uma espécie de oásis para as empresas, e esquece-se invariavelmente os problemas que assolam o mercado laboral português, como é o caso da precariedade. Ninguém pode honestamente negar a existência de um aproveitamento, e de formas de se perpetuar a precariedade; disfarça-se invariavelmente esse aproveitamento com argumentos de necessidade e de inevitabilidade, apoiados na difícil situação financeira do país e das empresas. O poder político prefere obliterar a verdade recorrendo a expedientes de

Faixa de Gaza

A situação do território, ocupado desde 1967 pelos israelitas, é cada vez mais difícil. As dissenções nos territórios palestinianos e os ataques contra Israel isolaram e estão a condenar a Faixa de Gaza a uma tragédia humanitária. Recorde-se que o Hamas continua a exercer o seu poder na Faixa de Gaza, e a Cisjordânia está sob domínio da Autoridade Palestiniana (AP). Sublinhe-se também que a pretensa legitimidade conseguida pelo Hamas nas eleições, que lhes permitiu chegar ao poder, perde toda a sua força perante o recurso insistente ao terrorismo contra o povo hebraico. As Organizações Não-Governamentais a trabalhar no terreno avisam para o perigo de catástrofe humanitária neste território palestiniano. O bloqueio da população agrava a já insustentável situação em Gaza: a pobreza é endémica, a acesso a bens de primeira necessidade é complexo, muitos palestinianos que trabalhavam em Israel estão impedidos de o fazer e o desemprego ronda os 40 por cento. O problema que se coloca é a dire

Nervosismo em crescendo

Este ano está a revelar-se complicado para o Governo de José Sócrates. Depois de quase dois anos de um Governo determinado, impulsionador de mudanças, modernizador, o Governo dá agora sinais de acentuado nervosismo. Na verdade, o primeiro-ministro sempre que contrariado e ou questionado de forma incomoda revelou invariavelmente um temperamento difícil e uma dificuldade em fugir de uma altivez despudorada. Mas no essencial, o Governo conseguiu, durante quase dois anos, passar a imagem de eficiência, de modernidade e até certo ponto, de resultados. Hoje o cenário é diferente e tudo se complicou com a contestação de parte de população ao encerramento de serviços médicos e a respectiva cedência do primeiro-ministro a essa contestação. Importa, contudo, em nome de alguma honestidade intelectual, referir a dificuldade do primeiro-ministro em manter em funções o anterior ministro da Saúde – não querendo recuar nas reforma em curso, optou-se por mudar as caras e os estilos, e essa decisão teve

Manifestação de professores

A manifestação de professores, agendada para hoje, representa um desafio de difícil resolução para o Governo. De facto, José Sócrates vive um dilema: se o primeiro-ministro exonera a ministra de Educação de funções, fragiliza indelevelmente o Governo, na precisa medida em que passa a imagem de cedência à rua – o afastamento do ministro da Saúde, depois de tanta contestação, abriu a porta para que o descontentamento manifestado na rua ganhasse a pretensão de mudar as políticas do Governo, ou pelo menos adiar as reformas; se, por outro lado, a ministra não cair, algumas das medidas mais polémicas terão de sofrer cedências sob pena do descontentamento aumentar de tom ou tomar proporções ainda mais gravosas, tendo naturalmente elevados custos para o Governo. Os próximos passos do Governo poderão passar por uma solução intermédia: a ministra não pode abandonar funções, goste-se ou não de Maria de Lurdes Rodrigues; o Governo, por sua vez, terá de ceder em algumas matérias que desagradam aos

O regresso de Hillary Clinton

As primárias norte-americanas para a escolha do candidato democrata voltam a estar animadas. Agora foi a vez de Hillary Clinton recuperar em número de delegados, quando tudo indicava que Barack Obama teria uma oportunidade para se afastar mais na corrida. Falava-se mesmo na possibilidade da ex-primeira-dama poder desistir, se os resultados fossem desfavoráveis para a sua candidatura. Hillary Clinton conseguiu recuperar e aproximar-se do seu adversários político. Barack Obama já conseguiu eleger 1562 deputados contra os 1461 da candidata democrata; Hillary, contudo, elege mais superdelegados. No campo republicano, nada de novo, John McCain é o candidato republicano às eleições presidenciais americanas. Tratou-se apenas da confirmação do que já parecia ser uma certeza. Para o partido democrata está tudo ainda muito indefinido, mas é indubitável que esta eleição no seio do partido democrata está a ser histórica. Fala-se, com relativa insistência, na possibilidade dos dois candidatos se ju

Erosão política

Quando se fala em crise, aborda-se frequentemente o problema económico do país, havendo mesmo que assevere que a economia do país atravessa uma recessão que dura há perto de seis anos. Mas a crise começa, antes de mais, por ser uma crise dos partidos políticos. Em alturas de dificuldades, como é aquela em que nos encontramos, parece existir uma tendência para que a mediocridade se instale e a competência se ausente. É precisamente isso que acontece com o espectro político nacional. No caso do PS, partido do Governo, a cumplicidade com os ditames do primeiro-ministro é por demais evidente. O PS não tem tido uma existência fora da esfera de influência do primeiro-ministro, serve apenas para servir as necessidades e interesses do actual chefe de Governo. Surgem esporadicamente algumas vozes dissonantes, é o caso de Manuel Alegre e, mais recentemente e a propósito da Educação, de Ana Benavente; mas no essencial, o partido tem como objectivo último servir o Governo. Por conseguinte, o PS é

Fronteiras, FARC e Chávez

Instalou-se uma acentuada tensão entre a Colômbia, Equador e Venezuela, depois da Colômbia ter empreendido uma incursão militar em território equatoriano da qual resultou a morte de um dos principais líderes das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). A reacção do Equador não se fez esperar, e o Presidente colombiano acusou os líderes venezuelano e equatoriano de “patrocinarem” as FARC – o que veio a intensificar o clima de clara animosidade entre estes países. O forma de actuação da Colômbia é, sob todos pontos de vista, criticável, tendo em conta o desrespeito por um Estado soberano, no caso o Equador. Sabendo-se de antemão que as FARC constituem uma ameaça para a Colômbia e que se trata essencialmente de um grupo terrorista, é possível evocar algumas atenuantes para a decisão do Governo colombiano, mas no essencial, esta é uma situação a evitar. Recorde-se, contudo, que o Presidente Colombiano, Álvaro Uribe pediu desculpas pelo incidente. É claro que o clima de instabilid

Sucessão russa

Dmitri Medvedev sucede a Vladimir Putin na presidência russa. De facto, isso confirmou-se nas eleições decorridas no passado fim-de-semana, mas a realidade não se coloca de forma tão simplista. Medvedev sucede a Putin, mas o ainda Presidente russo prepara-se para ocupar o lugar de primeiro-ministro, o que justifica as análises que indicam um poder bicéfalo. Vários observadores internacionais consideraram que as eleições não decorreram no plano mais democrático, havendo mesmo suspeições de coacção. De igual forma, a oposição praticamente não existiu, e a que foi a votos com Medvedev, estava, digamos assim, domesticada. Apesar de existir uma verdadeira oposição ao partido de Putin e ao recém-eleito presidente Medvedev, as regras foram claramente dificultadas para que essa oposição estivesse ausente das eleições. Por conseguinte, existe uma oposição ao partido de Putin, apesar de anódina e com pouca expressão, ela existe. Discute-se agora o futuro da governação russa. São muitos os cenári

A marcha do PCP

A marcha ou manifestação organizada pelo PCP, no passado sábado, mostra duas realidades, apesar de tudo conexas: o descontentamento de muitos cidadãos, e a instrumentalização, por parte de um partido apagado, desse descontentamento. De qualquer modo conseguiu-se mobilizar perto de 50 mil pessoas, pelas razões já assinaladas, designadamente por razões de manifesta insatisfação com as políticas do Governo. A actual situação do país, em permanente crise económica e social, volta a dar algum ânimo a partidos como o PCP pelas seguintes razões: por um lado, as constantes dificuldades vividas pelos cidadãos fá-los duvidar da eficácia do modelo económico que é actualmente aplicado, e, em alguns casos, volta-se a acreditar num modelo de uma aparente igualdade, mas que já mostrou a sua falência; por outro lado, a crise que assola os partidos políticos têm deixado o PCP relativamente incólume; quando se analisa a inércia do PS, a inexistência do PSD e as suspeições que recaem sobre o CDS, sobra d

A força da rua

A rua, ou melhor a contestação, parece ter vindo a ter uma importância irrefutável para as decisões do primeiro-ministro. A saída de Correia de Campos, ministro da Saúde, foi consequência, também, da contestação popular. De resto, não é bom para a imagem do primeiro-ministro, a 18 meses das eleições legislativas, ter a voz da rua a chumbar clamorosamente as suas políticas. No caso da Saúde, o primeiro-ministro sentiu-se compelido a estancar a torrente de descontentamento que invadiu os noticiários televisivos e a imprensa escrita. A única forma de se atingir essa meta foi a exoneração de funções do ministro da tutela, e, de facto, sentiu-se uma acentuada acalmia no descontentamento que parecia lavrar imparável um pouco por todo o país. Chega agora a vez do primeiro-ministro lidar com o descontentamento generalizado dos professores. José Sócrates não pode demitir a ministra da Educação sob pena de confirmar a ideia de que cada vez que a rua contesta, as políticas do Governo sofrem um re

O fenómeno Obama

Barack Obama, candidato democrata às eleições norte-americanas e o mais bem colocado candidato a confrontar o seu opositor do partido Republicano, é, indiscutivelmente, o grande fenómeno político, nas últimas décadas, nos EUA. E tanto mais é assim quando se verifica toda a atenção que a comunicação social tem dado às intervenções do candidato e, num sentido mais lato, a toda a campanha do candidato. E, claro está, o entusiasmo de muitos democratas, e talvez não só, em torno do senador Barack Obama. É claro que a questão racial é indissociável do fenómeno Barack Obama, por muito que o candidato adopte um certo distanciamento da questão racial, a verdade é que o facto de se tratar de um candidato afro-americano, muito bem colocado, às presidenciais americanas, contribui para a criação do fenómeno já referido. A presença – muito forte – de um afro-americano na corrida para a Casa Branca é, por si só, um acontecimento que indicia a possibilidade de mudança, em muitos aspectos surpreendente