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A mostrar mensagens de dezembro, 2014

Quem tem medo do Syrisa?

A situação política na Grécia está ainda longe de se definir, mas há uma certeza: o partido Syrisa será seguramente um dos mais fortes candidatos à vitória nas legislativas. O Syrisa é classificado como partido radical e tem como propostas uma renegociação da dívida que possa incluir um pagamento da dívida acompanhada de um crescimento económico, deixando cair por terra os cortes orçamentais. Este partido rotulado como sendo de esquerda radical propõe ainda uma espécie de New Deal Europeu apoiado por um banco de investimento; um programa de emergência para combater o desemprego; o aumento do salário mínimo; uma luta sem tréguas contra a evasão fiscal; a restauração dos acordos colectivos; alianças com outros partidos europeus que lutem contra a austeridade. Como se vê, o radicalismo é assustador. Quem tem medo do Syrisa? Os mesmos que chantagearam os gregos nas últimas eleições: uma UE refém dos interesses financeiros; forças internas ainda agarradas a preconceitos contra a

A última grande privatização

A venda da TAP corresponde à última grande privatização do actual Governo. Depois de discussões sobre o que está ou não estipulado pelo memorando de entendimento assinado com a Troika, depois de potenciais greves e manobras para impedir essas greves, a venda da transportadora aérea portuguesa é um facto praticamente consumado. Para ajudar a compor as coisas, é notícia a necessidade da TAP conseguir 250 milhões de crédito à banca até à venda da empresa. Ideologia. Imperativos ideológicos, com ou sem imposições da troika - a ideia de vender tudo o que for possível sempre esteve subjacente à governação do PSD/CDS. A TAP é apenas a última grande venda levada a cabo por este Executivo. Se lhe for renovado o mandato em próximas eleições legislativas, e embora já não reste grande coisa para vender, qualquer coisa se arranjará. A água? E para quê? Para enriquecer uma minoria e empobrecer a esmagadora maioria. De qualquer modo, a TAP seria sempre vendida a privados, assim como será

Crise económica na Rússia

Vladimir Putin reconheceu a existência da crise económica russa, admitindo que a resistência à diversificação da economia estará subjacente às dificuldades presentes. Putin abordou a questão das sanções impostas e à descida significativa do preço do petróleo como outros elementos subjacentes à crise económica. Deste modo, ficou feito o resumo das causas da crise que está a assolar a economia russa. De fora do discurso de Putin ficou a corrupção e o próprio regime oligárquico como elementos indissociáveis da crise russa. É evidente que Putin, o homem que encabeça a oligarquia, não está disposto a relacionar os homens que dominam o país e o descalabro da economia russa. Por outro lado, as difíceis relações com o Ocidente, que se agravaram com a questão ucraniana, trazem novas dificuldades que vão para além das próprias sanções impostas pelo Ocidente. Importa contudo lembrar que o afastamento da Rússia começa nos anos Bush com o abandono dos EUA de tratados como o tratado de mís

É melhor não perguntar

A frase em epígrafe é uma entre outras reveladoras de um contexto onde impera o dinheiro indevido e a informação privilegiada. Esse contexto dá pelo nome de Reunião do Conselho Superior do Grupo Espírito Santo - a gravação mencionada reunião acabou divulgada pela comunicação social. Na conversa entre Ricardo Salgado e outros membros do Grupo Espírito Santo é discutida a distribuição de comissões pagas pela aquisição dos famigerados submarinos. 5 milhões para aqui, 15 para ali Quanto para quem? É melhor não perguntar, responde Salgado. Um exemplo do poder incomensurável dos membros da casta dominante composta por homens de negócio e políticos. Dessa gravação percebe-se que o arquivamento do processo dos submarinos já era conhecida por Salgado. Recorde-se que este processo esteve em investigação no DCIAP desde 2006; recorde-se também que processos relativos ao consórcio alemão Ferrostal resultaram em condenações na Alemanha e na Grécia;  e, finalmente, importa lembrar que o proc

Greve

A greve é o último recurso dos trabalhadores, sinal de que o contexto em que se encontram inseridos se degradou de forma assinalável. Infelizmente, para alguns, a greve é merecedora de críticas inexoráveis. Em rigor, se fosse possível, a greve, para alguns, merecia ser abolida - porque põe em causa os interesses do país; porque não é economicamente viável, porque causa transtorno aos cidadãos, ou porque sim, simplesmente porque sim. Exemplo de interesses do país - a venda da TAP. Existe alguém que acredite que a venda da TAP será positiva para o país? Mesmo com a multiplicidade de casos de outras privatizações que destruíram o pouco que nos restava, onerando cidadãos/consumidores? Quanto à viabilidade económica, a dívida externa portuguesa não é viável e não vejo tanta alma inquieta com esse facto. Finalmente, o transtorno dos cidadãos. É evidente que as greves causam dificuldades, sobretudo as greves do sector dos transportes públicos. No entanto, temos sido presenteados

Confiança

Passos Coelho, entre membros do seu partido, referiu que não necessita do CDS para ganhar eleições. Isso é que é confiança. O ainda primeiro-ministro que enfrenta dentro de meses legislativas mostra-se convencido que vai ganhar as eleições. Com efeito, o pior político é aquele que não vê as evidências; o pior político é aquele que se mostra incapaz de percepcionar os sentimentos dos seus cidadãos, Passos Coelho demonstra viver absolutamente desfasado da realidade e essa realidade - a do desemprego, do trabalho precário, do enfraquecimento do Estado Social, do menosprezo pelos cidadãos; dos cortes salariais e de pensões e da venda do país - cair-lhe-á em cima precisamente no próximo período eleitoral. Com o CDS ou sem o CDS. Passos Coelho sempre se mostrou incapaz de perceber que é sempre possível fazer mais e melhor pelos cidadãos. É preciso querer; é essencial existir vontade política. Passos Coelho não quis e não quer. Não faz parte do seu ideário e seguramente não fará p

O trabalho ainda não está feito

Qual a motivação para políticos como Passos Coelho e até certo ponto Paulo Portas lutarem pela reeleição? Desde logo, a incógnita que paira sobre um futuro desprovido de cargos políticos, em especial de governação. Um futuro que não será seguramente tão promissor do que aquele que implica a existência desses mesmos cargos. Mas existe outra motivação: concluir o trabalho que tem vindo a ser feito, em matéria de transformação social e de venda do país. No que diz respeito à transformação social, importa consolidar aquilo que já foi feito: aumento da precariedade laboral, desvalorização salarial pressionada por elevados níveis de desemprego e enfraquecimento do Estado Social, passando sectores sob a alçada do Estado para o sector privado, designadamente na área da Saúde e Segurança Social. Relativamente à venda de sectores estratégicos do Estado, temos a TAP, e no futuro a água poderá muito bem entrar para o vasto rol de privatizações. De resto a inexistência de limites à imagin

Dívida

Se a discussão sobre a dívida externa fosse meramente adiada em virtude do calendário eleitoral estaríamos nós muito bem – a discussão acabaria efectivamente por acontecer, seria apenas uma questão de tempo. Porém, não será essa a situação – os partidos do “arco da governação não querem que este seja um problema amplamente abordado e discutido. PSD e CDS limitam-se a atribuir uma componente moral à dívida, esquecendo, convenientemente, que esse carácter moral – que pesa exclusivamente sobre o devedor – acaba invalidado com o facto dos credores lucrarem com os empréstimos. E que lucros! PSD e CDS apoiam a parca discussão no carácter moral: tem que se pagar o que se deve, embora tenham deixado cair a tese ridícula e ofensiva de “viverem acima das suas possibilidades”. PS, alinhado com os partidos acima referidos, demonstrando apenas ligeiras divergências, evita a discussão porque esta implica, sobretudo à sua esquerda, a preponderância de questões e posições pertinentes. O P

Logro

O logro é prática comum nos últimos anos, sobretudo ao longo da última década de governação socialista e social-democrata com o apêndice CDS. Mas há um que tem sido exposto pelos partidos mais à esquerda do PS: os números do desemprego. Então não é que o Banco de Portugal vem dar razão a esses partidos que sempre questionaram os números do desemprego? Segundo o Banco de Portugal, o emprego criado - real - fica muito abaixo da propaganda oficial Assim, os 6 por cento de aumento no sector privado, são na realidade uns meros 2,5 por cento e dentro deste número entram os famigerados estágios  O número real cifra-se nos 1,6 por cento. As discrepâncias são explicadas com alegadas razões metodológicas. Sempre é preferível falar-se em razões metodológicas do que em mentira e na verdade é mesmo disso que se trata: de mais um mentira vinda de um governo que isoladamente se gabava dos números relativos à criação de emprego, mesmo quando um dos responsáveis da troika mostrava a sua adm

Os donos disto tudo...

... afinal alegam não ser donos disto tudo, considerando mesmo o epíteto ofensivo, pelo menos Ricardo Salgado. As televisões inundaram o espaço público com frases sonantes e acusações recíprocas dos senhores que até há bem pouco tempo estavam à frente dos destinos de um dos maiores bancos do país - um dos bancos que mais participou na derrocada do país, estando invariavelmente envolvido numa boa parte dos negócios escabrosos realizados em Portugal num contexto de promiscuidade abjecta entre poder político e poder económico-financeiro. O país real - dos desempregados, trabalhadores precários, famílias endividadas que viram as suas situações agravar-se com cortes salariais e de pensões, país daqueles que já têm dificuldades em suprimir as necessidades básicas - assiste ao confronto entre primos cuja voracidade atingiu limites incompreensíveis. Entrar nos detalhes opacos e intrincados do caso BES é exercício que não me interessa; entre contabilistas, governador do Banco de Portug

Fazer omeletes sem ovos

Os investigadores da Polícia Judiciária fizeram uma denúncia que em bom rigor apenas surpreenderá os mais incautos: a falta de meios de investigação compromete os resultados em matéria de combate à corrupção, a falta de meios consubstancia-se no carácter obsoleto dos equipamentos informáticos, falta de recursos humanos e inexistência de automóveis em condições de circulação. Há anos que a Polícia Judiciária se depara com esta gritante ausência de meios: existe um edifício novo, mas falta o essencial. Procura-se pois fazer omeletes sem ovos. Ou talvez estas prioridades nunca o tenham sido verdadeiramente. Todos reconhecessem que a corrupção compromete a própria democracia, mas a verdade é que a promiscuidade entre poder político e poder económico sempre se serviu dessa mesma corrupção e os partidos do "arco da governação" nunca se empenharam no combate à corrupção. Não existiu como não existe vontade política de combater um tipo de criminalidade que tem implicações na

Mexilhão

Pedro Passos Coelho, o homem que disse “que se lixem as eleições”, afirmou agora – sem esboçar sequer um sorriso – que, desta feita “quem se lixou não foi o mexilhão”. Passos Coelho alegou que quem mais tem, mais tem contribuído para os sacrifícios. Pese embora se aproximem eleições legislativas, essa aproximação não pode justificar tudo – incluindo exercícios que, pelo absurdo, se aproximam da doença mental. Talvez não fosse má ideia o ainda primeiro-ministro consultar um médico, ou vários. Existe uma multiplicidade de acontecimentos que permitem rebater em absoluto a afirmação senil de Passos Coelho, mas ainda há dias se soube que as perdas potenciais dos 52 swaps feitos por empresas públicas continuam a subir, atingindo já 1800 milhões de euros – com Banco Santander consideravelmente na dianteira dos que mais ganham neste contexto de casino. Quem perde é o Estado, todos nós. O Governo renegociou alguns swaps, timidamente e com perdas superiores a mil mihões de euros. A “

Solidariedade

Em tempos o Governador do Banco de Portugal equacionou a possibilidade de retirar a idoneidade a Ricardo Salgado, mas um parecer parece ter ajudado Salgado a manter a idoneidade no sector financeiro. E o que dizia esse parecer? No cômputo geral assinalava "o espírito de entreajuda e solidariedade" entre Salgado e um construtor, o que justificou que o último transferisse para o primeiro a módica quantia de 14 milhões de euros. Não, não é uma anedota. E o responsável pelo parecer terá sido João Calvão da Silva, professor da Universidade de Coimbra e actual presidente do Conselho de Jurisdição do PSD. Sem a referida idoneidade Ricardo Salgado não poderia permanecer à frente do BES. Os 14 milhões passaram naturalmente por uma off-shore e ainda beneficiaram da amnistia fiscal do Regime Excecional de Regularização Tributária (RERT). Solidariedade, segundo o dicionário da Porto Editora tem várias acepções: sentimento que leva a prestar auxílio a alguém; responsabilidade rec

Desigualdade

Enquanto o país se entretém com minudências em torno da prisão de um primeiro ministro; enquanto o país se distrai com hipotéticas alianças à esquerda do mais provável vencedor das próximas legislativas, Portugal continua o ritmo de empobrecimento e assiste a um agravamento dos níveis de desigualdade. Sendo certo que a desigualdade tem crescido um pouco por todo o mundo ocidental, incluindo boa parte dos países europeus, a verdade é que em Portugal essas desigualdades não cessam de medrar. É também evidente que a desigualdade foi, durante décadas, escamoteada pela acesso ao crédito. Criou-se uma ilusão: era possível, através do crédito ter acesso a determinados bens, ao mesmo tempo em que o nível salarial estagnava ou decrescia. Os países subjugados pela austeridade são também de modo evidente aqueles que mais sofrem o peso das desigualdades. Assim, sobra o Estado Social - Saúde, Educação e Segurança Social - que contribuem para atenuar as desigualdades, correspondendo mesm

Alianças à direita

O PS parece ter posto de parte quaisquer alianças à direita, para desgosto de Francisco Assis. Estrategicamente Assis e companhia acreditam que a viragem à esquerda pode significar a perda de votos daquele monstro mítico apelidado de centro. Assis e companhia não dizem que uma viragem à direita significa evidentemente perda de votos à esquerda. Assis e companhia esquecem ou ignoram o desgaste a que o país tem sido sujeito com as políticas de direita e que esse desgaste traduzir-se-á numa procura de alternativas. Mas sejamos realistas: o PS está muito longe de ser alternativa. Pode piscar o olho à esquerda, mas nada disso é suficiente. A estratégia está lá: manter o actual rumo, com algumas nuances cor-de-rosa. De socialismo democrático pouco ou nada vamos ver. Por conseguinte, a indisposição de Assis e companhia não faz sentido, sobretudo quando existe um desgaste acentuado na sociedade, consequência directa da actual política. De resto, Assis não tem que se preocupar com uma

Alianças à esquerda

Do Congresso do Partido Socialista ficou a ideia de que o PS poderá procurar alianças à esquerda, em oposição a hipotéticas alianças à direita. O Livre afigura-se como sendo o principal parceiro do Partido Socialista. Para Costa, pouco interessam os nomes - Pedro ou Rui -, não descartando inexoravelmente o diálogo com todos os partidos, ficou porém a ideia de que a existir alianças estas serão cozinhadas à esquerda do Partido Socialista, alianças com aqueles que rejeitam as políticas que têm sido seguidas pelo actual Governo. E desta forma o PS procura encostar à parede os partidos à sua esquerda, colando aqueles que rejeitam alianças à ideia de mero protesto, sem vontade de participar numa solução política. Ora, compreende-se a relutância dos partidos à esquerda do PS. Desde logo, porque não há, até ao momento, uma definição por parte da nova liderança do PS em matérias centrais como por exemplo a dívida e uma possível reestruturação da mesma. É impossível pensar-se em alianç

Congresso do PS

Foi este fim-de-semana e apesar do fantasma da prisão de José Sócrates, o congresso correu bem e António Costa não terá saído enfraquecido desta primeira prova de fogo. É evidente que o congresso não ficou marcado pela apresentação de propostas concretas, Costa, no entanto, manifesta vontade de encontrar alianças à esquerda. Resta saber se à esquerda, exceptuando o Livre, existe essa mesma vontade. As questões centrais continuam a ficar de fora do discurso de Costa, sobretudo a questão da dívida. O problema da dívida e da eventual reestruturação não pode ficar de fora do discurso de um partido que não faz a coisa por menos e pede maioria absoluta. O tema da dívida é indubitavelmente difícil, porém fingir uma inexistência a dívida não ajuda, bem pelo contrário. Este é, para já, o maior erro de António Costa.