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A mostrar mensagens de março, 2014

O castigo

François Hollande, Presidente francês, à semelhança de outros socialistas, governa à direita e insiste na premissa errada de que a austeridade cura todos os males. O resultado está à vista: uma derrota desastrosa em eleições municipais. Ganhou a direita e ganhou a abstenção. Como forma de lidar com a derrota, Hollande prepara uma remodelação. As políticas centradas na austeridade são para manter. Hollande foi castigado. Perdeu votos para a abstenção e terá perdido votos para a direita. Marine Le Pen, líder do Frente Nacional, partido de extrema-direita vai fazendo o seu caminho: o melhor resultado em eleições locais. A ver vamos como serão os resultados deste partido nas próximas eleições europeias marcadas para Maio. O esvaziamento ideológico de que padecem alguns partidos, repletos de contradições disfarçadas por um falso pragmatismo, afastam os eleitores. A crise e uma Europa sem rumo afastam os eleitores e não raras vezes empurram-nos para discursos populistas e odi

Cortes e ansiedade

O Governo não sabe comunicar com os Portugueses, nem com briefings nem com coisa nenhuma. A celeuma em volta dos cortes nas pensões é mais um exemplo da incompetência de um governo que não apregoa apenas uma ideologia nefasta, como manifesta uma incompetência arrepiante. Para além de não se tratar de um Executivo que dê particular valor à transparência, ainda envia sinais contrários que criam confusão e ansiedade nos cidadãos. No que diz respeito aos cortes nas pensões, o caso ainda é mais grave tratando-se de um grupo social fragilizado composto por pessoas de idade avançada e não raras vezes sem saúde. Paralelamente às agruras da idade e aos desafios inerentes, os pensionistas e reformados têm ainda de lidar com tamanha incompetência e falta de transparência. É natural que as notícias dos últimos dias - o "será assim", o "será assado" - causa ansiedade naqueles que serão alvo dessas medidas. Repito, tudo se torna mais grave quando se trata de

A união das esquerdas

Possível para uns, irrealizável para outros, a união das esquerdas podia muito bem ser o primeiro passo para uma verdadeira mudança nas políticas que estão a debilitar a Europa. No caso português, essa união tem sido impossível de se concretizar. Com efeito, é mais fácil acentuar as diferenças, acautelando, numa perspectiva bem mais pragmática, os lugares devidos, do que enaltecer os pontos em comum. No entanto, uma alternativa para o país deveria passar pela união das esquerdas. Não será possível: o PS mantém-se comprometido com as soluções europeias e pouco empenhado em contrariar verdadeiramente essas soluções; PCP e Bloco de Esquerda que advogam mudanças mais significativas ficam deste modo sozinhos. De facto, o PS estará, no essencial, mais próximo da maioria que governa o país do que dos partidos à sua esquerda. Voltando ao plano europeu, os cidadãos têm total percepção da desunião das esquerdas e da fragmentação da mensagem política. Em contrapartida, a direit

Sobre o empobrecimento

Sobre o empobrecimento Passos Coelho, primeiro-ministro, tem muito a dizer. Ainda ontem abordou o assunto, referindo que as prioridades do Governo devem recair sobre os Portugueses socialmente mais fragilizados. Esta deve ser a prioridade pós-troika - as políticas sociais. As afirmações de ontem foram proferidas pela mesma pessoa que disse ter como objectivo o empobrecimento; estas afirmações são de quem fez do empobrecimento um instrumento de transformação da sociedade portuguesa. Dados do Instituto Nacional de Estatística revelam uma realidade atroz: perto de dois milhões de Portugueses em risco de pobreza; uma realidade pensada por Passos Coelho e pelo seu séquito, a coberto de uma crise que abriu as portas ao impensável. Com efeito, o que resta do Estado Social é que impede que os números relativos à pobreza não sejam ainda mais acutilantes. Sem o que resta do Estado Social metade dos Portugueses seriam pobres. Todavia, se por um lado se afirma que o empobrecimento é

Esconder o jogo

Numa democracia consolidada os cidadãos não aceitam que os seus representantes eleitos escondam o jogo, sobretudo quando estão mais cortes em cima da mesa. É evidente que mesmo nas democracias mais maduras, os representantes políticos não contam toda a verdade. Sabemos que não é assim que as coisas funcionam. É assim antes dos períodos eleitorais e é sobretudo assim volvidos esses períodos eleitorais. Ninguém é ingénuo a esse ponto. Todavia, quando se insiste em esconder o jogo em matérias tão sensíveis como futuros cortes no rendimento disponível, depois de uma longa sucessão de outros cortes cujas consequências são notórias, estamos a entrar no campo da perfídia. Como projectar o que resta de futuro quando se esconde o que esse futuro reserva? E o que dizer da ansiedade que se gera perante a mera hipótese de futuros cortes? Sabemos também que estas questões são de somenos para um governo desprovido de qualquer sensibilidade social. Tudo é permitido porque, colectiv

A fazer o seu caminho

A primeira volta das eleições municipais em França ficaram marcadas pela derrota estrondosa do partido socialista de Hollande e pelos resultados positivos da Frente Nacional de Marine Le Pen que conquistou uma câmara e ganhou em sete municípios. A extrema-direita, mais ou menos modernizada, mais ou menos contida na manifestação do seu verdadeiro ideário, vai fazendo o seu caminho em vários países europeus, designadamente em França, perante os olhares indiferentes de uma Europa fingidora: finge que está tudo bem quando manifestamente não está. Nem as lições que a História nos deixou parece serem suficientes para que a Europa abra os olhos. Já aqui se escreveu que o falhanço de Hollande criará uma oportunidade de ouro. Marine Le Pen aproveita. Os resultados positivos da extrema-direita em vários países europeus revelam o desnorte de uma Europa que se vira contra ela própria, num comportamento autofágico .

Caixa de pandora

A inexistência de coesão na Ucrânia - facto que se tornou incontornável nos últimos meses - domina a atenção de todos. A região da Crimeia afastou-se da Ucrânia, solicitando a anexação à Rússia, outras regiões da Ucrânia se sucedem. Abriu-se a caixa de Pandora, embora a acção de alguns países europeus, com a Alemanha à cabeça, tenha sido tudo menos inocente. A instabilidade criada numa região já por si historicamente instável é, no mínimo, um acto de tremenda irresponsabilidade. Com efeito, da Rússia não se espera muito, desde logo por estar muito longe de ser uma democracia; dos Estados Unidos também não se espera muito, tendo em consideração o seu vasto currículo em matéria de intervenção externa, amiúde à revelia do Direito Internacional. Já no que diz respeito à União Europeia, esperar-se-ia uma posição mais sensata e não aquela de apoio à oposição ao Presidente ucraniano com os resultados que todos conhecemos. Estados Unidos e Rússia digladiam-se: uns com o objectivo

Novo manifesto

Depois de 70 personalidades assinarem um manifesto que sublinha a impossibilidade de pagamento da dívida e enfatiza a necessidade da mesma ser reestruturada, agora é a vez de mais 74 economistas estrangeiros advogarem, em manifesto, essencialmente o mesmo. Este novo manifesto, muito semelhante ao subscrito por personalidades portuguesas de vários quadrantes políticos, vem reiterar a necessidade de Portugal reestruturar a dívida no sentido de conseguir melhores taxas de juro e prazos mais alargados para que deste modo consiga remotar o caminho do crescimento e da criação de emprego. Aguardamos agora a reação do primeiro-ministro português. Aguardamos para ver se também considera estes economistas irresponsáveis na medida em que este não é o tempo para se abordar o tema da reestruração. A ver vamos se os mercados, tal como o primeiro-ministro afirma, vão castigar-nos porque alguém ousou referir a necessidade de "reestruturação". Talvez fosse conveniente ao

Consenso

Contrariamente à palavra "irrevogável" que perdeu o seu sentido, pelo menos para alguns dos nossos ilustres representantes políticos, a palavra "consenso" ainda mantém o seu sentido. Veja-se o consenso gerado em torno da impossibilidade do pagamento da dívida, a propósito do manifesto assinado por personalidades de diferentes quadrantes políticos. Quanto à reestruturação propriamente dita, o consenso será compreensivelmente mais difícil. No entanto, o consenso desejado pelo Governo não se concretiza. O PS não está disposto a seguir o mesmo caminho escolhido pelo Governo, embora o caminho escolhido pelo PS não seja ainda muito claro. A ausência de consenso acaba por ser utilizada a proveito do Governo que se mostra disponível, mas que não conta com o PS. Cria-se a ideia de "intransigência" do Partido Socialista. No cômputo geral, as diferenças entre os dois maiores partidos não são de grande relevância. Ambos estarão disponíveis a acatar as i

Referendo na Crimeia e reacções

Depois dos acontecimentos na Ucrânia que resultaram na queda do Presidente, a Crimeia decide em referendo a anexação à Rússia. Ninguém pode falar em surpresa, era expectável que as regiões mais próximas da Rússia reagissem aos acontecimentos dos últimos meses. A comunidade internacional, sobretudo os Estados Unidos e a União Europeia condenam o referendo e classificam-no como ilegal. Curiosamente, a questão da legalidade não foi levantada aquando precisamente dos acontecimentos que resultaram na queda do Presidente Ianukovich. Acontecimentos que se tivessem ocorrido noutros países sofreriam as mais severas condenações por parte da comunidade internacional. Esta dualidade de critérios é também característica da própria União Europeia, com a Alemanha à cabeça - UE que apoiou os opositores ao Presidente Ianukovich, nunca levantando a questão da ilegalidade relativamente aos acontecimentos que resultaram na queda do Presidente, agora, com o referendo, cai o Carmo e a Trindad

Longe demais

A pretexto de uma crise criada por quem hoje tira benefícios da mesma, um governo parece apostado em tudo fazer para recuperar o país. Por outro lado, esse mesmo governo vê-se sem alternativas, depois de largos anos de despesismo e de um memorando imposto por instâncias internacionais. Disseram-nos, até à exaustão. Nesse sentido, esse dito governo viu-se forçado a cortar em salários, pensões e no Estado Social. Não havia outra alternativa, foi-nos dito, até à exaustão. De resto, todos vivemos acima das nossas possibilidades e se as coisas não resultarem por aqui há sempre a possibilidade de sair do país em busca de uma nova aventura. Diz-se que o primeiro-ministro, o seu governo e o seu partido padecem de uma incomensurável insensibilidade social. Mas será mesmo? Se assim é, o que dizer do chumbo no Parlamento da Lei da Co-adopção? Até há pouco tempo o governo mais não fazia do que cumprir o desígnio neoliberal: empobrecimento de uma vasta maioria, ao mesmo tempo em que

Reestruturar está fora de questão

As palavras em epígrafe pertencem ao primeiro-ministro. A reestruturação pensada por Passos Coelho incide sobre o não pagamento de parte de salários e pensões. No que diz respeito à dívida incomensurável, está fora de questão qualquer género de reestruturação. O manifesto é assim recebido com desdém pelo primeiro-ministro. De resto, a dívida e a austeridade proporcionam as condições perfeitas para a aplicação de um ideário há muito almejado por uma determinada direita - um ideário que postula a transformação da sociedade portuguesa através do empobrecimento da sua maioria. Reestruturar está fora de questão. Vamos então todos rezar aos santinhos para que o país venha a ter um superávit primário de 3 por cento nas próximas duas décadas. Vamos ter fé. A prioridade prende-se com o pagamento de juros, reestruturar é, por conseguinte, palavra proibida. Para além da reestruturação, verifica-se a necessidade de se perceber que dívida é esta, quais são os seus contornos. Já aqui r

Conclusão óbvia

O famigerado manifesto subscrito por setenta personalidades da esquerda à direita chega a uma conclusão óbvia: a dívida não é pagável. Cavaco Silva, por sua vez, fez as suas contas e aponta para a necessidade do país permanecer sob vigilância durante mais 21 anos. A essa conclusão - hoje são muitos os iluminados - já outros tinham chegado. Reacções? Eram loucos, profetas da desgraça, geralmente conotados com a esquerda "radical". Agora, Ferreira Leite, Bagão Félix, Adriano Moreira, João Cravinho, Freitas do Amaral, António Saraiva, entre muitos outros, não pertencerão seguramente a essa esquerda "radical". Importa sublinhar que ainda antes de qualquer reestruturação seria imperativo perceber quais os contornos da dívida. Essa é outra necessidade óbvia. Será a dívida legítima? Não sabemos e pelo andar da carrugem nunca saberemos. Auditar a dívida não faz parte dos planos dos partidos do bloco central e os cidadãos, em Portugal e noutros países, estão

Reestruturação da dívida

Numa iniciativa inaudita várias personalidades de direita e de esquerda apelam à reestruturação da dívida portuguesa, por eles considerada insustentável. Manuela Ferreira Leite, Adriano Moreira, João Cravinho e Francisco Louça são apenas algumas das personalidades que assinaram o manifesto. A necessidade de reestruturação da dívida já havia sido avançada no passado. Quem ousou sugerir essa necessidade foi rotulado de radical e irreal. Essas eram ideias de uma esquerda mais radical que acreditava na impossibilidade de conciliar crescimento económico e níveis cavalares de austeridade. E mesmo com crescimento económico, esse crescimento teria de atingir níveis inéditos para que a dívida atingisse alguma sustentabilidade. Fala-se reiteradamente de consenso e de facto começa a verificar-se um consenso em torno do inexorável falhanço da política de austeridade que se perpetuará por décadas. Esse é o consenso que existe, um consenso que escapa ao Executivo de Passos Coelho; u

Mais vinte anos no inferno

Cavaco Silva, nos seus roteiros, alerta para a necessidade de Portugal passar mais vinte anos sob vigilância externa, como se essa mesma vigilância constituísse uma espécie de protecção. Nada de novo, portanto. Já se sabe que dívida é escravatura, sobretudo quando essa dívida atinge as dimensõe conhecidas, continuando a recrudescer. A análise do Presidente da República não causam espanto: o sucesso do programa (?), a necessidade de um segunto resgate, perdão, de um programa cautelar, a necessidade de total subjugação do país às instituições externas e, claro está, que essa subjugação leve tanto tempo quanto possível. Consequentemente, não há nada nos capítulos que o Expresso deu a conhecer que cause qualquer espanto - todas as medidas, incluíndo as mais socialmente iniquas, levadas a cabo pelo Executivo de Passos Coelho, contaram com o aval do Presidente. Não sei como Cavaco Silva pretende ficar na História do país, mas aposto que a imagem deixada não será a mais favoráv

Não deixa de ser pertubador

Ontem foi dia de manifestação das forças policiais, manifestação que redundou em horas de tensão. Pelo meio, os sindicatos das forças polciais conseguiram uma breve reunião com a inefável Presidente da Assembleia da República. A manifestação das polícias mais não foi do que uma demonstração de força com o intuito legítimo de reivindicar melhores salários e melhores condições de trabalho. Sobre as pretensões das forças policiais parece-me não haver discussão. São pretensões legítimas e é também com legitimidade que os sindicatos utilizam os instrumentos ao seu dispôr no sentido de ver essas pretensões atendidas. Quanto há forma, já haverá, reconhece-se, margem para uma discussão. De qualquer modo, não deixa de ser inquietante assistir a cenas como as que as televisões passaram ontem. A manifestação em si não provoca inquietação, mas antes as razões que levaram dezenas de milhar de polícias a protestarem com tanta veemência. O sofrimento que perpassa aquelas vidas é, à sem

Espírito democrático

Espírito democrático, há quem o tenha e quem nem tão-pouco sonhe com a sua existência. Ontem, no debate quinzenal na Assembleia da República, o primeiro-ministro recusou responder a questões colocadas pela oposição. Segundo Passos Coelho, tendo em consideração que a sua palavra tem pouco valor, é escusado responder às questões colocadas pelos partidos da oposição. Alguns deputados da oposição acusaram Passos Coelho de faltar à verdade. Com efeito, os cortes em pensões e salários - alegadamente temporários - são agora definitivos. O primeiro-ministro reagiu, alheio ao espírito democrático que, aliás, desconhece por completo, resusando responder às questões. Assim, também ficámos sem saber que austeridade é que ainda aí vem. Ora, para além do espectáculo em pleno parlamento não se ter pautado pela sobriedade, o primeiro-ministro mostrou não saber viver em democracia. O Governo tem de responder à Assembleia da República. O desprezo que o primeiro-ministro mostrou por este ó