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A mostrar mensagens de março, 2016

Como justificar o injustificável

É tarefa árdua encontrar justificações para o que não tem justificação aceitável, mas Morais Sarmento, que se prepara para novos voos, pelo menos a julgar pela quantidade de entrevistas em tão curto espaço de tempo, não desiste de fazer tentativas.  Assim, o ex-ministro de Durão Barroso e de Pedro Santana Lopes vem dar nova entrevista criticando aqueles que se insurgem contra os negócios angolanos. Segundo esta figura de destaque do PSD, não se deve fazer julgamentos morais sobre os negócios com Angola, preferindo estabelecer paralelismos entre dinheiro angolano e chinês. Ou seja justifica-se uma atitude moralmente reprovável por existirem outras tão ou mais reprováveis. Convenientemente Morais Sarmento esquece que muitos dos que criticam os negócios com o regime angolano também o fazem com qualquer regime não democrático. É claro que com esta argumentação néscia pretende-se calar as vozes críticas e passar a ideia de que a pretensa hipocrisia presente nas críticas é justificação

Um homem só

Pedro Passos Coelho acabou. A sua reeleição para a liderança do PSD é uma ilusão efémera, só durará até outros começarem a não afastar a possibilidade de liderarem o partido, o que já acontece, designadamente com Morais Sarmento que vaticina uma curta duração para a actual liderança. Passos Coelho acabou e só ele ainda não o percebeu, ou talvez tenha percebido, mas não possua a coragem para enfrentar a dura realidade. O derradeiro sinal de que o fim chegou terá sido a promulgação do OE16 por parte do Presidente da República que, contrariamente ao seu antecessor, mostra-se disposto a colaborar com a solução política que governa o país. Passos Coelho está isolado, é um homem só: na oposição (que lhe parece tão pouco natural), cada vez mais distante do CDS, sem apoios relevantes no próprio PSD, sem um Presidente que o apoie e com uma solução política de esquerda que está longe de ser uma geringonça desengonçada. E até, pasme-se!, a comunicação social parece querer abrandar o seu ímpe

Escolhemos o silêncio? Ou vamos falar baixinho para não incomodar?

Depois de conhecidas as penas de prisão dos activistas angolanos - penas que vão até aos 8 anos de pena efectiva - a questão que se coloca prende-se com a nossa posição, designadamente a posição do Governo português. Será que vamos escolher novamente o silêncio e, até certo ponto, a conivência com um regime autoritário e desenquadrado com o século XXI? O Governo de António Costa falou, mas falou baixinho. É claro que os negócios inviabilizam uma tomada de posição mais contundente. Afinal de contas, Angola, mais concretamente o regime angolano, participa com particular intensidade nos negócios em Portugal. Isabel dos Santos olhou e ainda olha para Portugal como aquela nova-rica que se apanha num centro comercial. É só escolher: telecomunicações, imobiliário, banca, etc. Este Governo, ainda que apoiado por partidos como o Bloco de Esquerda, continuará a agir como se tivesse o rabo preso - sem margem de manobra, cinge-se a meia-dúzia de frases inócuas, ainda assim uma evolução compar

Combater o terrorismo

Mais uma vez a Europa foi alvo de atentados terroristas perpetrados pelo Daesh. Depois da prisão de Salah Abdeslam, um dos autores dos terríveis atentados de Paris, Bruxelas viveu o terror. Novamente se falará da necessidade de combater o auto-proclamado Estado Islâmico ou Daesh; novamente se olhará com bons olhos para o encerramento de fronteiras e para a emergência de muros; novamente se olhará com desconfiança para os muçulmanos. Dir-se-á que não, mas a realidade marcada pelo medo faz sempre novas vítimas. É evidente que o combate ao Daesh é central, mas também é verdade que esse combate têm forçosamente de passar pela resolução dos problemas nos países onde o auto-proclamado Estado Islâmico prolifera; assim como atacar todas as fontes de financiamento; o comércio de armas; os paraísos fiscais que albergam o financiamento deste e de outros grupos terroristas; reforçar a cooperação entre políticas e serviços de informação na Europa e fora dela, etc. Todavia nada do acima enunc

Como?

O texto que se segue foi escrito no dia 15 de Novembro de 2015. Apenas substituí a cidade Paris por Bruxelas e o dia da semana. Tudo o resto se mantém. Os acontecimentos da passada terça-feira em Bruxelas ultrapassam a força das palavras para os descrever. Atentados terroristas concertados, com o objectivo de espalhar a barbárie, em contextos de rotina, dia-a-dia e quotidiano que oferecem tantas vezes uma falsa sensação de segurança. O Daesh reivindicou os atentados. Como combater o Estado Islâmico será a pergunta que voltará a assombrar as nossas consciências. Como combater aqueles que vivem uma espécie de realidade distópica?, aqueles que vivem na crença do Dia do Juízo Final e vivem as suas vidas em função desse Apocalipse. Como combater quem não tem medo de morrer? Como fazer frente a quem parece estar numa competição sangrenta com a al-Qaeda?, quem tem como finalidade levar a humanidade para o século VII? Como lutar contra quem pretende viver como o profeta viveu e impor esse

Saudades de Obama

Ainda Obama não cessou as funções de Presidente dos EUA e já sentimos saudades, sobretudo quando o que surge no horizonte é um verdadeiro pesadelo. O mesmo Obama que protagoniza mais um momento histórico na qualidade de primeiro Presidente em 90 anos a visitar Cuba e como o Presidente que restabelece as relações entre os dois países. Fica a faltar Guantanamo. Fica a faltar o levantamento do embargo. Voltando aos EUA, curioso país aquele que tanto nos oferece um Obama como um Trump. Em rigor, não me parece plausível que Trump venha de facto a ser o próximo Presidente Americano, mas a mera possibilidade é arrepiante. Barack Obama não foi um Presidente consensual (quem o é ou alguma vez o foi?), ainda conseguiu pelo menos um feito: não piorou a imagem do seu país, à semelhança dos seus antecessores e, em larga medida, não terá ido mais longe graças à acérrima oposição republicana. Obama deixa saudades pela pessoa que é, por nunca ter sucumbido à arrogância de outros presidentes am

Ainda o Brasil

Surpreende a fragilidade das instituições democráticas brasileiras; surpreende a existência de uma guerra aberta entre poder político e poder judicial; surpreende a atitude de Lula e de Dilma que, talvez por não terem qualquer confiança no sistema judicial e procurando sobreviver a todo o custo, tomaram uma decisão suicida do ponto de vista moral; surpreende precisamente a ausência de moral entre as partes envolvidas. A divulgação de escutas entre Lula e o seu advogado constituiu um atropelo em qualquer Estado de Direito. Já para não falar da divulgação das escutas por parte do juiz de 1ª Instância envolvendo a própria Presidente da República. Tudo isto acaba por comprometer a seriedade do próprio processo e serve apenas para atiçar ânimos já por si atiçados. Não se verifica a imparcialidade dos agentes de justiça, o que é grave em qualquer contexto. O desfecho desta história não será feliz também pelo perigo de não se respeitar a separação de poderes - base do Estado de Direito e e

Uma história triste

A situação no Brasil para além de confusa é vertiginosa. Tudo está a acontecer a um ritmo alucinante, desde logo com Lula da Silva ministro apenas por alguns minutos. Nesta história triste a maior vítima é a democracia e é difícil prever o seu desfecho. Nem tão-pouco se percebe se se trata apenas de uma tentativa cobarde de Lula da Silva salvar a pele, na qualidade de ministro, ou se se trata de uma grave intromissão do poder judicial com motivações políticas, ou ainda um misto das duas situações. O que parece evidente é a existência de uma guerra aberta entre poder político e poder judicial. É difícil defender a posição de Lula e de Dilma, assim como é difícil compreender uma justiça com juízes a despejar na comunicação social escutas telefónicas ou a impedir que um ministro o seja. O que é também evidente é que o Brasil atravessa uma grave crise moral, com um sistema político assente em partidos políticos que funcionam somente como redes clientelares, despidos amiúde de qualq

Brasil à distância

À distância e com a devida salvaguarda, arrisco um comentário sobre a situação política no Brasil. Desde logo, a estranheza impossível de não sentir quando se olha para as manifestações dos últimos dias - as mesmas que procuram tirar o Partido dos Trabalhadores (PT) do poder. De resto, há uma característica que salta à vista quando olhamos para as referidas manifestações: não se trata de um conjunto de manifestantes habituais, pertencentes àquilo que é designado por povo. Paralelamente estas são manifestações que contam com um forte apoio mediático. Parece claro que existe uma parte da sociedade brasileira pouco confortável com a mitigação das desigualdades consequência directa da presidência de Lula da Silva e até certo ponto de Dilma Rousseff. As justificações destes manifestantes redundam invariavelmente na corrupção, como se esta fosse exclusiva do PT e como se a direita brasileira nem soubesse o que isso é. Por outro lado, a atitude de Lula e de Dilma que, a confirmar-se, corre

Bloco central

Talvez nunca venha a ser uma realidade com António Costa à frente do PS, mas será seguramente um sonho que muitos ainda acalentam, pese-embora o número crescente de resultados desastrosos dos partidos socialistas e sociais-democratas por essa Europa fora, os mesmos que renegaram os seus mais elementares princípios. E Marcelo? Não tenho dúvidas que o novo Presidente é um forte apologista do bloco central, discussão que terá nova relevância assim que Marcelo tiver acabado de nos passar a mão pela cabeça e assim que a actual liderança do PSD enfraquecer a par da solução de esquerda. O bloco central não morreu, muito longe disso, poderá ser uma solução aparentemente afastada do cenário político, mas permanece bem viva na cabeça de muitos, incluindo na mente de algumas figuras do próprio Partido Socialista. Por enquanto, assistiremos à política-espectáculo de Marcelo, bem acompanhada pelos afectos. Porém, o novo Presidente apenas aguardará que as circunstâncias mudem ou, no pior das

Política-espectáculo

A política transformou-se em espectáculo, mesmo em Portugal, e há quem afirme que dessa forma aproxima-se cidadãos de uma classe política que, de um modo geral, está descredibilizada. A política, segundo essa opinião, é menos enfadonha, menos hermética e mais próxima do cidadão. Seria tudo muito bonito se essa forma de fazer política fosse revestida de algum conteúdo, o que invariavelmente não acontece. Vem isto a propósito de Marcelo Rebelo de Sousa, um produto da televisão. O seu sucesso é consequência do mundo do espectáculo e Marcelo sabe como agradar às massas: mantém a simpatia, acentuando-a se possível; procura aproximar-se de todos, sem excepções; aspira ser a antítese daquilo que foi Cavaco Silva, o Presidente menos popular em democracia. Tudo acompanhado pela política-espectáculo, a mesma que vive da forma, abdicando da substância. A receita seguida por Marcelo não é nova, mas no caso português necessita de mais um ingrediente: Marcelo, envolto no espectáculo, precisa t

A banca

A banca tornou-se um problema, protegida pela sua importância para as economias e contando com a ausência de supervisão e regulação, o negócio tornou-se irresponsável e não raras vezes criminoso. É por demais evidente que a transformação da banca comercial foi incomensuravelmente lesiva para as economias. Portugal não fugiu à regra. Depois de anos de endividamento da banca e da existência de administrações pouco recomendáveis, a par da aposta em produtos de "sofisticação financeira", os riscos tornaram-se incomportáveis e o resultado está à vista: o Estado é chamado para injectar dinheiro que não tem, vendo-se forçado a contrair mais dívida, agravando os problemas já irresolúveis do país. O crime anda tantas vezes de mãos dadas com um sector que tem destruído mais do que construído. A justiça peca por tardia e revela-se incapaz de colocar um ponto final em actividades criminosas vestidas com os melhores fatos que o mercado tem para oferecer. Entretanto e como se os pro

Acordo UE Turquia

Em troca de uma medida paliativa para resolver a questão dos refugiados - uma medida que tornará a vida desses refugiados ainda mais difícil, tendo em consideração a forma como o regime turco trata os migrantes, sobretudo os não sírios - a UE prepara-se para vender a alma ao Diabo, leia-se ao regime turco. Pouco interessam os atropelos aos direitos humanos; pouco interessa o desrespeito pela liberdade de imprensa e outras liberdades; pouco interessa as atrocidades cometidas contra o povo curdo, o mesmo que dá a vida numa luta férrea contra o Daesh e nenhuma relevância terá o facto do regime turco apoiar esse mesmo Daesh, quer com a compra de petróleo do auto-intitulado Estado Islâmico, quer através da forma insidiosa como tem abordado a questão curda, beneficiando o Daesh. O que interessa é a Europa livrar-se do "problema" dos migrantes, mesmo dos refugiados. Paga-se (quantos mil milhões de euros?) para resolver a questão; dinheiro e novas promessas de uma futura adesão da

Um novo Presidente

Ainda é cedo para apontar diferenças de fundo entre o novo Presidente da República e o anterior, ainda assim algumas saltam à vista, designadamente as diferenças de forma. Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente desde o dia 9 deste mês, quer mostrar um dinamismo que Cavaco nunca teve. E Marcelo começou bem, pelo menos no que diz respeito à sensatez com que iniciou as suas funções. Para já tudo parece relativamente calmo: a solução política que resultou de uma maioria de esquerda no parlamento só conta, internamente, com a oposição da comunicação social, tendo em conta que a oposição partidária - PSD e CDS - recorre a argumentos e expedientes que não têm surtido o efeito desejado, até porque o ridículo nem sempre colhe frutos; e com a oposição externa, expectável, daquilo que ainda usa a designações União Europeia e Zona Euro. Ainda assim e para compor o cenário relativamente calmo, o PSD ainda conta com Pedro Passos Coelho na liderança, o mesmo Passos Coelho que comparou Marcelo Rebel

Chegou o dia

Mais de três décadas a marcar a democracia portuguesa, Cavaco Silva não deixará saudades. Finalmente o dia chegou - o dia da despedida. Será escusado enumerar os aspectos negativos da longa carreira política do homem que nunca apreciou políticos profissionais quando ele próprio andou tanto tempo na política. Para memória futura ficará um primeiro-ministro incapaz de aproveitar os tempos das vacas gordas; ficará uma presidência mesquinha, tantas vezes pueril e distante dos cidadãos. Paralelamente, Cavaco nem tão-pouco primou pelas amizades recomendáveis como o caso BPN nos recorda. No cômputo geral, é difícil compreender como é que Cavaco Silva se manteve tanto tempo em cargos políticos, marcando negativa e indelevelmente a democracia portuguesa, três décadas com um interregno que, esse sim, deixou saudades. Todavia, hoje é dia de celebração. Fecha-se assim um dos piores capítulos da história política recente - um capítulo recentemente marcado por histórias e condutas que nada di

Escolher entre precariedade e desemprego

O Presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, afirmou, em entrevista ao Diário Económico, que "mais vale ter trabalho precário do que desemprego", tendo em conta "a situação em que está a economia". A afirmação que conta sempre com uma tentativa de nivelar tudo por baixo e apresentar como alternativa o pior cenário possível, faz de facto escola em Portugal. Segundo António Saraiva só há duas soluções: ou precariedade ou o desemprego. De resto, já se disse o mesmo aos funcionários públicos, quando se reduziu salários: mais vale essa redução do que o desemprego. Tudo invariavelmente acompanhado pela já habitual complacência. E por falar em precariedade, o Presidente da CIP crítica Maria Luís Albuquerque, mas encontra uma razão para a conduta da ex-ministra das Finanças e ainda deputada: os políticos ganham "muito mal", o que justifica que vendam a alma ao Diabo por tuta-e-meia. Paralelamente, António Saraiva considera que

Ainda Maria Luís

Maria Luís está debaixo de fogo. Depois da nova experiência profissional numa empresa ao nível da agiotagem – parte integrante do sector financeiro que domina o país porque tantos como Maria Luís, sobretudo depois de desempenharem cargos de natureza política, trabalham afincadamente para esse sector – conhece-se agora uma condenação judicial, resultado de uma decisão da ex-ministra, facto que é verdadeiramente inquietante para as contas públicas. Nesta história dos contratos swap não haverá propriamente inocentes, desde Sócrates – é no seu governo que surgem os contratos em questão -; passando pelos gestores das empresas públicas que os assinaram, fazendo futurologia com taxas de juros, o que corre amiúde mal; passando também pelo Banco Santander, mais um agiota que aguça os dentes e, claro está culminando com ministra das Finanças da altura, Maria Luís Albuquerque, que mandou cancelar os pagamentos referentes a esses contratos. Correu-lhe mal a ela e sobretudo a todos nós que terem

Maria Luís, simplesmente Maria Luís

Maria Luís é uma mulher que em três anos se tornou popular, não pelas suas qualidades ou especialidades, mas porque esteve no sítio certo à hora certa, conhecendo, naturalmente, as pessoas certas. Maria Luís transformou-se numa facilitadora, mas contrariamente a outros facilitadores não sentiu a necessidade de respeitar o famigerado período de nojo. Maria Luís também vive no tempo certo, o tempo em que os princípios são facilmente trocados por uma espécie de pragmatismo que se traduz numa inexorável vacuidade. Maria Luís é produto do homem-massa tão bem descrito por Ortega y Gasset. O homem-massa, desprovido de princípios, sem recurso a qualquer esforço intelectual, vivendo num mundo em que só os seus têm importância, aprecia homens e mulheres como Maria Luís que, tal como ele, nada têm para oferecer para além de uma vacuidade apresentável; homem-massa que não aprecia a discussão de ideias e que, amiúde, reconhece que as medidas políticas têm que ser impostas com violência, até porq

Donald Trump

Por razões que se prendem com o pudor que me resta, tenho-me abstido de escrever sobre os candidatos republicanos. Sabemos que os EUA são capazes do melhor e do pior, mas o que o Partido Republicano apresenta é simplesmente mau demais para ser verdade. E se já pensávamos que Sarah Palin era uma caricatura de parte dos americanos, o que dizer de Donald Trump? A verdade é que Trump deu já um salto de gigante para nomeação do partido já naquela que é designada a super terça-feira, dia em que treze Estados dos Estados Unidos votaram nas primárias, escolhendo o inefável milionário. Ora, qual é o problema deste candidato? Tudo. As medidas avançadas são, na sua maioria, arrepiantes e reveladoras de uma intenção de se recuar décadas ou séculos - Trump é a antítese do avanço civilizacional. O muro a separar EUA do México será a medida mais emblemática, mas Trump é também conhecido por defender que os familiares dos terroristas deviam ser também eles eliminados. Paralelamente, Trump é menti

A “bombar”

Passos Coelho ainda não recuperou do facto de já não ser primeiro-ministro. Não muito longe da patologia, Passos age de duas formas: ou acredita ainda ser primeiro-ministro, sobretudo nos momentos mais agudos da doença, recorrendo à simbologia própria, designadamente ao pin na lapela; ou em momentos também reveladores de pouca lucidez diz o que faria se ainda fosse primeiro-ministro, e para tal recorre à linguagem que considera mais apropriada. Numa escola secundária, afirma que "no governo estaria a bombar para afastar a crise". E assim acalenta a esperança de voltar a ser primeiro-ministro criando a ilusão de que não terá sido ele, Passos Coelho, a desempenhar o cargo nos últimos quatro anos. Perante uma plateia claramente pouco entusiasmada com a presença ao anterior primeiro-ministro, e os poucos que manifestaram qualquer entusiasmo só o fizeram por se tratar de uma figura que aparece na televisão, Passos, com a pouca naturalidade que lhe está associada, afirma que est

Será possível fugir ao eurocepticismo?

A ideia de Europa, unida, justa e que proporcionou largos períodos de paz, desvaneceu-se. Hoje será difícil acreditar num projecto europeu que tinha como finalidade a justiça, a paz e a união entre povos, mas que se transformou num antro de egoísmos nacionais, sempre ladeados pela avidez, pelo dinheiro e pela máfia da alta finança. A Europa hoje pertence a burocratas tementes aos mercados e dispostos a tudo para agradar uma finança que continua desregulada, gananciosa e invariavelmente envolta em bolhas que não tardarão em rebentar. A pergunta impõe-se: hoje será possível ser outra coisa que não eurocéptico? Dificilmente. Na verdade, serão poucos os que ainda acreditam no projecto europeu. O eurocepticismo instala-se e a factura pagar-se-á mais dia menos dia. O eurocepticismo acaba, amiúde, por degenerar em escolhas políticas demagógicas e não raras vezes perigosas. A culpada é a Europa dos burocratas ao serviço da alta finança; a culpada é a Europa do desemprego, da precariedade,