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A mostrar mensagens de janeiro, 2019

Venezuela: sim, mas...

Juan Guaidó, que assumiu há escassas semanas a presidência da Assembleia Nacional da Venezuela, declarou-se Presidente interino, exactamente um dia após o constrangedor apelo do vice-Presidente americano Mike Pence para que os venezuelanos se insurgissem contra o regime de Maduro. As manifestações pró e contra o ainda Presidente Maduro enchem as ruas. Alguns países já reconheceram o auto-proclamado Presidente Juan Guaidó, entre eles EUA e Brasil. De resto, Maduro mais não é do que um déspota protegido pelas forças armadas. A sua queda será sempre tarde demais para muitos venezuelanos. Sim, o ministro dos Negócios Estrangeiros português tem razão quando afirma que o tempo de Maduro já passou, mas a instigação, sobretudo americana, de olhos postos no petróleo venezuelano, lembra-nos que a política externa dos EUA não mudou assim tanto e que, a bem ou a mal, a América do Sul continua a ser o quintal americano, com a diferença de que hoje esse facto é assumidamente reconhecido e

O que o país não precisa

O país não precisa de querelas e subsequente instabilidade com o racismo como pano de fundo. O país dispensa ter uma polícia acusada de racismo, delinquentes que, a pretexto de nada, cometem actos de vandalismo, a coberto de um suposto protesto e dispensa ter um assessor parlamentar referir-se à polícia como bosta. E este país, como qualquer país não pode viver bem com o racismo.  É evidente que o racismo não é um mito - ele não só existe, como amiúde de forma escamoteada; é evidente que as pessoas que vivem naqueles prédios inacabados no Seixal conhecido por Jamaica dificilmente encontrarão a dignidade que deveria ser intrínseca a cada um de nós; assim como é evidente que a polícia não pode toda ela ser rotulada de racista e muito menos apelidada de bosta - importa corrigir o que há a corrigir, mas importa igualmente dignificar a polícia como instrumento determinante do Estado de Direito e da Democracia. O país já tem problemas de sobra: atraso estrutural, baixos salários, prec

Uma liderança reforçada, uma oposição amorfa

Depois da trapalhada encabeçada por Luís Montenegro, com os acólitos de Passos Coelho aflitos com as listas, Rui Rio voltou a ser só sorrisos, satisfeito da vida com a derrota de Montenegro e com o subsequente reforço da sua liderança. Todavia, nada disso quer dizer que o país voltou a ver qualquer espécie de oposição no PSD e é esse o maior drama de Rio - a sua inépcia no que diz respeito a uma estratégia de oposição. A oposição continua a ser amorfa. Por conseguinte, assistiremos a mais do mesmo: o PS a fazer o seu caminho coadjuvado (com altos e baixos é certo) pelos partidos à sua esquerda, o CDS entretido a fazer arroz com atum e o PSD dividido entre aqueles que apoiam Rio, apesar da sua indisfarçável inépcia e os que, aflitos com listas e de olhos postos em Passos Coelho ou pessoa similar, saem agora fragilizados com o resultado de Montenegro, pelo menos até às eleições, sobretudo até eleições legislativas.

Tanto barulho por nada

É assim que se pode descrever a forma desajeitada e extemporânea como Luís Montenegro e seus apaniguados - os mesmos de Passos Coelho - tentaram chegar à liderança do PSD. O resultado é precisamente aquele que por aqui já havia sido explanado: o reforço da liderança de Rio Rio. Mais, Montenegro e a sua trapalhada não podiam ter calhado melhor a um líder que não só sai reforçado como isolado na liderança, desprovido de concorrência - tão cedo ninguém se atreverá a desafiá-lo. Saem derrotados Montenegro e aqueles que sonham com o regresso de Passos Coelho ou com alguém similar. Para já. É evidente que até às legislativas Rio tem o lugar assegurado, assim como é evidente que com essas mesmas legislativas o Presidente do partido pode aproveitar para fazer uma limpeza nas listas - coisa que Montenegro queria evitar. No entanto, dificilmente Rui Rio conseguirá extirpar o "Passismo", ou aquele misto de neoliberalismo de pacotilha e um cinzentismo assustador - do Par

Brexit: Como se tudo não fosse suficientemente negativo, há ainda o contexto

Depois de mais um retrocesso no processo de saída do Reino Unido da União Europeia, colocam-se agora mais cenários, incluindo a saída da primeira-ministra Theresa May, e nenhum resolverá o que quer que seja. Para já sobreviveu a uma moção de censura. Recorde-se que na Câmaras dos Comuns May apenas contou com o voto favorável de 202 votos, contra 432. Os cenários em cima da mesa incluem a saída da primeira-ministra, como já se disse; uma solução copiada da Noruega, com acesso ao mercado único, mas sem pertença à união aduaneira; renegociar um novo acordo, cenário altamente improvável desde logo porque a UE não está disponível; insistir no mesmo acordo; sair sem acordo ou fazer novo referendo. O grau de inexequibilidade destes cenários é incomensurável. E como se tudo não fosse suficientemente negativo, há ainda o contexto internacional em que o maior aliado do Reino Unido - os EUA - contam na sua liderança com quem não merece qualquer confiança. O maior aliado do Reino Unido é h

E depois de Theresa May?

Existe a forte possibilidade de Theresa May, primeira-ministra inglesa, não sobreviver ao duro processo de saída do Reino Unido da UE, conhecido como Brexit. Depois de intensas negociações e após a discussão entre parlamentares, as negociações levadas a cabo por May têm naturalmente de passar pelo crivo dos deputados, coisa que, como se esperava, não aconteceu. As dificuldades avolumam-se ao ponto da primeira-ministra radicalizar o discurso ameaçando com a possibilidade de nem sequer haver Brexit, o que constituiria uma tamanha facada nas costas do eleitorado. Do lado europeu, parece haver alguma vontade em adiar o Brexit até Julho, mas não existe qualquer abertura de porta a uma potencial renegociação. Existe sim a sugestão de algumas "clarificações", designadamente no que diz respeito à sensível questão da fronteira entre Irlanda do Norte e República da Irlanda. Recorde-se que a data do Brexit aproxima-se vertiginosamente: 29 de Março de 2019. E com isto tudo, Ma

Oportunismo falhado

Luís Montenegro, ávido por chegar à liderança do PSD, considerou que a altura certa era agora, a escassos meses de eleições europeias e legislativas. Enganou-se. É evidente que o que está em causa são listas que podem ou não favorecer determinados grupos, assim como é evidente que os apaniguados de Passos Coelho não estão na calha para ficarem no topo das listas - o que por si só justifica movimentações contra o actual Presidente Rui Rio. No entanto, e apesar desse imperativo das listas, a verdade é que o tiro parece ter saído pela culatra. Os apoios de Montenegro não assim tão pesados quanto isso e uma parte relevante do partido crítica o sentido de oportunidade do ex-líder da bancada parlamentar. O que aparentemente resulta deste oportunismo falhado está patente até no rosto de Rio - um reforço da sua posição enquanto líder do partido. De resto, se Montenegro falhar, e tudo indica que irá falhar, todos os opositores de Rio não envidarão quaisquer esforços para atacar a lider

Sem oposição

António Costa não tem razões de queixa, na precisa medida em que consegue governar amiúde longe da esquerda e ainda assim conservar os acordos com os partidos à sua esquerda e no outro lado do espectro político simplesmente não existe oposição, sobretudo no que toca ao PSD. O CDS é uma perfeita nulidade e o PSD não sossega enquanto não se livrar da actual liderança. De resto, Luís Montenegro ataca a liderança e nas distritais tudo se faz para convocar um conselho nacional extraordinário. Já se sabia que Rio estava a prazo, mas o que não se sabia é que o prazo é manifestamente curto, ao ponto do actual Presidente nem chegar às próximas legislativas. Rio representa um partido que já não existe, o que por lá prolifera são acólitos de Passos Coelho, munidos da sua cartilha neoliberal de pacotilha. Aquela gente não descansa enquanto não assistir ao regresso da tal cartilha que tão bem casa com a mediocridade reinante. Entretanto, perde a democracia que conta sempre com partidos q

Um Presidente para todas as ocasiões

Não haverá registo de um Presidente da República telefonar para um programa de televisão - depois de interromper uma reunião - com a finalidade, única e exclusiva, de dar os parabéns à apresentadora. A partir de 7 de Janeiro de 2019 passa a existir esse registo, com Marcelo Rebelo de Sousa a ser o autor do telefonema. Qual é o propósito disto? Há quem relacione com a saída da apresentadora do canal, envolto em polémica depois da presença de Mário Machado e há quem chame à colação a amizade entre os protagonistas da peripécia. Isto seria apenas um fait-divers não se tratasse do Presidente da República. Não se pretende com isto inferir que o Presidente deva ser uma figura cinzenta e apagada como foi o seu antecessor que só rejubilava perante uma oportunidade de mostrar a sua perversidade. No entanto, as acções do Presidente têm invariavelmente uma leitura política e são fortemente escrutinadas. Um Presidente pode mostrar-se pronto para todas as ocasiões, mas não pode estar em todas as

Se o crime cabe na liberdade de expressão...

A propósito do convite da TVI de um criminoso, racista e fascista, não forçosamente por esta ordem, algumas vozes gritam "liberdade de expressão" e "politicamente correcto". Se o crime cabe no conceito de liberdade expressão, então o que é que não cabe? Racismo, homofobia e fascismo não são admitidos pela lei, importa lembrar o óbvio. O canal de televisão, na pessoa do seu director de informação e do apresentador do programa, defende o convite enquadrando-o no aparentemente espaço infinito da liberdade de expressão. A defesa não só é desesperada como perigosa. O reconhecimento do erro e um pedido de desculpas, com destaque para aqueles que foram vítimas do criminoso em questão, colocaria um ponto final sobre o assunto. Mas não é isso que a TVI quer, certo? Afinal de contas, até má publicidade não deixa de ser publicidade e, pelo menos para alguns, esta nem sequer é má publicidade, desde logo "porque nem só a extrema-esquerda tem direito a tempo de antena&quo

Quem precisa de um Bolsonaro?

A mera interrogação, hoje, provoca espanto, para não dizer mais, mas talvez no futuro venha a fazer sentido. Jair Bolsonaro deixará um rasto de destruição enquanto servirá como exemplo da pior escolha que se pode fazer em democracia. É certo, contudo, que os Bolsonaros deste mundo resultarão na destruição das democracias e até das sociedades que, equivocadas no que diz respeito à solução para os seus problemas, escolhem contra si próprias. E quão irónico será se o Brasil se juntar à Venezuela no grupo dos Estados falhados do continente Sul Americano? Depois da Venezuela ter sido precisamente argumento pró-Bolsonaro, transformada no grande bicho papão. Uma triste ironia, mas ainda assim uma ironia. Naturalmente. De resto, desengane-se quem julga que Bolsonaro e a mediocridade que o rodeia erradicarão a corrupção (à velha – com actuais ministros, como Onyx Lorenzoni, Ministro-Chefe da Casa Civil acusado de receber subornos para campanhas eleitorais – juntar-se-á a nova) ou as desi

Que confusão!

Que confusão que vai na cabeça de Manuel Luís Goucha. Desde já, jamais me passaria pela cabeça a possibilidade de escrever umas linhas evocando Manuel Luís Goucha, sem ofensa para a pessoa em questão. Por outro lado, jamais me passou pela cabeça que um canal de televisão convidasse Mário Machado, entre outras coisas, condenado por um homicídio, motivado pelo racismo, entre uma multiplicidade de outros crimes ignóbeis. Mas foi isso que aconteceu num programa da manhã da TVI conduzido por Manuel Luís Goucha. E como se isso não fosse suficientemente inquietante, eis que o apresentador de programas matinais da TVI procura justificar o injustificável, espalhando-se ao comprido numa incomensurável confusão. Talvez fosse pertinente apresentá-lo ao já por aqui enunciado paradoxo da tolerância de Karl Popper que postula que a tolerância ilimitada - tão do agrado de democratas como Goucha - provoca o enfraquecimento e desaparecimento da própria tolerância. Popper afirma que não pod

Irmão? Só se for seu

Bolsonaro, irmão? Nem no meu pior pesadelo. Mas foi deste modo que o recém-empossado Presidente brasileiro foi classificado pelo Chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, que ainda acrescentou que "entre irmãos o que há a dizer diz-se rápido como se diz em família.", concluindo dizendo que "a reunião foi muito boa", Reunir-se com quem cospe nos Direitos Humanos já é pouco abonatório para Marcelo e, por inerência, para Portugal, mas enfim, compreende-se levando em consideração os laços que unem os países, agora apelidar um ditador assumido de irmão é ir longe de mais, caindo num exercício de bajulação barata sem hipótese de resultar, o dito Bolsonaro quer-se deitar com o Donald (Trump) e com o Benjamim (Netanyahu), não há espaço na cama para Marcelo. Por outro lado, com que cara é que o Presidente Marcelo pede seriedade e credibilidade aos políticos portugueses e bajula um dos maiores populistas à face da terra, ainda para mais um dos tais que não e

A tomada de posse de um ditador

A frase em epígrafe provoca uma compreensível dificuldade de assimilação, desde logo porque não é todos os dias que um ditador assume os destinos de um país como o Brasil. Acresce que associamos, geralmente, uma tomada de posse a alguém que se prepara para proteger e consolidar a democracia, o que não acontecerá e não sou eu que o digo, é o tal de Bolsonaro, agora Presidente do Brasil, que nunca fez questão de esconder.  A maioria escolheu este caminho e muitos afirmarão que cabe ao resto a aceitação. Ora, não será bem assim. Desde logo, a democracia, a tal que é bicho estranho para fascistas em potência, abraça o pluralismo e não o caminho único e a aceitação de qualquer porcaria. Por outro lado, importa ter presente o paradoxo da tolerância de Karl Popper postula que a tolerância ilimitada cria um paradoxo porque degenera no fim da própria tolerância. Popper defendia que se a tolerância for ilimitada, ao ponto de abranger os intolerantes,a tolerância será destruída. Nas palavras d