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A mostrar mensagens de junho, 2016

Ainda o Brexit

Será assunto para muito tempo, desde logo por se tratar da saída de um Estado-membro da UE. Muito se discutiu a razão que levou a maioria dos britânicos a escolher a saída. Seguramente existirá um conjunto de razões que continuará a ser discutida nos próximos tempos.  Ainda assim existe uma que me parece ser merecedora de uma aprofundada discussão: o ultranacionalismo que se tem aproveitado das questões das migrações e dos refugiados. Um ultranacionalismo que é indissociável de movimentos fascistas mais ou menos encapotados Com efeito, Camus tinha razão quando dizia que o bacilo do fascismo não havia morrido, como muitos acreditaram. E, tal como no passado, os liberais do costume - hoje vulgo neoliberais - não souberam fornecer o antídoto. De resto, desde que os negócios não sejam prejudicados, vai valendo quase tudo, como o ministro das Finanças alemão falar na necessidade de um segundo resgate ou nem por isso. Já nem é possível encontrar adjectivos para descrever estas criaturas

Sancionar ou não sancionar, eis a questão?

Em bom rigor, a questão nem sequer se devia colocar, sobretudo depois da vitória do Brexit para que muito contribuiu a arrogância das instituições europeias que, espante-se!, continua a fazer o seu caminho, alegremente. Segundo o jornal francês, Le Monde, a Comissão Europeia recomenda a aplicação de sanções a Portugal e Espanha. Pelos vistos, França ficará de fora, pelas razões evocadas pelo Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker: "A França é a França". Nós somos o resto. Obviamente. O Bloco de Esquerda avançou com a questão do referendo europeu em Portugal, caso as sanções avancem. Reconheço o eventual carácter extemporâneo da proposta - logo após a vitória do Brexit - mas a proposta visa combater esta postura de arrogância, medo e chantagem que tem sido o apanágio da UE e das instituições da Zona Euro. Sancionar ou não sancionar? Depois do Brexit e da subsequente instabilidade que existe na UE, o bom senso recomendaria a não aplicação de sanções, sobret

A confusão do costume

O resultado das eleições em Espanha não permitem que o país saia da confusão do costume, embora das eleições apresentem algumas diferenças que podem, no essencial, ser decisivas: o aumento de deputados do Partido Popular, vencedor das eleições; a manutenção do PSOE como segunda força política, embora perdendo deputados, quando as sondagens davam o partido como terceira força política; e a manutenção, mais coisa, menos coisa, dos partidos Podemos (coligados) e Ciudadanos.  O resultado das eleições, que se traduz num reforço do bipartidarismo, também é indissociável do comportamento dos partidos depois das últimas eleições, designadamente dos partidos de esquerda, com PSOE e Podemos em guerra aberta, ao invés de procurarem soluções. O resultado destas eleições pode ser um PP a governar, apesar dos inúmeros escândalos de corrupção, talvez com o beneplácito do PSOE, o que a verificar-se corresponderá a um enfraquecimento da já anódina liderança de Pedro Sánchez. A ver vamos. A inexist

Eu europeísta me confesso

Estou convicta que ser europeísta é, antes de mais, ser democrata. Eu europeísta me confesso. Estou há muito tempo zangada com a União Europeia, precisamente por ter traído o projecto europeu, mas acredito, ainda acredito, que esse projecto é o garante de paz e coesão social. Aliás, não consigo imaginar a Europa sem esse projecto. Eu europeísta me confesso. Agora é tempo e insistir ainda mais no aprofundamento da democracia na Europa. Não é tempo para desistir. Caso contrário, serão as forças que se escondem atrás das democracias, mas sem perfilharem as suas orientações, que vão continuar a ganhar terreno, cavalgando na ideia de que a UE é um alvo a abater. É também desta forma que, apontado mais um inimigo, esses partidos escondem os vazio das suas propostas, invariavelmente apoiadas no ódio. Eu europeísta me confesso. O problema não está exclusivamente na UE, muito menos estará no projecto europeu, mas sim naqueles que o traem e no neoliberalismo transversal. Há largo

Brexit. E agora?

Os britânicos escolheram a saída da UE, o que, bem vistas as coisas, não surpreende: uma longa tradição eurocéptica, factores que pesam sempre nestas equações como o caso da imigração e a germanização da Europa justificam a vitória do Brexit. Por um lado, as migrações, a crise dos refugiados, a incapacidade da UE em lidar com estas questões, terão seguramente pesado na decisão dos britânicos que, pese embora, tenham beneficiado de um regime de excepção, manifestamente favorável, consideram que a permanência não se justifica. Tudo misturado com o já habitual nacionalismo. Neste particular, acredito que os preconceitos e a demagogia terão tido o seu peso. Por outro lado, também me parece que os britânicos não querem fazer parte de uma Europa dominada pela Alemanha. Se o eurocepticismo foi sempre relevante no Reino Unido, mais será numa Europa germanizada. E atrás dos britânicos virão outros com a mesma recusa. Com efeito, compreende-se uma a relutância em viver numa Europa

As razões da saída

Importa deixar claro que independentemente da decisão do povo britânico, deve imperar o respeito pelo caminho escolhido. Dito isto, façamos o seguinte exercício: pensar sobre as razões que justificam a saída, ou que, pelo menos, fundamentam a posição daqueles que querem ver a UE pelas costas. As questões que se prendem com dinheiro britânico que entra no orçamento europeu não são suficientemente fortes, embora manifestamente mistificadas. A burocracia das instituições europeias não devem chocar os britânicos, tanto que justifique a saída. A preponderância da Alemanha nas decisões europeias já, por outro lado, poderá contribuir para um mal-estar que se estende a outros Estados-membros. Mas será a i migração a pesar fortemente na decisão do "brexit", mesmo sabendo que a saída da UE está longe de significar um eterno fechar de fronteiras. A livre circulação de pessoas, os i migrantes e os refugiados representam argumentos decisivos na hora de escolher a saída ou a permanência

A saída não é a solução

Uma eventual saída do Reino Unido da UE não é a solução quer para os problemas do próprio Reino Unido, quer para as dificuldades que a UE atravessa, sobretudo quando os cenários políticos que se avizinham são assustadores: Boris Johnson do Partido Conservador inglês que, na eventualidade de chegar ao poder, arrastará o Reino Unido para mais receitas neoliberais, ou o nacionalismo crescente em vários Estados-membros da UE. Neste contexto, a existência de um Reino Unido fora da União - ainda mais - só contribuirá para o enfraquecimento da UE, ao mesmo tempo em que os próprios britânicos assistirão ao agudizar das suas próprias dificuldades.  A saída do Reino Unido pode significar a abertura de uma caixa de Pandora que resultará na própria desintegração europeia. É evidente que esta União Europeia não serve os interesses dos seus cidadãos, demasiado rendida que está ao neoliberalismo. É evidente que a UE encontra-se enfraquecida como nunca esteve. Todavia, abdicar inexoravelmente do

Com ou sem “brexit”

Independentemente do resultado do referendo da próxima quinta-feira, o Reino Unido mostra-se dividido. Evidentemente uma vitória da permanência do Reino Unido permitirá, sobretudo à própria UE, respirar de alívio. E importa não esquecer que o Reino Unido é um Estado-membro da UE que mantém um regime de excepção perante os restantes Estados-membros, com as famigeradas options-out . A trágica morte da deputada trabalhista, Jo Cox, seguramente contribuirá para uma recuperação da permanência na UE. No entanto, e como já é patente nas declarações dos responsáveis pelas instituições europeias, não se prevê que a Europa retire as ilações necessárias do mal-estar existente no Reino Unido, mas também noutros Estados-membros - um mal-estar sobejamente aproveitado por partidos nacionalistas. Ainda durante a semana passada, o Presidente do Eurogrupo, Dijsselbloem, mostrava-se entusiasmado perante a possibilidade da aplicação de sanções a Portugal. Há escassas semanas o Presidente da Comissão

Brexit

A 23 de Junho o Brexit pode vencer. Dito por outras palavras, a 23 de Junho os britânicos podem escolher a saída da UE. Se tal acontecer os resultados são imprevisíveis e o futuro da União Europeia, já por si periclitante, pode passar pelo seu fim, desde logo porque o efeito de contágio será considerável: Dinamarca, Suécia, Hungria, República Checa, Polónia e até França, se Le Pen chegar ao poder, poderão ser os países que se seguem. Claro que subjacente ao Brexit e a outros eventuais “exits” estão os nacionalismos associados a uma UE enfraquecida, concentrada em salvaguardar os interesses da alta Finança, entregue aos ditames alemães. Uma Europa que, lamentavelmente, traiu o projecto europeu. É curioso constatar como os nacionalismos que degeneraram nas guerras devastadoras para a Europa estejam de regresso, com nova roupagem, mas mantendo a sua natureza invariavelmente malévola. É interessante verificar que a tibieza da França, o fortalecimento da Alemanha e a desvalorização até

Orlando

Optei por não escrever sobre Orlando em cima do acontecimento pela indefinição quanto às motivações do responsável pelo ataque. Terrorismo com ligações ao Estado Islâmico, ataque à comunidade gay, ou outras razões podem estar subjacentes ao terrível ataque a uma discoteca gay em Orlando, EUA. Embora não existam certezas, para já, parece evidente que o ataque tinha como alvo a comunidade gay. Ora se existiam outras motivações, outras razões ou outros ódios, é possível, mas o certo é que o alvo foi uma comunidade específica que, mesmo fora dos contextos mais radicais, é amiúde alvo de ódios, ainda que aparentemente insignificantes. De resto, não podemos escamotear este facto. O alvo era a comunidade homossexual. Existiu, por parte de alguma comunicação social, uma tentativa de colar o ataque exclusivamente ao fundamentalismo islâmico, ignorando o local (discoteca gay) onde esse ataque ocorreu. Importa salientar o alvo, precisamente porque o preconceito contra homossexuais continua v

Coerência

Confesso que as palavras de António Costa, após o convite do Presidente francês para a contratação em França de professores portugueses, não me deixou particularmente satisfeita. Por uma questão de coerência, expresso essa insatisfação, embora me parece igualmente relevante chamar a atenção para o contexto em que as mesmas palavras foram proferidas. Será escusado recordar as palavras de Passos Coelho, dirigidas aos desempregados, professores e não só. Com particular ênfase, Passos Coelho fez convites directos à emigração, sem qualquer contexto que permitisse aligeirar o peso das suas palavras. António Costa acabou por cair na esparrela de proferir afirmações semelhantes, embora sem a mesma avidez, e num contexto que faz toda a diferença: depois do Presidente francês François Hollande endereçar um convite nesse sentido que acabou por ser corroborado por António Costa. Todavia, e por uma questão de coerência, importa referir que teria sido preferível que António Costa não tivesse

Parar é morrer

Costuma-se dizer que parar é morrer: Paulo Portas que o diga, agora que vai deixar de ser deputado, passando a ingressar na Mota-Engil, com o objectivo de dinamizar um Conselho Consultivo Internacional na América Latina - outro nome pomposo para dizer ex-governante que não esconde a promiscuidade entre poder político e poder económico. Em rigor, Portas já se tinha comportado, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, como um homem de negócios (chamavam-lhe diplomacia económica), sempre zelando pelo interesse de empresas como a Mota-Engil. Por conseguinte, é natural que a recompensa chegue agora. Paralelamente, durante os últimos quatro anos, e na qualidade de ministro, Portas seguramente acumulou uma vasta lista de conhecimentos que serão uma mais-valia para a empresa em questão. Então e a salvaguarda do bem comum? Então e a própria finalidade da política? Não sejam picuinhas, a política é o que se quiser que ela seja, sobretudo para direita que tenta ser neoliberal, mas que nu

Será caso para ir ao médico?

A questão deve ser dirigida a Passos Coelho. O anterior primeiro-ministro tem proferido algumas afirmações que podem ser sintomáticas de problemas de saúde, designadamente no âmbito da memória. Sabemos que o jogo político pode, em alguns casos, ser confundido com degradação da saúde mental, mas não estou certa que se trata desse caso. Senão vejamos: Passos Coelho acusou o PS de ser dominado por um partido de menor dimensão, que corresponde a cerca de 10 por cento do eleitorado. Agora vem a parte mais difícil: então e o que dizer da relação entre PSD e CDS de Paulo Portas? Será necessário relembrar o episódio do irrevogável e subsequente ascensão de Portas ao cargo de vice? Quem é que manobrou quem? E o que dizer da relação entre Portas e alguns ministros do PSD? E o que aferir das consequências dessa relação? É caso para ir ao médico. Os problemas de memória de Passos Coelho são inquietantes e podem indiciar um problema ainda maior. E Passos Coelho tem que pensar no seu futur

Congresso do PS

O pluralismo é indissociável da democracia, sendo igualmente uma das suas maiores riquezas. O Partido Socialista não é excepção, felizmente. Um pequeno grupo de contestatários não concorda com o rumo adoptado pelo partido, havendo mesmo quem se desdobre em entrevistas com o objectivo de chamar a atenção para a falta de pluralismo no seio do partido. Esse dito pequeno grupo discorda da solução política encabeçada por António Costa, mas limita-se a manifestar a sua discórdia, sem quaisquer aprofundamentos e não raras vezes manifestando preconceitos que se julgavam ultrapassados. Francisco Assis é talvez o mais reputado contestatário. Sem muito para dizer, para além das banalidades do costume, fica a ideia de que este proeminente membro do partido e mais meia-dúzia de outros sentir-se-iam mais confortáveis com uma aliança com os partidos de direita, designadamente com o PSD. Esquecem os mesmos que esse seria o caminho mais rápido para o enfraquecimento e subsequente desaparecimento, pe

Filhos e enteados

Já se sabia que a União Europeia era desigual; já se sabia que essas desigualdades verificavam-se sobretudo na forma como os Estados-membros eram tratados; já se sabia que as referidas desigualdades estavam a acentuar-se. O que eventualmente seria menos conhecida era a desfaçatez dos mais proeminentes líderes europeus no reconhecimento da desigualdade entre Estados-membros. Junker, Presidente da Comissão Europeia, em entrevista a um canal francês, admitiu que a França não estará sujeita a sanções, apesar de o seu défice ultrapassar os 3 por cento, simplesmente porque se trata da França. Dito por outras palavras, a França porque é a França não está sujeita às mesmas regras, como já aconteceu com a impoluta Alemanha, precisamente por não ter cumprido os três por cento. Entre filhos e enteados, percebe-se que é quem. Nós por cá continuaremos alegremente a fingir que fazemos parte da família, quando na verdade não fazemos. Já fomos relativamente interessantes, mas hoje somos olhados

Na ausência de argumentos...

Na ausência de argumentos, recorre-se a brincadeiras pueris que degeneram apenas em risos dos seus criadores e pouco mais. Em rigor, não se pode estar à espera que as crianças sejam dotadas de acentuada capacidade argumentativa. Assim, não causará espanto que as mesmas brinquem. Vem isto a propósito da nova brincadeira/propaganda da JSD, depois do cartaz que retratava Mário Nogueira no papel de Estaline e o ministro da Educação no papel de marioneta, agora é a vez de utilizarem o jogo infantil "Angry Birds", aproveitando também a estreia do filme, para atingirem a "geringonça", da única forma que sabem, ou seja, através de brincadeiras pueris, desprovidas de qualquer conteúdo. Ironicamente, a legenda do cartaz é precisamente a seguinte: "Portugal não é para brincadeiras de esquerda". Com efeito, não se percebe bem o que a JSD pretende dizer com "Portugal não é para brincadeiras de esquerda". O que se sabe é que o país com as brincadeiras da

Por onde anda a doutrina social da Igreja?

A resposta, por muito que o tempo passe, continua a ser óbvia: pelas ruas das amargura. Onde está a doutrina que defende a dignidade de todas as pessoas, a solidariedade ou o bem comum? E nem o Papa Francisco, um verdadeiro apologista da dita doutrina, consegue meter juízo na cabeça dos mais proeminentes membros da Igreja portuguesa. O exemplo do Papa Francisco seria mais do que suficiente, A Igreja juntou-se novamente a figuras sinistras da direita como Passos Coelho, procurando defender avidamente os contratos de associação. Em nome de pais, alunos e afins, os mais proeminentes membros da Igreja desdobram-se em declarações e participam em protestos. Há não muito tempo esses mesmos membros da Igreja chamavam a atenção para o facto das "ruas" nada resolverem, numa crítica àqueles que protestavam contra o desemprego, contra a miséria, em suma, numa crítica dirigida a todos os que procuravam, democraticamente, manifestar o seu descontentamento. Agora, num exercício de perfei