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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2015

Transparência

A transparência é um valor basilar da democracia, sem transparência não existe a confiança que é necessário estabelecer entre cidadãos e instituições democráticas. Infelizmente muitos políticos preferem a cosmética à transparência. É o caso de Maria Luís Albuquerque, actual ministra das Finanças, que no seu tempo de secretária de Estado deu ordem para esconder prejuízo do BPN. Segundo o jornal Expresso, Maria Luís Albuquerque "pediu à Parvalorem, empresa pública que gere os activos tóxicos do BPN, para esconder prejuízo de 150 milhões de euros, de forma a não agravar défice de 2012". O ministério das Finanças veio de imediato desmentir a notícia. A julgar pela seriedade da ministra das Finanças na trapalhada dos contratos swap, toda a gente ficou sossegada com o desmentido do ministério por ela tutelado. Um desmentido que ganha força a poucos dias de eleições. Transparência e verdade: palavras desconhecidas para a coligação. A cosmética das contas pública tem um valor supr

O "colega" grego

Depois de ter contribuído para o esmagamento do Syrisa e, por inerência, da Grécia, Passos Coelho dá o bom exemplo do "colega" grego que recusou o "radicalismo" do seu próprio partido. Será difícil recordar um período da história da democracia portuguesa em que o primeiro-ministro tivesse uma lata tão incomensurável como Passos Coelho demonstra ter. Recorde-se que o Syrisa e Alexis Tsipras foram esmagados por uma Europa preocupada com os interesses internos, concretamente com o futuro dos partidos que garantem a manutenção do status quo. Recorde-se que Passos Coelho e seus acólitos só não tiveram um papel maior no esmagamento da Grécia porque a pequenez que lhes é inerente não permitiu. Recorde-se que apesar da austeridade em dose cavalar imposta à Grécia, o "colega" Tsipras não deixou sair da mesa das negociações a questão central da reestruturação da dívida - discussão essa imediatamente rejeitada por essa sumidade do despudor chamado Pedro Passos Coe

O que sobressai de uma campanha pobre

Desta campanha eleitoral composta, em larga medida, por personagens medíocres, sobressai a lata dos membros da coligação que acusam o PS de tudo e mais alguma coisa como se nos últimos anos o país tivesse sido governado por alguma figura maléfica que eles - coligação - desconhecem. A lata (é mais do que despudor, descaramento, e mesmo lata, acompanhada por uma inexorável falta de vergonha) é tanta que se torna impossível enumerá-la, mas fica, a título de exemplo, a questão das pensões e as acusações ao PS, já não para falar da ideia de que o Governo repôs as pensões, quando foi o Tribunal Constitucional a repor a legalidade e subsequentemente as pensões. Desta campanha fica a incapacidade do PS. António Costa tem ainda algum tempo para chegar aos indecisos que se estima atinjam os 20 porcento. O raciocínio é simples: se os indecisos (talvez com o peso do voto útil) caírem para o lado socialista - muito mais provável do que caírem para o lado da coligação - então o resultado poderá s

Afinal... não é bem assim

O défice afinal disparou para os 7,2 por cento para o ano de 2014, um valor a rondar o dobro previsto. A razão? Banco Espírito Santo. A notícia no mínimo embaraçosa, sobretudo em plena campanha eleitoral, acabou por ser desvalorizada pelo ainda primeiro-ministro recordando que a demora na venda do Novo Banco afinal traz vantagens para o Estado português pela razão dos juros que o país arrecada com o empréstimo.Mas à semelhança de tudo o resto, a verdade não é bem aquela proferida pelo ainda primeiro-ministro. Em rigor, Passos Coelho ter-se-á esquecido de referir um pormenor: o fundo de resolução paga juros ao tesouro, o que não representa qualquer ganho para o Estado. Paralelamente o dinheiro em causa corresponde a uma parcela do empréstimo da troika e o que representa pagamento de juros por parte do Estado português, o que significa que os contribuintes ficarão mais de uma década a pagar esse empréstimo. Assim se percebe que o assunto não merece ser desvalorizado pelos membros da col

Igualdade e democracia

A igualdade, designadamente a igualdade de oportunidades, é característica central da democracia e um dos caminhos para essa igualdade é a ascensão social. Infelizmente, os últimos quatro anos e meio foram marcados por retrocessos também neste particular. A aposta no ensino privado, enquanto o ensino público é alvo de cortes sem precedentes, é paradigmático do desprezo que este Governo demonstrou ter pela necessidade de se garantir que todos têm as mesmas oportunidades, independentemente do contexto sócio-económico. Existe uma multiplicidade de razões para não desejar uma reeleição de Passos Coelho de Paulo Portas, a igualdade de oportunidades é apenas mais uma que se insere na degradação da própria democracia. Numa campanha em que as ideias e as verdadeiras intenções são relegadas para segundo plano, importa ter presente o trabalho que tem sido feito por aqueles que apenas têm inépcia e uma lata incomensurável para mostrar. Por outro lado, ao invés de se discutir, até à exaust

Sair das trevas

Há muito a dizer do trabalho da coligação que sustentou o governo: empobrecimento, aumento das desigualdades, enfraquecimento do Estado Social, excitação desmesurada e doentia com a austeridade, mas o regresso do obscurantismo em todo o seu esplendor merece também discussão. De um modo geral, estes últimos quatro anos e meio foram caracterizados por um inaudito retrocesso na cultura, educação, ensino superior, ciência e tecnologia, comprometendo desta forma quaisquer tentativas no sentido do desenvolvimento do país. Se das eleições que se avizinham sair um governo de esquerda voltaremos seguramente a sair desse obscurantismo que é sobretudo ideológico. Os programas da esquerda e qualquer perspectiva empírico nos revelam que as artes e humanidades, a cultura, a ciência, tecnologia e inovação são sectores que merecem uma incomensurável importância comparativamente com a direita atávica que nos tem governado. Deslumbrada com indicadores económicos, assentes tantas vezes em números ma

Eleições na Grécia II

É difícil abordar o tema sem reconhecer a existência de um sentimento de desilusão perante tudo o que aconteceu na Grécia. O partido de esquerda radical Syrisa prometia romper com a austeridade e, depois de um inexorável esmagamento por parte das instituições europeias com a Alemanha à cabeça, o Syrisa acabou ele mesmo esmagado e a braços com mais doses cavalares de austeridade. Tenho a teoria que Tsipras, reeleito primeiro-ministro grego pelo Syrisa, perante a iminência de ser empurrado para fora do Euro, aceitou o pior plano possível para comprar tempo, mantendo-se no euro. Entretanto, talvez algo mude na configuração política europeia, designadamente com as eleições que se avizinham em Espanha e na Irlanda. Seja como for, o mesmo Tsipras demitiu-se e recandidatou-se para ganhar e reforçar a sua legitimidade  Alguns questionam-se sobre como é que é possível alguém que defraudou as expectativas de tantos gregos poder ser reeleito. Desde logo porque a alternativa - Nova Democracia

Sondagens e voto útil

É preciso, antes de tudo, fazer a seguinte observação: tenho as maiores das dúvidas quanto a uma hipotética consonância entre os resultados das sondagens e a realidade. Dito isto, torna-se difícil não associar as sondagens que, de um modo geral, apresentam empates técnicos entre a coligação PàF e o PS e a pressão do voto útil. Na verdade, essas mesmas sondagens agudizam a força do voto útil, a título de exemplo atente-se ao seguinte: um eleitor inclinado para votar num dos partidos que se situa mais à esquerda do PS que, na iminência de uma possível vitória da coligação de direita, vê-se pressionado a mudar o seu sentido de voto precisamente para o PS para que a coligação não seja reeleita. Será este um cenário tão inverosímil quanto isso? Acresce à pressão das sondagens todo o trabalho realizado pela generalidade da comunicação social, dedicada a tempo inteiro à tarefa proporcionar aos partidos do famigerado arco da governação, com especial destaque para a coligação, todo o tem

A vida não lhes tem corrido bem

A vida não tem corrido bem ao PàF, ou coligação PSD/CDS: os debates não foram felizes, nem para Portas nem para Passos - o vazio de ideias tem sido confrangedor - e as saídas à rua muito menos. Entre a retórica assente no Syrisa e na pergunta repetida até à náusea sobre quem chamou a troika, pouco resta à coligação. Sobre o Syrisa, Catarina Martins já prestou os esclarecimentos necessários; quanto à troika Teixeira dos Santos foi taxativo: "a aprovação do PEC IV teria evitado o pedido de resgate..chegámos a um compromisso político com Merkel e teríamos o apoio da Alemanha no quadro Europeu para estancarmos a crise em Portugal". Quem foi com demasiada pressa ao pote é responsável pelo aumento incomensurável da dívida e pelo agravamento das insustentáveis doses de austeridade. Na rua, o caso ainda piora de figura. Confrontados com cidadãos, Passos Coelho procura responder com a primeira coisa que lhe vem à cabeça, enquanto Portas foge como pode. Nos comícios, nada é substa

A política é uma decepção

A frase ganha novo peso se acrescentarmos: em Portugal. Todavia e de um modo geral, a política é amiúde uma desilusão, sobretudo para quem pugna pelos princípios que norteiam a esquerda social-democrata. Com efeito, os verdadeiros sociais-democratas há muito que se sentem órfãos, em Portugal e na Europa. Os ditos partidos sociais-democratas e socialistas renderam-se aos ditames do neoliberalismo, repudiando a sua história e esquecendo invariavelmente o próprio fundamento da política: o bem comum. É uma desilusão porque o que resta da esquerda não tem contado com o apoio dos cidadãos, pelo menos de forma significativa. A Grécia foi a excepção, Espanha poderá ser outra excepção e há sinais animadores no Reino Unido com a escolha de Jeremy Corbyn por parte do Partido Trabalhista. Por outro lado, os discursos vazios derrubaram a arte da retórica e da dialéctica. Hoje a argumentação de pouco vale, resta uma boa imagem e a proliferação de frases soltas e inconsequentes, isto enquanto a di

Troika, já não gosto de ti

Querida Troika, vejo-me hoje forçado a abrir o coração: apesar dos quatro anos lindíssimos que passámos juntos tenho-te a dizer que já não gosto de ti como gostei no passado. Tudo fiz para ficarmos finalmente juntos e confesso que tantas vezes pensei em superar-te tal era o meu amor por ti - quis ser mais do que tu foste e quis que tu reconhecesses os meus esforços no sentido de ir mais além do que tu alguma vez foste. Nem sempre fizeste esse reconhecimento, facto que amiúde me despedaçou o coração. Mas olhando em retrospectiva, valeu sempre a pena. Tu sabes... eu quis ir mais longe, se calhar numa tentativa frustrada... de puro exibicionismo. Troika, meu amor, amei-te tanto, mas já não te amo mais, é melhor darmos um tempo... por enquanto não te posso amar como te amei no passado, espero que tu compreendas. A vida é mesmo assim, tantas vezes injusta e neste momento preciso de consolidar o meu compromisso com o meu país. Na realidade, o meu país dificilmente compreenderia a nossa re

Livre/Tempo de Avançar fora dos debates

O Livre/Tempo de Avançar fez um trabalho meritório e pouco habitual no contexto político português - um trabalho que culminou com a apresentação do seu programa eleitoral consistente e fundamentado. Paralelamente, este partido contou com a participação incansável de cidadãos apenas comprometidos com uma ideia de um outro país, uma antítese daquilo que se viu nos últimos quatro anos. Infelizmente, o Livre/Tempo de Avançar não teve nem terá presença nos debates televisivos, nem tão-pouco poderá contar com a visibilidade que, em larga medida, as televisões podem proporcionar, o que compromete indiscutivelmente os resultados eleitorais. O Livre/TdA não está sozinho nessa ausência de visibilidade, outros partidos não podem contar com o precioso tempo de antena. O pluralismo inerente ao conceito democrático morre na prática. Qualquer novo partido, por muito que conte com a participação incansável de vários cidadãos, e por muito que apresente propostas inovadoras e credíveis, esbarra

Catarina Martins

Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, tem sido, de longe, quem melhor tem discutido as questões mais pertinentes ao longos dos debates. Mostrando ser a líder mais bem preparada para discutir com a profundidade que, diga-se em abono da verdade, possível nos actuais formatos televisivos. Primeiro com Paulo Portas e depois com Pedro Passos Coelho. No primeiro, Portas não teve argumentação para fazer face à sua adversária; com Passos Coelho Catarina Martins confrontou o ainda primeiro-ministro com as mentiras em torno do BES, a insustentabilidade da dívida ou a famigerada questão do “plafonamento” na Segurança Social. A propósito de Segurança Social, continua a ser particularmente difícil não rir quando Passos Coelho profere essas palavras: “Segurança Social”. Assim como terá sido difícil controlar esses mesmos risos quando Passos Coelho falou no BPN e Catarina Martins respondeu com Dias Loureiro e os elogios de Passos Coelho a um dos principais responsáveis pelo BPN – o que poder

Abstenção

Tradicionalmente somos pouco propensos a pensar a política, para além das habituais discussões que redundam na politiquice próxima do formato telenovela. As ideias encontram-se fora dessas discussões – a democracia (que se enriquece com o pluralismo) vive – sobrevive – sem a cidadania. Não pensamos, não discutimos, não participamos, não exigimos, não agimos. Depois de anos de empobrecimento, do agravamento das desigualdades, do enfraquecimento do Estado Social, parte integrante de um pacto social que resultou da revolução de Abril, e do enfraquecimento da democracia, parece que nos encontramos num beco sem saída, agarrados à ideia de viver um dia de cada vez sem contemplar qualquer ideia de futuro. Classificamos a classe política, de um modo geral, recorrendo aos adjectivos mais depreciativos que o nosso léxico comporta. Colocamos todos no mesmo saco, recusando ver que nem todos pertencem a esse mesmo saco. É de facto mais fácil simplificar dizendo que são todos iguais, eles são

O debate numa noite cómica

O debate – o único que colocou frente a frente Pedro Passos Coelho e António Costa – correu manifestamente mal a Passos Coelho, mesmo que este tenha recorrido ao passado para voltar a assustar os cidadãos. Importa referir que se trata da mesma pessoa que fez toda uma campanha eleitoral precisamente a mentir, alguém que, por conseguinte, tem todo um passado de mentira. E também não será exagero de retórica referir que Passos Coelho é a mesma pessoa que insiste no passado do outros mas que, simultaneamente, aniquilou a ideia de futuro do país, percorrendo um caminho que foi uma verdadeira descida aos infernos. Ainda relativamente ao passado, o tiro acabou por sair pela culatra. Costa respondeu bem, atacando, lembrando as próprias responsabilidades do PSD e CDS na questão da troika e, sobretudo, relembrando o ensejo de Passos Coelho aquando precisamente da vinda da troika e da possibilidade de ir mais longe do que estava previsto. Passos Coelho, tal como Portas, sentiu a angústia de

Ainda a Grécia

Na falta de argumentação que defenda o indefensável, Paulo Portas, em debate com a porta-voz do Bloco de Esquerda Catarina Martins, agarrou-se ao que pôde: a Grécia. Portas preferiu discutir a Grécia e a colagem do BE ao Syrisa do que discutir política interna. Percebe-se porquê. Depois de quatro anos de fustigação do seu próprio eleitorado, o “irrevogável” pensou que deixaria a sua adversária fragilizada se referisse o exemplo Grego. Enganou-se redondamente e foi surpreendido com o à-vontade de Catarina Martins sempre que esse assunto foi chamado à colação. Aliás, Portas mostrou-se surpreendido com uma líder do Bloco de Esquerda que nem sequer titubeou quando o assunto foi a melindrosa Grécia. De resto, Catarina Martins assumiu que o acordo aceite por Tsipras é “mau” e que o BE o rejeitaria. Ou seja, a posição foi clarificada – se é que havia necessidade disso – e não restam margem para dúvidas: ficar na zona euro, mas não a qualquer custo. Portas viu assim defraudadas as suas e

Quatro anos de mediocridade

Se os protagonistas políticos são medíocres, o que esperar dos meses que antecedem uma eleição? Nada. O vazio. A mais inexorável inanidade. Se dúvidas ainda persistem, atente-se às intervenções sobretudo dos membros da coligação. Mediocridade não chega para descrever essas intervenções. Aparentemente a repetição incessante das mesmas vacuidades pode chegar para colher votos. Entre alguns indicadores forçadamente positivos e as provocações e acusações dirigidas ao Partido Socialista, sendo Sócrates amiúde chamado à colação, mais nada se vislumbra pelos lados da coligação. Paradoxalmente, o passado que Passos Coelho, Paulo Portas e companhia tanto gostam de evocar, contempla também as mentiras que sempre fizeram parte do cardápio do que agora se designa por PaF - mentiras em relação a promessas eleitorais, mentiras sobre a conduta de membros da coligação, mentiras que esbarram invariavelmente numa inacreditável falta de competência transversal aos dois partidos. No que diz respeito

Sem palavras

A Europa transformou-se numa imensa vergonha, vendida aos interesses financeiros, esqueceu os princípios que a caracterizam, designadamente a solidariedade. A crise financeira desencadeada pela finança e posteriormente transformada em crise das dívidas soberanas mostrou uma Europa dominada por um país e pelos interesses financeiros. A vergonha já estava instalada. Agora a Europa confronta-se com a crise dos refugiados. Depois de ter um papel importante na instabilidade criada em países como a Síria e Líbia e de ter amiúde desempenhado um papel infeliz noutras regiões do mundo, designadamente, em África, a Europa é confrontada novamente com a sua própria incapacidade. Alguns Estados manifestam a não aceitação desses refugiados, dificultando a sua passagem; outros manifestam confusão, e outros ainda, em menor número, parecem dispostos a aceitar aqueles que procuram salvar as suas vidas e a dos seus, amiúde por motivos que vão para além da dita solidariedade. Entretanto, muitos refug