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A mostrar mensagens de novembro, 2017

A natureza do PS

Ainda não tinha acontecido, verdadeiramente, mas a natureza do PS lá acabou por vir ao de cima, precisamente no dia da votação do Orçamento de Estado para 2018. Os secretários de Estado do Governo negociaram com o Bloco de Esquerda uma taxa que recairia sobre as renováveis. E estava tudo muito bem até os deputados do Bloco serem apanhados de surpresa em plena votação para o OE. As justificações para esta quebra de confiança já começaram a surgir: uma indica que a medida afastaria investimento internacional - é que aparentemente os que investem nas renováveis também compram dívida portuguesa; outra justificação é de ordem jurídica e defende a tese de que o país acabaria nos tribunais internacionais com poucas hipóteses de vencer. Ou seja, Portugal não pode aplicar medidas justas e que teriam impacto na vida dos seus cidadãos, sob pena de afugentar o dinheiro dos investidores ou de acabar a perder nos tribunais - formas de chantagem profusamente usadas. Mesmo considerando estes aleg

O PS não sabe comunicar

Para celebrar dois anos de Governo, o PS escolheu as piores opções, todas elas com cheiro a demagogia e a artificialidade, com especial destaque para a sessão de perguntas e respostas, previamente congeminadas e sem um laivo de originalidade. A forma atabalhoada como o PS escolheu celebrar os dois anos de Governo revela a incapacidade deste partido no que diz respeito à comunicação - facto particularmente penalizador para um partido político. Este é, aliás, talvez o maior problema do Partido Socialista - não tem uma estratégia de comunicação, nem protagonistas para executarem essa estratégia. A excepção parece ser Pedro Nuno Santos.  De qualquer modo a comunicação é, amiúde, enviesada, manipulada e mais não é do que pura propaganda, descaradamente. De resto, o facto dos inquiridores terem sido pagos nem é o que ficará na memória das pessoas, mas sim o facto de que, globalmente, o PS é um desastre em matéria de comunicação. Em contrapartida, o Bloco de Esquerda que faz parte de

Dois anos de "geringonça". E o futuro?

Depois do Diabo ter recusado um pacto com Pedro Passos Coelho - aparentemente até o Diabo terá os seus critérios - a chamada "geringonça" fez os seus dois anos.  Dois anos passaram e mais do que olhar para o passado, importa olhar para o futuro desta solução política, desde logo porque existem novas variáveis na equação e outras que estão prestes a mudar. A mudança de líder no PSD é uma variável a ter em conta, seja o populismo de direita de Santana Lopes a vencer ou as ideias anacrónicas de reedição de bloco central de interesses de Rui Rio a conseguir a liderança. Seja como for a mudança estará a caminho. De igual modo, essa mudança poderá provocar alterações de comportamento no próprio Presidente da República que terá particular simpatia pela ideia de um bloco central. Por conseguinte, o futuro terá forçosamente de passar pela manutenção e consolidação da dita geringonça, por mais dois anos. De resto, quer o PS, mas sobretudo os partidos à esquerda do PS terão bem pre

Desesperadamente à procura de um líder

D epois de Passos Coelho anunciar que abandonaria a liderança do PSD, o partido procura desesperadamente um pai, perdão, um líder. Duas figuras do partido surgiram como candidatos: Pedro Santana Lopes, candidato da demagogia, com um passado antigo e marcado pela incompetência; e Rui Rio, candidato apologista do velho bloco central de interesses, também com um passado, não tão antigo, mas igualmente pouco recomendável. Entretanto, e enquanto Passos Coelho ainda anda por aí, os membros do partido, sobretudo aqueles que sentem o peso da orfandade que se abateu sobre o seu partido, procura m disfarçar o já habitual vazio, agora amiúde acompanhado p or doses assinaláveis de ansiedade . Com efeito, os membros do partido, quase todos órfãos de Coelho, atiram-se ao Governo desprovidos de qualquer estratégia, que, por força das circunstâncias, seria sempre a prazo. Chumbam o Orçamento manifestando dificuldades em disfarçar o seu próprio vazio de ideias e propostas que caem amiúde no saco

Governar à pressa

A transferência da sede do Infarmed para o Porto, precisamente na ressaca daquela cidade ter perdido a possibilidade de albergar a Agência Europeia do Medicamento dá toda a impressão de ter sido fruto da pressa e do oportunismo. É evidente que o argumento que postula a necessidade de se combater o centralismo é particularmente difícil de refutar. Haverá mesmo um consenso entre todas as forças políticas quanto precisamente à necessidade de fazer de Portugal um país mais igual. Todavia, a simplicidade e simultaneamente força do argumento não impede que se avalie a forma como a medida está a ser tomada: à pressa, com um claro sentido de oportunismo e à revelia de quem trabalha no Infarmed. Governar à pressa e ao sabor dos acontecimentos não pode ser considerado positivo, mesmo que a medida em questão aparentemente possa sê-lo. Provavelmente, haverá, no Governo, quem também se apresse a alegar que a ideia já estava, há muito, a ser amadurecida e que terá sido convenientemente plan

PS e austeridade

É uma ilusão pensar-se que o Partido Socialista não foi, nem é apologista da austeridade, e é outra ilusão pensar-se que este Governo socialista estará disposto a repor tudo o que foi perdido ao longo destes anos. Vem isto a propósito da pressão de sindicatos da Administração Pública para que seja reposto o que foi retirado, designadamente em matéria de congelamento nas progressões da carreira. O sucesso dos sindicatos dos professores nesse particular terá dado ânimo a que outros reclamassem as mesmas medidas. Ora, o primeiro-ministro diz que não e que não é "possível refazer a História", o Presidente afirma que não se pode "desbaratar o que deu tanto trabalho", o Bloco de Esquerda não se mostra disposto a ir excessivamente em sentido contrário ao PS e PCP deixa os sindicatos, designadamente os que lhes são afectos, fazerem o trabalho de oposição. A reposição do que se perdeu, na Administração Pública e fora dela, é uma exigência legítima, mas em larga medida i

Crise política na Alemanha

Com a cada maior certeza de novas eleições na Alemanha, sobram as incertezas quer para a Alemanha, quer para a própria Europa, impondo-se a questão: até que ponto o falhanço dos principais partidos alemães quer no alcance de um acordo, quer na própria resolução dos problemas mais prementes, não poderá resultar num maior desgaste desses próprios partidos, com benefício da extrema-direita? A resposta, claro está, só após a realização de novas eleições, mas o risco está lá e o AfD está também presente para aproveitar o que vier e que será bem-vindo. Recorde-se que nas últimas eleições este partido conseguiu um resultado histórico, enquanto a CDU de Merkel teve um resultado abaixo do habitual. E os sociais-democratas do SDP (que se haviam coligado com a CDU) tiveram um dos piores resultados da sua história, seguindo os passos de outros partidos socialistas e sociais-democratas, num processo iniciado pelo PASOK grego cujo destino, ironicamente, não pode ser dissociado da própria Alemanha

4 partidos, 4 semanas. Resultado: novas eleições

4 partidos (CSU, conservadores sociais cristãos, CDU, partido conservador liderado por Angela Merkel, os liberais do FDP e Verdes), 4 semanas de negociações. Resultado: zero. Não há acordo e muito provavelmente a realização de novas eleições. Terá sido o FDP a fragilizar e inviabilizar o acordo conhecido por Jamaika (correspondência das cores dos partidos com a da bandeira daquele país). Contrariamente ao que se poderia esperar, as dificuldades não vieram dos Verdes, partido que tem vindo a virar à direita, rendendo-se aos encantos do neoliberalismo. Foi mesmo o FDP a colocar um ponto final na questão. Segundo a imprensa, existiram dois temas quentes na agenda de negociações: refugiados e clima, sendo que era neste último tema que os Verdes procuraram reclamar a sua agenda ecológica. Mas terá sido sobretudo a questão dos refugiados a colocar pressão numa ferida que parece cada vez mais aberta e cujas receitas para que se verifiquem melhorias não parece estarem ao alcance dos princ

Angola: sinais promissores?

O afastamento dos filhos do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos das principais empresas do Estado, sobretudo da filha Isabel dos Santos da Sonagol, são, aparentemente, sinais promissores. Sinais de que João Lourenço, apontado como sucessor de Eduardo dos Santos no MPLA e dos destinos do país, quer mudar Angola. Se esses sinais podem significar uma verdadeira mudança já é, naturalmente, e para já, uma incógnita. O que é certo é que até ao momento João Lourenço fez mais de 60 exonerações, apelidado já de "exonerador implacável". Depois de 38 anos de poder e de uma guerra civil, José Eduardo dos Santos afastou-se da presidência, deixando os filhos em locais estratégicos dos negócios angolanos. Até às últimas semanas imperou a ideia de que João Lourenço mais não era do que a continuidade de Eduardo dos Santos e nem se sonharia com os afastamentos agora verificados. Porém, o novo Presidente angolano parece disposto a encetar verdadeiras mudanças, começando exactament

A vontade política e os compromissos

A greve dos professores trouxe, uma vez mais, ao de cima as dificuldades que este ou qualquer outro Governo encontraria para corrigir esta e outras tantas injustiças. Todavia e contrariamente ao anterior Executivo, este tem na sua cartilha ideológica a vontade política de corrigir injustiças, pelo menos a vontade está lá, e a prova disso mesmo prende-se com a reposição de rendimentos que são apanágio do Governo de Costa, coadjuvado pelos partidos mais à esquerda. Esta é uma diferença fundamental: os recursos são parcos, os constrangimentos externos incomensuráveis, mas ideologicamente este Governo procura uma justa redistribuição de rendimentos, totalmente o contrário do que fazia o anterior governo.  Com efeito, o Governo de Passos e Portas deram um forte contributo para o alargamento do fosso entre quem mais tem e quem pouco ou nada tem, fomentando desigualdades e injustiças que fazem parte da cartilha que seguem, nunca se coibindo de promover divisões entre os cidadãos, com espec

Um descaramento sem fim

Os partidos da direita, os que há muito perderam o rumo, procuram alcançar ganhos políticos com tudo o que cheire a tragédia. Foi assim com os incêndios e tem sido assim com os casos de legionella . A conversa assenta invariavelmente no mesmo pressuposto: o Governo PS, coadjuvado pelos partidos da "esquerda radical", não conseguem garantir as principais funções do Estado relacionadas com a segurança dos cidadãos.  Assim, e tendo em conta que não existe outra estratégia que não passe pelo aproveitamento da desgraça, PSD e CDS unem esforços e atiram na mesma direcção. Tudo isto seria muito bonito não fosse o caso destes partidos que agora estão na oposição terem levado um elevado número de cortes nas funções do Estado. Ora, ainda assim tanto um partido como o outro não se coíbem de apontar o dedo a este Governo como se a austeridade até à morte não estivesse ainda a colher vítimas, como continuará a fazê-lo, sobretudo em áreas como a saúde. Por outro lado, ao PS pode-se ap

As contradições de um partido sem rumo

Já com o sentimento de orfandade a perpassar o partido, o líder da bancada parlamentar do PSD acusa o Governo de estar a falhar onde o Estado não pode falhar. Vem agora isto a propósito do surto de "legionella" no Hospital São Francisco Xavier. Esta acusação não é inédita e foi exaustivamente repetida aquando da questão dos incêndios, sobretudo depois do pai Passos Coelho ter cometido um monumental erro ao ter procurado aproveitar-se de suicídios que nunca existiram no rescaldo de Pedrogão Grande.  O argumento único repete-se assim e repetir-se-á sempre que for possível, até porque não há mais nenhum. No entanto, tudo se desmorona quando procuramos aprofundar o tema, designadamente os porquês. As respostas acabam invariavelmente por fazer ricochete. No caso dos incêndios e para além da questão dos eucaliptos fortemente promovidos pela ex-ministra da Agricultura, Assunção Cristas, fica também no ar o enorme desinvestimento na floresta, mais um que se inseria no contexto d

Trump: um ano

Com a mais baixa taxa de aprovação dos últimos 70 anos, a rondar os 37 %, Donald Trump cumpre o seu primeiro ano de mandato. Um ano que, a julgar pelos aspectos negativos, é sentido como uma década de provação. Um ano marcado por gaffes, fait-divers, palhaçadas e uma enorme prepotência conjugada por uma igual boçalidade; um ano marcado pela incapacidade em cumprir as mais emblemáticas promessas, designadamente o fim do Obamacare e o famigerado muro a separar os EUA do México; um ano marcado pelas estranhas relações entre a campanha de Trump e a Rússia, com graves suspeita de influência russa nas eleições americanas; um ano marcado pelo agravamento das divisões no seio da sociedade americana, com especial enfoque nas divisões raciais, e com o Presidente a fomentar essas mesmas divisões. Em suma, um ano em que não é possível destacar-se quaisquer aspectos positivos numa presidência que corre o sério risco de vir a ser considerada a pior de todos os tempos. Mas nada disto parece afecta

A política transformada em paródia

Páginas de jornais, tempo de antena em abundância cuja finalidade é retratar ou criticar a paródia em que se transformou a presidência americana. Trump em visita oficial ao Japão transforma-se em mais uma oportunidade de descrever as verdadeiras palhaçadas protagonizadas por aquele que é incrivelmente o Presidente americano. Todavia, essas páginas de jornais e tempo de antena e, claro está, críticas, vídeos, fotos, etc na internet, constituem uma monumental perda de tempo e, mais grave, acabam por dar um contributo decisivo para que se desviem as atenções do essencial - a política.  Reconheço que se torna irresistível não tecer uma crítica, não escrever umas frases ou publicar uns vídeos ou fotografias das peripécias de um Presidente que pensa poder dizer e fazer o que bem entende, tudo num contexto da mais abominável mediocridade. Ainda assim, a nossa incapacidade colectiva de não resistir a essa compreensível tentação, reduz consideravelmente o espaço para que se discutam as pol

O paraíso de uns e o inferno de outros

A existência de paraísos fiscais implica como o próprio nome indica o paraíso para uns, mas pressupõe também o pesadelo de outros que têm de compensar a fuga de impostos, assistindo ao excesso de impostos que atinge sobretudo as classes trabalhadoras. Só deste modo poderá ainda existir resquícios das funções do Estado que são depois benefício de todos, mesmo daqueles que tudo fazem para fugir aos impostos. Recapitulando o que o Consórcio de Jornalistas de Investigação conseguiu apurar nos chamados "Paradise Papers": existem ligações de elementos próximos de Trump pagos por uma empresa russa a operações off-shore; a Rainha de Inglaterra tem de milhões nas ilhas Caimão em operações que envolvem uma empresa sem escrúpulos e sem vergonha que cobra juros altos aos mais pobres; membros próximos do primeiro-ministro canadiano também aparecem nos "Paradise Papers"; outras personalidades do mundo da política e do espectáculo idem idem, aspas aspas. E qual o impacto de m

Estes criminosos tão ameaçadores

C arles Puigdemont f ica, para já, em liberdade condicional , isto também para já , é responsabilidade da justiça belga . Todavia , a julgar pelo aparato mediático e sobretudo pela ânsia espanhola em detê-lo, estamos perante um dos mais perigosos criminosos na Europa. Muito mais perigoso, por exemplo, do que os corruptos que pululam pelo PP espanhol. Puigdemont não tardará a ser m preso político na precisamente medida em que procurou implementar as medidas que foram sufragadas em eleições democráticas e que resultaram numa vitória dos partidos independentistas. E tanto mais terá sido assim que esses partidos, cujas ideologias vão desde a esquerda mais à esquerda até ao centro direita, entenderam-se em torno da questão da independência. Não seria mais fácil proibir partidos com tendências separatistas do que assistir a esta farsa? Prender por razões políticas, por muito que se alegue o contrário, Puigdemont e outros que estão presos por razões políticas – por terem respeitado a vo

Uma Europa sem saber o que fazer com os anseios independentistas

Independentemente de como será o futuro próximo da Catalunha, a vontade de parte dos catalães - resta quantificá-la - não esmorecerá, bem pelo contrário. Paralelamente, a questão da Catalunha pode contribuir  para o reacendimento da luz independentista em vários países europeus, com maior ou menor intensidade. E apesar do processo falhar, aparentemente. Não levará muito tempo até se começar a trazer à colação a vontade dos povos, colocando-se em causa o próprio conceito de Estado-nação. E quem pensa que o afastamento de Puigdemont ou eventualmente a sua prisão e o esmagamento de qualquer tendência independentista resolve o assunto, estará muito enganado. Rajoy engana-se a si próprio e aos espanhóis quando julga que é através da intransigência e da recusa de qualquer espécie de diálogo que colocará um ponto final na questão da Catalunha independente. Depois de cortar as aspirações de maior autonomia - que provavelmente resolveria o assunto - escolhe agora desferir golpes derradeiros