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Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2007

Greve Geral

Hoje, dia 30 de Maio, é dia de greve geral, mas em vez de se discutirem as razões e as consequências desta greve, perde-se demasiado tempo com a habitual guerra de números. O Governo, por um lado, lança para a opinião pública o reduzido número de serviços afectados pela greve; a CGTP, por outro, dá a sua versão dos factos que geralmente se traduz num elevado número de trabalhadores que aderiram à greve e a consequente paralisação de serviços. Ao invés de se perder demasiado tempo com discussões bizantinas, seria de uma enorme proficuidade que o Governo percebesse que independentemente dos números, muitos portugueses estão descontentes com a situação do país. Com efeito, o Governo tentou subverter o direito à greve, e ao fazê-lo denota o carácter mesquinho desta governação. A tentativa de controlar os trabalhadores que fazem greve – através de uma contagem mascarada por um falso pretexto contabilístico – é sintomática do desconforto que é sentido por quem nos governa de cada vez que exi

O triunfo da delação

A vitória do PS nas últimas eleições legislativas traduziu um desejo genérico de mudança. Depois do abandono precoce de Guterres e de Durão Barroso e da inefável prestação de Santana Lopes, almejou-se uma transformação radical; os portugueses votaram com o objectivo claro de resolver os problemas mais prementes do país. E de facto, a governação de Sócrates começou bem: a apresentação de inúmeras iniciativas com o objectivo claro de encetar mudanças imprescindíveis para o país reuniu vários consensos, mais do que é habitual. Por consequência, o futuro, apesar das dificuldades inerentes a uma crise grave, era auspicioso. Todavia, a governação de Sócrates pautou-se por medidas de natureza incipiente, a reforma da administração pública é paradigmática dessa insipiência. Refira-se, contudo, o bom desempenho do Governo na redução do défice – as imposições de Bruxelas são mesmo para cumprir, quer concordemos ou não com elas. Todavia, no cômputo geral a prestação do Governo apesar de não ser m

Venezuela – a derrota das liberdades

A Venezuela, país conhecido de muitos portugueses, atravessa uma crise grave cuja origem está numa suposta revolução bolivariana desencadeada pelo inefável Hugo Chávez. O papel de Cuba nesta metamorfose da Venezuela é absolutamente determinante, aliás, o triângulo do anacronismo, composto pela Venezuela, por Cuba e pela Bolívia são os paradigmas da tal revolução. A dita revolução traduz-se numa retórica pobre disfarçada por um antiamericanismo primário e alicerçada no cerceamento das liberdades. É esta questão das liberdades que está agora na ordem do dia, tanto mais é assim que os meios de comunicação social em todo o mundo noticiam o encerramento compulsivo de órgãos de comunicação social que constituem um óbice nesta senda de Hugo Chávez de consolidar a revolução. Esta forma de actuar, eliminando as vozes incómodas, é sobejamente conhecida e tem sido levada à prática por qualquer ditador de “trazer por casa”; porém, não deixa de ser desconcertante verificar que a transformação da Ve

Entre o deserto da margem sul e a dinamitação de pontes

Nós portugueses somos uns sortudos: temos os salários mais baixos da Europa mas os preços nem por isso, começamos a ter uma taxa de desemprego de fazer inveja – brevemente atingiremos a fasquia dos 10% –, e ainda por cima somos governados por comediantes! Não poderíamos almejar um país melhor. E ficamos assim a saber que um dos argumentos para justificar a localização do novo aeroporto na Ota é, por um lado, o facto da margem sul ser um deserto; e por outro lado, a margem sul acarretar riscos – a possibilidade de se dinamitar uma das pontes é agora um forte argumento para afastar a hipótese da margem sul para a construção do novo aeroporto. O primeiro argumento brilhante pertence ao ministro das obras públicas e o segundo pertence a uma das personalidades mais proeminentes do PS, Almeida Santos. Efectivamente, quase ficamos sem palavras para comentar estes pseudo-argumentos proferidos por quem faz da Ota a sua teimosia pessoal. Como é que possível dizer-se que a margem sul é um deserto

Eleições para a Câmara de Lisboa

E finalmente, depois de um exemplo de má gestão autárquica, Lisboa vai a votos. A má gestão autárquica não se resumiu apenas à questão financeira, do ponto de vista político a gestão do anterior executivo foi absolutamente anódina. Dir-se-á que a oposição teve um papel preponderante na dificultação da gestão da câmara. Certamente que sim, contudo, isso não invalida o facto de que os problemas de Lisboa terem sido criados por todos os intervenientes políticos na câmara – de todo o espectro político. E não vale a pena alguns políticos insistirem no papel de vítima, nem tão pouco valerá a pena apostarem na imagem do autarca herói; são imagens carregadas de uma absoluta artificialidade. Por outro lado, chegou o momento dos candidatos começarem a fazer campanha eleitoral, mais ou menos artificial. É também agora que se faz futurologia tentando acertar na mais que provável candidatura de Carmona Rodrigues. Será importante sublinhar a inocuidade que caracteriza o rol de candidatos à Câmara Mu

Tourada

As touradas são indubitavelmente uma questão que divide opiniões, e com frequência torna-se difícil não resvalar para a radicalização quando se discute este tema. Aqueles que defendem convictamente a existência destes espectáculos encaram os seus argumentos como irrefutáveis e o mesmo acontece com quem luta pelo fim das touradas. O que sobressai na discussão desta matéria é a paixão com que um e outro lado debatem o assunto, e a razão parece ficar ausente dessas mesmas discussões. Seguramente que este tema não deixa ninguém indiferente. É com enorme dificuldade que se debate este assunto, sem que essa troca de ideias e de argumentos acabe de forma mais exaltada. Analisando friamente o espectáculo da tourada, deparamo-nos com vários problemas. O principal prende-se com o sofrimento dos animais (touros e por vezes cavalos) para gáudio de milhares de pessoas. Este sofrimento é inquestionavelmente gratuito, visto não se justificar em absoluto a existência destes espectáculos, a não ser par

Recrudescimento da violência no Médio Oriente

A situação do Iraque constitui um acentuado foco de instabilidade que contribui de forma decisiva para a volubilidade do Médio Oriente. Além disso, o permanente conflito israelo-palestiniano tem vindo a sofrer um agravamento nos últimos dias. Por outro lado, e para completar a esta preocupante equação assistimos à procura, por parte do Irão, de atingir uma posição hegemónica. E para isso, recorre ao desenvolvimento de tecnologia nuclear, o que pode significar uma verdadeira corrida ao armamento nuclear por parte dos países vizinhos – mais um contributo oneroso para a destabilização do Médio Oriente. A situação eternamente problemática que se vive em Israel e nos territórios palestinianos tem vindo a conhecer novos episódios de violência: por um lado, assiste-se ao confronto entre facções palestinianas, designadamente entre a Fatah e o Hamas, o que é sintomático das fortes divisões que se verificam no seio dos palestinianos. E por outro lado, os israelitas continuam a bombardear alvos p

Sistema Nacional de Saúde

O Sistema Nacional de Saúde está nitidamente a atravessar uma fase de profundas e evidentes mudanças. O SNS é ou não sustentável? A esta pergunta nem sempre são dadas respostas precisas e claras. Sabemos apenas que os portugueses, em particular aqueles que vivem no interior do país, têm vindo a perder infra-estruturas e recursos médicos fundamentais para a garantia do seu bem-estar. O Governo, na pessoa do ministro da tutela, tem justificado os encerramentos com uma reestruturação que acabará por proporcionar às populações melhores condições no acesso a cuidados médicos. Não se percebe muito bem como é que isso vai acontecer, nem o ministro sabe explicar. Não se admite, no entanto, que populações que vivem longe das grandes zonas urbanas assistam ao encerramento de serviços essenciais ao seu bem-estar; na verdade, está-se a contribuir para a fragilização, e até para a morte lenta de inúmeras regiões do país. Não será despropositado postular que estes encerramentos sejam encarados pelo

Circulação em rotundas: um conceito eternamente incompreendido

É sobejamente conhecida a forma como muitos portugueses conduzem, não é por acaso que Portugal tem um elevadíssimo índice de sinistralidade. Os portugueses e a sua indissociável forma ignominiosa de conduzir constituem uma vergonha nacional. E a circulação em rotundas é o paradigma de uma mescla de chico-esperteza e de um elevado grau de inépcia que caracteriza a condução de vários dos nossos concidadãos. Dir-se-á que em muitos outros países o cenário não será muito diferente, talvez, mas em Portugal o simples conceito de rotunda, por exemplo, não é, com efeito, assimilável. Será assim tão difícil fazer uma simples rotunda? A comparação poderá ser disparatada mas se compararmos a singela circulação em rotundas com o funcionamento do próprio país, podemos vir a ter uma surpresa: tanto num contexto como o outro todos fazem as coisas à sua maneira, sem conhecimento do que estão a fazer, sem se calhar nunca terem pensado sobre o que estão a fazer. Tanto nas rotundas como no funcionamento d

O princípio do fim

Esta semana foi notícia a espantosa quebra do poder de compra dos portugueses, acontecimento verdadeiramente notável tendo em conta que não se verificava uma queda tão acentuada há 22 anos! Esta é daquelas notícias que vem reforçar a ideia de que se vive cada vez pior em Portugal. Ou dito de outro modo, esta notícia é sintomática de um acréscimo substancial das dificuldades que fazem parte da vida de muitos cidadãos deste país, mas nem todos passam por esta experiência. No mesmo dia foi noticiado que os administradores do PSI20 viram as suas remunerações serem aumentadas exponencialmente. A conclusão é simples: as desigualdades sociais têm vindo a crescer, tanto mais é assim quando assistimos a estes desequilíbrios gritantes. As notícias em questão não são inócuas, de facto são mais um exemplo que confirma a existência de dois mundos equidistantes: um, daqueles que vivem com dificuldades e outro, daqueles que beneficiam largamente com este sistema neoliberal. Se por um lado, muitos ass

Portugal e Espanha: parte 2

Num contexto de crise acentuada, muitos procuram uma saída rápida para os problemas, através por exemplo, de uma união com Espanha e consequente perda de soberania; é um pouco a ideia de que somos incapazes de tomarmos conta de nós próprios, e por conseguinte precisamos de alguém teoricamente mais forte para dar um rumo ao nosso país. Não obstante a descrença e ausência de perspectivas que assolam muitos portugueses, a solução não passa seguramente por uma qualquer união com o país vizinho. Existem formas exequíveis de se conseguir unir os três elementos indissociáveis para o tão almejado desenvolvimento do país: a eficácia económica, a salvaguarda das questões sociais e as liberdades próprias de uma democracia pluralista. Ao invés de se insistir num pessimismo que inviabiliza o futuro de qualquer país, seria profícuo que se acreditasse mais em Portugal e nos portugueses, isto num contexto europeu. A União Europeia, da qual fazemos parte, representa uma oportunidade sem precedentes par

Iraque: o reconhecimento do erro

A intervenção militar no Iraque nunca foi bem justificada, é certo, porém o argumento impingido pelos americanos que o regime de Saddam Hussein teria armas de destruição maciça foi o suficiente para convencer muitos. O argumento era oneroso, e após os acontecimentos trágicos do 11 de Setembro, tornou-se relativamente fácil demonizar um país governado por um déspota agitador e intransigente. Apesar da posição unilateral adoptada pelos EUA, sem o aval das Nações Unidas, a guerra foi apresentada ao mundo como sendo uma inevitabilidade. Foi vendida ao mundo uma mentira com consequências dramáticas para o país e para a região. Ora, nestas circunstâncias reconhece-se que as falsidades veiculadas pela administração Bush tiveram uma consequência evidente: o erro, ainda que baseado em mentiras, de todos os que não se insurgiram contra esta guerra, acabando por aceitá-la como sendo uma inevitabilidade. A autora deste texto aceitou, não se insurgiu, errou. A História é rica em episódios que demon

Portugal e Espanha

O descontentamento de muitos portugueses origina as mais variadas reacções: para alguns o estado de apatia é inevitável, outros escolhem formas mais organizadas de manifestarem o seu estado de insatisfação, aderindo a manifestações contra o actual estado do país, e há ainda aqueles, que já não acreditando no potencial do nosso país, olham para Espanha como um novo oásis, e ambicionam assumidamente ou não uma espécie de casamento de conveniência entre estes dois estados. Todos terão um vasto conjunto de razões para criticar o país, contudo, a solução não passará certamente pela tão ambicionada união com Espanha. O estado do país é seguramente preocupante, porquanto o retrocesso do bem-estar dos portugueses é uma realidade indelével para muitos cidadãos deste país. A precariedade do emprego, os elevados níveis de desemprego, a perda de poder de compra e o elevado endividamento das famílias são razões suficientes para justificarem um descontentamento generalizado. E mais, a descrença nos

Lisboa em crise

A situação política em Lisboa atingiu uma gravidade insustentável, nestas condições como é que alguém pode pensar perpetuar a situação de crise política em Lisboa mantendo o actual executivo? O ainda presidente da câmara de Lisboa não soube lidar com o facto de passar a ser mais um autarca arguido. Com efeito, o autarca não percebeu que ao fugir das perguntas dos jornalistas, está também a fugir às interrogações dos lisboetas. Mais do que ser constituído arguido, o problema reside na gestão destes últimos dias: a visita a uma exposição fora do país, as constantes ausências da câmara municipal, a imagem de um autarca que se esquiva às perguntas difíceis, um autarca que tem uma visão míope da política, demitindo-se de prestar esclarecimentos aos cidadãos da capital. Não será com uma conferência de imprensa que a sua imagem melhorará, isto porque, na verdade, o líder da câmara municipal já ficou com a imagem do autarca em fuga. A todo este intrincado processo bragaparques que afecta agora

Emprego precário e a baixa produtividade

O nosso país padece de vários problemas, entre os quais a baixa produtividade comparativamente com outros países europeus. Existe um conjunto de razões que permite justificar essa baixa produtividade: débil formação dos recursos humanos, aplicação de técnicas de gestão absolutamente rudimentares, a ausência de modernização das empresas, etc. Existe, no entanto, uma razão que é, amiúde, obliterada, talvez porque para anular essa razão teríamos de perpetrar profundas alterações na nossa mentalidade. Essa possível justificação está intimamente relacionada com a forma como os recursos humanos são geridos, e indissociavelmente, com as relações entre patrões e os seus funcionários. Infelizmente, o mercado de trabalho caracteriza-se por uma exiguidade que não permite à grande maioria dos trabalhadores uma verdadeira flexibilidade – ou seja, os trabalhadores são reféns de uma conjuntura que lhes é manifestamente desfavorável. Por conseguinte, em muitos contextos, é exigido tudo ao trabalhador,