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A mostrar mensagens de janeiro, 2020

O triunfo da boçalidade

Seria curioso saber o que vai na cabeça de todos aqueles que têm postulado que André Ventura e o seu Chega não são fascistas, agora que o ilustre deputado sugeriu que uma outra deputada (Joacine Katar Moreira) fosse devolvida ao seu pais e depois de imagens de um seu comício em que se vê a saudação nazi perante a passividade do inefável deputado. Isto por altura dos 75 anos de libertação do campo de Auschwitz. Ventura, ele próprio bem capaz de protagonizar episódios verdadeiramente boçais, conta com a boçalidade de quem facilmente se entrega ao fascismo. Sim, o fascismo contará e contou no passado com a complacência e por vezes promoção activa das elites, sobretudo económicas, mas é de natureza boçal e conta com gente igualmente boçal que espera que o líder profira as imbecilidades do costume para as repetir e aplaudir. Tudo na mais conveniente linguagem rudimentar tão habitual no fascismo. Os líderes, esses, julgam fazer parte das elites e enquanto escondem o seu desprezo pelo pov

Lembrar os horrores do Holocausto

75 anos depois da libertação de Auschwitz o mundo ainda não se livrou das ameaças nazis. Há 75 anos o mundo ficou horrorizado com a libertação dos campos, ganhando, muitos pela primeira vez, verdadeira noção da hecatombe humana promovida pelo regime nazi. Seria de se esperar que os horrores do Holocausto não só fossem lembrados como servissem de antídoto a venenos iguais ou similares. E é precisamente isso que não acontece. O mundo  depara-se com extremismos que fazem lembrar os piores tempos da Europa. Muitos assumem as suas simpatias pelo nazismo sem qualquer espécie de pudor. Portugal, embora em menor escala, não é excepção. No caso de persistência de dúvidas, veja-se o que acontece nos comícios de partidos como o Chega, com assento parlamentar. A forma de combater esses extremismos é com mais coragem para combater as imperfeições da democracia, reforçando a própria democracia. A forma de combater esses extremismos é igualmente não deixar que a barbárie seja alguma vez esquec

Do desespero nasceu o "Chicão"

Entronizado como líder de um partido profundamente fragilizado, Francisco Rodrigues dos Santos, conservador, ainda mais do que é costume, conta já com um alargado estado da graça fomentado por uma comunicação social que vibra com novidades à direita, sobretudo com a direita que profere frases como "o país foi tomado pela quadrilha das esquerdas unidas". Francisco Rodrigues dos Santos, ou "Chicão" como também é conhecido, é jovem, um rosto relativamente desconhecido, que promete uma nova direita, neoliberal nas questões económicas e contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, aborto, ou quaisquer questões de género, apologista dos valores da Igreja, talvez em maiores doses do que é costume até para o CDS. As próximas semanas e até meses poderão ser animadores para "Chicão" com uma comunicação social ávida por novidades à direita, o desespero amiúde apenas resulta em mais mediocridade.

Quando o país descobriu Isabel dos Santos

Exceptuando o Bloco de Esquerda, designadamente Francisco Louça, Jorge Costa e João Teixeira Lopes que escreveram o  Livro "Os donos angolanos de Portugal", e a eurodeputada socialista Ana Gomes, ninguém parecia saber que Isabel dos Santos e o regime que a sustentou roubaram descaradamente o povo angolano precisamente para alimentar os luxos e a perpetuação no poder desse mesmo regime. Agora, depois de uma investigação levada a cabo por um consórcio de jornalistas, o país (comunicação social, empresários e alguns políticos) acordou para uma realidade que chegou a servir os seus próprios intentos: com parte de comunicação comprada com capitais angolanos, com empresários vendidos ao dinheiro sujo angolano e com políticos rendidos a uma promiscuidade asquerosa com esse dinheiro, invariavelmente à revelia dos mais elementares direitos humanos - todos fingiam dormir. Os que ousaram falar a verdade eram rapidamente classificados de anti-capitalistas, "malucas" ou r

A esperança que se desvaneceu

O Partido Livre e a candidata Joacine Katar Moreira pareciam estar a dar um contributo positivo para o pluralismo da democracia portuguesa. Pareciam. Ora, a realidade veio mostrar um lado profundamente obscuro daqueles que representam amiúde quem nunca se sentiu verdadeiramente representado. Joacine, depois de muita gritaria que objectivamente não dignifica quem quer que seja, ficou de fora da direcção do partido e o mal-estar continua a ser estar à vista de todos. Há indiscutivelmente uma componente messiânica na postura da única candidata eleita pelo Livre. Pelo caminho percebe-se que o cargo de deputado e a importância de representar sobretudo os tais que nunca se sentiram verdadeiramente representados é pouco importante para a deputada. Pelo caminho percebe-se que quer a deputada, quer até certo ponto o próprio partido, não compreendem o mal que causam à própria democracia. Afinal de contas, a eleição de Joacine representa esperança para quem habitualmente não a tem e o enri

A mediocridade mereceu uma segunda volta

As eleições directas no PSD não decidiram coisa nenhuma, redundando numa segunda volta, desta feita entre Rui Rio e Luís Montenegro.  Tudo indica que Rio, que venceu a primeira volta com 49,44% dos votos, será o vencedor da segunda volta.  Depois de meses marcados por campanhas medíocres de todos os candidatos - dos que querem proteger o que têm; dos querem chegar ao poder que os outros têm; e dos que querem aparecer e ser colocados no mapa da notoriedade - sobram agora mais alguns dias até finalmente se encerrar o assunto. Assim, nada de substancial mudará. O PSD continuará a fazer a oposição que Rio escolheu - indecisa e inconsequente -, com os apaniguados de Passos Coelho relegados para nova travessia no deserto. E se Rio não convence, Montenegro consegue, quase de forma inexplicável, convencer ainda menos. A mediocridade conseguiu mais uma semana para se exibir num partido que se afunda a cada dia que passa. O país merecia melhor.

Somos todos muito verdes, mas...

Não somos propriamente excepção quando advogamos a urgência de mudarmos de vida a fim de evitar os piores cenários. De resto, nenhum partido político, em Portugal, se coloca do lado dos negacionistas. Todavia, quando chega a altura de mostrar trabalho ficamos muito aquém do necessário. Um bom exemplo prende-se com o sector dos transportes. Apostou-se fortemente na construção de auto-estradas e desinvestiu-se na ferrovia, factos também sobejamente conhecidos. O mais surpreendente, porém, é em pleno século XXI, 2020, os transportes colectivos (geralmente públicos) continuarem a ser um parente paupérrimo de um pais que não conhece uma estratégia há largas décadas. Ora, esta é uma incongruência inaceitável. Os transportes colectivos são indispensáveis para qualquer estratégia que se enquadre neste contexto de urgência climática e o que país tem é um interior que não sabe sequer o que são transportes públicos e um litoral, sobretudo as áreas metropolitanas, com transportes decrépitos,

Austrália e uma estranha indiferença

A julgar pela indiferença generalizada que os incêndios sem precedentes na Austrália têm provocado no mundo, julgar-se-ia que o dito país é ainda uma mera colónia distante e sem interesse para a Europa e para os EUA. Não sei explicar a razão dessa indiferença, apenas posso postular que a mesma não se justifica se levarmos em conta a dimensão da catástrofe, Não sei explicar se as temperaturas muito acima do habitual, e ainda a subir, consequência das alterações climáticas, podem de alguma forma justificar essa estranha indiferença. Não sei dizer se a abordagem do próprio primeiro-ministro australiano, defendendo que este é mais um conjunto de episódios que cabem dentro de uma certa normalidade australiana, terá alguma relação com a referida indiferença. O certo é que a comunicação social, europeia e sobretudo americana abordam o assunto de forma desprendida e sem conteúdo,  e nem as imagens de um enorme país tomado pela cor vermelha parece suscitar particular inquietação. Estar