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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2018

O Futuro da Síria

O presente já o conhecemos: o inferno na terra, parafraseando o secretário-geral da ONU, António Guterres. O que não sabemos é o que será da Síria quando as armas se calarem. É compreensível que esta não seja a preocupação a dominar a agenda internacional, desde logo porque o tal inferno de que Guterres falava continua, apesar dos vários ensaios de um cessar-fogo. Todos pensam no presente e ninguém está, neste momento, a desenhar cenários de futuro. De qualquer modo, parece evidente que Bashar al-Assad, com o decisivo apoio de russos e iranianos, sairá vencedor desta guerra indescritível. Bashar al-Assad é acusado de crimes contra o seu próprio povo, alguns dos quais incluem a utilização de armas químicas. A barbárie não terá sido apenas perpetrada por al-Assad, mas ele é indubitavelmente responsável pelos actos mais hediondos praticados contra o povo sírio. Como é que um facínora - o adjectivo será um eufemismo na perspectiva de muitos sírios - pode trazer qualquer espécie de paz

Itália: regresso do fascismo

Camus dizia que o bacilo do fascismo nunca desaparece. Em Itália parece ser exactamente isso que está a acontecer com o recrudescimento dos partidos de extrema-direita e com a resposta da extrema-esquerda e subsequentes confrontos. Com eleições marcadas para o próximo dia 4 de Março e com a extrema-direita bem posicionada para alcançar um resultado histórico, poucos estarão preocupados, pelo menos fora de Itália. Uma vez mais, a UE assiste de camarote ao espectáculo do circo a arder, com o seu ar de superioridade num contexto de manifesta displicência. Recorde-se que no início do mês um membro da extrema-direita disparou contra imigrantes africanos e os partidos da extrema-direita incluindo a Força Itália de Berlusconi ao invés de condenarem os ataques e por aí se ficarem, optaram por responsabilizar os imigrantes pelo sucedido, colocando o ónus nas vítimas ao mesmo tempo que prometeram deportações em massa. Itália vive um clima de acesa crispação, com agressões entre membr

Quando a esquerda repugna

Quando a esquerda ou a direita democráticas repugnam afere-se que quem proferiu tais palavras denota a sua pouca ou nenhuma apetência para aceitar e consolidar essa democracia. Este é claramente o caso de Elina Fraga, aposta de Rui Rui que mantém a sua posição irredutível no que diz respeito à ex-bastonária da Ordem dos Advogados sob suspeita e investigada pela justiça – continua a dar o seu apoio, sem uma única piscadela de olhos. Houve quem procurasse defender Elina Fraga lembrando a inexperiência da agora vice-presidente do PSD. Não se trata de inexperiência, trata-se isso sim de uma visão que é partilhada e que tem mais em comum com os apaniguados do PSD – os mesmos que ainda têm o partido sob seu domínio – do que estes gostariam de admitir. Na verdade, eles têm muito em comum com Fraga, desde logo a começar pela tal visão partilhada e que se caracteriza pela intransigência e por um conjunto de preconceitos que estiveram na base da teoria que postula(va) que a solução governa

Qual ética, qual quê?

Há comportamentos abjectos que ainda se tornam mais abjectos quando adoptados na política. Durão Barroso vem dando fortes contributos, sobretudo agora que "trabalha" para a inefável Goldman Sachs.  Apesar do prometido, lá vemos Durão Barroso, ex-Presidente da Comissão Europeia, deambular pelos corredores dessa mesma comissão para fazer lobby. Nunca é demais recordar que Barroso deu garantias de que não faria lobby junto de Bruxelas. De resto essa promessa serviu precisamente de moeda de troca aquando da investigação que acabou arquivada. Como se vê, Barroso é um homem de palavra. Qual ética, qual quê? Afinal que utilização dá um ser rastejante à ética? Nem saberia o que fazer com ela. Juncker, actual Presidente da Comissão, veio dizer que Barroso não é um gangster. Também neste particular não existem surpresas. Para a Comissão Europeia, como para as restantes instituições, a economia deixou de subjugar à política e esta deixou de se subjugar à ética. Barroso quase

PSD: Ainda agora começou e parece que já está a acabar

Dois dias depois da realização do congresso do PSD as vozes da discórdia fazem-se ouvir, designadamente Luís Marques Mendes e José Miguel Júdice. E se o congresso foi particularmente negativo para o recém-eleito Rui Rio, o dia seguinte não está a ser melhor. Rio eleito para uma liderança de transição, mesmo que obviamente não admitida, não terá qualquer estado de graça, até porque há uma parte do partido que se sente excluído, sobretudo agora que já choraram o desaparecimento do pai Passos Coelho e que estão preparados para virar a página.  Por outro lado, Rio fez as piores escolhas possíveis, designadamente a vice-presidente, facto que terá provocado reacções negativas não só por parte dos apaniguados de Passos Coelho, mas de quase todo o partido. E as explicações estão longe de ser convincentes. As democracias vivem de pluralidade, sobretudo no que diz respeito às escolhas políticas. A fragilidade do PSD não é uma boa notícia, mas não deixa de ser uma consequência directa

Um líder de transição

O futuro não augura nada de bom para Rui Rio e, para tornar tudo pior, Rio fez as piores escolhas possíveis, como é o caso de Elina Fraga - figura contestada por muitos, odiada pelos órfãos de Passos Coelho e até alvo de investigação por parte da justiça. Por outro lado, Luís Montenegro não foi a eleições, mas estará na linha da frente de sucessão. Até lá dedicar-se-á à família e à profissão. Montenegro não quis ser líder do partido num contexto particularmente difícil, designadamente com o sucesso da esquerda e com o consequente esvaziamento do discurso neoliberal do seu partido. Era necessário um líder de transição e Montenegro não estava disposto a desempenhar esse papel. Depois, se esta solução governativa se esgotar, voltará a estar disponível a candidatar-se, pelo país e pelo partido. claro está. O congresso do fim-de-semana passado foi paradigmático da desunião que se vive no partido, fruto do facto de estarem longe do poder e sem perspectivas de o recuperar. Paralelamente,

O congresso da pequenez

O congresso do PSD que serviu para entronizar o líder eleito Rui Rio foi o espelho da pequenez de um partido desorientado por estar longe do poder e, pior de tudo, sem perspectivas de o recuperar. A pequenez do partido é patente na forma como as distritais que apoiaram Rio se mostraram “magoadas” por terem ficado excluídas, nas escolhas polémicas como o caso da inefável ex-bastonária da Ordem dos Advogados, Elina Fraga, nos avisos de quem ainda não foi a eleições, mas parece querer ir agora, como é o caso de Luís Montenegro e na omnipresença de Santana Lopes. Pelo meio, muitos não acreditam nas palavras de Rui Rio a rejeitar a possibilidade de um bloco central. O resto do congresso voltou a pautar-se por mais pequenez, com exercícios repetitivos sempre com José Sócrates na boca de todos. De resto, não há mais nada para além de Sócrates. Não há ideias, projectos ou qualquer coisa remotamente semelhante, apenas tentativas de promover a mediocridade e ignomínia a heroísmo, tudo nu

Uma revolução nas políticas culturais

O Bloco de Esquerda quer ouvir o ministro da Cultura, Filipe Castro Mendes, sobre a demora do Ministério em lançar concursos para financiamentos plurianuais da DGartes, um processo excessivamente longo que contribui para a paralisação das estruturas artísticas. Este Governo deixou cair a secretaria de Estado  da Cultura para recuperar o Ministério da Cultura, prometendo voltar a dar à cultura a tão necessária atenção. O BE recorda que nos últimos dez anos este foi um dos sectores mais fustigados com perdas no financiamento rondar os 50%. O actual Governo, apoiado pelos partidos mais à esquerda, parecia promissor aos olhos dos actores culturais, pelo menos esperava-se mais, muito mais. Na verdade, a diferença entre este Executivo e o anterior parece estar mais relacionada com o regresso ao Ministério da Cultura e talvez com a diminuição na intensidade do desprezo manifestado por esta área do que propriamente com uma aposta séria no sector. Em rigor, esta é uma área invariav

O que vai acontecer ao que resta de Passos Coelho?

Passos Coelho está acabado politicamente e, pior de tudo, quase ninguém está a dar por isso, excepto os seus apaniguados. O congresso marcado para este mês ditará o fim oficial de Passos Coelho, sem lágrimas. Resta uma orfandade que terá votado no adversário do presidente eleito do partido, Rui Rio, saindo também desse particular no papel de derrotados. O seu futuro político é particularmente difícil e existe até quem já se tenha apercebido das dificuldades que se avizinham, como parece ser o caso de Carlos Abreu Amorim, vice-presidente do grupo parlamentar que, não se revendo na "estratégia de Rui Rio", abandona o cargo. Na calha poderá estar também o próprio presidente do grupo parlamentar Hugo Soares, embora Carlos Abreu Amorim considere que a saída do líder do grupo parlamentar não acontecerá. Carlos Abreu Amorim, a par de outros órfãos de Passos Coelho, apoiaram Pedro Santana Lopes que consideravam ser o candidato mais indicado para continuar a trabalho de neoliber

Para onde vai a esquerda II

Perante o claro falhanço das políticas neoliberais em 2008 que se transformaram na norma nos últimos trinta anos, a esquerda voltou a ter uma oportunidade para recrudescer e, sobretudo, para recuperar a sua identidade. Aparentemente essa oportunidade terá sido desperdiçada, pelo menos seria esse o pensamento dominante e o que se depreende dos resultados eleitorais um pouco por toda a Europa. Contudo, surge uma solução governativa de esquerda onde menos se esperava: em Portugal, país fortemente atingido pelas receitas neoliberais que procuram curar os males também eles neoliberais. Essa solução política embora não constitua uma ruptura com as ditas políticas neoliberais, procurando antes um caminho alternativo cujos resultados são, ainda assim, francamente positivos. A solução política cozinhada pelo PS liderado por António Costa, pelo PCP, Bloco de Esquerda e Verdes é indiscutivelmente uma esperança para a esquerda europeia, provavelmente a única esperança, desde logo por se tr

Para onde vai a esquerda?

O acordo na Alemanha entre conservadores da CDU de Merkel e sociais-democratas de Schultz para um governo de coligação pode servir de mote para uma discussão sobre o rumo que o que resta da esquerda tem vindo a adoptar na Europa.  Existe uma estratégia adoptada por vários partidos de esquerda que se resume a uma aproximação excessiva à direita, ao ponto de já nem sequer fingirem que são partidos de esquerda, facto que resultou no enfraquecimento e quase desaparecimento de vários partidos de esquerda, designadamente socialistas e sociais-democratas. Nas coligações como aquela que se repete na Alemanha, assiste-se sobretudo ao esvaziamento dos partidos de esquerda, transformados em excrescências com utilidade irregular - servem para formar maiorias que permitam governar, acabando mesmo por anuir na prossecução de políticas verdadeiramente de direita. A esquerda moderada vai-se tornado irrelevante, muito por culpa própria: aproximação e confusão com a direita, incapacidade de adopta

Nova doutrina nuclear

Donald Trump não cessa de nos surpreender pelas piores razões, naturalmente. Assim, é anunciado um investimento na produção de bombas nucleares com menor potência, como forma de fazer face à Rússia, num contexto de recrudescimento dos perigos nucleares. Uma espécie de regresso aos anos 50 e 60, mas com bombas mais pequenas, mas ainda assim capazes de dizimar entre 70 mil a 100 mil pessoas. E esta doutrina nada tem que ver com as constantes suspeições a envolver Trump e os russos, com favorecimento do primeiro nas últimas eleições. Nada disto serve para desviar atenções. De resto, existe mesmo um relatório americano que dá conta da expansão nuclear russa, pelo menos desde 2010. É por demais evidente que os russos nunca ajudariam Trump a vencer as eleições. Nunca. Um absurdo. "Fake News". Democratas com mau perder. Seja como for, sendo ou não esta uma tentativa de apontar armas à Rússia com o objectivo de limpar a imagem de uma Administração sem pés nem cabeça, o facto

Uma notícia esperada

A notícia que dá conta de que as alterações climáticas estão a dar um forte contributo para secar a Cidade do Cabo, na África do Sul, não será propriamente uma novidade que espanta o mundo. Nem tão-pouco o facto de existir uma metrópole a ficar sem água - amanhã e não daqui a cinquenta anos - não pode deixar o mundo de boca aberta. Todos sabemos que o impacto das alterações climáticas é real e está já a sentir-se. Haverá quem ignore esta realidade e outros, por razões sobretudo económicas, procurem descredibilizar quem chama a atenção para estes factos, mas a realidade impera e abate-se já sobre nós. É certo que os problemas de água da Cidade do Cabo não são apenas consequência das alterações climáticas, já que a incapacidade de resposta política e falta de organização política terão dado os respectivos contributos, o que não invalida ou enfraquece o impacto da seca - facto que se prolonga por três anos. E segundo vários especialistas essa seca não só se transformará na normalidade

Centeno cai nas malhas de um não-assunto

Uma comunicação social decadente, um Ministro que tem dado nas vistas pelas melhores razões, o desespero de uma certa direita e uma Justiça que parece não se querer livrar do descrédito que a ensombra. A receita para um não-assunto se transformar no assunto do dia, da semana e do mês. Refiro-me ao não-caso envolvendo o ministro das Finanças e bilhetes para um jogo do Benfica, alegadamente no sentido de Mário Centeno favorecer pessoas ligadas ao Benfica através de uma isenção em sede de IMI. E nem o facto de Centeno não lidar directamente com estes assuntos impediu e impede a comunicação social de se aproveitar, mesmo sabendo que têm uma mão cheira de nada. À comunicação social decadente juntam-se alguns políticos que levantam a voz se alguém comprar uma barra de chocolate com dinheiros públicos, mas remetem-se ao silêncio no que diz respeito à grande corrupção, aos paraísos fiscais, chegando a promover uma desregulação sem pudor que resulta em prejuízos incomensuráveis para os contr

Primeiro discurso do Estado da União

Donald Trump fez o seu primeiro discurso do Estado da União. Altivo, cheio de si próprio e alheio ao facto de ter as mais baixas taxas de popularidade de que há memória, Trump decidiu proclamar um "novo momento americano", facto difícil de refutar: os EUA atravessam um momento novo, diferente, pior. O Presidente americano não se coibiu de proferir um quantidade inusitada de auto-elogios. Aparentemente, e segundo Trump, a economia americana só vai bem graças ao seu trabalho que começou há pouco mais de um ano. De resto e já que estamos numa de reclamar responsabilidades, importa dizer que, a julgar pelas palavras de Trump, a vitória contra o Daesh no Iraque e na Síria deve-se, evidentemente, a Donald Trump. Dito por outras palavras, o discurso do Estado da União foi mais uma oportunidade para o Presidente americano mostrar o seu vazio e egocentrismo. Assim como se tratou de uma nova oportunidade para se perceber como Trump contribui para a desunião, mesmo que tenha afir