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A mostrar mensagens de dezembro, 2018

Cristas e a oposição que se agarra ao que pode

Assunção Cristas representa a oposição que se agarra ao que pode, a oposição do vale tudo, a oposição do desespero. Rui Rio, líder do PSD, prefere outra estratégia, mais contida, menos desesperada, mas que, por sua vez, desespera boa parte do partido, a parte que ainda chora o desaparecimento de Passos Coelho e da sua ideologia de pacotilha acompanhada pelos negócios tradicionalmente obscuros. Enquanto Rio evita a politiquice de trazer por casa, Cristas abraça-a com gosto. A propósito da queda do helicóptero do INEM, Rui fala de insegurança e ensaia algumas acusações ao Governo. Tenta. Em vão.  Cristas, por sua vez, anda pelo país a exibir cartazes alertando para os perigos das estradas, ela que fez parte do Governo Passos/Portas que desinvestiram em tudo e mais alguma coisa, com poucas excepções (as do costume). A solução política congeminada por Costa com a restante esquerda vai funcionando, com o beneplácito do Presidente da República, convenientemente para ele próprio, o q

Habituados a esticar a corda

Importa antes de entrar no assunto dos deputados-fantasma, referir que a maioria não terá os comportamentos pouco ou nada éticos que perpassa toda a comunicação social. No entanto, existe quem, sem qualquer espécie de pudor até por estar habituado a esticar a corda - a paciência dos cidadãos -, consiga estar em dois lados ao mesmo tempo, deixando deuses roídos de inveja. Agora é a vez de um deputado do PS, Nuno Sá, que passou um dia em Famalicão, primeiro em visita a uma fábrica e depois, com a família, a assistir a marchas, e ao mesmo tempo esteve no Parlamento. Pelo menos é o que o deputado garante, mesmo perante os seus posts no Facebook a documentar o dia passado em Famalicão e mesmo perante a ausência de imagens do deputado no Parlamento. Ainda assim, Nuno Sá afirma que abandonará o cargo caso seja confirmada alguma irregularidade, apesar da inexistência de diligências para aferir ou não essas irregularidades. Mais: no princípio deste ano, Carlos César, Pres

Maria Begonha

Trata-se da nova secretária-geral da Juventude Socialista, eleita este fim-de-semana com 72 % dos votos. A notícia não aparenta conter em si mesma qualquer coisa de extraordinário, exceptuando talvez o facto de Maria Begonha ser a protegida de Pedro Nuno Santos, provavelmente o maior representante da ala esquerda do Partido Socialista. De resto, esse forte pendor de esquerda é patente no programa encabeçado pela nova secretária-geral: Propina Zero; mais e melhores direitos laborais; defesa da possibilidade de morte medicamente assistida; nacionalização das infraestruturas dos sectores energéticos; fim dos apoios públicos à tauromaquia. Trata-se por conseguinte de um programa mais à esquerda do que é aplicado pelo actual Executivo que, quanto resvala para esse lado do espectro político, é por força de PCP e BE. Maria Begonha, a nova líder da JS, é a continuação política de Pedro Nuno Santos. próximo de António Costa, mas distante de parte do Partido Socialista, representante da

"Um país rico não pode ter trabalhadores pobres"

A frase em epígrafe foi proferida por Pedro Sánchez que anunciou uma subida no salário mínimo de 22%, a maior desde 1977. O que esta frase significa é, no essencial, o reconhecimento que o desenvolvimento dos países não pode ser feito à custa da disseminação da pobreza; o que esta frase tem implícito é o risco que as sociedades correm se deixarem essa pobreza grassar. Sánchez percebeu isto; Macron ainda não, embora, por força das manifestações dos coletes amarelos, tenha vindo a anunciar o aumento do salário mínimo em cem euros. A pobreza hoje não se fica naquelas franjas mais fragilizadas da população, hoje essa pobreza toca e ameaça atingir o que é considerado a classe média. Os salários baixos, estagnados e sem perspectivas de aumentar, o desemprego e a precariedade, aliados ao constante enfraquecimento do Estado Social, está a acordar essa classe média, com consequências que os franceses vão começando a compreender melhor. Quem aproveita ou até certo ponto promove esse despertar

Há muita gente zangada

O simplismo da frase em epígrafe não lhe retira qualquer força - há muita gente zangada e há quem, naturalmente, tenha a capacidade de se aproveitar disso mesmo. Há muita gente zangada e com razão: o neoliberalismo vigente criou e agravou as iniquidades, a UE veio ajudar à festa com políticos pró-garrotes e com pouco conhecimento do seu semelhante e agora potências como a China dominam o mundo e com isso levam recursos que antigamente se concentravam apenas nos EUA e na Europa. Os políticos sem soluções e rendidos ao neoliberalismo vigente, incapazes de explicar que os anos de ouro da Europa e EUA já passaram, são o alvo de tanta gente zangada. A isto acrescente-se o ódio à mínima diferença e o cenário fica completo. Foi assim nos EUA com a eleição de Donald Trump, foi assim no Brasil com Bolsonaro, mas também é assim na Europa, com Hungria, Polónia, em Itália e começa a ser em Espanha. Em França tudo concentra-se ainda numa revolta popular, sem líderes, mas particularmente for

Morte e chantagem

A bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, admite, como quem não quer a coisa, mas que lhe dava jeito dava, que a greve dos enfermeiros aos blocos operatórios pode "potenciar mortes de doentes", para depois procurar amenizar a conversa com o reconhecimento de que a exaustão dos enfermeiros aumenta esse risco.  Ou seja, Ana Rita Cavaco, defende essa greve, mesmo que ela possa causar mortes evitáveis. É claro que essas mortes não acontecerão se o Governo aceitar as reivindicações dos enfermeiros. Não discuto sequer a legitimidade dos enfermeiros, que me parece de resto óbvia, ponho em causa - e de que maneira! - esta forma ignóbil de levar a cabo uma luta. De um modo geral, essa mesma luta perde sim força quando quer andar de mãos dadas com a morte.  Ana Rita Cavaco ultrapassou uma linha vermelha. Espera-se uma profunda reflexão sobre estas ameaças mais ou menos veladas, a começar pelos próprios enfermeiros que escolheram lamentavelmente esta bastonária para

E depois dos protestos?

Os franceses continuam a sair às ruas, munidos dos já mais do que famosos coletes amarelos, mesmo depois de alguns recuos de Emmanuel Macron. Agora a palavra de ordem é demissão. Muito bem. E depois? Quem está na linha da frente para ocupar o Eliseu? Marine Le Pen? Estas são as questões centrais. Quando as reivindicações redundam num clamoroso e uníssono pedido de demissão, importa perguntar para quê; importa refletir sobre o dia seguinte a essa demissão. Para já Macron reúne-se com sindicatos, patrões e autarcas, mas não com a liderança ou líderes dos protestos porque não existirem. Mas as cedências – a existirem mais para além das anunciadas – nunca irão responderão, na totalidade ou perto dela, às exigências de quem protesta. E depois? De resto, as políticas de Macron, à direita e limitadas pela moeda única, não poderiam ter um desfecho mais feliz para o presidente francês, o que não elimina as ditas grandes questões relacionadas com o futuro da França, com a Marine Le Pen a

PSD: casa onde não há pão

Casa onde não há pão - leia-se poder - todos ralham e ninguém tem razão. Cinjo-me estritamente ao domínio da política partidária e refiro-me, naturalmente, ao PSD. A falta de pão e a subsequente fome é a causadora de todas as zangas. Rui Rio nunca prometeu abastança, mas talvez poucos acreditassem que o partido ficasse arredado do poder e sem perspectivas de vir a recuperá-lo. Muitos ainda acalentam a esperança num regresso de Pedro Passos Coelho, até porque, esse sim, matou a fome a muita gente no partido, enquanto, paradoxalmente, criava as condições para que a fome regressasse um pouco por todo o país. Com efeito, a falta de poder e sobretudo a angústia de saber que esse poder está longe do partido, põe toda aquela gente à beira de um ataque de nervos. Senão vejamos os acontecimentos dos últimos dias: "Assessor do PSD insulta Presidente e Teresa Leal Coelho repreende-o", prometendo medidas draconianas para regular a utilizar das redes sociais. Neste caso, o

Eles que andaram tão ocupados

Eles, os líderes europeus, passaram anos ocupados com processos de humilhação de Estados-membros acusados de não cumprirem as regras draconianas impostas por países como a Alemanha. Eles, líderes alemães, franceses, holandeses e quejandos passaram anos a apontar o dedo a alguns Estados-membros, salvando bancos e deixando os cidadãos em perfeita agonia, ignorando olimpicamente as causas da crise que deixara de ser do sistema financeiro para passar a ser dos dívidas soberanas. Alheio ao facto acima descrito, Macron insiste nas mesmas receitas neoliberais que estiveram subjacentes às humilhações que deixaram alguns políticos tão entretidos. Alheio às necessidades do povo que governa, Macron pavoneia-se como se não havendo pão, restassem os famigerados brioches. Agora, perante as maiores revoltas desde o Maio de 68 Macron mete o rabinho entre as pernas e recua nas medidas que deram origem aos protestos. No entanto, e como é evidente, quem se manifestou tem outras reivi

Onde queremos a Europa?

A questão já não se prende tanto com que Europa queremos, mas passou a ser sobretudo onde queremos a Europa. Num contexto caracterizado pelo enfraquecimento dos EUA, com evidente perda de hegemonia, e agora nas mãos de um tiranete, marcado também por uma Rússia à procura de recuperar tempo e espaço perdidos e ainda com a China que alcançou a hegemonia económica e que consegue conquistar o mundo se disparar um único tiro, onde fica a Europa? Onde se posiciona o velho continente? E, designadamente, onde fica a União Europeia? Depois de ter feito tanto para minar o projecto europeu e o anódino sentimento de pertença dos cidadãos à Europa (das humilhações), a Alemanha aparece agora como uma potência europeia politicamente enfraquecida, com e sem Angela Merkel, sob a ameaça constante de um ressurgimento da extrema-direita. O Reino Unido passou a ser carta inexoravelmente fora do baralho europeu, e a França, com uma economia demasiado dependente da UE, embora finja o contrário,

França: entre o purgatório e o inferno

Os franceses encontram-se presos entre o purgatório e o inferno, ou seja entre Macron e as suas políticas neoliberais, mesmo que pintadas com a cor verde, e a extrema-direita que deixou de espreitar pela esquina para se mostrar orgulhosamente disposta a tomar conta do país. Ora, as manifestações levadas a cabo pelos “coletes amarelos”, primeiro devido ao preço dos combustíveis, depois por causa de outras razões – na sua maioria resultantes do já referido neoliberalismo – põem a nu as escolhas com que os franceses se deparam. Este dilema, a que o desaparecimento da esquerda em França não é alheio, poderá servir os interesses de Macron que sabe que dificilmente os franceses querem, de facto, ser governados pela extrema-direita xenófoba e sem qualquer espécie de soluções para os problemas económicos, mas entalada num estranho e anódino misto entre neoliberalismo e proteccionismo – numa espécie do pior dos dois mundos. De resto, num cenário de segunda volta para as eleições presidenc