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O futuro dos partidos políticos


As eleições para a Câmara Municipal de Lisboa tiveram o dom de revelar, uma vez mais, a tibieza que caracteriza o espectro político português. A abstenção elevada e a confiança, através de uma votação significativa, depositada nas candidaturas independentes indicam um enfraquecimento dos próprios partidos políticos. Por consequência, não será precipitado asseverar um futuro menos promissor para os mesmos.


As eleições em Lisboa são sintomáticas de um distanciamento acentuado entre cidadãos e partidos políticos; aliás, não se trata da primeira vez, esse afastamento tem sido recorrente nos últimos anos, e o exemplo das últimas presidenciais – com Manuel Alegre a conseguir um resultado notável – não pode ser displicentemente analisado.

O desconforto que os cidadãos sentem em relação aos partidos políticos não é propriamente novidade. O que é, de facto novidade, é a rapidez com que tudo tem acontecido. De resto, os eleitores lisboetas penalizaram severamente os partidos políticos:

- O PS, apesar de ter ganho a Câmara, ficou muito aquém do que ambicionava – a eleição de apenas seis vereadores é manifestamente escasso para uma governação facilitada;

- A derrota do PSD terá consequências que extrapolam o mau resultado alcançado em Lisboa;

- O CDS-PP foi um dos grandes derrotados destas eleições;

- O PCP não terá conseguido um resultado muito positivo, apesar de ser o partido que sofreu uma punição menos austera;

- O Bloco de Esquerda atingiu o objectivo da eleição de um vereador, mas esteve longe de resultados do passado.

De facto, no cômputo geral, os partidos perderam muito mais do que dão a parecer nestas eleições intercalares. E a responsabilidade é exclusivamente dos próprios partidos políticos que se recusam a abdicar do hermetismo que os caracteriza. Ora, as querelas partidárias, as lideranças débeis, os interesses político-partidários, a falta de transparência e a mais do que evidente falta de qualidade de quem integra os partidos afasta indelevelmente os cidadãos dos destes. A isto acrescente-se uma crise que continua a estar longe de ser debelada por quem tem responsabilidades políticas – apesar das promessas eleitorais – e o resultado é invariavelmente este: um futuro cada vez mais difícil para os partidos políticos.

A crise da democracia representativa teve mais um ponto alto nestas eleições de Lisboa, mas não será certamente um processo irreversível. Convém relembrar que os partidos políticos são um dos pilares da democracia e, consequentemente, a sua importância não pode ser posta em causa. Todavia, quando são invariavelmente as mesmas figuras sem qualidade a integrarem esses partidos, não se pode pedir aos cidadãos outra coisa que não seja a manifestação do seu desagrado em tempo de eleições. Talvez ajudasse à viabilidade dos partidos que se abrissem à sociedade e que deixassem de ser meros centros de emprego para as vaidades do costume.

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