
A posse de um cartão de militante do partido político que está no Governo ganha uma importância sem precedentes para quem quer trabalhar na intrincada administração pública. Não é exagero asseverar a importância desse cartão tendo em consideração os lamentáveis casos com que o Governo na sua ufana omnipotência nos presenteado. E mais: esse cartão de militante tem de vir acompanhado pela indissociável fidelidade ao “chefe”. Só assim se pode explicar o afastamento da directora de um centro de saúde de Vieira do Minho por suposta falta de competência, ou seja, por falta de fidelidade. A alegada complacência da mesma directora para com uma fotocopia visando o ministro da Saúde não foi mais de que um pretexto para afastar quem não pertence ao partido e havendo, assim, lugar para o fiel militante do PS.
Não se admire pois que o afastamento entre cidadãos e políticos seja um facto consumado. Na verdade, este Governo tem errado de modo dúplice: por um lado, não permitindo críticas, opiniões diferentes da cartilha do Governo ou o recurso ao humor para se criticar o Governo; por outro lado, há uma proliferação premeditada de pessoas com ligações ao partido do Governo na ocupação de cargos estratégicos da administração pública. É natural que assim seja, tendo em conta a ausência de tolerância de um Governo que interpreta a maioria absoluta que conquistou como sendo uma espécie de carta branca para aplicar as suas políticas e não só.
Estes novos iluminados crêem, sem quaisquer resquícios de incerteza, que têm uma missão a cumprir. E que todos os que se colocam no caminho destes novos iluminados devem ser invariavelmente afastados. E nem o repúdio dos cidadãos os assusta, isto porque contam com a condescendência de muitos eleitores. As sondagens reflectem um país ainda meio adormecido ou desinteressado que premeia o actual Governo com a sua intenção de voto, não obstante a postura autoritária e calculista do Governo.
Com efeito, e paradoxalmente, assiste-se a uma catadupa de críticas ao Governo em particular, e aos políticos em geral, mas simultaneamente o Governo, apesar de altos e baixos, vai sendo avaliado positivamente por uma larga maioria de portugueses. Talvez isto se explique com a existência de uma oposição anódina, com uma comunicação social inconsequente e com o sentimento mais ou menos generalizado de que, apesar de tantas incongruências, este Governo ainda é o mais capaz de governar o país. O já referido descrédito da classe política pode, em parte, explicar este facto. É um pouco a ideia, tantas vezes repetida, de que são todos iguais e talvez este (Governo) seja menos mau. Infelizmente, este é um péssimo sinal do estado do país. E a responsabilidade não é exclusiva dos políticos, os cidadãos potenciam esta situação com a sua invariável passividade.
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