
Não, não se trata de mais um texto sobre monumentos, por muito que estes mereçam umas palavras enaltecendo a riqueza do património português. Trata-se apenas de dissertar sobre as sete maravilhas que caracterizam o país. Deste modo se utiliza ironicamente o conceito do concurso para a eleição das sete maravilhas para criticar assim mordazmente o estado do país. Depois desta pequena introdução, as sete maravilhas de Portugal são:
- A Educação nas suas intermináveis contradições, com a presença assídua do facilitismo disfarçado como sendo consequência inevitável da massificação do ensino. Educação que continua a estar desfasada do desenvolvimento do país. Educação que não reúne consensos, vingando antes os antagonismos fomentados por governantes desprovidos de sensatez.
- A Justiça que perpetua a sua morosidade e ineficácia. Justiça que constitui um obstáculo ao investimento e que contribui para o atraso estrutural do país. Intrincada, afastada dos cidadãos e longe de servir o interesse comum. Malfadada a hora que qualquer cidadão tenha de conhecer de perto o dédalo da Justiça.
- Crise financeira que se arrasta há demasiado tempo e que parece infindável. Esta é uma maravilha que os portugueses conhecem de perto. Foi preciso “apertar o cinto”, agora é preciso paciência. Entretanto a qualidade de vida dos cidadãos deste país conheceu um retrocesso assinalável.
- O “chico-espertismo”, uma característica indissociável deste pequeno país, marca que é transversal a toda a sociedade – desde a fuga aos impostos até à nomeação para um alto cargo da administração pública – partindo do pressuposto que é este o paradigma de todas as governações, e que é, portanto aceitável –, o “chico-espertismo” é uma mais uma maravilha portuguesa.
- A altivez da classe política que olha para o povo como quem olha para a inferioridade, e que graças à sua condição de inferioridade, o povo precisa de ser governado com o autoritarismo que caracteriza os incompetentes. É também por causa desse atestado de menoridade passado ao povo português, que quem está na mó de cima (leia-se no Governo) não necessita de prestar contas aos cidadãos. Apenas o faz, quando o faz, por altura de novas eleições.
- A auto-comiseração de um país que passa o tempo a lamentar a sua triste condição, e paradoxalmente, pouco ou nada faz para sair dela. Um país que se deixa encantar por políticos que prometem o progresso, mas para o conseguirem – se é que o vão conseguir – sacrifica os mais fracos e desprotegidos. Um país que se deixa embalar pelo discurso da inevitabilidade das pseudo-reformas impostas pelo actual Executivo – sem que haja uma inquietação generalizada relativamente a um Governo omnipresente e omnipotente, a menos que, de alguma forma, sejamos atingidos pela infindável arrogância das políticas e da postura deste Executivo.
- E finalmente, mas não menos importante, a maravilha que se chama Saúde. Considerado por todos os políticos como um monstro com custos incomportáveis, mas ao invés de se procurar uma gestão mais eficaz, vende-se ao desbarato aquilo que possa alimentar a gula aos privados. E mais grave: a ausência de humanidade a que se assiste de cada vez que se recorre a um serviço de saúde público começa a ser uma marca indelével da Saúde. Sendo desta forma insofismável a existência de dois tipos de cidadãos – aqueles que podem recorrer a serviços, amiúde, privados de qualidade; e aqueles que são tratados de forma pouco condigna nos inefáveis serviços públicos.
Estas são as sete maravilhas de um Estado-membro da União Europeia que se vai afastando, a passos largos, da restante Europa, e cujos cidadãos vão vendo o seu futuro comprometido e adiado… indubitavelmente adiado. Note-se que a ironia que acompanha este texto é um recurso considerado ignominioso por quem nos governa. Espera-se, por conseguinte, não ferir as susceptibilidades do costume.
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