Avançar para o conteúdo principal

Anti-americanismo


O 11 de Setembro parecia indiciar um período de solidariedade e de acalmia em relação aos Estados Unidos. No entanto, a intervenção militar dos EUA no Iraque revelou ser um argumento utilizado para manifestar um anti-americanismo latente. Na verdade o anti-americanismo sempre esteve presente na mente de uma certa esquerda, a intervenção no Iraque limitou-se a potenciar e a inflamar esse anti-americanismo. A retórica de um presumível imperialismo americano e subsequente tentativa de dominar o mundo marca a proliferação de um ódio endémico aos EUA.

Poder-se-á discordar das razões que subjazem à intervenção militar no Iraque, poder-se-á lamentar esta decisão americana que custa diariamente demasiadas vidas, poder-se-á igualmente ter dúvidas relativamente a uma solução para a pacificação do Iraque. Contudo, a discórdia em relação a este conflito não justifica os impropérios, o desprezo, ou o ódio pelos americanos e pelos EUA. Nem tão-pouco sustenta a tese aventada por muitos de que os americanos, na sua maioria, padecem de uma espécie de indigência intelectual colectiva.

É sempre interessante discorrer sobre a tese de um país composto por ineptos, que ainda assim e paradoxalmente é a maior potência económica do mundo. A Administração Bush cometeu erros – a intervenção militar no Iraque, Guantanamo, e mais recentemente a comutação hipócrita da prisão de um membro do staff do vice-presidente, etc. –, são acontecimentos lamentáveis e alguns dos quais têm consequências indeléveis. Porém, o anti-americanismo exibido por alguns intelectuais do mundo Ocidental raia o discurso fundamentalista que caracteriza determinados grupos terroristas.

Refira-se a total inversão de valores e de princípios de quem propala o anti-americanismo mais primário chegando ao ponto de se defender a discriminação das mulheres em alguns países, e espante-se, chegando ao ponto de compreender o terrorismo de natureza islâmica, encetando, assim, um processo de inevitável de justificação desse mesmo terrorismo.

Em bom rigor, note-se que os apologistas do anti-americanismo são, em larga medida, hipócritas no sentido em que criticam os americanos, mas são, ironicamente, ávidos consumidores dos produtos americanos – filmes, literatura, vestuário, bebidas, tecnologia, etc. Há algum tempo atrás chegou-se ao ponto de se avançar com uma teoria obtusa em que a responsabilidade do 11 de Setembro seria de um conluio Texano-Sionista. Esta teoria alimentou a ânsia de muitos em criticar e manifestar o seu ódio pueril pelos EUA.
Em suma, a imagem dos Estados Unidos foi severamente afectada pelos erros da actual Administração, mas daí a difundir-se um ódio primário pelos EUA é um exacerbamento injustificável. Talvez se, num possível cenário, a China, por exemplo tomasse o lugar dos EUA como super potência, haveria então motivos para regozijo. Espera-se, porém, que o mundo continue a caminhar no sentido do multipolarismo.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...