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A crise da direita portuguesa


A direita está a atravessar, de facto, um período de alguma instabilidade e de crescente incerteza relativamente ao futuro do PSD e do CDS-PP. No entanto, a crise só é mais evidente à direita, porque na verdade à esquerda o cenário não é muito melhor. As eleições de Lisboa vieram pôr a nu a fragilidade dos partidos políticos. Consequentemente, é mesmo possível falar-se numa crise político-partidária que é transversal a todo o espectro político português.
Porém, é o PSD e CDS que estão na ordem do dia, após o descalabro das eleições autárquicas de Lisboa. No PSD não parece haver verdadeiras alternativas ao actual líder Marques Mendes e no CDS Paulo Portas continuará a liderar um partido que começa a percepcionar o seu crescente apagamento. Na verdade, os partidos políticos estão vazios de ideias, de gente nova e livre de interesses e de palmadinhas nas costas; os partidos são meros receptáculos de seguidismo e de bajulação.
É sobejamente conhecida a principal razão que explica o apagamento dos principais partidos de direita – a adopção de políticas liberais por parte do Governo e o consenso mais ou menos generalizado da importância dessas medidas. O PS ocupou um espaço tradicionalmente ocupado pela direita. A saída extemporânea de Durão Barroso constituiu, com efeito, mais um elemento negativo para direita, e após a presença inaudita de Santana Lopes no cargo de primeiro-ministro a direita portuguesa perdeu o rumo. Alias, a direita e a esquerda alimentam um jogo de ilusão tentando passar a mensagem de que os seus partidos ainda têm algum rumo.
O jogo político-partidário atingiu, lamentavelmente, um ponto de saturação que se reflecte nos actos eleitorais, na preponderância dos movimentos independentes, nas elevadas taxas de abstenção, no desinteresse generalizado. No contexto em que vivemos, a política ganha nova importância, caso contrário assistiremos ao triunfo do capitalismo mais selvagem. Os partidos políticos são representantes directos da soberania do povo e devem defender os interesses de quem os elegeu. E não insistirem na defesa de interesses mais ou menos obscuros que nada têm que ver com o interesse geral.
Deste modo, existem razões para que os partidos se preocupem com a sua viabilidade, mas essa preocupação deve estender-se ao comum dos cidadãos na medida em que são os partidos políticos que procuram equilíbrios que de outra forma não existiriam. Assiste-se certamente a uma panóplia de problemas no seio dos partidos políticos, no entanto, a sua importância é inquestionável. A sua capacidade de renovação será determinante para o futuro do país.

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