
A Festa do PCP escolheu este ano como bandeira a celebração dos 90 anos da revolução russa. Não será propriamente razão para grandes admirações, mas ainda assim é assunto que merece algumas palavras. Fará todo o sentido o PCP, de matriz marcadamente marxista-leninista, festejar e dedicar a sua festa à revolução russa. Não deixa, no entanto, de ser curioso evocar-se uma revolução cujos resultados são aqueles que todos conhecemos.
A revolução russa de Outubro de 1917 não deu ao mundo os pilares para a construção de uma sociedade mais justa, aliás, os pilares dessa revolução soçobraram com a queda do muro de Berlim e com o inevitável fim da União Soviética. De qualquer modo, a Festa do Avante vai proporcionar aos seus visitantes um regresso, carregado de saudosismo, ao passado. O PCP propõe-se fazer uma exposição sobre a revolução, enaltecendo desta forma os 90 anos da revolução. É certo que muitos aspectos dessa revolução ficarão de fora da exposição. Ou será que as perseguições políticas, os gulags, os assassinatos, o totalitarismo, o terror vermelho, a intolerância e a mais abjecta ausência de liberdade também vão celebrados?
O rigor histórico vai seguramente ser preterido em nome de uma ideologia caduca e anacrónica. Para além do saudosismo assumido do PCP, ainda hoje verificamos como este partido toma posições que chocam amiúde com as liberdades – curiosamente, é o mesmo partido que apregoa, internamente, essas mesmas liberdades. No entanto, não se coíbe de apreciar o estilo de Chavez, ou as posições da Coreia do Norte e continua a achar que Cuba é, em última instância, um modelo a seguir.
No plano interno, a retórica é invariavelmente a mesma, sem que haja uma consonância com a realidade em que vivemos. Se há uma conclusão a retirar do fim da União Soviética e do seu modelo comunista é que o mesmo esgotou-se, e constitui mesmo um projecto falhado, à custa de milhões de vidas. A recusa cega em aceitar isso, e mais grave, a insistência em celebrar tempos idos que não merecem qualquer celebração constituem um anacronismo voluntarista.
Assim, a Festa do Avante está para breve e promete não fazer esquecer a revolução russa de 1917 – grande parte do mundo já ultrapassou esse acontecimento e tenta olhar para o futuro, aqui entre nós, prefere-se olhar para um passado que não deixa saudades. De qualquer modo, aqueles que vão à festa pela música terão oportunidade de ver concertos dos Sons da Fala, Blasted Mechanism, Blind Zero e Sam The Kid, entre outros.
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