
O triste episódio dos idosos de Cabeceiras de Basto vem dar mais um contributo para o cenário desolador da política em Portugal. A excursão até Lisboa de um grupo de idosos, pretensos apoiantes do Partido Socialista não é apenas mais um sinal da artificialidade que impregnou a política em Portugal; é, essencialmente, sintomático de uma completa ausência de rumo dos partidos políticos e da crescente clivagem entre eleitores e partidos políticos.
As televisões mostraram o deprimente episódio de um grupo de supostos apoiantes de António Costa cujo contributo seria o de levantar bandeiras do PS e contribuírem para a ilusão de um partido cheio de vitalidade. Tudo isto torna-se ainda mais inaudito quando se percepciona a confusão dos idosos, muitos deles sem saberem exactamente quem era António Costa e qual tinha sido o propósito da excursão. Não será exagerado inferir que existiu uma mais do que evidente utilização abusiva de pessoas para servirem os intentos festivos de um qualquer partido político.
O futuro dos partidos políticos poderá passar por mais episódios desta natureza? Não seria causa de grande admiração se assim fosse; deste modo, os partidos serão forçados a recorrer a expedientes que impregnam a política de artificialidade. Por outro lado, a abstenção elevada das eleições de Lisboa é um mau presságio para a democracia representativa. Invocar-se-á uma panóplia de razões que permitem justificar a abstenção – férias, natureza das eleições, número excessivo de candidatos, etc. –, contudo, o que é inequívoco é que estas eleições representaram o afastamento crescente entre eleitorado e partidos políticos.
O episódio dos idosos de Cabeceiras de Basto, chamemos-lhe assim, é a confirmação da crise que atinge transversalmente todo o espectro político português. Quem assistiu àquelas imagens de idosos confusos não pôde deixar de sentir que o futuro dos partidos políticos será caracterizado pela incerteza, sendo que o presente já é caracterizado pela perda total do sentido de ridículo. De igual modo, o PSD e CDS-PP atravessam um período de acentuadas dúvidas, o que vem ainda adensar mais o clima de crise dos partidos políticos.
Efectivamente, a extenuação dos cidadãos tomou conta das eleições de Lisboa, e traduziu-se, naturalmente, na elevada abstenção. Responsáveis? Os partidos políticos que vivem cegos pela sua altivez. A sua incapacidade de acompanhar as transformações que se verificam em todos os planos, menos no plano político. A fuga de alguns, a incapacidade de outros, a arrogância de muitos, a inépcia de quase todos comprometeu a coexistência salutar entre partidos políticos e cidadãos.
Contudo, não é tarde para inverter esta situação preocupante; mas para isso é crucial uma abertura dos partidos aos cidadãos e uma reestruturação dos partidos políticos. Talvez seja mesmo necessário uma mudança radical na composição dos partidos. Diga-se, em abono da verdade, que a extenuação das pessoas é sentida, em particular, em relação aos políticos que se arrastam de cargo para cargo, perpetuando vícios e a já costumeira indigência intelectual.
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