Avançar para o conteúdo principal

Indisciplina nas escolas

Dias após o surgimento de um vídeo mostrando a famigerada aluna em confronto com a sua professora, é agora a vez de se procurarem as causas subjacentes à indisciplina nas escolas. Nestas discussões, há invariavelmente lugar a exageros de interpretação. Somos, de facto, incapazes de analisar serenamente as situações.
Há quem invoque uma multiplicidade de razões que poderão estar na origem do malfadado comportamento da aluna e dos seus colegas: a inversão de valores, a falta de autoridade dos professores, a displicência dos pais, a existência de uma sociedade inane e consumista ou o estatuto do aluno. É bem possível que todas estas razões sejam indissociáveis do problema da indisciplina e violência nas escolas.
Quando se pretende solucionar um problema, importa que se procure o que está subjacente a esse problema. Se por um lado, há possíveis causas exógenas à escola, que implicam maiores dificuldades ou incapacidade de resolução; por outro, importa que se resolvam as causas endógenas, designadamente o estatuto do aluno, ou outros artifícios que visam escamotear a realidade e que mais não fazem do que perpetuar e agravar situações que sempre existiram.
Em suma, é fundamental que se olhe para a realidade das escolas, e só depois dessa análise, se procurem soluções para o problema em questão. Urge que se interrompa o mau hábito de tudo decidir em gabinetes à margem da realidade no terreno. É o caso do estatuto do aluno, mais uma infeliz medida do Governo de José Sócrates.
É curioso verificar como a comunicação social abandonou o tema da avaliação dos professores, passando agora para a indisciplina nas escolas. De qualquer modo, o ministério da Educação continua a ser alvo de fortes críticas, desta vez por causa do estatuto do aluno. O ministério, na pessoa de Valter Lemos, secretário de Estado, não tem feito o melhor trabalho na explicação que tem dado sobre as virtudes do estatuto do aluno, apresentado como sendo a panaceia para os problemas da escola, incluindo o problema da indisciplina.
Já se sabia que a qualidade do ensino é desprezada em nome da escola inclusiva, já se sabia também que a violência nas escolas era, e é, uma triste realidade; fica agora a saber-se que a solução para pelo menos um destes problemas é o milagroso estatuto do aluno. Resta apenas aquela indelével sensação de que estes senhores do ministério andam confusos. A confusão dissipar-se-á quando se começarem a sentir os resultados da escola inclusiva, se é que já não estamos perante alguns resultados desse conceito de escola.
Por fim, é fundamental enfatizar novamente a necessidade de se respeitar a classe docente, exercício esse que deve ser empreendido pelo ministério da Educação, mas também pela sociedade, muitas vezes egoísta e esquecida do trabalho meritório da maioria dos professores.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Direitos e referendo

CDS e Chega defendem a realização de um referendo para decidir a eutanásia, numa manobra táctica, estes partidos procuram, através da consulta directa, aquilo que, por constar nos programas de quase todos os partidos, acabará por ser uma realidade. O referendo a direitos, sobretudo quando existe uma maioria de partidos a defender uma determinada medida, só faz sentido se for olhada sob o prisma da táctica do desespero. Não admira pois que a própria Igreja, muito presa ao seu ideário medieval, seja ela própria apologista da ideia de um referendo. É que desta feita, e através de uma gestão eficaz do medo e da desinformação, pode ser que se chumbe aquilo que está na calha de vir a ser uma realidade. Para além das diferenças entre os vários partidos, a verdade é que parece existir terreno comum entre PS, BE, PSD (com dúvidas) PAN,IL e Joacine Katar Moreira sobre legislar sobre esta matéria. A ideia do referendo serve apenas a estratégia daqueles que, em minoria, apercebendo-se da su...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...