Avançar para o conteúdo principal

O fenómeno Obama

Barack Obama, candidato democrata às eleições norte-americanas e o mais bem colocado candidato a confrontar o seu opositor do partido Republicano, é, indiscutivelmente, o grande fenómeno político, nas últimas décadas, nos EUA. E tanto mais é assim quando se verifica toda a atenção que a comunicação social tem dado às intervenções do candidato e, num sentido mais lato, a toda a campanha do candidato. E, claro está, o entusiasmo de muitos democratas, e talvez não só, em torno do senador Barack Obama.
É claro que a questão racial é indissociável do fenómeno Barack Obama, por muito que o candidato adopte um certo distanciamento da questão racial, a verdade é que o facto de se tratar de um candidato afro-americano, muito bem colocado, às presidenciais americanas, contribui para a criação do fenómeno já referido. A presença – muito forte – de um afro-americano na corrida para a Casa Branca é, por si só, um acontecimento que indicia a possibilidade de mudança, em muitos aspectos surpreendente, nos americanos. Uma mudança que dá sinais muito positivos e que, eventualmente, terá surpreendido de forma estonteante muitos cépticos e antiamericanistas.
Barack Obama, tem por outro lado, uma característica notável – as suas capacidades oratórias são, de facto, excepcionais. A forma como transmite a mensagem, a escolha meticulosa das palavras, a forma como comunica com os eleitores, em constantes tentativas de fazer passar a mensagem de um futuro diferente e construído em conjunto pelos americanos. Ora, Obama foi exímio na tarefa de transmitir a ideia de mudança, que tanto agrada a parte muito significativa dos cidadãos dos EUA. Importa, contudo, não esquecer que muitos americanos vivem divididos entre o desejo de mudança, de um novo começo, e a necessidade de construírem a ideia de que vivem em segurança, o que, em última análise, poderá fazer surgir dúvidas de eficácia do candidato Barack Obama.
Correndo o risco de fazer futurologia, enfatiza-se a boa colocação de Obama nas primárias americanas, e a mais do que forte possibilidade de ser Obama o candidato democrata a defrontar o candidato republicano, John McCain. Deste confronto, é forte a possibilidade de Obama conseguir vencer as eleições para o cargo de presidente dos Estados Unidos. Com efeito, Obama tem do seu lado a vontade que os americanos sentem relativamente à mudança, a saturação do Iraque – mas falha em propostas para os americanos resolverem a intrincada questão do Iraque –, em suma, Obama oferece aos americanos um novo começo e um futuro diferente. Pelo menos é essa ideia, mesmo que inexequível. Barack Obama é apaixonado, é jovem, e é um excelente comunicador – muitas vantagens, portanto, relativamente a John McCain.
Claro que se está a antecipar o cenário das eleições. Não se pode ignorar a possibilidade de Hillary Clinton – a outra candidata democrata – conseguir recuperar das últimas derrotas. A candidatura de Hillary Clinton foi alvo de inúmeras injustiças. As suas ideias sólidas e exequíveis sobre uma multiplicidade de assuntos e a sua experiência política foram relegadas para um segundo plano. Ficou, injustamente, uma imagem supérflua de calculismo e de insensibilidade. E também aqui, o fenómeno Obama poderá se transformar numa desilusão – até que ponto é que a passagem da oratória para a execução de políticas se vai fazer de forma natural e produzir resultados? De qualquer modo, as últimas sondagens voltam a dar a Barack Obama vantagem em relação a Hillary Clinton.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa