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O falhanço do PSD


O PSD está a atravessar um período manifestamente difícil, e tanto mais
é assim quando se verifica o não aproveitamento do momento menos bom do Governo. O executivo de José Sócrates passa por um momento de crescentes dificuldades e da consequente perda de popularidade, embora, nas sondagens, mantenha uma confortável distância relativamente ao principal partido da oposição. De facto, a crispação entre ministério da Educação e professores e o desconforto sentido por muitos portugueses devido às dificuldades em matéria de qualidade de vida, não excluindo também o enjoo colectivo perante o estilo arrogante do primeiro-ministro e de muitos dos seus colegas de Governo. Esta seria a altura para o PSD ressurgir como alternativa governativa. Todavia, não é isso que acontece.
O PSD falha em dois domínios fundamentais: por um lado, a actual liderança não tem sido capaz de unir o partido, surgindo, de forma incessante, vozes discordantes no seio do PSD – agora a propósito das alterações nos regulamentos internos do partido; por outro lado, a liderança encabeçada por Luís Filipe Menezes mostra uma inabilidade exasperante no que toca a mostrar em que medida é que o PSD pode ser alternativa ao actual Governo.
As vozes discordantes dentro de um partido são, invariavelmente, um elemento característico de um partido político que se insere num contexto de pluralidade democrática. É precisamente a diversidade que faz a força de qualquer partido político, esta premissa, contudo, escapa completamente à compreensão do actual líder do PSD. Não se pode consolidar um partido político à custa dos silêncios. Concretamente, quando Rui Rio e António Capucho, entre outros, se insurgiram contra as alterações dos regulamentos internos do partido, designadamente alertando para os perigos de se alterar a forma de pagamento de quotas dos militantes, o partido tinha a obrigação de ouvir e aceitar, democraticamente, as críticas. O PSD lidou mal com as críticas – como parece ser hoje habitual. Fica a imagem de um partido desunido e sem futuro, que afasta a generalidade dos seus elementos mais importantes.
De igual modo, o PSD falha como alternativa à actual governação. A liderança de Menezes ainda não foi capaz de mostrar ao país um projecto de governação, que vá além das ideias avulsas e frequentemente desconexas, que são apresentadas. Na verdade o partido está vazio de ideias, tem dificuldades em comunicar com os cidadãos, e limita-se a fazer presidências abertas levadas a cabo pelo líder da bancada parlamentar. Esse é precisamente outro dos problemas apontados a este PSD de Luís Filipe Menezes – a liderança bicéfala.
Todos estes falhanços redundam num fracasso do PSD, designadamente num momento crucial para o crescimento do partido. Quando o Governo se vê confrontado com sucessivas manifestações de descontentamento, o PSD limita-se a tentar fazer um aproveitamento incipiente e sem consequências de maior. Com efeito, os portugueses dão razão ao actual líder do partido quando este afirma não estar preparado para governar. A isto acrescente-se que, com a actual liderança, o PSD não vai estar preparado para governar, pelo menos até 2009. Agradece o primeiro-ministro e a sua equipa, que se vêem confrontados com o descontentamento dos portugueses, sabendo, no entanto, que os mesmos estão cientes da ausência de alternativas. Note-se que a ausência de alternativas em matéria de governação acentua o paroxismo que toma conta do país. Entretanto, parece que Luís Filipe Menezes acredita que já merece ser primeiro-ministro.

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