Sobre a crise já muito se disse: que
as pessoas, pensionistas, funcionários públicos, trabalhadores do
sector privado, viveram acima das suas possibilidades; que o Estado
Social é insustentável; que o Governo anterior tinha sido o
responsável exclusivo pela difícil situação a que o país chegou.
Todos repetiam esta litania e foi precisamente com esta litania, a
par de algumas manobras insidiosas, que o actual Governo chegou ao
poder.
O sector financeiro, responsável pela
crise, teve um papel secundário no processo de culpabilização dos
últimos três anos. Pelo caminho ouvimos banqueiros criticar o
subsídio de desemprego ou garantir que os cidadãos não tinham
outro remédio que não fosse aguentar. Pelo caminho os arautos de um
neoliberalismo desenfreado esqueceram-se de dizer que o a carga
fiscal para a banca é insignificante - 2,1 por cento do total da
receita de IRC em 2012, por exemplo, beneficiando ainda de outras
benesses fiscais. Os mesmos arautos esqueceram-se de referir que o
Estado endividou-se com o processo de recapitalização do sistema
bancário e em contrapartida esse mesmo sistema fechou as torneiras
do crédito à economia. Os ditos arautos nunca foram capazes de
referir que todos os negócios ruinosos que o país fez e que ainda
hoje paga sem discussão tiveram o cunho da banca.
Agora descobre-se mais podres do banco
do regime – o BES – com a Justiça a agir do modo a que sempre
nos habitou nestas circunstâncias: tardiamente, com grande celeuma e
escassos resultados.
Diz-se, timidamente, que é um
problema de regulação. Diz-se que está tudo controlado ou que é
essencialmente uma questão familiar. É muito mais do que isso. O
sistema está podre, arruína países, destrói vidas, sempre com o
beneplácito de governos comprometidos com esse sistema. Foi essa a
história do BPN, BPP, é essa a história do BES e de outros bancos;
é também essa a história recente do nosso país e de uma União
Europeia disposta a tudo para fazer a defesa do sistema financeiro.
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