Avançar para o conteúdo principal

A verdadeira natureza de um governo


O governo italiano apresentou uma proposta no sentido de aligeirar o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) com vista à recuperação das economias.
Um país como Portugal só teria a ganhar com uma maior flexibilização das regras do PEC; uma flexibilização que contribuiria para o crescimento da economia portuguesa, e embora ainda não se saiba exactamente quais as medidas em concreto, a ideia de aligeirar o PEC - que mais não tem sido do que um óbice ao desenvolvimento, sobretudo das economias periféricas - só poderia trazer vantagens para um país como Portugal.
Não é este o entendimento do Governo português. O Executivo de Passos Coelho volta a mostrar a sua verdadeira natureza: os interesses deste Governo não são os interesses do país; dito por outras palavras, importa sim defender a cartilha ideológica que pugna por regras inflexíveis, pela exiguidade das funções do Estado, pela primazia dos credores, ao mesmo tempo que se cria mais dívida e pelo empobrecimento colectivo - uma cartilha que apenas produz mais pobreza e mais desigualdade.
A verdadeira natureza deste Governo torna-se assim bem visível. Nunca se colocou em causa o modelo de austeridade, não se põe em causa o misto de neoliberalismo e ordoliberalismo que domina a Europa, mesmo que este misto seja trágico para os interesses do país. Pode falar-se em legítimidade democrático de um Governo que não está claramente ao serviço dos seus cidadãos? Pode falar-se em legitimidade de um Governo que nada faz para salvaguardar o bem comum? Não é essa a essência da política?
O Governo português, através da ministra das Finanças, recusa flexibilizar o PEC - um verdadeiro óbice à recuperação da economia portuguesa. Quem sonha com qualquer espécie de união entre países que se encontram em situação semelhante que se desengane. Esta é a verdadeira natureza do Governo português e eles não precisam de esconder essa natureza, nem tão-pouco necessitam de recorrer à arte da dissimulação, por uma razão muito simples: por aqui está provado que tudo é aceitável.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...