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Nem carne nem peixe

Secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, acusou no passado o PS de não ser nem carne nem peixe. Tem razão. E nada parece mudar. Agora é a vez de António Costa, ainda candidato, a afirmar que o PS não pisca nem à direita, nem à esquerda. A história do símbolo do PS, o punho fechado, símbolo que ainda lembra a esquerda, etc, já lhe passou. Talvez tenha sido dispepsia ou até mesmo obstipação. Seja como for, nessa mesma ocasião Costa relembrou que os "adversários estão lá fora". Discordo, os adversários são internos e, em alguns casos, os adversários podem ser mais internos do que parecem: os adversários podem mesmo estar "dentro" do próprio António Costa. Aqui não encontramos explicação em hipotéticas maleitas digestivas, mas sim numa crise de identidade que perpassa todo o Partido Socialista.
Costa aprofundou a sua teoria de "piscadelas": o PS "é um partido que se dirige a todos os portugueses", então por essa razão abdica de se posicionar ideologicamente. E tem sido precisamente esse o problema central do partidos socialistas e sociais-democratas na Europa.
Por conseguinte, a ideia de alguns que visava uma hipotética união entre partidos da esquerda não se aplica ao caso do PS, desde logo porque esta indefinição reforçada por António Costa abrange praticamente todo o Partido Socialista. Assim, qualquer união dos partidos de esquerda não poderá contar com o PS demasiado comprometido com um sistema descredibilizado em larga medida por sua própria culpa.
O PS não é de facto nem carne nem peixe, trata-se apenas de qualquer coisa que vai apodrecendo ao longo do tempo que acompanha outra coisa em avançado estado de putrefacção chamado PSD.

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