Avançar para o conteúdo principal

Afinal está tudo bem

A crise que transformou a vida de um país, tornando-o incrivelmente mais pobre, não pode ser dissociada das selvajarias praticadas por um sector em especial: o sector financeiro invariavelmente envolvido nos negócios ruinosos levados a cabo por governantes que se renderam à promiscuidade entre poder económico-financeiro e poder político. Importa não esquecer que os excessos deste sector que deram origem a uma dívida privada consideravelmente superior à dívida pública, excessos que ainda hoje estão a ser pagos por desempregados, trabalhadores do sector público, mas também do sector privado, por pensionistas e por todos os que, de uma forma ou de outra, dependem do Estado Social. A voracidade, os negócios arriscados e a total subserviência de uma classe política a banqueiros estão inexoravelmente ligadas ao estado a que o país chegou. O caso BPN foi o mais conhecido, um caso de justiça que onerou e continua a onerar o país, mas os excessos não se ficam pelo BPN ou pelo BPP
O BES que anda nas bocas do mundo terá ao que tudo indica nova direcção´encabeçada por Vítor Bento. Afinal está tudo bem, e depois da zanga familiar, os destinos do banco ficam nas mãos de quem tem fortes ligações a um dos partidos do Governo. Com um bocadinho de sorte, o BES ainda ficará melhor nas mãos do PSD do que estava anteriormente, veja-se o impacto que a notícia teve nos mercados.
Dir-se-á que o futuro da banca, em especial deste banco, não é assunto que diga respeito aos cidadãos, diz respeito apenas ao banco em questão e eventualmente aos supervisores. Não será bem assim, São os cidadãos que pagam os excessos e as asneiras deste sector e no caso em apreço ainda estamos longe de saber como resolver o problema da filial do banco referente a empréstimos avultados (sem saber a quem ou a que título) ou outros problemas numa holding. Existe mesmo quem diga que os cidadãos poderão voltar a ser chamados para resolver mais este problema do BES. A julgar pelo que ouvimos e lemos na comunicação social não será esse o caso; se pensarmos no BES e no seu constante envolvimento nas negociatas que contribuem para o empobrecimento do país, podemos estar menos descansados: o caso Portucale; os paraísos fiscais no Luxemburgo; as parcerias público-privadas; passando pelo esquecimento relativamente ao pagamento de milhões de euros em impostos, etc.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma