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Eleições na Grécia II

É difícil abordar o tema sem reconhecer a existência de um sentimento de desilusão perante tudo o que aconteceu na Grécia. O partido de esquerda radical Syrisa prometia romper com a austeridade e, depois de um inexorável esmagamento por parte das instituições europeias com a Alemanha à cabeça, o Syrisa acabou ele mesmo esmagado e a braços com mais doses cavalares de austeridade.
Tenho a teoria que Tsipras, reeleito primeiro-ministro grego pelo Syrisa, perante a iminência de ser empurrado para fora do Euro, aceitou o pior plano possível para comprar tempo, mantendo-se no euro. Entretanto, talvez algo mude na configuração política europeia, designadamente com as eleições que se avizinham em Espanha e na Irlanda.
Seja como for, o mesmo Tsipras demitiu-se e recandidatou-se para ganhar e reforçar a sua legitimidade  Alguns questionam-se sobre como é que é possível alguém que defraudou as expectativas de tantos gregos poder ser reeleito. Desde logo porque a alternativa - Nova Democracia - era pior; por outro lado, a corrupção e a existência de partidos que se transformaram em castas levou muitos gregos a escolher quem não está envolvido quer na corrupção, quer na existência dessas mesmas castas. Nova Democracia e Pasok estão, o Syrisa não. Simples.

De resto, Tsipras sai democraticamente reforçado. Não creio que a história da Grécia e do terceiro resgate esteja toda ela contada. E será prematuro contar essa história com um desfecho. Mas o facto é que quem não está preparado para a saída do euro, será obrigado a aceitar tudo possível e imaginável. Agora terá sido a Grécia, amanhã poderá ser qualquer outro Estado, sobretudo aqueles que ousem escolher democraticamente quem não se revê nas políticas de austeridade que fazem escola na Europa.

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