Tradicionalmente somos pouco propensos
a pensar a política, para além das habituais discussões que
redundam na politiquice próxima do formato telenovela. As ideias
encontram-se fora dessas discussões – a democracia (que se
enriquece com o pluralismo) vive – sobrevive – sem a cidadania.
Não pensamos, não discutimos, não participamos, não exigimos, não
agimos.
Depois de anos de empobrecimento, do
agravamento das desigualdades, do enfraquecimento do Estado Social,
parte integrante de um pacto social que resultou da revolução de
Abril, e do enfraquecimento da democracia, parece que nos encontramos
num beco sem saída, agarrados à ideia de viver um dia de cada vez
sem contemplar qualquer ideia de futuro.
Classificamos a classe política, de
um modo geral, recorrendo aos adjectivos mais depreciativos que o
nosso léxico comporta. Colocamos todos no mesmo saco, recusando ver
que nem todos pertencem a esse mesmo saco. É de facto mais fácil
simplificar dizendo que são todos iguais, eles são os responsáveis,
eu nada tenho a ver com o assunto.
No fim votamos naqueles em recai boa
parte das nossas críticas ou escolhemos a abstenção – a não
escolha – como forma de nos livrarmos do peso da responsabilidade.
Pelo caminho, o desinteresse medra. A
política – fora do contexto de politiquice – é o enfado. A
comunicação social, afundada na mais absoluta mediocridade e
comprometida com os poderes do costume, vai dando uma preciosa ajuda
para manter tudo como está, com ligeiras variações. A bipolaridade
(PS/PSD com o apêndice CDS) permite conservar resquícios de uma
ilusão de mudança.
As próximas eleições serão
seguramente marcadas pela a abstenção. As razões para a não
escolha serão variadas, mas a principal degenerará na ideia de que
são todos iguais e por conseguinte não vale a pena exercer o
direito de voto.
Essa ideia de que são todos iguais e
a subsequente elevada taxa de abstenção são benéficas aos
famigerados partidos do arco da governação, aqueles a quem,
paradoxalmente, colocamos os piores epítetos possíveis. É mais
fácil e livra-nos do insuportável peso da responsabilidade.
Comentários