Querida
Troika, vejo-me hoje forçado a abrir o coração: apesar dos quatro
anos lindíssimos que passámos juntos tenho-te a dizer que já não
gosto de ti como gostei no passado. Tudo fiz para ficarmos finalmente
juntos e confesso que tantas vezes pensei em superar-te tal era o meu
amor por ti - quis ser mais do que tu foste e quis que tu
reconhecesses os meus esforços no sentido de ir mais além do que tu
alguma vez foste. Nem sempre fizeste esse reconhecimento, facto que
amiúde me despedaçou o coração. Mas olhando em retrospectiva,
valeu sempre a pena. Tu sabes... eu quis ir mais longe, se calhar
numa tentativa frustrada... de puro exibicionismo.
Troika,
meu amor, amei-te tanto, mas já não te amo mais, é melhor darmos
um tempo... por enquanto não te posso amar como te amei no passado,
espero que tu compreendas. A vida é mesmo assim, tantas vezes
injusta e neste momento preciso de consolidar o meu compromisso com o
meu país. Na realidade, o meu país dificilmente compreenderia a
nossa relação tão profunda, talvez seja ciumento, olha nem sei! O
facto é que o meu país desconfia... e nunca aceitará este nosso
amor e é por isso que me vejo obrigado a repudiar a nossa relação,
a fingir que nunca sequer gostei de ti - não digas a ninguém, mas é
isso mesmo: tenho de fingir que não gosto de ti e se calhar tenho de
me convencer disso mesmo, por essa razão comecei esta carta dizendo
estas palavras dolorosas - Troika, já não gosto de ti. Pelo menos
durante uns tempos vou fazer de conta que afinal não gosto de ti e
mais: que nunca gostei de ti.
Troika,
meu amor, imploro-te que me desculpes a sinceridade da carta.
Amar-te-ei até ao resto dos meus dias. Esse é o nosso segredo.
P..S
. Vamos fingir, os dois, que não nos amamos, talvez seja mais fácil
assim.
P.S..
Desculpa não conseguir escrever algo mais poético, mas tenho as
minhas limitações que são muitas como bem sabes. Mas vamos fingir
que não :)
P.S.
- Reli a carta que te envio agora e pareceu-me confusa, uma vez mais
desculpa, fazes-me sentir como um adolescente cheio de dúvidas.
Troika,
amo-te,
Assinado:
O ainda Primeiro-ministro de Portugal
Comentários
E aposto que escreveu ao som de "Et Si Tu N'existais Pas" de Joe Dassin.