O debate – o único que colocou
frente a frente Pedro Passos Coelho e António Costa – correu
manifestamente mal a Passos Coelho, mesmo que este tenha recorrido ao
passado para voltar a assustar os cidadãos. Importa referir que se
trata da mesma pessoa que fez toda uma campanha eleitoral
precisamente a mentir, alguém que, por conseguinte, tem todo um
passado de mentira. E também não será exagero de retórica referir
que Passos Coelho é a mesma pessoa que insiste no passado do outros
mas que, simultaneamente, aniquilou a ideia de futuro do país,
percorrendo um caminho que foi uma verdadeira descida aos infernos.
Ainda relativamente ao passado, o tiro
acabou por sair pela culatra. Costa respondeu bem, atacando,
lembrando as próprias responsabilidades do PSD e CDS na questão da
troika e, sobretudo, relembrando o ensejo de Passos Coelho aquando
precisamente da vinda da troika e da possibilidade de ir mais longe
do que estava previsto.
Passos Coelho, tal como Portas, sentiu
a angústia de ter um debate a fugir-lhe das mão e , tal como o seu
parceiro de coligação, ainda procurou chamar à colação o Syrisa,
embora em menor dose. O desespero foi francamente confrangedor.
Mas o debate também teve os seus
momentos cómicos como aquele em que se refere que o ainda
primeiro-ministro promete colocar a economia portuguesa entre as dez
mais competitivas do mundo ou sempre que ouvimos Passos Coelho
discutir Segurança Social: “A Segurança Social não é para ser
alvo de brincadeiras” diz António Costa àquela mesma pessoa que
se furtou à responsabilidade de pagar as suas contribuições à
aludida Segurança Social. Ou ainda o momento em que Pedro Passos
Coelho afirma que “os portugueses têm todas as razões para
desconfiar” do PS – isto dito, novamente, por quem fez toda uma
campanha eleitoral a mentir, não perdendo esses maus hábitos ao
longo destes quatro anos.
António Costa surpreendeu pela
positiva: mostrou-se confiante, preparado e tomou desde logo a
iniciativa do debate. Paralelamente, conseguiu, de forma simples,
proferir algumas frases que deixaram o ainda primeiro-ministro
visivelmente incomodado – a analogia que envolveu os lesados do BES
e os trabalhadores (no contexto de propostas para a Segurança
Social) ambos entregues à especulação, se o PaF vencer as
eleições, é um bom exemplo. Recorde-se que a poucos metros do
Museu da Eletricidade – palco do debate – estavam precisamente
alguns lesados do BES a protestar.
Cereja no topo do bolo, embora fora do
já referido Museu da Eletricidade, é ver Miguel Relvas na TVI24 a
defender a posição de Passos Coelho.
No cômputo geral, foi uma noite
verdadeiramente cómica.
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