A transferência da sede do Infarmed para o Porto, precisamente na ressaca daquela cidade ter perdido a possibilidade de albergar a Agência Europeia do Medicamento dá toda a impressão de ter sido fruto da pressa e do oportunismo.
É evidente que o argumento que postula a necessidade de se combater o centralismo é particularmente difícil de refutar. Haverá mesmo um consenso entre todas as forças políticas quanto precisamente à necessidade de fazer de Portugal um país mais igual.
Todavia, a simplicidade e simultaneamente força do argumento não impede que se avalie a forma como a medida está a ser tomada: à pressa, com um claro sentido de oportunismo e à revelia de quem trabalha no Infarmed.
Governar à pressa e ao sabor dos acontecimentos não pode ser considerado positivo, mesmo que a medida em questão aparentemente possa sê-lo.
Provavelmente, haverá, no Governo, quem também se apresse a alegar que a ideia já estava, há muito, a ser amadurecida e que terá sido convenientemente planeada. O que dificilmente será verdade.
Outros podem dizer que se trata de uma boa medida e que isso, por si só, é tudo quanto importa. O que também não é rigoroso. De resto, é imperativo estudar os meios que culminarão num determinado resultado e não fazer tudo ao sabor dos acontecimentos, optando pelo argumentação mais redutora que parece querer degenerar numa visão maniqueísta de boas e más medidas, sem rigorosamente nada pelo meio.
Será difícil aos governos resistirem a derivas mais ou menos demagógicas, até porque a demagogia, goste-se ou não, faz parte da política. Mas quando o que está em causa é um organismo essencial em matéria de saúde e quando o que também está em causa são as vidas dos trabalhadores, importa ponderar e desenhar um plano que possa ser exequível e vantajoso para o maior número de pessoas. Agora não é sério tentar escamotear um falhanço com o sacrifício quer do próprio organismo, quer dos seus trabalhadores.
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