É
uma ilusão pensar-se que o Partido Socialista não foi, nem é
apologista da austeridade, e é outra ilusão pensar-se que este
Governo socialista estará disposto a repor tudo o que foi perdido ao
longo destes anos. Vem isto a propósito da pressão de sindicatos da
Administração Pública para que seja reposto o que foi retirado,
designadamente em matéria de congelamento nas progressões da
carreira. O sucesso dos sindicatos dos professores nesse particular
terá dado ânimo a que outros reclamassem as mesmas medidas.
Ora,
o primeiro-ministro diz que não e que não é "possível
refazer a História", o Presidente afirma que não se pode
"desbaratar o que deu tanto trabalho", o Bloco de Esquerda
não se mostra disposto a ir excessivamente em sentido contrário ao
PS e PCP deixa os sindicatos, designadamente os que lhes são
afectos, fazerem o trabalho de oposição.
A
reposição do que se perdeu, na Administração Pública e fora
dela, é uma exigência legítima, mas em larga medida irrealista.
Como já se afirmou o PS é também um partido de austeridade e tem
vindo a aplicá-la, em doses mais suaves e procurando não apanhar as
franjas mais frágeis da sociedade e, em sentido contrário, até se
tem verificado uma reposição de rendimentos. Ir mais longe é
irrealista, pelo menos na actual conjuntura de subjugação à moeda
única. E é neste particular que tocamos na ferida: no contexto do
Euro a austeridade - a passada e a presente - está para ficar. Não
é sério pensar-se o contrário. Por conseguinte, trata-se, no
fundo, de uma escolha que também ela não estará em cima da mesa: a
permanência neste enquadramento da moeda única.
Como
se deduz que não existe qualquer espécie de vontade de sair do
Euro, sobretudo agora que o pior parece já ter passado no que diz
respeito à saúde das economias europeias e que existem demasiados
factores de instabilidade (Brexit, Trump, Rússia), a solução, pelo
menos para já, passa por redistribuir essa austeridade de forma mais
justa. Deste ponto de vista, o actual Executivo tem feito muito mais
nesse sentido da justiça do que o anterior Governo. É bom ter isso
em mente.
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