Com
a cada maior certeza de novas eleições na Alemanha, sobram as
incertezas quer para a Alemanha, quer para a própria Europa,
impondo-se a questão: até que ponto o falhanço dos principais
partidos alemães quer no alcance de um acordo, quer na própria
resolução dos problemas mais prementes, não poderá resultar num
maior desgaste desses próprios partidos, com benefício da
extrema-direita?
A
resposta, claro está, só após a realização de novas eleições,
mas o risco está lá e o AfD está também presente para aproveitar
o que vier e que será bem-vindo. Recorde-se que nas últimas
eleições este partido conseguiu um resultado histórico, enquanto a
CDU de Merkel teve um resultado abaixo do habitual. E os
sociais-democratas do SDP (que se haviam coligado com a CDU) tiveram
um dos piores resultados da sua história, seguindo os passos de
outros partidos socialistas e sociais-democratas, num processo
iniciado pelo PASOK grego cujo destino, ironicamente, não pode ser
dissociado da própria Alemanha.
Merkel
paga a factura da má gestão que fez da questão dos refugiados e a
Europa colhe aquilo que a Alemanha ajudou a semear, sobretudo durante
o processo de gestão da crise financeira transformada em crise das
dívidas soberanas, num processo também iniciado com a Grécia. A
Europa saiu mais fragilizada, menos coesa, longe, muito longe, do
projecto europeu, tudo para que a Alemanha pudesse disfarçar o
desregramento do seu próprio sistema bancário.
O
resultado está à vista: apesar das aparentes melhorias, os países
debatem-se com elevadas taxas de desemprego, maior precariedade,
menos futuro. Esta é uma factura que se paga. Paga-se com
deslocamento de votos do convencional para os extremos; paga-se com o
aumento do ódio; paga-se sobretudo com a desunião - a antítese do
projecto europeu. As responsabilidades da Alemanha em tudo isto ainda
estão por se contabilizar.
Por
outro lado, a Europa fica mais fragilizada se a crise política na
Alemanha se complicar, sobretudo num contexto em que existem
variáveis como o Brexit, Trump e Rússia. É que se Alemanha fez mal
ao projecto europeu, este terá poucas hipóteses de sobrevivência
sem a Alemanha.
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