A
propósito da manifestação dos taxistas pouco se ouviu sobre o
funcionamento da Uber, poucos falaram sobre quem está por detrás da
Uber, poucos referiram a Goldman Sachs e menos foram aqueles que
recordaram a mudança de paradigma a que empresas como a Uber estão
forçar. A discussão resumiu-se à boçalidade manifestada por
alguns taxistas, por culpa dos mesmos.
A
ideia de que a Uber apenas traz problemas aos taxistas não podia
estar mais longe da verdade. Esta empresa apresenta-se como sendo
sofisticada, moderna e com serviços topo de gama. Não sendo uma
transportadora, escuda-se nos vazios legais explorando "parceiros"
- motoristas - sem vínculos laborais, ganhando à percentagem em
função da oferta e da procura, colocando uns contra os outros.
Perfeito. Não transportam passageiros e portanto não podem ter as
obrigações que têm os taxistas, são apenas uma plataforma e quem
os questiona é invariavelmente apelidado de retrógado por não
aceitar este admirável mundo novo.
Na
semana passada, no México, teve lugar uma manifestação de taxistas
contra precisamente a Uber. E porquê? Pela simples razão que a
empresa tecnológica americana destruiu a concorrência, cobrando
taxas muito baixas (são conhecidos por ficaram anos a acumular
prejuízos) e, depois de destruída a concorrência, os preços
voltam a subir. Curiosamente quem está a financiar a Uber são os
mesmos que não pagam impostos e recorrem a off-shores.
Claro
que tudo isto é escamoteado pela pretensa sofisticação do serviço
prestado, apresentado como uma melhoria, uma inovação, em contraste
com o serviço de taxis, amiúde apresentado como anacrónico e
ineficiente.
A
dita sofisticação da Uber não chegará para apagar o rasto de
precariedade que estas empresas deixam, apostadas que estão em mudar
o paradigma laboral. A dita partilha será o golpe final nos direitos
laborais já por si tão enfraquecidos.
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