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Com ou sem “brexit”

Independentemente do resultado do referendo da próxima quinta-feira, o Reino Unido mostra-se dividido. Evidentemente uma vitória da permanência do Reino Unido permitirá, sobretudo à própria UE, respirar de alívio. E importa não esquecer que o Reino Unido é um Estado-membro da UE que mantém um regime de excepção perante os restantes Estados-membros, com as famigeradas options-out.
A trágica morte da deputada trabalhista, Jo Cox, seguramente contribuirá para uma recuperação da permanência na UE.
No entanto, e como já é patente nas declarações dos responsáveis pelas instituições europeias, não se prevê que a Europa retire as ilações necessárias do mal-estar existente no Reino Unido, mas também noutros Estados-membros - um mal-estar sobejamente aproveitado por partidos nacionalistas.
Ainda durante a semana passada, o Presidente do Eurogrupo, Dijsselbloem, mostrava-se entusiasmado perante a possibilidade da aplicação de sanções a Portugal. Há escassas semanas o Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, não escondia que a França era a França, o resto é o resto. Tudo perante uma Alemanha que serenamente consolida a sua posição de liderança numa Europa que simplesmente abdicou do seu projecto.
Com ou sem “brexit”, as divisões permanecem, o mal-estar persiste e os principais responsáveis pela existência de uma UE enfraquecida e decadente insistem em não olhar para a realidade, corrigir trajectórias e inverter o rumo que desembocará forçosamente no abismo.
Se há uma evidência em tudo isto é a seguinte: é manifestamente fácil destruir o projecto europeu que nos garantiu a paz e os mínimos de coesão social desde o final da II Guerra Mundial. Demasiado fácil.


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