Avançar para o conteúdo principal

Parar é morrer

Costuma-se dizer que parar é morrer: Paulo Portas que o diga, agora que vai deixar de ser deputado, passando a ingressar na Mota-Engil, com o objectivo de dinamizar um Conselho Consultivo Internacional na América Latina - outro nome pomposo para dizer ex-governante que não esconde a promiscuidade entre poder político e poder económico.
Em rigor, Portas já se tinha comportado, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, como um homem de negócios (chamavam-lhe diplomacia económica), sempre zelando pelo interesse de empresas como a Mota-Engil. Por conseguinte, é natural que a recompensa chegue agora. Paralelamente, durante os últimos quatro anos, e na qualidade de ministro, Portas seguramente acumulou uma vasta lista de conhecimentos que serão uma mais-valia para a empresa em questão.
Então e a salvaguarda do bem comum? Então e a própria finalidade da política? Não sejam picuinhas, a política é o que se quiser que ela seja, sobretudo para direita que tenta ser neoliberal, mas que nunca passa da direita dos negócios. E o bem comum? Insisto. O bem comum pouca relevância terá para Portas e companhia. De resto, os últimos quatro anos são paradigmáticos de um desprezo incomensurável pelo bem comum: privatizou-se tudo o que o tempo permitiu; empurrou-se centenas de milhar de portugueses para o desemprego; fragilizou-se o SNS; enfraqueceu-se a escola pública. 
Parar é morrer, lá diz a velha máxima. Portas sabe-o bem e também saberá que o actual cíclo político é-lhe desfavorável - o que justificou o seu afastamento quer do partido, quer da Assembleia da República -, mas saberá igualmente que, quando o ciclo findar e a memória colectiva esfriar, o seu regresso à política será aplaudido. Ele simplesmente não resistirá aos apelos.
Para finalizar, apenas dizer que a Mota-Engil é sobretudo uma empresa com sorte: nos últimos quatro anos, enquanto Portas foi ministro, conseguiu ficar com os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, conseguiu também a construção da barragem do Tua, apesar da contestação, e conseguiu ainda a EGF, maior empresa de resíduos. Se há pessoas com sorte, também há empresas bafejadas pela boa fortuna.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa