Em tempos o Governador do Banco de
Portugal equacionou a possibilidade de retirar a idoneidade a Ricardo
Salgado, mas um parecer parece ter ajudado Salgado a manter a
idoneidade no sector financeiro. E o que dizia esse parecer? No
cômputo geral assinalava "o espírito de entreajuda e
solidariedade" entre Salgado e um construtor, o que justificou
que o último transferisse para o primeiro a módica quantia de 14
milhões de euros. Não, não é uma anedota. E o responsável pelo
parecer terá sido João Calvão da Silva, professor da Universidade
de Coimbra e actual presidente do Conselho de Jurisdição do PSD.
Sem a referida idoneidade Ricardo
Salgado não poderia permanecer à frente do BES. Os 14 milhões
passaram naturalmente por uma off-shore e ainda beneficiaram da
amnistia fiscal do Regime Excecional de Regularização Tributária
(RERT).
Solidariedade, segundo o dicionário
da Porto Editora tem várias acepções: sentimento que leva a
prestar auxílio a alguém; responsabilidade recíproca
entre elementos de um
grupo social, profissional, institucional ou da comunidade;
adesão ou apoio a uma causa, a um movimento ou a um princípio;
sentimento de partilha de sofrimento alheio.
Ora,
14 milhões de euros cabem em que acepção? "Sentimento de
partilha de sofrimento alheio"? Calvão da Silva não diz com
precisão. 14 milhões de euros couberam no bolso de Salgado e a nós
cidadãos coube um problema cuja dimensão é ainda difícil de
definir.
Estas
afrontas só são possíveis em contextos de impunidade e apatia dos
cidadãos. Quando a acção insidiosa e iníqua não tem resposta,
tudo é permitido.
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