Avançar para o conteúdo principal

No tempo do outro senhor

No tempo do outro senhor primeiro-ministro o país vivia um período de "asfixia democrática" - palavras de Manuela Ferreira Leite, a mesma pessoa que sugeriu uma "suspensão da democracia", a mesma pessoa que hoje tece severas críticas ao actual primeiro-ministro.
No tempo do outro senhor primeiro-ministro, o país vivia assolado por uma onda de condicionamento da liberdade de expressão e da pluralidade de opinião. Muitos teciam críticas, os mesmos que hoje se remetem ao silêncio.
No tempo do actual primeiro-ministro são feitas pressões para que órgãos sob a tutela do Estado não emitam e publicitem os seus relatórios (ver notícia do Público), vende-se património do Estado sem apelo nem agravo, decide-se sob o pretexto de um estado de excepção sem sequer se prestar quaisquer esclarecimento aos cidadãos.
No tempo do actual primeiro-ministro o seu o seu partido vive muito longe da liberdade plena.
No tempo do actual primeiro-ministro o desprezo pelos cidadãos é gritante, agindo os membros deste Governo como um conjunto de iluminados que, a prestarem algum esclarecimento, será às instituições europeias, à Alemanha e ao FMI. O resto, o cidadão, é secundário, para não ir mais longe.
Os tempos do outro senhor primeiro-ministro foram marcados pela chico-espertice, por alguma megalomania e pela insensatez. Os tempos do actual primeiro-ministros são marcados pelo empobrecimento da maior parte dos cidadãos, pelo enriquecimento da casta do costume e por um desprezo sem precedentes pelos cidadãos. A isto acresce a convivência sempre difícil com a democracia - uma democracia que implica sempre uma cidadania activa que por estas paragens anda na rua da amargura para gáudio dos senhores que estão no poder.

Comentários

Concordo com o tom geral, e só pecará por defeito.
Creio, porém, que a "asfixia democrática" é do inefável Paulo Rangel.
E, já agora, Manuel Ferreira Leite não sugeriu tal; comunicacionalmente canhestra (o que, para mim, nem é um grande defeito), a senhora levantou a hipótese para de imediato dizer que não era isso que se pretendia.
O jornalismo analfabeto, em especial o das televisões -- o mais analfabeto e imbecil -- é que se aproveitou da primeira parte, sem referir a segunda (compreende-se: tirava o efeito sensacionalista à coisa), no que foi naturalmente aproveitado pelos adversários políticos de então e depois papagueado pela bicharada do costume.

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...