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Sorte


Neste malfado país, a sorte que outrora protegia os audazes, esbarra em contradições. A audácia transformou-se em cumprimento das obrigações fiscais. O Governo vai sortear automóveis topo de gama aos audazes que pedirem factura.
Uma contradição desta medida, cujo carácter rídiculo é indelével, prende-se com o facto de se tratar do mesmo Governo que insiste que os Portugueses vivem acima das suas possibilidades. Ora, é a esses mesmos Portugueses incautos e irresponsáveis que o Governo pretende oferecer automóveis topo de gama - um luxo, uma ideia que para alguns contribuirá para contrariar toda a espécie de miséria.
Por outro lado, não se percebe bem, e o secretário de Estado preferiu respostas evasivas, se aqueles que mais gastarem mais probabilidades têm de ganhar o dito automóvel topo de gama. Se isso se confirmar, a tal ideia de que o automóvel poderá contrariar toda a espécie de misérias perde força. É evidente que quem mais gasta - quem faz compras de elevado valor - é quem mais tem dinheiro.
De um modo geral, a ideia é bacoca, resultado de mentes exíguas que pretendem copiar o que se faz em alguns países, não se dando conta do rídiculo e das contradições que a medida acarrata. E se, de facto, têm essa noção, ignoram-na. Simplesmente ignoram-na.
É também evidente que a mera possibilidade de ganhar um automóvel de luxo, a mera posse de automóvel de luxo agradará a alguns. Mas também é óbvio que a realidade de um país empobrecido levará a que muitos desses mesmos automóveis regressem ao mercado para serem vendidos. Seja como for, a cenoura à frente do burro pode mesmo resultar.

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