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Entre o deserto da margem sul e a dinamitação de pontes


Nós portugueses somos uns sortudos: temos os salários mais baixos da Europa mas os preços nem por isso, começamos a ter uma taxa de desemprego de fazer inveja – brevemente atingiremos a fasquia dos 10% –, e ainda por cima somos governados por comediantes! Não poderíamos almejar um país melhor. E ficamos assim a saber que um dos argumentos para justificar a localização do novo aeroporto na Ota é, por um lado, o facto da margem sul ser um deserto; e por outro lado, a margem sul acarretar riscos – a possibilidade de se dinamitar uma das pontes é agora um forte argumento para afastar a hipótese da margem sul para a construção do novo aeroporto. O primeiro argumento brilhante pertence ao ministro das obras públicas e o segundo pertence a uma das personalidades mais proeminentes do PS, Almeida Santos.




Efectivamente, quase ficamos sem palavras para comentar estes pseudo-argumentos proferidos por quem faz da Ota a sua teimosia pessoal. Como é que possível dizer-se que a margem sul é um deserto? E se, de facto, faltam hospitais como o ministro fez questão de sublinhar, então quem é que será o maior responsável. O Governo que cumpra integralmente os seus compromissos, ainda durante este século se possível, em vez de regurgitar disparates atrás de disparates. O Seixal (sim Sr. Ministro, na margem sul) há quanto tempo reivindica um hospital? E qual tem sido a resposta do Governo? Então e o que dizer de uma possível dinamitação de pontes? Mas será que esta gente perdeu a cabeça?



O ónus de toda esta polémica dos discursos disparatados é a ausência de uma forte argumentação que sustente o absurdo da Ota. Na verdade, o Governo não encontra a forma mais profícua de convencer os portugueses de que a Ota é, de facto, a melhor opção. Vale a pena reter o seguinte: o Governo tem sido incapaz de apresentar estudos com uma forte sustentabilidade técnica que encerre o assunto da Ota; e por outro lado, chove incessantemente uma multiplicidade de contradições e de refutações sustentadas em estudos técnicos que contrariam por completo a hipótese da Ota.



Não querendo fazer a apologia desta ou daquela região, nem tão-pouco possuindo as capacidades técnicas para fazê-lo, devo, no entanto, sublinhar a total ineficácia da linha de raciocínio – caracterizada pela obstinação – utilizada pelo Governo. E mais, o recurso a afirmações de natureza dúbia que denigre a margem sul não é aceitável. Já se percebeu que o Governo anda à deriva. A saída de António Costa terá sido assim tão determinante? Seja como for, o Governo anda de cabeça perdida, recomenda-se, portanto, que o primeiro-ministro controle os seus ministros mais desvairados, até porque esta situação é recorrente. Aliás, nesta última semana um outro ministro veio anunciar solenemente a existência de postos de trabalho que afinal já estavam ocupados. A arrogância e a inépcia deste Governo são uma mistura verdadeiramente explosiva, espera-se que não deite abaixo nenhuma ponte!

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