
A situação do Iraque constitui um acentuado foco de instabilidade que contribui de forma decisiva para a volubilidade do Médio Oriente. Além disso, o permanente conflito israelo-palestiniano tem vindo a sofrer um agravamento nos últimos dias. Por outro lado, e para completar a esta preocupante equação assistimos à procura, por parte do Irão, de atingir uma posição hegemónica. E para isso, recorre ao desenvolvimento de tecnologia nuclear, o que pode significar uma verdadeira corrida ao armamento nuclear por parte dos países vizinhos – mais um contributo oneroso para a destabilização do Médio Oriente.
A situação eternamente problemática que se vive em Israel e nos territórios palestinianos tem vindo a conhecer novos episódios de violência: por um lado, assiste-se ao confronto entre facções palestinianas, designadamente entre a Fatah e o Hamas, o que é sintomático das fortes divisões que se verificam no seio dos palestinianos. E por outro lado, os israelitas continuam a bombardear alvos palestinianos, em particular alvos do Hamas. Na verdade, não existe um projecto, um conjunto de intenções, quer da parte palestiniana, quer da parte israelita com o objectivo de trilhar um caminho para a paz. A posição pusilânime e incipiente dos EUA aliada à ainda não muito forte, e por vezes fragmentada politica externa europeia, não permitem cercear o recrudescimento da violência. Com efeito, o facto dos EUA se encontrarem fragilizados a despeito da intervenção no Iraque não permite que se volte de forma séria à mesa das negociações.
Como é evidente não se vislumbra uma solução indefectível para a resolução desta instabilidade. O Iraque continuará, pois, a ser um reduto para terroristas, vivendo uma já existente guerra civil; a problemática israelo-palestiniana está longe de conhecer uma solução; e o Irão atingirá a tão almejada hegemonia. Esta é uma conjuntura irredutivelmente negativa para a luta contra o terrorismo. Não nos esqueçamos que a instabilidade, a guerra, os antagonismos, o ódio são o alimento primordial do extremismo que sustenta o terrorismo. Ou dito de outro modo, a violência que se vive no Médio Oriente é concomitante com um aumento da força dos movimentos extremistas. E este é um perigo visível, tanto mais que a violência é o rastilho que dá origem a radicalismos perigosos.
A mediocridade intelectual que caracteriza a actual administração americana degenerou numa amálgama de erros que comprometeram a estabilidade da região. É paradoxal que se tenha inserido a intervenção militar no Iraque num contexto de luta contra o terrorismo (alegadas e infundadas ligações entre Saddam Hussein e grupos terroristas) e, simultaneamente, o Iraque se ter transformado num baluarte de terroristas. Talvez um dos mais activos a nível global. O que a actual administração americana não percebeu ou não quis perceber é a relação indissociável entre a violência e a subjugação, enfim entre a instabilidade e o radicalismo. O que administração Bush não percebeu, ou não quer perceber é que o interminável conflito israelo-palestiniano alimenta o ódio que é enaltecido por grupos radicais. A forma de se coarctar as ameaças dos grupos radicais passa inelutavelmente pela paz na região, pelo regresso da estabilidade. Para que cada povo possa construir (no caso palestiniano) ou reconstruir (no caso Iraquiano) os seus Estados independentes. E para que o mundo possa viver numa paz efectiva e não numa paz aparente.
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